A  música esteve sempre em minha vida, marcando forte presença. Desde criança, em  São Paulo, e depois em Fortaleza, o mundo da música influenciou minha maneira  de ser e despertou algumas características e habilidades que talvez não  aflorassem sem ele. 
  As palavras seguintes  foram escritas com o simples objetivo de registrar para os meus filhos - e quem  sabe netos - e outros parentes, além de amigos e colegas, o que aconteceu  durante o meu envolvimento com a música, as minhas diversas e estreitas ligações  com o meio musical, particularmente no período em que existiu o conjunto  musical Big Brasa, do qual fiz parte primeiramente como guitarrista-solo e  depois como tecladista, administrando-o por alguns anos. 
   
   Os fatos passam muito  depressa e muitos acontecimentos simplesmente desaparecem de nossa memória ou  talvez ficam armazenados em longínquos arquivos perdidos no emaranhado de nossa  mente. Sempre pensei em escrever sobre o meu envolvimento com a música. Ao  aprender que existe uma diferença bem grande entre a fantasia, os sonhos e a  realidade, decidi pôr em prática e detonar o projeto. De início gostaria de  afirmar que este pequeno ensaio não tem grandes pretensões no que se refere à  escrita. As idéias serão sempre mais importantes do que as regras, quando se  trata da transmissão de fatos. Portanto, aqueles que se interessarem pelos  conhecimentos aqui contidos, procurem desfrutar o máximo possível e entender  todos os acontecimentos estabelecendo parâmetros existentes aos anos em que  eles ocorreram, ou seja, com as dificuldades do momento, o ímpeto da juventude,  a falta de experiência em decorrência da idade. 
   
  Não espere uma obra  literária, mas sim um relato simples de um cara esforçado e que começou a  trabalhar muito cedo. Na cronologia, procurarei entremear os fatos que para mim  foram mais significativos, de modo especial aqueles ligados à música. Você, que  agora está iniciando a leitura desta história, deverá estar com o espírito numa  boa, desarmado de qualquer preconceito. Não fique triste e não desanime se não  for músico e por esse motivo deixar de entender algum detalhe técnico, em  especial sobre equipamentos ou eletrônica. Calma, fique frio, que ainda há  tempo para aprender muita coisa interessante...  
   
  Nós,  que participamos do conjunto musical Big Brasa, vivemos um período  extraordinário, pois conseguimos realizar um de nossos primeiros sonhos,  transformando-os em uma realidade palpável, conhecida e apreciada por muitas  pessoas. A existência do Big Brasa, entre outros fatores benéficos, contribuiu  ainda para que eu ganhasse mais desembaraço, por força dos inúmeros contatos  realizados, o que particularmente me auxiliou muito, pois aprendi a enfrentar  os problemas desde cedo e a tentar resolvê-los, na medida do possível. Algumas  decepções decorrentes do trabalho nunca nos desanimaram. As inúmeras vitórias e  o sucesso obtidos muito enriqueceram nossas vidas, tenho certeza.  
   
  Independentemente  do caminho seguido pelos participantes do conjunto Big Brasa ou das pessoas que  estavam à nossa volta, tudo o que passamos fortaleceu nossos espíritos,  personalidades e massageou nossos egos, o que não faz mal a ninguém. A vivência  adquirida, os perigos enfrentados, as descobertas feitas, as experiências, os  obstáculos superados, tudo isso nos fez muito bem.  Não há uma rigorosa ordem cronológica dos  fatos narrados. Do conjunto musical Big Brasa temos imagens apenas em  fotografias. Entretanto, no decorrer da leitura você encontrará vários flashes referentes à música, ao Big  Brasa ou a seus integrantes, os quais, de acordo com o envolvimento de cada  participante nos episódios relatados, de maneira direta ou indireta, remeterão  avisos para as áreas mais remotas de nossa memória e certamente trarão  lembranças agradáveis.  
   
   Foram muitas as  experiências e situações vividas durante nossa jornada, muitos desafios e  perigos enfrentados. Todos começamos a trabalhar ainda muito jovens, com muito  entusiasmo e dedicação pelo que fazíamos. Certamente que as circunstâncias  diversas nos trouxeram mais responsabilidade e equilíbrio. É por demais  oportuno agradecer a Deus e a nossos guias por nos terem protegido dos perigos  que nos rondaram.  
   
  Agradecimento especial  todos devemos a meu pai, Alberto Ribeiro da Silva, o Mestre Alberto, e à minha  mãe, Francisca Amasile Pereira da Silva, a Dona Zisile, pela ajuda constante,  incondicional e das mais diversas formas, no desenvolvimento do conjunto. De  modo particular agradeço à minha mulher Aliete, que muito me incentivou, me  compreendeu e suportou as dificuldades decorrentes da profissão, visto que ainda  jovens não tivemos quase oportunidade de diversão. Os sábados, domingos e  feriados não existiam para nós para lazer, era puro trabalho, muitas vezes  cansativo, mas gratificante. Quem é músico sabe disso muito bem... 
         
        O COMEÇO DE TUDO 
         
         - Música desde  criança 
          Meu  nome é João Ribeiro da Silva Neto. Nasci em São José dos Campos, São Paulo, aos  29 dias de abril de 1952. Filho de pais maranhenses, Alberto Ribeiro da Silva e  Francisca Amasile Pereira da Silva. 
             
  Em  São José, morava na Rua Justino Cobra, 235, na Vila Ema. A cidade, de clima  frio, sempre foi muito agradável, limpa e calma. Tenho excelentes lembranças de  minha infância.  
   
  Alguns costumes do sul  são muito diferentes dos nordestinos. Quase sempre brincava sozinho, por falta  de colegas. Talvez para preencher esses espaços, minha mãe se desdobrava para  me dar presentes sempre que podia. Não só brinquedos, mas principalmente  livros, muitos livros. A coleção completa de Monteiro Lobato, os “Contos de  Grimm”, “Contos de Andersen”, “Antes que Aprendam na Rua” e a coleção “Tesouro  da Juventude”, foram meus bons companheiros. Com quase seis anos de idade  comecei a estudar acordeon. Minha professora era D. Ivone, e morava a poucos  quarteirões de nossa casa, na Vila Ema. Lembro-me na realidade de que ela tocava  as músicas para eu ouvir e depois me ensinava a melodia. Nesse tempo eu não  tinha ainda acordeon.  
    
  Ficava a seu lado direito e usava somente o teclado de um  acordeon de 80 baixos, da D. Ivone, de marca Scandalli. Aprendi a utilizar os  baixos, que fazem a marcação e a harmonia. Depois de alguns meses ganhei de  presente meu primeiro acordeon, de 14 baixos. Esse acordeon, também Scandalli,  foi adquirido de um judeu, amigo do meu pai, chamado Luís Rosemberg, mediante  uma troca na qual entrou até uma coleção Tesouro da Juventude, quando eu tinha  6 para 7 anos de idade. 
   
  Quando  voltava da aula, a pé, vinha tocando “Rosa Maria”, que segundo meus pais era a  música que eu gostava mais, talvez por tê-la aprendido primeiro. O segundo  acordeon, aos 8 anos, foi presente de minha mãe Zisile, também Scandalli, mas  de 80 baixos, tão grande para mim que eu não podia segurá-lo de forma correta.  O incentivo e gosto de meus pais pela música foram constantes. Até o bolo de  meu aniversário de 6 anos, muito grande e confeitado por minha mãe, tinha a  forma de uma cítara. Na foto ao lado apareço no terraço de nossa casa, em São  José dos Campos. 
   
  - Tentativa de  conseguir um milagre com música           
          Da  infância e dos primeiros anos de música, lembro de um fato interessante, coisas  de menino. Certo dia, meu pai chegou  em  casa trazendo um presente para mim. Cinco ou seis pintinhos, que ele ganhou não  sei onde. Fiquei super animado com os bichinhos e, para curtir melhor ainda  aqueles “brinquedos” coloquei-os para nadar em um tanque no quintal. Devo ter  ficado ali por algum tempo me divertindo e olhando os pintinhos nadarem. Não  sei porque motivo saí de perto, me envolvi com outra coisa, certamente, e  esqueci aquela brincadeira. Foi o suficiente para a tragédia. Quando eu lembrei  dos pintinhos e voltei correndo para continuar a brincadeira me deparei com  todos eles flutuando no tanque. Morreram de cansaço pois, pela altura do tanque  e quantidade de água, não conseguiram alcançar a borda e sair.  A ligação desse lance com a música deu-se  pelo fato de eu ter pegado o acordeon e ir para a frente de um oratório e ficar  tocando desesperadamente para Nossa Senhora e pedindo que ela ressuscitasse os  pintinhos. Mas infelizmente isso não ocorreu. Achava que com a música iria  agradar Nossa Senhora e assim facilitar aquele meu difícil pedido.  
             
  Já  em Fortaleza, por volta de 1962, quando morava perto da Igreja de Fátima,  voltei a estudar acordeon com o professor João Colares, hoje maestro. Ensinava  em sua própria casa, na rua Joaquim Távora, centro da cidade. Estudava uma  temporada e parava outra, não por malandragem, mas por dificuldades de  transporte e problemas de saúde. Quando voltava tinha que repetir o primeiro  livro de novo. Não avancei o esperado, creio. Mas serviu para que eu  aprimorasse o conhecimento de leitura musical.  
   
   Em  1963 ocorreu nossa mudança para Messejana, um pequeno e maravilhoso distrito a  oito quilômetros de Fortaleza, de clima saudável, o que veio a constituir um  marco importante em nossas vidas. Nos trouxe muita sorte e felicidade, principalmente  pelo meu pai ter realizado um de seus sonhos, o de comprar uma casa própria em  Fortaleza.  
   
  Em princípio voltei-me  para a gandaia. Muitos colegas para brincar, jogar bola e malandrar. Tudo o que  faltava em São José dos Campos apareceu de repente. Aí eu passei uma boa  temporada, mais ou menos um ano, sem querer saber de música. Dava um trabalho  danado para a mamãe e só queria jogar futebol de salão, de campo, tudo. Fui  campeão de Futebol de Salão pelo Colégio Cearense em 1965, jogando como goleiro  e também como atacante. Mas em compensação fui reprovado no final do ano em  cinco matérias. É como aquela velha história: para jogar, um aço, para estudar,  um fracasso...   
          Com 14  anos fui contaminado outra vez pela música. Depois das brincadeiras de dublagens,  quis aprender a tocar violão. Logo consegui adquirir um, de tamanho médio, mas  não sabia nem mesmo afiná-lo. Descobri que   em nossa rua, a José Hipólito, morava o Zé da Senhora, que era um  jogador de futebol do Salgado da Gama, time de Messejana, que sabia tocar  violão e me ensinou a afinar e a tocar os primeiros acordes. Uma de suas  músicas prediletas era a Marcha dos Marinheiros. Nas primeiras semanas eu devo  ter perturbado muito o Zé da Senhora, porque quase todas as tardes passava na  casa dele para que conferisse a afinação do instrumento e tocasse alguma  música. Daí voltava para casa e tentava repetir tudo até aprender.  
             
  Perto do campo de  futebol do Salgado da Gama, em Messejana, moravam dois irmãos, que também  tocavam a Marcha dos Marinheiros e outras músicas muito bem. No violão, faziam  batidas de bolero e muitas outras que eu não conhecia, as que hoje em dia o  pessoal acha super brega. Não se negavam a ensinar o que sabiam. Por isso  freqüentei diversas vezes a casa desses rapazes e aprendi muito com eles, aos  quais deixo registrado o meu agradecimento.  
   
  Naquela época os meios  para o aprendizado musical em Fortaleza, particularmente em Messejana,  praticamente não existiam, nada se comparando aos que existem hoje em dia, com  revistas de músicas cifradas para violão, fitas de aula em vídeo e métodos para  aprendizagem de todo o tipo. Naquele tempo a gente tinha que aproveitar todas  as chances possíveis para aprender 
   
  - A época das dublagens  
           
          Em Messejana, entre os  anos de 1964 e 1965, antes mesmo da idéia ou pretensão de formar um conjunto  musical, eu e alguns de meus colegas de infância nos reuníamos em nossa casa,  na garagem, para fazer dublagens. No grupo estavam sempre o José Wellington, o  Luís, o Amaury, o Sérgio e outros meninos e meninas mais novos, que faziam  parte da platéia.  
           
          Nós colocávamos uns discos na radiola – quase sempre  compactos do Elvis Presley - e começavam as dublagens. Tinha aplausos no final  e tudo, como em um show de verdade.  Foram realmente bons tempos.  
           
  Na foto acima aparecem,  da direita para a esquerda, José Wellington, João Ribeiro, Luís e na frente  Genário, Chico Zé e Getúlio .  
           - As serenatas em  Messejana 
           Mais tarde, na  adolescência, após termos aprendido um pouco de violão e usado os conhecimentos  de teclado do acordeon para tocar escaleta, fizemos muitas serenatas em  Messejana. A escolha do repertório e o ensaio das músicas sempre foi o de mais  importante.  
             
  As serenatas eram feitas  com toda a tranqüilidade, pois diferentemente de hoje em dia, praticamente não  havia perigo nas ruas e podíamos transitar até às altas horas da madrugada e  voltar para casa sem problemas. O roteiro das serenatas passava pelas casas das  paqueras, namoradas ou simplesmente de colegas. Na maioria das vezes tocávamos  na casa de quase todas as garotas de nossa turma.  
   
  Após o ensaio e a  definição do repertório a turma toda se deslocava pelas ruas conversando  animadamente. Quando nos aproximávamos de uma das casas escolhidas para a  serenata havia o momento silencioso da chegada, nem sempre tão silencioso como  deveria ser, e um certo temor de que o pai da garota acordasse e reclamasse.  Depois, o início das músicas e a espera do sinal, que consistia no acendimento  de uma lâmpada qualquer da casa, de preferência externa, para que notássemos  que a serenata tinha sido percebida. Tudo nos deixava muito ansiosos. Parecia  existir uma certa magia naquilo que fazíamos. 
   
  Em uma das serenatas  feitas na casa do Hugo Pompeu, que fica no lado oeste da lagoa de Messejana,  quando estávamos tocando e cantando aquela música que diz assim: “Vento que  balança as palhas do coqueiro...”, um amigo nosso, chamado Luciano, se pendurou  nas palhas de um coqueiro anão para fazer uma real sonoplastia. Resultado: no  meio da música a palha quebrou e ele caiu no chão, fazendo um barulho danado. A  cena marcou o fim da serenata e o começo da “farra”. Daí por diante o riso  generalizou-se e a serenata não teve condições de prosseguir. Fomos embora  depressa, antes que houvesse alguma reclamação por parte dos donos da casa. 
   
  No início desse período  de serenatas, quando a maioria da turma tinha 15 anos, havia pureza total no  que se refere às bebidas e quaisquer outros envolvimentos perigosos para a  nossa idade. Drogas, nem pensar. Só mais tarde é que um ou outro fazia “uma  base”, como se chamava, tomando um pouco de cerveja, mas sem nenhum exagero. Eu  nunca gostei de bebidas e por isso mesmo ficava sem beber nada. Tenho certeza  de que fiz bem. Tempos depois, profissionalmente no Big Brasa, nunca tomava  nada de bebidas alcoólicas. Este exemplo procurei transmitir para meus filhos,  no sentido de que, na minha opinião, o músico que se preza tem que estar sempre  sóbrio para melhor desempenhar sua função.  
   
  Graças a Deus nunca precisei de  bebida alcoólica ou de nenhum outro tipo de estimulante para tocar. Em funções  no Big Brasa como guitarrista-solo, especialmente nos temas onde havia muitos  improvisos, sentia muitas vezes uma sensação espetacular, indescritível, quando  a própria música me elevava o espírito de forma que eu não conseguia ver  ninguém naqueles momentos, parecendo estar em um mundo inteiramente novo e  espetacular. Ou seja, a própria música me embriagava. Isso ocorria por vezes  também em razão do ambiente em que nos apresentávamos, visto que alguns nos  favoreciam com iluminação adequada, “luz negra” ou outros efeitos especiais de  palco que ajudavam a “fazer o clima”. Em muitas oportunidades, completamente  envolvido pela música, cheguei a fazer improvisações na guitarra, das quais no  dia seguinte não conseguia lembrar quase nada.  
          Como surgiu o apelido  “Beiró” 
           Muita gente não sabe  como surgiu o apelido “Beiró”, através do qual fiquei conhecido no meio  musical. Foi assim: em Messejana, de 13 para 14 anos eu gostava demais de jogar  bola. Fizemos um campinho de futebol num terreno em frente à nossa casa e,  depois que chegava do Colégio Cearense, corria para lá e passava a tarde  inteira no “racha”. A mamãe, quando tinha que me chamar, à distância,  gritava  “João Ribeiroooooo”, estendendo  a terminação da palavra, de modo que o que se ouvia a distância era apenas o  “beiroooooo”.  
             
            E assim,  por brincadeira,  um vizinho nosso, o Pinha, começou a me chamar somente de “Beiró”, como soava o  chamamento de minha mãe. Daí o apelido pegou e fiquei conhecido assim. Na foto  ao lado estou posando como goleiro na rua José Hipólito, a “Estrada do Fio” de  antigamente (1964). 
             
  Se no meio musical sou  conhecido por Beiró, como radioamador, classe “A”, de prefixo PT7-JSN, meu nome  (ou QRA) é Silva Neto, por soar mais facilmente. “QRA” significa o nome do  operador, segundo o código internacional “Q”, utilizado em transmissões via  rádio.  
   
  Em  Brasília e no serviço público federal, no qual servi por muitos anos como  Analista de Informações, ligado aos órgãos de Inteligência do Ministério do  Trabalho e da Presidência da República, me chamavam de Silva Neto. Em  Fortaleza, apenas de Ribeiro. No seio da família simplesmente de João Ribeiro.  É este o nome que realmente gosto de ser chamado.  
Pudera eu ter conhecido meu  avô João Ribeiro da Silva, homem bom, que desapareceu cedo mas conseguiu deixar  lembranças fortíssimas em toda a família, as quais perduram até hoje. 
          CONJUNTO BIG BRASA 
             
             - O “Quartel  General” da rua José Hipólito 
           A idéia de formar um  conjunto surgiu em conversa com os colegas de Messejana. A partir daí, com o  total apoio de meus pais, foi como uma bola de neve. A vontade e o entusiasmo  pela música cresceram rapidamente.  
             
              O  embrião do conjunto musical Big Brasa foi em nossa casa, na rua José Hipólito,  698, em Messejana, onde resido até hoje. Durante toda a existência do grupo e  de minha vida musical a sede sempre foi a mesma. O local onde foi realizado o  primeiro ensaio do grupo, foi por algum tempo meu quarto, que dividia com o  Carló.  
               
              Tinha as paredes todas pintadas, com desenhos coloridos, feitos com  tinta a óleo. Nele desenhávamos de tudo. Guitarras, pistas de corrida e até  mesmo o famoso personagem “Amigo da Onça”, este feito pelo Carló. Até um dia  desses, em uma das reformas que fiz em nossa casa, vimos as marcas das pinturas  que ainda estão lá, agora encobertas por um tipo de revestimento (fotos  abaixo).  
               
            Aquele ambiente era  nosso mundo. O violão sempre ficava disponível, em cima de uma cama ou cadeira,  para facilitar o seu rápido acesso. Tudo o que era de equipamento nós  montávamos empilhados, de modo a formar uma “parede de som”. Sem intenção, nós  projetávamos o que iria acontecer em um futuro breve. 
             
          - Os participantes  do Big Brasa 
             
            Primeiramente, gostaria  de dizer que o Big Brasa sempre manteve sua filosofia de preferir músicos pelas  suas qualidades pessoais, de conduta, educação, comportamento e  responsabilidade, do que simplesmente por sua maneira de tocar, ou seja, suas  habilidades como instrumentista. No início éramos todos estudantes  secundaristas, universitários ou pré-universitários. 
             
  Isso quer dizer que é preferível  você ter uma equipe mediana, mas que cumpra sua missão, do que ter um grupo  fantástico, tecnicamente, mas irresponsável no cumprimento de horários,  comportamento, entre outros aspectos. Nunca nos arrependemos de ter mantido  este sistema. Tivemos sempre uma equipe de pessoas que “jogava para o time”.  
   
  Inadmissível se falar em  um grupo musical, tecer comentários sobre uma etapa inesquecível de nossa vida,  sem mencionar inicialmente aquelas pessoas que estiveram no mesmo barco que  nós, desempenhando suas funções com dignidade, esforço, sacrifício e amor pela  música. 
   
  Abaixo, em ordem  alfabética, estão os músicos e colaboradores que tivemos em nossa vida musical,  com breves comentários sobre cada um deles.  
           Adalberto Pereira Lima – guitarrista-base e posteriormente  tecladista. Meu primo, amigo e cunhado. Teve seu ingresso no Big Brasa a partir  de 1968, quando chegou a Fortaleza, para estudar,  um ano depois de nossa estada em Balsas, na  época uma pequena cidade do sul do Maranhão. Preparou-se para ingressar no  conjunto, aprendendo violão. Ao chegar, logo assumiu a função de  guitarrista-base. Após algum tempo, em vista da necessidade do próprio conjunto  em razão da falta de tecladistas, passou a tocar órgão eletrônico, instrumento  que aprendeu rapidamente e desempenhou de forma bastante satisfatória. 
             
  O  Adalberto fez parte da espinha dorsal do conjunto por muito tempo. Além de  tocar no conjunto, dirigia com grande habilidade, dividindo comigo a  responsabilidade de levar e trazer “numa boa” todo o grupo para as viagens que  fazíamos. Passamos por inúmeras situações difíceis, ao volante, mas graças a  Deus sempre nos saímos bem.  
   
  Hoje em  dia é engenheiro agrônomo, reside em Balsas, e exerce atualmente função pública  de Chefia no Instituto de Terras do Maranhão (ITERMA). Além disso é também  professor de Química e Biologia na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). 
           Airton França - “Torinha” - pistonista. Chegou ao Big Brasa com  bastante experiência musical, visto que tinha integrado outros conjuntos e  também estudado música na Banda do Colégio Pia Marta, liderado pelo padre Luiz  Rebufinni. Foi apresentado ao conjunto pelo Adalberto, que o conheceu na  Universidade Federal do Ceará (UFC). Possuidor de um sopro muito forte, tirava  sons legais no piston e tinha ótimo tino musical para os arranjos. A sua  atuação agradou tanto à direção do conjunto quanto ao público em todas as  apresentações que fez.  
             
            Foi uma boa companhia para todos nós, particularmente  para o Mairton, também pistonista, sobre o qual exercia certa influência.  Sempre foi muito responsável e de conduta irrepreensível, jamais criando  qualquer espécie de problema para o grupo. Apesar de ter um pouco mais idade do  que eu e experiência musical anterior, sempre respeitou o princípio de  liderança de minha parte em relação ao grupo. No que se refere a parte musical,  trouxe muito enriquecimento para os arranjos, com os duetos de piston com o  Mairton. O Airton, além das qualidades acima mencionadas, demonstrou seu  reconhecimento pelo convívio com a nossa família e ainda hoje o demonstra  quando faz os melhores elogios e trata muito bem os meus pais. Na atualidade é  engenheiro civil e empresário.  
           Amaury Pontes - “Tijibu” - bigu. Exerceu essa função conosco por  algum tempo e sempre ajudou bastante o Big Brasa. Muitas vezes chegamos a fazer  manutenções completas em nosso equipamento, preparando o material para que tudo  desse certo nas tocatas.  
             
            Mais tarde, enquanto ainda acompanhava o conjunto,  conseguiu também empregar-se com o Augusto Borges, apresentador do Show do Mercantil.   
             
            O Amaury é nosso amigo e vizinho até hoje, em Messejana. Atualmente trabalha  como câmera-man na TV Ceará (TVC), antiga TV Educativa. 
               
            Armando - cantor. Gente boa, simpático e de fácil relacionamento.  Participou do Big Brasa, como cantor, durante um carnaval realizado em  Cascavel. Depois passou a integrar  o  grupo “Alta Tensão”, que chegou a gravar e a viajar até pelo exterior. Bom  profissional, ainda trabalha com seu grupo no Pirata, casa noturna de  Fortaleza, conhecida no Brasil inteiro por suas festas animadíssimas às  segundas-feiras.    
           Carlomagno Pereira Lima - “Carló” – contrabaixista e vocalista do  grupo. Meu primo, amigo e cunhado. Iniciou no conjunto tocando guitarra, mas  fazendo o papel de contrabaixista, visto que nos primeiros meses o Big Brasa  não tinha contrabaixo. O Carló, em um breve período, exerceu também a função de  cantor do conjunto. Durante sua permanência, também fez parte da chamada  “espinha dorsal” do grupo.  
             
            Moramos juntos por muito tempo e o considero como  mais um irmão. Participamos de diversos momentos da juventude juntos, vivendo praticamente as mesmas  emoções. Teve que nos deixar em virtude de ir cursar a faculdade na Escola de  Agronomia de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde se formou. Desenvolveu  posteriormente projetos agrícolas em Balsas. Há algum tempo assumiu a direção  técnica da Televisão Rio Balsas, afiliada da Rede Globo, emissora pertencente  ao nosso amigo Francisco Coelho, hoje deputado federal.  
             
            Nesse período  participou de diversos cursos sobre televisão, no eixo Rio-São Paulo  tornando-se um expert no assunto. O  Carló, além dessas habilidades técnicas para eletrônica, ainda é professor de  Matemática e de Física da UEMA. Entretanto, nunca parou com a música. Sempre  que pode está com seu violão e sua voz para animar os amigos. Gosta demais de  uma seresta, de compor e é um amante da boemia por excelência.      
               
            Castorino - Francisco Jorge da Silva  Rodrigues - bigu. Da época da sociedade com o conjunto musical “Os Faraós”. O  Castorino era totalmente pirado. Pequenino, usava cabelos bem longos e dançava  o tempo todo no palco, fazendo trejeitos e mil palhaçadas. Certa noite, em um  baile, levou um tremendo choque na mesa de luz e efeitos quando foi rearmar uma  “bomba de fumaça” e a corrente elétrica ainda estava ligada aos contatos. Todos  nós achamos muita graça dele. Ele também riu, mas somente depois de ter se  recuperado daquela “cacetada”. Em outra   oportunidade, estava tremendamente animado que na hora de jogar um pouco  de “gelo seco” no palco, resolveu entrar no meio do grupo correndo, com o  isopor completo, e derramou tudo de uma só vez. Uma verdadeira “figura”... 
             
            Cefas - saxofonista. Natural  de Ipaumirim, interior cearense, integrou o conjunto durante algum tempo. A  princípio, tinha grande dificuldade para improvisar, e eu tive que ensinar  “improvisos” para que ele os fizesse em algumas músicas. Inocentemente, por  causa de seu jeitão de matuto, me fez passar pequenos vexames. Um deles, quando  puxou bruscamente uma colega nossa pelo braço até que ela parasse, para perguntar: 
             
             - Esse cheiro é teu? Referindo-se ao perfume  da garota. 
            Outra  vez, no Clube dos Diários, quando distraidamente, em frente a uma das caixas de  som, coçava “aquilo” na frente do palco. E por último, no Clube Líbano, quando  tocava “Saxofone por que choras”, bem na frente do palco e durante a música  ficou com o nariz entupido. Não contou conversa. Afastou rapidamente o saxofone  da boca e tapando uma das narinas com um dedo, soprou fortemente. Naquela hora,  o “pombo sem asa” saiu voando velozmente até o chão. Que vergonha... Eu fiquei  sem saber para onde olhar, naquele momento. Apesar desses pequenos deslizes,  era gente boa, brincalhão e fácil de lidar. Sabia tudo sobre a história da II  Guerra Mundial e era fascinado por Hitler. Soube que ainda  hoje é saxofonista em Ipaumirim.
             
             
            Francisco Alves da Silva – “Chico da Mazé” - bigu. Vizinho  nosso, participou das primeiras apresentações do Big Brasa, como pandeirista, e  depois foi nosso bigu. Nos ajudou por um período relativamente pequeno. Um dia  conseguiu a “proeza” de esquecer o suporte do tarol para uma festa, por não  conferir o material acertadamente. Hoje encontra-se em São Paulo.  
           César Barreto - Guitarrista-base e principal vocalista do excelente  conjunto musical “Os Rataplans”, que marcou presença acentuada em Fortaleza nos  Anos Dourados. Meu grande amigo pessoal de longas datas, desde a infância,  posso afirmar até mesmo que temos vínculos familiares. O César me transmitiu  ensinamentos, com sua simplicidade, sobre os primeiros passos na música, a partir  da estréia do conjunto Big Brasa. Juntos participamos de diversos eventos  musicais, tanto em Fortaleza e no interior cearense, quanto em outros Estados.  Além de ser um músico de primeira categoria, o César também é compositor, com  quatro ótimos discos gravados. Privilegiado por um elevado “quociente  emocional”, mantém bons relacionamentos em diversas áreas de atuação. Tem  participação ativa na vida cultural da cidade até hoje, na imprensa escrita, no  rádio e também na televisão cearense, além de diversos projetos musicais que  desenvolveu em sua carreira. Costumo dizer que o César possui uma memória  realmente fantástica, pois consegue armazenar facilmente uma enorme quantidade  de letras de músicas, poemas, versos, piadas e histórias de todos os tipos. Mantém  em sua residência vários instrumentos e acessórios musicais de qualidade para  seus ensaios, gravações e shows.  Formou-se em Direito ainda na época do conjunto “Os Rataplans” e há tempos é  advogado do Tribunal de Contas do Estado. É também professor da Universidade  Estadual do Ceará (UECE). Faz tudo isso mas não esquece nem um minuto a  música...    
               
              José Cláudio Pereira Viana - contrabaixista. Bom músico e companheiro,  sempre aplicado nos ensaios ao aprimorar suas técnicas. Nos acompanhou durante  todos os shows da temporada do  Ednardo, cantor e compositor cearense, no Maranhão e no Piauí. Ao chegarmos um  dia em uma cidade do interior do Estado, após instalarmos primeiramente o  equipamento no clube, como era de costume, fomos jantar em uma pensão daquelas  bem ruins. O Cláudio, nessa hora, encontrou logo uma barata em cima de uma  cama, quando voltava do banho. Mas o pior estava por chegar: na hora do jantar,  a dona da pensão colocou cinco pratos feitos para nós, os conhecidos “PF”. No  meio da mesa havia uma garrafa de molho de pimenta, e ele perguntou para se  aquele molho era forte. Ela respondeu que sim. Ele resolveu “testar” e  encharcou seu prato. Lascou-se completamente, do “primeiro ao quinto”, com se  diz no jogo do bicho, pois a pimenta era tinindo e ele não teve a menor  condição de comer nada, inutilizando assim a sua própria alimentação. Foi uma  gozação geral por parte do grupo e ele acabou passando a noite inteira  sofrendo, pela falta daquelas calorias. O Cláudio formou-se em Odontologia e  desenvolve sua atividades profissionais em Fortaleza.   
               
              Colares - Por algum tempo, nos anos iniciais, foi algumas vezes  motorista do Big Brasa, tanto em Fortaleza quanto no interior do Estado. Além  disso, indiretamente protegia nossa turma por ser um policial civil. Imprimia  respeito pelo seu porte e, mais ainda, por ser um “tira”. Foi o Colares que,  por ficar sabendo de meu gosto por armas, informalmente me transmitiu os  fundamentos teóricos e as primeiras lições práticas de tiro de defesa com armas  curtas. 
               
              David - vocalista e ritmista. O David pertencia a nossa turma de  amigos de Messejana. Ficou no conjunto durante alguns meses do seu primeiro  ano. Antes do Big Brasa ser formado, participava ativamente das alegres  serenatas para as nossas paqueras, colegas e namoradas do distrito. Possuía um  repertório bem atual e também ajudava a parte rítmica com um pandeirinho.  Formou-se em Medicina e reside em São Paulo.  
           João Dummar Filho - guitarrista  e vocalista. O nosso amigo Dummar, também excelente compositor, esteve com o  Big Brasa em seu início. Chegou até a viajar para Balsas com o conjunto,  naquela inesquecível temporada, e participou de muitos bailes em Fortaleza.   
             
            Enriqueceu o Big Brasa não só com a sua voz, mas também com sua maneira  vibrante de tocar e de cantar. O Dummar se empolgava muito quando cantava,  sentindo a música e transmitindo sua vibração para todos os demais. Uma se suas  características marcantes era a forte “batida” que fazia ao violão e guitarra.   
             
            Muito inteligente, simples, possuidor de um carisma especial e apreciador de  conversas sobre música, temas espirituais e esotéricos. Além de continuar a  compor, escreveu também um livro de poesias.  
             
            Atualmente, tem como sua atividade  principal a Medicina e possui uma clínica em Fortaleza.  
             
               Edson Belém - guitarrista. Seu repertório tinha músicas muito  animadas. Cantava, entre outras, “Cabelos Longos e Idéias Curtas” de forma  especial, com expressões corporais divertidas,   de vez em quando fazia como se estivesse chutando uma bola ou coisa  parecida e jogava a perna para o ar.    
               
            Apesar do pouco tempo que esteve com o grupo, marcou sua presença.  Soube  que ele esteve na França, a  serviço, por algum tempo. 
            
          Edson Girão Rios - guitarrista-base e vocalista. Grande companheiro  e amigo. Excelente e criterioso músico, apreciador e conhecedor de muita  harmonia musical, além de possuir um ótimo e variado repertório. Detalhista ao  extremo, meticuloso. Se um acorde qualquer não estivesse certo, inserido na  hora exata, tínhamos que ensaiar tudo de novo. Às vezes até chegava a exagerar,  pensávamos. Isso porque desejava fazer tudo bem feito.  
             
            Sempre muito zeloso com  o seu instrumento, preocupava-se também com a aparência geral de todo o  conjunto. O Edson foi um dos participantes do Big Brasa que ficaram mais  íntimos lá em casa. Hoje em dia continua atuando com grande destaque na noite  cearense.  
                
              Edmundo Reis Bessa - Edi - baterista. Carinhosamente  apelidado por nós de “Peito de Pombo”.  O  Edi foi indicado para o conjunto em face da saída do Severino, por motivos  profissionais. Em um dos “festivais”, ou seja, bailes animados por dois ou três  conjuntos, muito comuns na época, no Líbano, Diários e outros clubes de  Fortaleza, encontramos o Edi tocando com o conjunto musical “Os Monkeys”. Ele  estava desmontando sua bateria, vestido com uma camiseta do Flamengo, todo  suado, com barba grande e tudo a que tem direito. O meu pai, ao ver aquela  figura, totalmente ao contrário do que ele imaginava ser “certo”, perguntou  para mim, com jeito de quem comeu e não gostou:  
               
              - João Ribeiro, é este  o rapaz que você falou? Perguntou, decepcionado. Ao que eu respondi  afirmativamente, dizendo: 
               
              - É sim, pai, o cara é  esse aí mesmo. Toca bateria muito bem e, segundo me disseram, é uma pessoa  bastante responsável. Resultado, o Edi veio para o Big Brasa e chegou para  ficar. Excelente profissional, respeitador, amigo, “topador” de qualquer  parada. Hoje, de vez em quando é citado como exemplo, pelo Mestre Alberto, de  que “as aparências enganam”, como diz aquele ditado. Atualmente o Edi é  comerciante, professor de Matemática e dirigente de uma Escola de 1º e 2º Graus  em Cascavel, Ceará.  
               
              Eudes - Francisco Ferreira Filho - baterista. Pertencia ao conjunto  “Os Belgas”. Esteve no Big Brasa cumprindo algumas funções em substituição ao  nosso baterista, impossibilitado por motivo de força maior. Todas as vezes que  se apresentou com o conjunto fez muito sucesso. Chamava realmente a atenção por  sua agilidade e malabarismos com o seu instrumento. Excelente profissional, que  infelizmente já nos deixou.  
               
              Fernando - “Galba” – motorista. Trabalhou conosco muito tempo.  Conhecemos o “Seu” Fernando na pracinha de Messejana, onde pegava corridas com  sua rural, sempre muito bem cuidada.  
               
              Era zeloso com nosso material, cumpria  sempre à risca os horários determinados, e nos ajudava em tudo que podia. Nas  viagens a turma tirava o maior “sarro” dele. Brincava-se demais com o “Galba”,  apelido dado pelo Adalberto.     
               
  Fernando  - “Café Copa” -  contrabaixista. Revendedor de uma marca de café, dirigia uma Kombi, fazendo  suas rotas em bairros de Fortaleza e no interior do Ceará. Daí o seu apelido.  Participou do Big Brasa por ocasião de alguns bailes carnavalescos,  intermediando um contrato para quatro bailes de carnaval em Cascavel. Versátil,  sabia também tocar guitarra e cantar. Era um camarada muito divertido e  gozador, brincava com tudo e com todos. 
   
   Getúlio Alberto Ribeiro da Silva – meu irmão e mascote do Big  Brasa. A presença do Getúlio com seus cabelos grandes, embora ainda criança,  tocando um pandeirinho, causava grande admiração por estar entre um grupo de  música jovem.  
   
  Nos primeiros anos de existência do conjunto tinha seu próprio  fã-clube.  
   
  Acompanhou o Big Brasa na temporada de Caxias, Estado do Maranhão,  onde fez um sucesso enorme com o público em geral e em diversos bailes  realizados em Fortaleza.  
   
   João Ribeiro da Silva Neto - Beiró  - guitarrista-solo, tecladista e vocalista. Vocalista apenas em back-vocal, com se diz hoje. Desde novo  estudei música e dediquei-me à profissão com todo o entusiasmo possível.  Como guitarrista-solo do conjunto sempre  procurei “tirar” de meu instrumento todos os sons possíveis. 
    
  E tentava os sons  “impossíveis” com a auxílio de pedais de efeitos diversos. Pelos solos, efeitos  e improvisos agressivos, cheguei a ser considerado um dos melhores guitarristas  do Norte e Nordeste, segundo comentários da imprensa local sobre o meio  artístico e publicação da TV Rádio e Revista. Em um dos shows do cantor Ednardo, no Teatro José de Alencar, lembro que fui  muito aplaudido por um dos improvisos na guitarra.  
   
  Meu objetivo principal foi o  profissionalismo: ser um músico correto, tanto com meus companheiros quanto com  o público em geral. Sempre busquei o aprimoramento das técnicas musicais,  procurando fazer o melhor possível dentro das possibilidades existentes. O que  hoje em dia se chama de “Qualidade Total”, cujo princípio é, “fazer certo da  primeira vez”, eu, por intuição, procurava empregar no Big Brasa naquela época. 
   
   João Sales Filho – “Joãozinho”, o “Lennon”. Guitarrista, tecladista e cantor. Ingressou no Big Brasa  através da indicação de um amigo. Em seu primeiro ensaio facilmente adaptou-se  ao grupo. Cantava um repertório variado, sempre com músicas de sucesso.  
   
  De  relacionamento fácil, o Joãozinho integrou-se bem ao nosso grupo musical. Com a  aquisição do primeiro órgão eletrônico, interessou-se pelo instrumento e  aprendeu alguns acordes rapidamente, o  suficiente para que passasse a tocá-lo.  
   
  Depois desenvolveu sua harmonia,  acompanhando as músicas com bastante desenvoltura.  
               
               Lurdinha - vocalista. Participou do conjunto por uns dois anos. Com  sua bonita voz pudemos diversificar nosso repertório com mais sambas e forrós.   
               
              Tinha muita presença em palco, possuía técnica vocal e sabia se apresentar como  uma verdadeira cantora profissional. Suas músicas sempre animavam muito os bailes.   
               
              A Lurdinha fez muito sucesso nas festas tocadas pelo Big Brasa, em Fortaleza e  no interior do Estado. Foi a única presença feminina em nosso grupo.  
               
               Luciano Franco - contrabaixista. Excelente músico, profissional  correto e amigo de todos. Além de tocar contrabaixo,  também é um ótimo tecladista. Sempre muito  calmo e alegre, fazia uma harmonia super completa.  
             
            Por sua ótima percepção,  além da marcação baseada nos acordes convencionais, feita no contrabaixo, às vezes  conseguia fazer variações espetaculares e alcançar notas incríveis, logo  incorporadas aos arranjos musicais do Big Brasa. 
              
            Participou conosco de muitos  bailes e de diversos programas Show do Mercantil, na TV Ceará. 
           Lucius Maia Araújo -  contrabaixista e vocalista. Manteve seus primeiros contatos com o conjunto no  ClubeRecreio do Funcionário e depois no América Futebol Clube, quando cantou  “Taxman”, dos Beatles.  
               
Com sua boa voz e inglês fluente não admitia cantar uma  música em que uma só palavra estivesse em dúvida. Isto porque naquele tempo as  letras das músicas quase sempre tinham que ser copiadas do próprio disco.  
 
De  gosto musical refinado, escolheu músicas que enriqueceram o repertório do Big  Brasa por longo tempo. Tinha muitos discos e neles pesquisava para montar seu  repertório. O Lucius reside atualmente em Brasília, onde trabalha como  Secretário Federal de Controle, adjunto, do Ministério da Fazenda.  
            
          Luiz Antônio Alencar - O “Peninha” - guitarrista-base e vocalista.  Aficionado por música, em especial pelos rocks pesadosdos “Rolling Stones” e pela música dos Beatles, dentre outros grupos  famosos. Destacou-se no conjunto por seu repertório de músicas em inglês, as  quais na maioria das vezes, o Big Brasa as usava nos momentos em que os bailes  estavam precisando de maior animação. Muito inteligente, aprendeu inglês ainda  cedo. A origem do apelido “Peninha”, evidentemente, foi em virtude de ele ser  “um pouco” desastrado com os equipamentos, cabos e tudo mais.
              Nas viagens do conjunto  sempre tinha uma imitação para fazer, como a daquele personagem da televisão  “Zé Bonitinho”. Imitava também até mesmo seus próprios parentes, o que para  nossa turma funcionava muito bem.   Gozador ao extremo, chegava a irritar o Getúlio, ao cantarolar uma  simples introdução de uma música que ele não gostava.  
               
              Seu ingresso  no Big Brasa ocorreu durante a realização de um pequeno festival na sede do  Messejana, em um domingo à noite, organizado pela paróquia local. Ele cantou  Penny Lane e todos ficamos entusiasmados no sentido de que ingressasse no Big  Brasa. 
              Por  simples piração, houve um dia em que o Peninha faltou uma festa de término de  curso, que o Big Brasa animou no Clube de Regatas. Foi encontrado na mesma  noite tocando no Clube Líbano, com outro grupo. Muita vergonha e dificuldade  para nós, pois o repertório do Big Brasa estava quase todo nas mãos dele e eu  tive que solar praticamente a noite inteira, melancolicamente. Nem é bom  lembrar, foi um fracasso. Por esse fato, na semana seguinte quase “decapitamos”  o Peninha ... 
               
              Em  outra ocasião, no Balneário, ficou tão empolgado com a música e com a platéia,  que começou a girar seu microfone, segurando-o apenas pelo cabo. Quando eu vi  aquela cena, do outro lado do palco, me preparei para o pior, visto que se o  cabo ou o plug se rompessem o microfone sairia voando a uns mil por hora e  poderia atingir alguém de maneira fatal. Dito e feito. O cabo chegou a quebrar  e eu pude ver toda a trajetória daquele pobre microfone, que por pura sorte  nossa e das eventuais vítimas, atravessou o palco e chocou-se violentamente no  suporte do prato da bateria, que amorteceu o impacto. 
               
            Hoje em  dia o Luiz Antônio é jornalista, trabalha para o jornal Tribuna do Ceará, fala  diversos idiomas, mantém-se atualizado com a música, mas ainda faz das suas,  não deixando de ser o nosso mesmo “Peninha”...  
           Luis  Alberto Magalhães - Luisinho -  vocalista e guitarrista-solo e líder do excelente conjunto musical “Os Faraós”,  formado por quatro irmãos (Vicente, Antônio, Sebastião e o próprio Luis), fez  muito sucesso em Fortaleza na mesma época em que existiu o Big Brasa.  Participamos juntos (Big Brasa e Faraós) de vários “festivais”, motivos de  intensa publicidade e repercussão em Fortaleza.  
               
              Com sua excelente voz, o  Luisinho conseguia interpretar os maiores sucessos internacionais e nacionais  do momento empolgando a todos. O som de sua guitarra-solo era característico,  pois eu podia saber perfeitamente quando ele estava tocando, mesmo antes de  entrar no clube. Sempre muito assediado por fãs, até a dissolução do seu grupo.  Mais tarde um pouco nos unimos por mais ou menos três anos em uma sociedade -  “Big Brasa” e “Faraós”, onde eu participava como tecladista, sendo nosso  trabalho musical bastante reconhecido pela boa qualidade do repertório,  arranjos e principalmente pelos inúmeros equipamentos e efeitos especiais que  utilizávamos, sempre impressionando com novidades a todos que nos assistiam.  Posteriormente iniciou sua carreira solo, mais uma vez obtendo merecido sucesso  em Fortaleza.  
               
              Atualmente o Luisinho desenvolve seu trabalho musical à frente de  um novo grupo musical -“Luisinho Magalhães e Banda”- muito solicitado para os  principais eventos musicais da cidade.    
               
              Marcos Oriá - guitarrista-base e vocalista. Participou ativamente  do conjunto durante o seu  primeiro ano  de existência. Colaborou também na formação de nosso primeiro repertório,  sempre com sugestões musicais de bom gosto.  
               
              Cantava boa parte das músicas. Foi  quem desenhou e pintou o nome “BIG BRASA” em nossa primeira bateria. 
                
              Viajou com  o Big Brasa na temporada de Balsas e de Teresina. O Marcos Oriá é formado em  Direito. 
               
               Mardônio - vocalista. Participou do conjunto em um período por um  bom tempo. Bom cantor, apresentava-se sempre muito bem, gostava de aprender  logo as músicas de sucesso e tinha postura de um verdadeiro artista. Sempre  manteve um bom relacionamento com todo o grupo. Muito brincalhão, com seu  cabelo comprido, fazia trejeitos de todos os tipos e às vezes até imitava um  “gay”.  
               
              Isso também em pleno palco, o que fez no Náutico Atlético Cearense, em  um baile de formatura, quando em uma pausa na música “Pisa na barata”, tirou o  sapato e ficou correndo na frente de todo mundo, desceu até o salão, tentando  matar uma barata por ele inventada.    
               
              Depois recomeçou a música normalmente. Como sua brincadeira foi um  verdadeiro sucesso e a turma curtiu muito, passou a repeti-la em outros clubes.  Posteriormente o Mardônio continuou sua carreira artística. Chegou a trabalhar  como cantor em diversas casas noturnas de São Paulo e conseguiu gravar alguns  discos. 
               
               Mairton Vitor dos Santos - pistonista. Excelente instrumentista,  contribuiu de forma valiosa para o enriquecimento musical do conjunto. Foi  trazido para o Big Brasa por seu amigo Airton França, visto que tinham sido  criados juntos e tocado anteriormente em outros grupos e na banda de música do  Colégio Pia Marta. Em Cascavel, durante um dos bailes carnavalescos que ali  tocamos, ao entrar no clube, pouco antes do horário de iniciarmos a festa, e  com uma fantasia completa de palhaço, disse para o porteiro:  
               
              “O pistonista do  conjunto é um verdadeiro palhaço”, ao que   o cara riu muito na hora. Muitas vezes, no retorno dos bailes tocados no  interior, para Fortaleza, parávamos em bares ou pequenos restaurantes de beira  de estrada para tomar o café da manhã. Ele então, descia do carro com a cara  toda amassada, de quem realmente trabalhou a noite inteira, sentava-se ao lado  de todos e, enquanto nós tomávamos café com leite, pão, pedia para o garçom,  com sua voz rouca e grave: 
               
              - Traz  uma cervejinha aí, cara. 
               
              Então tomava apenas uns  poucos goles, como seu café da manhã. Ao final levantava-se para sair, e  olhando para o Airton dizia:  
              - Torinha, paga aí que  depois a gente acerta! E voltava para o carro. Todo mundo achava graça e mais  ainda o próprio Airton, que mesmo pagando as contas do amigo nunca chegou a  esquentar a cabeça com aquilo.  
               
              O Mairton atualmente é o  líder da banda “Sonhos Dourados”, que marca presença significativa nos  principais eventos musicais de Fortaleza. 
               
              José Marcílio Mendonça Ferreira - excelente músico e companheiro.  Participou de um carnaval com o Big Brasa em Cascavel, como cantor. Como  vocalista e instrumentista, por um longo período fez parte do Quinteto Agreste,  grupo que conseguiu muito sucesso em Fortaleza durante sua existência.  Atualmente o Marcílio é proprietário e coordenador musical de um ótimo e bem  sucedido estúdio de gravações digitais de Fortaleza, o “Proaudio Studio”, que  possui equipamentos de gravação modernos, de última geração. 
          Messias - saxofonista. Bom músico, de sopro forte e muita  resistência. Participou, como músico contratado, de dois carnavais com o Big  Brasa. Em Cascavel, durante um dos últimos bailes, quando chovia muito em toda  a cidade e o clube enfrentava um verdadeiro “toró”, nosso pistonista baqueou na  parte final da festa. Ele então ao se ver sozinho como instrumentista de sopro,  desceu do palco repentinamente e desapareceu na multidão sem avisar nada. Como  o baile ainda estava na metade, eu fiquei muito apreensivo, visto que teria que  ficar o resto da noite solando as músicas no órgão juntamente com o cantor,  nada agradável para uma orquestra de carnaval. Mas para minha surpresa, o  Messias retornou instantes depois, aparecendo de repente no palco, todo molhado  e somente de calção. Aí eu pensei que ele tinha ficado maluco, mas não. Ele  pegou o sax, nele afixou um microfone, e gesticulou para mim no sentido de que  dali para a frente seria com ele, ou seja, iria comandar o repertório. E assim  foi, o cara se garantiu mesmo. Solo após solo, com muita resistência, ele foi  até o final da festa.  
             
               Roberto Tavares - ritmista. Irmão do Severino, esteve no conjunto  por alguns meses.  
               
              Por vezes, fazia parte da turma das serenatas. Como  percussionista, ao bongô, atuou nas primeiras apresentações do Big Brasa no  Balneário Clube de Messejana e em algumas funções realizadas no interior do  Estado.   
               
               Sérgio Alves da Silva - bigu. Nosso vizinho até bem pouco tempo,  ainda mora em Messejana e continua nosso amigo. O Sérgio, além de ter sido meu  colega de infância, companheiro de jogo de futebol de botão, de campo, e também  de um “carteado” nas férias, teve longa permanência no Big Brasa. Esteve  presente tanto nas funções realizadas em Fortaleza, quanto no interior do  Estado. Aprendeu a controlar e a conferir todo o material do conjunto de  maneira que não faltasse nada. Eram muitas caixas de som, amplificadores, cabos  e acessórios diversos que não podiam faltar. Por vezes ficamos juntos até o sol  raiar, para transportar nosso equipamento para casa.  
               
            Inúmeras vezes o Sérgio  também me ajudou a reformar e a executar manutenções periódicas nos equipamentos  do conjunto, além de me auxiliar em funções musicais diversas em Fortaleza,  como casamentos e recepções. Às vezes tinha um problema de deslocar a omoplata  e quando isso acontecia, por mau jeito ou muito esforço, tínhamos que colocar o  braço dele de volta “na marra”. Foi operador de microfone, câmera-man e  atualmente é operador de áudio na TV Educativa, hoje TV Ceará (TVC).  
           Severino Tavares, “Ziglim” - baterista.  Quando nós ainda estávamos por definir qual  seria o nome do conjunto, para que pudéssemos pintá-lo na bateria e fazer nossa  estréia no Balneário, em uma conversa entre nós ele disse: “Big Brasa”. O  pessoal se entreolhou naquele momento, porque vários nomes já tinham sido  sugeridos, mas houve aprovação geral. O Severino ingressou no conjunto no seu  início.  
             
            Desenvolveu suas habilidades na bateria pouco a pouco e com o passar do  tempo firmou-se como um baterista que tocava “para o conjunto”, isto é, talvez  por não possuir muita técnica, limitava-se a fazer tudo certinho, conforme os  ensaios. Uma das dificuldades de um conjunto consiste na passagem de uma música  para outra. 
              
            Convencionamos então um único “breque”, feito pela bateria, que  daria a entrada de todas as músicas, variando apenas o andamento, a velocidade.   
             
              Silvino – vocalista. Grande amigo de todos, brincalhão, uma figura  simpática e agradável. Em seu repertório sempre diversas músicas animadas. Com  seu excelente timbre de voz, gostava das músicas do Tim Maia. Participou de  inúmeras apresentações com o Big Brasa, integrando posteriormente o grupo vocal  “The Sangue Súgares”, de Fortaleza.  
               
              Wilson Silvino de Moura - saxofonista.  Participou do Big Brasa em uma boa fase. Gente fina, simples, respeitador e  amigo. Com seu saxofone tenor, sabia improvisar e tinha um sopro suave.  Executava algumas músicas também como solista. Após ter deixado o conjunto  prestou concurso público para a Polícia Federal, onde trabalha até hoje. Há  algum tempo, eu vi uma fotografia em um jornal que mostrava alguns agentes  federais que tinham feito uma grande apreensão de drogas em Tianguá.  
               
              Pois o  Silvino aparecia nessa foto, empunhando uma submetralhadora, numa posição  característica, como se estivesse segurando o seu sax. Liguei para ele no dia  seguinte e lhe mandei um recorte da tal foto, comentando o detalhe observado.  Na oportunidade me disse que ainda tocava sax e que inclusive estava  aperfeiçoando sua prática em teclados.    
               
            Estes  foram os músicos e colaboradores que marcaram presença no conjunto Big Brasa e  em minha vida musical. Quisera eu possuir fotografias de todos, para aqui  deixá-las registradas. Tenho certeza absoluta que todos guardam boas  recordações do período que estivemos juntos. Dos bons e até mesmo de algumas  momentos difíceis que atravessamos, visto que a nossa união por um objetivo  único - a Música - é que fez o Big Brasa brilhar em Fortaleza, deixando esse  nome bem guardado na memória de muitas pessoas. Foram inúmeras apresentações  onde o grupo inteiro deixou sua marca de competência, de interesse e de  responsabilidade pelo trabalho, dignificando e sempre honrando a profissão de  músico. 
             
            As fotos seguintes  registram as primeiras formações do Big Brasa. A primeira na casa do nosso  amigo Hugo Pompeu, às margens da Lagoa de Messejana e a segunda no aniversário  de 15 Anos de Vânia Maria. 
                     
          
 A PRESENÇA MARCANTE  DO “MESTRE ALBERTO” 
             
  Alberto Ribeiro da  Silva, meu pai. O Mestre Alberto, como alguns o chamam até hoje, teve presença  marcante no Big Brasa. 
   
  Apreciador fanático da  boa música, independente do estilo, mesmo sem conhecimentos teóricos sobre o  assunto sempre demonstrou ter bom ouvido, pois como ele próprio diz, sabia  quando “alguma coisa estava errada”. Acompanhou o Big Brasa por uns três anos.  Nas festas ele ficava circulando, ouvindo o som do conjunto dos diferentes pontos  do clube para nos informar se estava bom ou não. Volta e meia trazia elogios  recebidos ou reclamações (quase sempre de diretores ou dos coroas) sobre o alto  volume de som do grupo. Cuidava dos contratos e de receber e distribuir os  cachês para o grupo, na base de 10 por cento do líquido para cada  participante.   
  Exerceu fundamental  papel, também, como orientador do conjunto, uma espécie de guru.  
    
  Apesar  de ser um ardoroso apreciador da música, ele sempre nos alertava para o fato de  que o conjunto poderia “não dar camisa a ninguém”, querendo dizer que  deveríamos estudar e ter uma outra profissão, tendo em vista as dificuldades  que os músicos encontram, via de regra, para sobreviver apenas da música, de  modo especial numa região pobre como a Nordeste.    
   
  Na foto abaixo o Mestre  Alberto aparece perto do microfone, ao lado do Luiz Antônio. 
            
          OS EQUIPAMENTOS  E AS DIFICULDADES DA ÉPOCA 
          As primeiras guitarras  
             
            Nossas primeiras  guitarras foram adquiridas do conjunto “Os Rataplans”, dos meus amigos César  Barreto e seu irmão Antônio Carlos Barreto Filho, o Barretinho, que  infelizmente nos deixou há algum tempo. Eles tocavam com guitarras de  fabricação caseira. Instrumentos bem construídos, leves, e que deveríamos ter  mantido até hoje como verdadeiras relíquias musicais. Como “Os Rataplans”  estava em vias de renovar seu instrumental, adquirimos dele duas guitarras e um  contrabaixo.  
             
  Com esses instrumentos  fizemos nossa grande estréia, no Balneário Clube de Messejana, e na minha  primeira guitarra por muitas vezes toquei o prefixo do Big Brasa, “And I Love  Her”, dos Beatles. A renovação de nosso equipamento transcorreu de forma  gradual e contínua, nos anos seguintes, de acordo com nossas possibilidades  financeiras e com o progressivo aumento do número de contratos.  
   
  Sobre essa pequena  guitarra vale mencionar que poucos dias antes de nossa primeira apresentação o  César Barreto esteve em nossa casa e me ensinou a introdução da música “O  Tijolinho”, na tonalidade de Lá Maior. Eu ficava simplesmente fascinado com o  som que ele conseguia “tirar” e pela facilidade que tocava a guitarra, parecia  brincadeira. Para o César aquilo era a coisa mais simples do mundo, porque  tinha prática e estava bem acostumado com o instrumento. Olhando para ele, eu  pensava: “puxa, será que vou conseguir tocar desse jeito algum dia?”. O  César  e todos os seus companheiros de  conjunto, o Barretinho (guitarra e vocal), o Camelo (baterista) e o Adilson  (contrabaixista) sempre deram a maior força para nós.  
          - O uso do cantrabaixo 
               
              Para aqueles que são leigos ou não têm muita percepção musical,  a falta de um contrabaixo em um conjunto é mais ou menos como a falta de um  goleiro em um time de futebol, para ser   “sutil”  na comparação. Ou a mesma  coisa que sentir-se inteiramente nu, em plena Praça do Ferreira, no meio de uma  multidão. O negócio é “brabo”. Quando a gente está tocando uma música, e o  contrabaixo, por algum motivo, pára de funcionar ou deixa de tocar algumas  notas, sente-se um vácuo, um vazio, uma sensação estranhíssima. Quando ele  volta é uma beleza, o sangue retorna, a música fica mais harmoniosa, enfim,  tudo vai bem. O contrabaixista tem que ser um cara ligado. Não pode faltar nem  por poucos instantes. 
               
  No início dos chamados Anos Dourados, nós do Big Brasa, em  Fortaleza, particularmente pela falta de equipamentos e informações musicais  diversas, tocávamos sem contrabaixo. Acostumados que estávamos a cantar com o  acompanhamento de violão ou violões, a substituição pelas guitarras foi aceita  com todo o entusiasmo e não se notava muito a falta de um contrabaixo pelo  próprio desconhecimento de sua necessidade, conforme foi dito.  
   
  Ainda bem que foi por pouco tempo. Depois que se acostuma pelo  menos por uma vez a tocar com a marcação e com a harmonia proporcionadas pelo  contrabaixo não se consegue mais retornar à situação anterior. 
   
  A entrada do contrabaixo no Big Brasa foi  incentivada   pelo “quase irmão” e grande amigo, o saudoso Barretinho, irmão do César  Barreto. Excelente músico, saxofonista, guitarrista e vocalista dos  “Rataplans”. Ele insistiu com o meu pai, dizendo que o contrabaixo era a alma  de um conjunto e que não se podia tocar sem ele. Daí para a frente a coisa  mudou - e para bem melhor!   
   
  Vale dizer que nas próprias gravações iniciais dos anos 60, o  contrabaixo não era destacado como merece. Ouvia-se seu som e sua marcação, mas  os destaques e maior presença do instrumento nos arranjos musicais veio mais  tarde. Hoje a gente percebe que as músicas que caracterizaram a Jovem Guarda,  gravadas na época do iê-iê-iê, (música “pop”, como também era designada na época),  por exemplo, têm aquele sonzinho de lata, meio “fajuto”, se comparado à  qualidade que se possui na atualidade.  
          - Instrumentos e acessórios musicais 
               
              No início do Big Brasa  tudo era muito difícil em Fortaleza. Não havia nenhuma loja especializada em  instrumentos musicais. Algumas possuíam seções com poucos instrumentos ou  acessórios. A diversificação dos produtos oferecidos era mínima. Por exemplo,  quando se encontrava um tipo de encordoamento ou mesmo simplesmente “palhetas”  para violão em determinado lugar você já poderia se dar por satisfeito. 
               
  Havia, no entanto, a  casa do Sr. Aurélio (avô do saxofonista Zezinho), no Benfica, onde podíamos  encontrar peles diversas para bateria, palhetas para guitarra (isso mesmo!)  palheta era coisa difícil para caramba. Também baquetas e outros acessórios,  como cordas para guitarra e contrabaixo. Esses acessórios somente podiam ser  encontrados lá. Hoje em dia a casa ainda vende esses materiais, dirigida pelas  sobrinhas e outros familiares do Sr. Aurélio, já falecido. Esse senhor, nós  descobrimos que nasceu parece que em Riachão, mesma terra de minha mãe. Um dia  desses, recentemente, estive por lá para comprar um encordoamento de nylon, à  noite. Uma das senhoras me reconheceu prontamente. Muita memória, depois de  aproximadamente 25 anos. Mas disse que estava um pouco mudado, mais gordo etc.  Imagine ela... Mas é assim mesmo, quando se passa bastante tempo sem ver  alguém, imaginamos que a pessoa permanece tal como está armazenada em nossa  memória, com os traços intactos. Mas o tempo vai nos pregando surpresas.  
   
  Em outra oportunidade  encontrei, em uma feira de informática, com um guitarrista, chamado Evaldo, que  tocava em um conjunto do Bairro de Fátima. Ao me ver, ele disse, muito  admirado: 
   
  - Puxa, cara, você não  mudou nada, não tem nenhum cabelo branco, o que é que você tem feito? 
   
  O Evaldo é apenas um  pouco mais velho do que eu  e já estava  com a cabeça toda branca. Um dos segredos, acho eu, é aprender a encarar com  tranqüilidade a ação do tempo e sempre avaliar cada situação de acordo com  nosso potencial do momento. 
   
          -  O“embaixador”  do Big Brasa em São Paulo 
           João Ribeiro da Silva  Filho, o Tio João, gente boa, meu padrinho e amigo, prestativo até demais.  Tenho que registrar os seus inestimáveis favores prestados a mim, e por extensão  ao Big Brasa. Residindo em São Paulo, capital, há bastante tempo, tornou-se  profundo conhecedor da cidade.  
             
            Já dissemos que no início do conjunto tudo era  muito difícil em Fortaleza, especialmente no que diz respeito a instrumentos e  acessórios musicais. Assim sendo, todas as vezes que precisávamos de algum  material desse tipo recorríamos imediatamente ao Tio João. É necessário  destacar o seu interesse, a sua boa vontade em nos ajudar e a sua competência  para fazer compras acertadamente. É o que se pode chamar de um cara  “desenrolado”.  
             
            Com o Tio João nada tinha mistério e tudo podia ser feito.  Dependendo da encomenda feita, se ele não conhecesse o equipamento ou o que  fosse, dizia: “Bem, eu não sei onde tem isso, mas pode deixar comigo que vou  descobrir!”. E fazia mesmo. Pouco tempo depois ele dava retorno, dizendo que  tinha pesquisado sobre a encomenda, com todos os detalhes possíveis. Muito  organizado, outra de suas características era a capacidade com que fazia as  embalagens de qualquer coisa (produto, material ou equipamento) de forma que  nada quebrasse. Um verdadeiro artista.  
             
            Em uma dessas oportunidades ele  conseguiu bater seu próprio recorde de tempo, ao adquirir dois pedais de efeito  tipo “wah-wah” e despachá-los para Fortaleza por via aérea. O pedido foi feito  em um dia e a encomenda chegou no outro dia, à noite. Lembrem-se que isso foi  na década de 60 e início dos anos 70, ainda sem o nosso bom e rápido SEDEX! 
           
          - Os  amplificadores e as caixas de som           
           As caixas de som, como  chamávamos, no início eram pequenas e integradas aos amplificadores. Tínhamos  no Big Brasa amplificadores de 6, 8 e 10 Watts, com as caixas de som, com mais  ou menos 70 a  80 centímetros  de altura, coisas simplesmente ridículas se comparadas ao que existe hoje em  dia em matéria de equipamentos musicais. Tanto que pouco aparecem nas  fotografias, escondidas atrás dos músicos. Imaginem só: duas guitarras ligadas  a um amplificador de 6 Watts, com um alto-falante de 6 ou 8 polegadas.  
             
            Que  sonzão! 
             
              Com o aumento da  potência e da qualidade dos equipamentos, nos anos seguintes os amplificadores  começaram a ser produzidos em módulos, separadamente das caixas de som. Abaixo  seguem-se comentários sobre alguns desses equipamentos, para que vocês tenham  uma idéia mais precisa do material que nós 
            trabalhamos.
            
          
 Instrumental para ensaio          
           - O  amplificador Delta
            Um dos primeiros  equipamentos utilizados pelo Big Brasa para o som de voz  foi o amplificador Delta. Tinha o gabinete parecido com os rádios  transmissores e receptores da mesma marca.  Aquecia demais e precisava funcionar com a tampa aberta, para receber mais  ventilação. Em uma das funções do Big Brasa, o “bicho” estava dando problema. O  papai, cheio de boa vontade, foi se meter a técnico e, inocentemente, meteu a  mão dentro do Delta para apertar uma válvula de saída de áudio, daquelas tipo chupeta. Queimou a ponta do dedo,  logicamente. Além do susto, o choque também não deve ter sido pequeno. Ainda  vai, Mestre Alberto?  
             
  O  superaquecimento dos amplificadores foi um problema seríssimo para o conjunto.  Eles ficavam “mesmo que fogo” e exatamente por isso apresentavam defeito com  maior facilidade do que os atuais, queimando ou danificando filamentos de  válvulas. Um dos macetes que descobrimos foi o de não transportar o equipamento  logo após de desligá-los. Os bigus esperavam um pouco, tempo suficiente para  que as válvulas esfriassem e pudessem ser movimentadas sem pifar. Mais tarde, o  papai apresentou uma idéia muito legal para a solução do problema,  imediatamente adotada. Foi a de comprar pequenos ventiladores, os quais, sobre  uma chapa de sustentação colocada embaixo dos amplificadores, passavam  o tempo todo ligados, não deixando o  superaquecimento chegar. Os prejuízos decorrentes de equipamentos quebrados por  esse problema diminuíram depois desta simples, mas excelente idéia.  
    
  Após esse amplificador  Delta, surgiu mais um avanço: o serviço de som Gianinni, modelo A-100,  valvulado, composto de dois módulos, em um “rack”, com suas colunas de som e os  seus respectivos suportes laterais. Na parte de cima do “rack” ficava instalado  o misturador, para seis microfones, e na parte de baixo, o amplificador de  potência. Naquele época, era um dos melhores. Comparando-se ao que existe hoje  é como se estivéssemos utilizando uma mesa de som estéreo, com “tudo que tem  direito” e muita qualidade e potência de som. Cada aquisição de equipamento  causava intensa satisfação para todos, como esse serviço de som A-100, comprado  na Mesbla.  
   
  Num  dos carnavais  que tocamos em Cascavel  descobrimos que o som estava baixando (oscilando) muito por causa de uma válvula  que estava frouxa em seu suporte. Quente para caramba, mas o Marcílio, que foi  o cantor daquela jornada momina, de vez em quando ficava apertando a tal  válvula para que o som melhorasse. Ele lembra e ri muito desse lance até hoje.  No ano seguinte surgiram outros modelos, o A-200 e o A-300, um pouco melhores e  mais potentes. 
   
   Pouco  a pouco, com o avanço tecnológico, novas marcas e modelos de amplificadores  apareceram no mercado. Fomos renovando nosso equipamento, pouco a pouco.  Surgiram os amplificadores “Tremendão”, da Gianinni, com potência de 100 Watts  de saída, para guitarras, órgãos eletrônicos, voz e contrabaixo. Essas “caixas”  permaneceram bastante tempo no mercado e tinham uma saída incrível. Todo mundo  desejava ter um amplificador “Tremendão”.   O amplificador tinha quatro válvulas de saída de áudio tipo “6L6”, que  produziam uma sonoridade aveludada, um som mais puro. Para as caixas de  contrabaixo usávamos as válvulas “EL-34”, que se encaixavam nos mesmos soquetes  (encaixes para válvulas) mas que tinham um som mais agressivo e duro, bem  apropriado ao instrumento. Essas máquinas resistiam bem à rotina de ensaios e  funções variadas, com transportes para lá e para cá toda hora.  
   
  Outra  novidade que os amplificadores Tremendão trouxeram foi o Reverber. Consistia em  um circuito ligado a um módulo que ficava dentro do amplificador, numa caixa  metálica com duas molas e pequenas bobinas, que pelo circuito eletrônico  produziam  reverberação no som. O  reverber enriquecia a qualidade de áudio nos solos e também em marcações feitas  pelas guitarras. Depois de acostumados a ele, parece que incorporávamos sua  sonoridade. A reverberação por ele produzida podia ser controlada através de  botões específicos, no amplificador. Quando apresentava algum defeito, aí complicava.  Era a  desvantagem: quando um fiozinho  desligava lá por dentro, em especial do compartimento metálico de molas e  minúsculos transformadores, disparava uma microfonia (aquele apito bem alto,  que incomoda bastante) para valer. E aí o Reverber tinha que ser desligado  imediatamente, pois a microfonia tornava-se insuportável. Não posso falar de  reverber sem mencionar a música “O Milionário”, que sem esse recurso era quase  impraticável de ser executada. Em algumas festas, quando essa música estava “na  parada”, cheguei a tocá-la inúmeras vezes.  
          - O  amplificador True Reverber (Gianinni) 
          Usamos esse  amplificador para a guitarra-solo. Tinha excelente qualidade, mas pouca  potência sonora. Quando se aumentava o volume mais um pouco o som ficava  distorcido. 
             
            - A caixa e amplificador Alexaninni) 
           Esse amplificador  possuía muita potência. Nos causou espanto pela primeira vez que tivemos que  abri-lo, para substituir um alto-falante que estava com problemas. Tentamos  abrir a caixa da forma convencional e conseguimos ver os 
  alto-falantes. Depois de alguns minutos alguém notou uma abertura dentro da  caixa, e ao olharmos para cima logo os encontramos, mas em posição não  convencional, ou seja, virados para baixo. A arquitetura sonora era diferente  das demais, que tinham os alto-falantes parafusados na parte frontal da caixa  de som.  
   
  Havia  uma preocupação e a necessidade de trocar de equipamentos com relativa  freqüência, em razão da concorrência. Por isso mesmo é que a maioria dos  conjuntos não agüentava a barra e ia à falência cedo. Por outro lado, para  economizar também fazíamos reformas nos equipamentos, como troca de cobertura  de napa, cantoneiras, pintura de suportes e outras. Cansei de passar noites  quase inteiras, madrugada adentro, retirando coberturas de napa dos  amplificadores e das caixas de som e recobrindo-os com novo material. Dava um  trabalho lascado. Puxa aqui, estira dali e pronto. Amplificadores e caixas  novos de novo! Volta e meia ficava um canto mal feito mas tudo bem, não dava  para ninguém notar e a economia tinha sido feita...  
   
  Desse  modo o esforço estava plenamente recompensado pelo prazer de nos apresentar com  um instrumental novinho, bonito, e com um som legal.  
          - Os consertos de emergência e as impovisações 
               
              Muitas  vezes tínhamos que fazer consertos de emergência nos amplificadores, na Capital  ou no interior do Estado, quase sempre com pouco ou nenhum material específico.  As válvulas de saída de áudio eram a “EL-34” e a “6L6”, que tinha um som melhor. Num  desses dias, em Pacoti, foi feita uma solda em um fio da bobina de um reverber,  com um ferro de soldar enorme, aquecido por uma forja. Vejam a “sutileza” dessa  soldagem. 
               
  Em  outra oportunidade o Carló desmontou um amplificador de contrabaixo, durante um  baile, conseguiu localizar o defeito e trocar um resistor (componente  eletrônico), tendo o equipamento voltado a seu funcionamento normal depois  daquela rápida intervenção. Mas a verdade é que muitas vezes não conseguimos  nos sair tão bem. Em algumas oportunidades os amplificadores pifaram mesmo,  para valer, e não teve jeito. Nós sabíamos, mais ou menos, quando o defeito era  sério, pela experiência. E também o bom senso para decidir se daria ou não  tempo para consertá-lo na hora, coisa muito difícil, por inúmeras razões: falta  de peças ou componentes eletrônicos, falta de meios técnicos apropriados, de  material e de tempo para o reparo. Em virtude disso, houve períodos que o Big  Brasa sempre andava com um amplificador de reserva, para qualquer emergência.  
          - Os cabos e as extensão, sempre problemáticos 
             
            Tenho que falar dos  cabos. Cabos e mais cabos “coaxiais”, para ligações dos diversos instrumentos  (guitarras, contrabaixo, microfones e teclados) aos amplificadores e as  extensões elétricas. Não podia confiar neles, nem em seus “plugs” ou  conectores. Mesmo quando não apresentavam defeito durante as apresentações,  quando alguém neles pisava, ou simplesmente suas ligações se rompiam com nossos  movimentos, no dia seguinte eu ia examinar um por um.  
             
            Isso porque na hora de  dobrá-los, ao fim dos bailes,  poderia  dar problema e alguma ligação se romper. Pegava logo o ferro de soldar, solda,  alicate de corte, sentava-me no chão ou em algum banquinho e começava a  revisão. Meu filho Alberto Neto, ainda criança, invariavelmente ficava me  “ajudando” nessas manutenções. 
          - A famosa  “mala-da-cobra” 
               
              Em  geral, todo técnico que se preza e também os conjuntos musicais têm uma “mala  da cobra”. Chamávamos de “mala-da-cobra” toda caixa, bolsa ou qualquer outro  tipo de depósito para transportar os cabos, as extensões e outras miudezas  necessárias ao funcionamento do conjunto, tipo “plugs” diversos, conectores,  tomadas, fita isolante, parafusos extras e tudo aquilo que se imagina que  poderá quebrar numa apresentação. A tal mala deveria conter ainda ferramentas  de primeira necessidade, para as emergências.  
               
  Esse  nome “mala-da-cobra” se justificou muito bem quando, em uma ocasião, o conjunto  tinha acabado de tocar em um clube de Sobral e ao final da festa fomos guardar  as tumbadoras em seus estojos de proteção. Dentro deles foi encontrada uma  cobra. Que susto. A cobra, certamente se encantou com o som do Big Brasa e com  o calor dos estojos.   
          - A primeira bateria 
            
          Toda azul, com as partes  metálicas de cor cinza metálico, foi adquirida da charanga do Gumercindo, líder  da torcida do Fortaleza Futebol Clube. Lembro como se fosse hoje da alegria que  todos sentimos quando chegamos em casa, após meu pai ter concretizado o  negócio. No primeiro mês de utilização ela sofreu uma avaria.  
             
            Quebrou um  suporte. Só para vocês terem uma idéia, para que o bombo se sustentasse em pé  era preciso colocar um transformador velho de lado para servir de apoio...   
             
            Assim mesmo velha, recebeu logo uma pintura nova e nos prestou inestimáveis  serviços. Possuía boa sonoridade.  
               
                A bateria "Pinguim" 
                 
                             Em  madrepérola branca, de marca Pingüim, uma das melhores no momento, era de  excelente qualidade e muito bonita. Foi comprada em São Paulo. A mamãe na época  negociava bordados com minha Tia Zenóbia, que residia em São José dos Campos.   
               
              Aproveitando uma das transferências de dinheiro que receberia dessas vendas,  pediu ao tio João que fizesse a compra de uma bateria novinha em folha. Quando  este instrumento chegou foi motivo de admiração por todos nós.  
               
              A bateria depois  de montada ficou linda. O meu pai, na preocupação de preservá-la em bom estado,  mandou logo fazer uns estojos para todos os seus apetrechos.  
               
              Por essa excelente  providência é que essa bateria teve longa duração, sempre bem conservada e em  ordem.  
          - A distorção  caseira 
           
           Sempre  gostei de eletrônica, montagem de “kits” de alarmes sonoros, sirenes para  discoteca, compressores de áudio e outros circuitos eletrônicos. Ainda em São  José dos Campos, quando criança, gostava demais de brincar com tudo aquilo que  tinha eletrônica. Montava e desmontava lanternas, pequenos circuitos para acender  foquitos de lanterna, com instalações feitas na parte de baixo de mesas e  camas. Mexia e fuçava em brinquedos eletrônicos, sempre que podia. A eletrônica  e tecnologia moderna sempre me fascinaram. 
             
              Com 14 anos, fiz por  correspondência um curso de rádio e televisão pelo Instituto Universal  Brasileiro. Consegui aprender um bocado de coisas e montei um rádio, sob a  orientação e com todos os componentes fornecidos pelo Instituto, como parte do  treinamento. De vez em quando estava eu gostava de pesquisar as novidades, na  Rua Pedro Pereira, local onde se encontra em Fortaleza o maior número de lojas  de produtos eletrônicos. Conhecia todas as lojas e muitos vendedores, e como  bom cliente, principalmente durante a existência do Big Brasa, obtinha bons  descontos em todas as compras.  
               
              Essa  relativa habilidade que tenho para eletrônica me ajudou muito durante toda a  minha vida, desde criança, passando pela juventude, no Big Brasa, mais tarde no  campo do radioamadorismo e até hoje em dia, com a Informática. A prática e a  iniciativa incentivam o processo de criatividade e vice-versa. Digo isso para  demonstrar como é que foi o lance da primeira distorção do Big Brasa e de  Fortaleza. Para que os mais novos tomem conhecimento, ocorreu uma verdadeira  pesquisa, coroada de êxito. Foi assim.  
               
              Ao  ouvir umas gravações, a fim de escolher músicas para nosso repertório, notava  alguns sons de guitarras super pesados, mas não sabia como é que os caras  conseguiam aquilo. Vendo um filme musical e lendo um pouco sobre conjuntos,  soube que existia um “aparelho”, que conectado à guitarra, produzia aquele som  rachado e distorcido. Esse tal aparelho era a distorção. Fiquei louco de  vontade de conseguir um som daquele tipo e comecei a falar com todo mundo que  eu achasse que poderia ter uma idéia. Escrevi uma carta para o tio João e,  depois que ele fez sua pesquisa em São Paulo, não conseguiu descobrir nada. Na  verdade eu nem sabia o nome do aparelho direito, muito menos ele, que leigo em  música, não deveria saber ou entender do tal som que eu procurava. Pois olhem,  aí vai a dica: quando desejarem alguma coisa, finquem o pé e batalhem, lutem e  tomem iniciativas, que certamente serão bem recompensados. Continuei procurando  o tal aparelhinho - e sem nada conseguir.  
               
              Um  belo dia, em minhas conversas com os colegas, disse para o Júlio Matos, o  Julinho, que estava querendo comprar uma distorção mas não sabia onde. Para meu  espanto ele me falou que tinha uma revista de eletrônica com um “esquema”, ou  seja, o diagrama de montagem de uma distorção. Foi demais! O bom é que o  Julinho gostava do assunto e sempre foi um técnico muito competente e  pesquisador. Além disso, ele ficou interessadíssimo e disse que poderia tentar  montar a tal “distorção”. Compramos todos os componentes necessários para a  montagem e depois de poucos dias estava ele, o Julinho, chegando lá em casa com  uma caixinha de metal, tirada de alguma sucata, que deveria ter sido de alguma  outra montagem ou experiência anterior. Com muito cuidado, localizamos quais os  locais de entrada e de saída de som, para que a guitarra fosse conectada ao  aparelho, e este ao amplificador. Fizemos os cabos necessários, todas as  devidas soldas, “plugs” e pronto. Preparamo-nos para o resultado. Acreditem:  neste momento mais parecíamos dois soldados tentando desarmar uma mina, na  expectativa de uma explosão, tal era nosso grau de ansiedade. Suspense total.  Após ligar tudo, peguei a guitarra e toquei algumas notas. De início, nenhuma  alteração e ficamos naquela, os dois meio sem jeito, sem olhar um para o outro.  Fui tocando mais um pouco e mexendo nos dois potenciômetros (botões de  regulagem e outras funções) que o aparelhinho possuía. De repente, o som ficou  mais forte e pesado, começando a distorcer. Nessa hora, eu comecei a rir muito  e a dizer: 
              - É  isso aí, olha cara, esse é o som que estava querendo, deu certo! 
               
              O  Julinho estava incrédulo, visto que ele próprio não sabia que som ou efeito sua  montagem seria capaz de produzir.  
          - O primeiro pedal tipo "wah-wah" de Fortaleza 
               
              O  conjunto sempre procurou criar um diferencial, fazer inovações. Por exemplo, o  Big Brasa foi o primeiro conjunto de Fortaleza a usar o pedal conhecido como  “wah-wah”. Eu tinha visto esse tipo de pedal em um filme e apreciei muito os  efeitos que produzia. Expliquei como funcionava e para que servia e o tio João  se encarregou de fazer a aquisição para nós, em São Paulo. 
               
  Inauguramos  o “wah-wah” durante todo o Festival Nordestino da Música Popular, realizado no  Náutico Atlético Cearense, que teve como vencedora a música Beira-Mar, do  Ednardo, acompanhado pelo Big Brasa. Ligado à  
   
  guitarra-solo produzia sons diferentes e foi motivo de admiração. Algumas  pessoas chegavam a ficar com a boca fazendo o movimento correspondente ao  “wah-wah”.  
   
  Ao  longo de minha carreira como guitarrista-solo usei várias marcas de pedais  desse tipo. Sua característica, para quem é leigo ou não conhece esse pedal de  efeito, é a de possibilitar a que o músico alterne rapidamente, através de  movimento com o pé, um som agudo para um grave ou vice-versa, produzindo  efeitos espetaculares. Daí o nome desse pedal ser “wah-wah”.  
   
  Em  uma de nossas idas a Parnaíba, um músico local me fez uma proposta vantajosa  para comprar meu “wah-wah”. A quantia que ele oferecia daria para eu comprar  dois pedais novos. Animado, concretizei o “grande negócio”. E “dancei”, porque  ao chegar a Fortaleza e manter ligações com o tio João, descobri que aquele  pedal não era mais fabricado e tive que optar por uma marca pior, quase com o  mesmo custo.  
           - A minha guitarra "Supersonic" 
               
            Tive umas quatro ou cinco guitarras durante a existência do Big  Brasa. Cuidava muito bem delas, como até hoje tenho zelo por tudo que possuo. O  músico que se preza tem que tratar bem seu instrumento, conservando-o sempre da  melhor maneira possível. Uma dessas guitarras, a que mais gostava, chegando  mesmo a “conversar” com ela às vezes, foi uma “Supersonic”, fabricada pela  Gianinni. No princípio eu a usei por algum tempo sem modificação nenhuma.  Essa guitarra possuía uma característica  importante para um solista. Com ela eu conseguia utilizar a alavanca diversas  vezes sem que ela perdesse a afinação (para quem é músico fica fácil entender).  Nos improvisos em rocks e blues coisa fundamental.  
              
            Mesmo assim, um  dia resolvi dar uma melhorada nela, em suas formas e em seu som. Desmontei-a  por inteiro, inclusive seus componentes eletrônicos, como os três captadores de  som, sistema de alavanca, molas, cavalete, braço e tudo. Ao final estava  completamente desmontada. Eu olhava para as peças e pensava: será que vai dar  certo? Com uma pequena serra e depois lixas, cortei um pouco suas formas de  modo a que ficasse parecida com uma “Gibson”, uma das melhores marcas do mundo.   
             
            Depois começou a parte dos acabamentos. Apliquei massa como se faz numa pintura  de automóvel, no sentido de laqueá-la. Adquiri um novo conjunto de captadores e  escolhi um deles em substituição a um dos originais, por ter uma sonoridade bem  interessante. Andei mexendo um pouquinho nos pequenos circuitos dos controles  de graves e agudos, acrescentando ou modificando, na base da experimentação  mesmo, alguns capacitores (componentes eletrônicos que, dependendo de onde são  usados, alteram o som). A pintura, de branco, foi à pistola, com um cuidado  todo especial. Ficou muito legal, parecendo até mesmo “de fábrica”.  
             
            Passei  então à fase crítica da montagem, para que ficasse afinando normalmente e  conseguindo as “oitavas” numa boa. Com um encordoamento “zerado”, não lembro a  marca, comecei a testar a “nova” guitarra. Deu certo! Estava com uma verdadeira  “Gibson”, home-made, que me serviu  por muito tempo e que até hoje me traz ótimas recordações.  
          - O primeiro órgão  eletrônico
          A  aquisição do primeiro órgão eletrônico - um Diatron - foi feita pelo meu pai,  na Mesbla, através de um cartão de crédito, cujas prestações foram inúmeras e  difíceis para serem quitadas. Lembro-me que ele reclamava bastante no final do  mês, quando ao pagar a prestação a dívida pouco diminuía.  
             
  Com  a presença do órgão o Big Brasa evoluiu muito, tendo em vista o aumento das  possibilidades de arranjos, combinação das sonoridades, marcação rítmica e base  harmônica mais completa, além dos próprios solos do instrumento. Esse Novatron  não tinha muitos recursos, se comparado aos equipamentos modernos: vibrato e  alguns timbres diferentes, com os controles de graves, agudos e volume, este feito  através de um pedal que volta e meia apresentava defeito - quase sempre em seu  cabo de ligação.  
          - Ainda falando de teclados 
           
            No  segundo órgão, que a fábrica chamou de Novatron, algumas novidades, mas a mesma  essência. Nesse segundo equipamento é que houve a decepção, por parte do Mestre  Alberto, quando encontrou o órgão, em um final de festa,  com as laterais do teclado e uma das teclas  queimadas por um cigarro, por simples desleixo do organista. Ele fala nisso até  hoje. Na verdade um músico que se preza e que compra seu instrumento com  dificuldade, pelo menos em princípio deveria ter muito cuidado e zelo com ele.  
             
  Posteriormente,  nos teclados que o Big Brasa usou, pudemos inovar bastante. Na época em que  passei a tocar teclados, quando tive que substituir o Adalberto, adquiri três  pedais (sustainner, phaser e flanger), os quais interligados ao órgão produziam  sons bem diferentes dos usuais, despertando muita atenção por seus efeitos  sonoros.  
   
  Além  de órgãos eletrônicos utilizei diversos outros teclados, a exemplo de um  sintetizador monofônico (para os que não leigos, que tocava uma nota de cada  vez, não produzindo acordes). Pouco tempo depois fui à São Paulo e adquiri um  sintetizador polifônico, mais moderno. Custou uma grana violenta. Com ele a  parte harmônica podia funcionar, visto que os acordes soavam normalmente.  Entretanto a dificuldade para programar os diferentes sons e efeitos era muito  grande. Perdia muito tempo e tinha que ser mais operador do que músico. Não  satisfeito com esse equipamento, troquei-o em Fortaleza por um órgão eletrônico  de dois teclados e comprei um outro sintetizador, o Poly-800. Com o Poly-800 a gente tirava sons e  efeitos incríveis. Daí por diante chegou a fase dos sintetizadores mais  “pesados”, tipo DX-7, da Yamaha.  
   
  O  primeiro modelo DX7 era excelente, em seus diversos aspectos. Com sua qualidade  de som espetacular, o equipamento pesava aproximadamente oito quilos e possuía  um teclado de cinco oitavas, muito macio. Possibilitava ao músico nele  programar, ou seja, criar seus próprios sons e timbres à vontade e  armazená-los  em sua memória. O DX7 já  vinha com um cartucho com uma infinidade de sons programados, além daqueles  previamente gravados de fábrica. Adquiri depois outros cartuchos RAM, aqueles  nos quais se pode gravar, e assim pude gravar meus sons, timbres e combinações  de sons prediletos para utilizá-los em outro DX7, se necessário, levando apenas  os cartuchos previamente gravados.  
   
  Mais  tarde consegui adquirir também um teclado Roland, modelo E-20, de excelente  qualidade. Com esse instrumento, eu e o Airton França formamos uma dupla muito  legal. Ele com um violão Ovation, de sonoridade ótima, cantando (muito bem, por  sinal) e até mesmo tocando piston, e eu fazendo alguma parte de vocalização e  tocando órgão e sintetizador. Na fase dos órgãos eletrônicos modernos, cheguei  a utilizar alguns desses teclados que “fazem tudo”, com bateria, baixo,  harmonia e efeitos para solo de diversos tipos. Chamados também de  “desempregadores” de músicos, visto que um tecladista com um desses  equipamentos pode substituir um conjunto inteiro, dependendo do ambiente que  esteja trabalhando.  
   
   Associado  a esses órgãos eletrônicos cada vez mais perfeitos, hoje em dia mantenho ainda  um sintetizador DX7 - II, da Yamaha, que possibilita centenas de possibilidades  de programação, enfim, um instrumento utilizado pelos melhores grupos não só do  Brasil mas do mundo inteiro. Com esse DX7, utilizo também um teclado Roland, de  sonoridade excelente. 
   
  Meus filhos, Alberto  Neto e Cristiane, desde pequenos demonstraram uma grande afinidade pela música.  “Filho de peixe, peixinho é”, diz o ditado, pois mesmo quando crianças sempre  gostavam de tocar em instrumentos musicais de brinquedo. Em nossa casa, para  não “perder a forma”, ainda hoje mantemos uma pequena sala de música, com  teclados, guitarra, pedais, microfones, amplificadores, caixas de som, estante,  partituras e outros acessórios, onde todos nós somos freqüentadores. De vez em  quando estamos por lá para “tirar um som”. 
   
  O ESTILO DE  REPERTÓRIO 
             
            O  Conjunto Big Brasa sempre teve um repertório variado, que atendesse à maioria.  Tocava músicas de muitos estilos, sendo preferencialmente um conjunto de  iê-iê-iê, ritmo quente no movimento que constituiu a Jovem Guarda. Mas quando  tocávamos no interior, tínhamos que estar preparados para tocar de tudo. Xotes,  forrós, sambas, boleros, mambos e valsas. O que desse e viesse ... 
             
  Quando  você está em algum baile e observa os conjuntos musicais mudarem de uma música  para outra, sem interrupções bruscas, como se tudo fosse automático, certamente  existe um planejamento criterioso ou então muita prática para que isso ocorra.  O roteiro musical escrito serve, principalmente, para que o líder do grupo  possa lembrar de todas as músicas disponíveis no repertório, evitando assim o chamado  “branco de memória”, tão comum de acontecer para quem está tocando. Por isso  mesmo, para qualquer das funções musicais que o Big Brasa fosse participar, o  roteiro das músicas, por escrito, sempre foi peça fundamental.  
   
  A  responsabilidade pela seqüência das músicas a serem tocadas era minha, assim  como a de avisar a todos os músicos no palco qual seria a música seguinte. Uma  preocupação a mais, além de tocar o próprio instrumento. Com a prática,  sabíamos mais ou menos a ordem como as músicas deveriam ir sendo tocadas. A  gente estabelecia, para facilitar, sinais ou gestos que representavam uma  determinada música ou uma seqüência previamente ensaiada. Nesses roteiros,  muitas músicas não figuravam com seus nomes corretos. E outras vezes nem  chegávamos a saber o nome real da música, sendo muito fácil a gente encontrar  em um repertório, músicas como “Rapado em Fá”, “Rita Lee nova”, “Tema Seis”,  dentre outras denominações. Portanto, eu procurava organizar o repertório de  uma forma que as músicas iniciais fossem leves.  
   
  E seguia depois,  gradativamente, até a uma grande animação, que poderia ser obtida tanto com rocks, sambas ou forrós. No meio dos  bailes, tocávamos músicas lentas por um bom tempo, para o descanso geral e para  a dança colada, a verdadeira hora do “amasso”. Depois o conjunto chegava a  “temperatura máxima” de novo, para fazer um intervalo, de trinta minutos, com a  festa no auge. Após a pausa, entrávamos quase sempre como no começo e  terminávamos o baile com todas as músicas mais animadas do repertório, para  fechar “com chave de ouro”. Isso tudo dependia muito do local e do público onde  estávamos nos apresentando. A seqüência do repertório, na realidade, não era  rígida. Essa flexibilidade significava quebrar a ordem determinada pelo roteiro  para atender a um pedido ou solicitação de alguém, desde que a mudança não  atrapalhasse o ritmo da festa. Quem tinha essa função, não estava livre de  erros. Uma escolha de música, feita de modo errado, podia esvaziar o salão  repentinamente.  
   
  Guardei  até hoje muitos roteiros usados pelo Big Brasa em seu repertório. Quem  participou do conjunto deverá lembrar, com certeza, de algumas das seguintes  músicas, as quais estão transcritas como foram grafadas na época e em ordem  alfabética: 
            
          - A inclusão de  músicas antigas no repertório 
             
            Outra novidade que apresentávamos desde o início do  conjunto, por sugestão de meu pai, foi a inclusão de músicas antigas com ritmos  e arranjos modernos. “Peguei um Ita no Norte” iniciava uma das seqüências. O  pessoal do conjunto não vibrava muito com isso, mas na verdade causou grande  sucesso. Essa fórmula posteriormente foi - e ainda está sendo até hoje -  utilizada por inúmeros artistas, cantores e grupos musicais.  
          - Idéia excelente,  dificuldade para a execução
          O Mestre Alberto tentou inovar mais uma vez, através da  idéia de apresentar “slides” com o título de cada música do repertório, que  seriam  projetados no palco durante as  festas. Desse modo o público ficaria vendo a projeção do nome das músicas  tocadas. 
             
  A seqüência desses “slides” seria a mesma que a do  repertório. Excelente idéia mas muito onerosa e de execução difícil, por isso  mesmo deixou de ser implantada. Ele próprio, no intuito de melhor organizar o  repertório, chegou a datilografar fichas para cada música, como em um arquivo,  catalogando mais de 200 títulos de diversos estilos.  
   
   Vejam vocês que tudo isso ocorreu por volta de 1967 a 1969, quando nem se  pensava em programas de computadores capazes de fazer apresentações magníficas,  telões, “data-show” e demais recursos tecnológicos da atualidade. 
   
  Outra  tentativa de meu pai foi a de gravar todas as músicas tocadas durante os  eventos. Mais uma vez a falta de recursos financeiros de nossa parte e também  de tecnologia. Ainda não tínhamos os gravadores de fita cassete. O gravador que  ele usava, funcionava com fitas de rolo e possuía um mecanismo muito  problemático. Além disso as gravações tinham que ser feitas nos palcos, com o  som ambiente, pois não se utilizava naquele tempo recursos como saídas de áudio  em linha dos amplificadores ou mesas de som.  
           
          Fitas de vídeo, nem  pensar. Conhecemos o videoteipe mais ou menos em 1971, com as antigas máquinas  de videoteipe da TV Ceará, também com fitas enormes. Acho até que nem existem  registros em vídeo dessa emissora. Os programas gravados num dia era apagados  pouco tempo depois, com novas gravações, pela necessidade de reutilização das  fitas. 
            
          
            VESTUÁRIO – UM GRUPO  ELEGANTE 
                 
                No princípio, por  orientação do meu pai, bem acolhida por todos, o Big Brasa usava fardamentos,  isto é, mantinha grupos de roupas que às vezes substituía durante as próprias  festas. Houve uma noite, em Umirim, que o Conjunto mudou de roupa quatro vezes,  impressionando a todos os presentes. Isso contribuiu para formar uma falsa idéia,  também em Fortaleza, de que o conjunto era composto por pessoas ricas. 
                 
                O Big Brasa procurava  acompanhar a moda jovem. Se era camisa de gola-rolê, tudo bem, malha, calça  estreita, cabelos longos, tudo. As calças “Lee” e os tênis também faziam parte  efetivamente de nosso guarda-roupa. Fazíamos questão, além de ensaiar bastante  para fazer o melhor, procurávamos também manter boa aparência, pois isso para  nós era fundamental.               
               O Mestre Alberto não  gostava de barba malfeita ou por fazer, ou então cabelo grande. Segundo ele,  dava um aspecto de sujeira e não era legal. No começo do conjunto, quando ainda  nos acompanhava, pediu para o Lucius tirar sua barba, que estava grande. O  Lucius, com muito respeito, educação e diplomacia, qualidades que sempre  possuiu, disse-lhe que iria satisfazer a sua vontade, mas que aquilo não tinha  nada a ver. Hoje em dia o Mestre Alberto reconhece que estava errado e aquilo  “não tinha nada a ver” realmente.  
                 
  Houve o tempo, pelos  anos 69, 70 e 71, das calças boca-de-sino. Era moda total e quem não as usasse  não estava com nada. Nas calças “Lee”, que foram os primeiros jeans a surgir, nós tínhamos que  arranjar umas tiras e mandar emendar na parte de baixo para alargá-las e assim  poder ficar “na crista da onda”.  
   
  Na coluna do jornal O  Estado, intitulada “Alta Roda”, o seguinte comentário sobre o Conjunto: “O Big  Brasa, aqui da terra, talvez seja o único conjunto que não aderiu à moda  cabeluda. Seus componentes se apresentam elegantemente com cabelos cortados à  la homens sérios!”. 
   
  Nos bailes de 15 Anos e nos de Formatura, bem como em  outras funções mais especiais, usávamos terno e gravata ou blazers. O Big Brasa  sempre se portou adequadamente no que se refere ao visual. 
               
           
           OS  ENSAIOS DO BIG BRASA – SEMPRE NO “QG” 
              
             Durante os ensaios,  quando esses se realizavam na garagem de nossa casa, o pessoal que passava na  rua sempre parava para olhar. Hoje, passados 30 anos, de vez em quando algumas  pessoas ainda associam e fazem referências ao endereço, dizendo:  
             
               - É  ali, perto do Big Brasa?  
             
            Muitas  vezes passávamos dias inteiros plenamente envolvidos com a música.  Consequentemente, toda a alimentação do pessoal ficava por conta de meus pais.  Naquele tempo eu não percebia nada disso. Não porque não me importasse, mas com  certeza pela falta de experiência, natural da juventude. Nunca tinha pelo menos  imaginado o custo de um dia de ensaio para todo mundo, em se tratando de  alimentação e trabalho por parte de todos aqueles que se envolviam,  particularmente de minha mãe, que se preocupava para não faltar nada para o  grupo. Somente alguns anos depois é que descobri que tudo aquilo devia pesar no  orçamento de meus pais, além de ser trabalhoso, pois envolvia a participação  direta e indireta de todos de casa, no desejo de atender bem e de que o  conjunto se firmasse.  
             
             Um  detalhe importante, merecedor de registro, é o fato de que os meus pais  preferiam que a turma toda se reunisse em nossa casa, nos cafés das manhãs,  depois das viagens, objetivando manter a unidade do grupo. Muitas e muitas  vezes chegamos de viagem e a mesa estava pronta, com café, pão, bolos, suco de  frutas e tudo mais que a mamãe conseguisse preparar. Tal fato pode hoje ser  analisado por dois aspectos: o da segurança, se é que eles queriam observar  como o pessoal tinha retornado; e também o de proporcionar uma reposição de  energia necessária a jovens de nossa idade, em vista do sacrifício de uma noite  inteira sem dormir e com alimentação muitas vezes precária.  
           O DESEJO DA  PROFISSIONALIZAÇÃO 
              
             Tão logo que possível  regularizamos nossa situação junto à Ordem dos Músicos do Brasil, Secção do  Ceará e com o Sindicatos dos Músicos do Ceará. Tudo providenciado pelo papai,  pois nós mesmos só queríamos saber de tocar. Aliás, hoje vejo que isso é  perfeitamente normal. Na adolescência é difícil ver algum jovem preocupado com  os aspectos legais, burocráticos e coisas do gênero.  
             
            O Registro do nome “Big  Brasa” foi feito no Cartório de Registro de Títulos e Documentos de Fortaleza.  Inicialmente todos os músicos tinham carteiras provisórias. Depois, com a  devida habilitação, receberam as carteiras profissionais definitivas.  
             
            Ao longo da existência  do Conjunto outros músicos participaram com carteiras provisórias. Mas todo  mundo tinha que estar devidamente regularizado.  
             
            CONTRATOS &  HORÁRIOS 
             
            Quando o Big Brasa foi  registrado oficialmente e todos os seus músicos foram legalizados frente à  Ordem dos Músicos do Brasil, Secção do Ceará, bem como junto ao Sindicato dos  Músicos, todos nossos contratos passaram a ser devidamente registrados.  Inúmeras vezes, é importante lembrar, a mamãe se deslocou para a Ordem e  Sindicato para registrar nossos contratos.  
             
            Mandamos fazer um papel  timbrado para os contratos do Big Brasa, de modo a facilitar seu preenchimento.  Esse formulário continha cláusulas relativas ao contratante, ao tempo de  duração do evento, à forma de pagamento, preço da hora de prorrogação e a  relação dos músicos do conjunto, com seus respectivos números de carteiras  profissionais da OMB ou licenças temporárias. Tinha que ser registrado em cinco  vias.  
             
            No  que se refere ao cumprimento desses contratos e dos horários, o Big Brasa era  muito caprichoso. Eu próprio fazia questão de chegar ao local dos eventos bem  antes, para acompanhar e instalar todo o equipamento, afinar o instrumental,  testar os amplificadores, fazer a distribuição do som de maneira adequada ao  ambiente etc. Após tudo isso sempre mantinha contato com o contratante ou  responsável no sentido de dizer que tudo estava em ordem e pronto para o início  no horário determinado.  
             
            Foi  um dos primeiros conjuntos que começaram a tocar apenas bailes de quatro horas  de duração em Fortaleza, com meia hora de intervalo. Os outros conjuntos  tocavam festas de cinco horas. Mas isso, enfatizo, somente na capital porque no  interior do Estado a coisa pegava. Tínhamos que enfrentar verdadeiras batalhas.  Festas de cinco, seis e até sete horas de duração, quando havia prorrogações. A  legislação específica estabelece que os músicos devem tocar no máximo 45  minutos, com intervalo de 15 minutos por cada hora. Mas no Ceará esse dispositivo  nunca foi cumprido. 
             
            Em  uma ocasião, chegamos ao ponto de deixar de fazer um contrato financeiramente  compensador porque já havíamos firmado outro compromisso, para tocar de graça,  a título promocional . Responsabilidade não é para qualquer um... 
             
            PROFISSIONALISMO -  UMA PALAVRA FUNDAMENTAL 
             
            Em  qualquer trabalho, para que se obtenha pleno êxito e destaque, o  profissionalismo tem que existir. Dentro dos princípios que regem um bom  profissional, se encaixam diversos aspectos, como responsabilidade, habilidade  naquilo que executa (que é conseguida através do estudo e do trabalho),  respeito aos companheiros de profissão, coleguismo,  disciplina e perseverança nos objetivos,  entre outros.  
               No  caso do músico, especificamente, isso tudo deve ser multiplicado por dois, ou  seja, o esforço tem que ser duplicado, para superar aquela imagem de que todo  artista é relaxado, desligado, “lunático” e até mesmo alienado.  
             
            Para  mencionar um simples exemplo, uma vez fui tachado pejorativamente de “aquele  guitarrista”, pela mãe de uma namorada. Não deixei por menos, conversei  demoradamente com aquela senhora, de modo que ela soubesse que estava falando  com um cara sério, de boa família e de bons princípios. E através de meus  procedimentos consegui que ela e seus familiares modificassem o conceito que  faziam sobre mim, pelo fato de ser músico.  
               
            Por  esses e outros fatores, é que formulei uma proposta de trabalho para o  exercício de minhas funções profissionais, de modo a tentar, de todas as  maneiras possíveis, desfazer essa imagem negativa, que o músico ainda possui,  para uma parcela da população. Tarefa difícil, pelo preconceito existente com a  profissão de músico, mas não impossível, pois consegui fazer a minha parte, de  manter a dignidade da profissão e lutar contra o preconceito.  
             
            MÚSICO AUTÔNOMO -  NEM PENSAVA NO FUTURO... 
             
            Contribuições para o  INPS, para quê? Eu não sabia a importância que teria para o meu futuro.  Providência importantíssima foi a lembrança de meu pai, Alberto Ribeiro, que  logo que pôde me inscreveu como autônomo e começou a recolher as contribuições  mensais para o Instituto Nacional de Previdência Social, o INPS. Quando ele me  informou sobre o assunto naquele tempo, para falar a verdade não dei a  importância devida. O tempo foi passando e ele pagou todas as contribuições  ininterruptamente. Quando completei 18 anos ele chegou para mim, com uma pasta  verde na mão, e disse:  
             
            - Está aqui, tudo pago,  todas as contribuições mês a mês, direitinho. Se você quiser continuar a pagar  – e eu acho que vale a pena  
           – continue, agora você já é maior de idade... 
               
            E me entregou a tal  pasta, que continha todas as guias de recolhimento das contribuições, sem  faltar nada, as quais me serviram de forma espetacular para contar tempo de  serviço para minha aposentadoria, averbados também o tempo de serviço público  estadual prestado junto à TV Educativa do Ceará, Canal 5 e ao serviço público  federal.  
          FORTALEZA E OS  CLUBES DA ÉPOCA 
             
É importante dizer que  nos anos 60 as diversões da vida noturna de Fortaleza se caracterizavam por  bailes em clubes, diferentemente do que ocorre hoje em dia, com os mega-shows em casa de espetáculos de  grande porte. Quem viveu os “Anos Dourados” certamente tem saudades das festas  desse período. 
 
Quem não lembra dos  preparativos que fazíamos para ir a alguma festa e de como os conjuntos  musicais eram mais valorizados? E dos festivais, sempre muito freqüentados, as  paqueras, a dança colada? Para nós músicos não era muito fácil, pois na maioria  das vezes estávamos trabalhando nos finais de semana. Em nosso caso, quando o Big  Brasa tinha folga nos contratos, saíamos de Messejana para nos divertir um  pouco em algum clube. Entretanto, antes de nossa turma completar dezoito anos e  poder dirigir, tínhamos que chamar um carro de praça, normalmente uma rural,  para que nos conduzisse até o clube e voltasse na madrugada para nos trazer de  volta para Messejana.      
 
Para se ter uma idéia do  que rolava nas noites de Fortaleza, segue uma relação dos clubes que existiam  na época, em ordem alfabética, nos quais o Big Brasa atuou, por várias vezes.  
 
O Balneário Clube de  Messejana, a Sociedade Bairro de Fátima, o Clube de Regatas Barra do Ceará.  Mais adiante o Iracema, o Líbano, o Iate Clube de Fortaleza, o Ideal Clube, o  Náutico Atlético Cearense, o América Futebol Clube, o CRA - Clube Recreativo da  Aerolândia, a COFEBA (Colônia de Férias dos Funcionários do Bento Alves), o  Recreio dos Funcionários, o Clube General Sampaio, o Vila União, o Massapeense,  a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), o Clube dos Diários, o Clube  do Jornal O POVO (Messejana), o Clube da Caixa Econômica, o Maguari e o Memphis  Clube, de Antônio Bezerra.  
 
  O BALNEÁRIO CLUBE DE MESSEJANA 
   
  Localizado às margens da Lagoa de  Messejana, na qual, segundo a lenda, e o escritor José de Alencar, Iracema, a  “virgem dos lábios de mel”, tomava banho e saía correndo até a Praia de  Iracema, chegando a seu destino ainda com os cabelos molhados, tal a sua  rapidez.  
  O Balneário Clube de Messejana tinha  uma extensa área verde ao redor do salão, bem arborizada, formando um espaço  muito agradável para seus freqüentadores. O clube possuía uma arquitetura  simples, sendo amplo e bem estruturado, no que se refere ao salão de dança e  palco. Deixava muito a desejar pela precariedade de suas instalações de  secretaria, bar e da própria fachada. 
   
  A vista do Balneário era muito  bonita, tendo como cenário a belíssima Lagoa de Messejana, que às tardes nos  proporcionava um pôr-do-sol magnífico, com cintilantes reflexos em suas águas.  Nas manhãs dos sábados e domingos, podíamos ver algumas velozes lanchas,  circulando a lagoa, em passeios que deviam ser muito agradáveis. Naquela época,  como ainda hoje, aquilo era privilégio de gente rica. 
  Nossa turma freqüentava o Balneário  para jogar pingue-pongue, tomar banho de lagoa, jogar bola, paquerar e dançar  nas tertúlias. Praticamente toda a pequena comunidade de Messejana se  encontrava no Balneário. Todo mundo se conhecia. Vivemos, pode-se dizer, a fase  áurea do Balneário de Messejana. 
   
  Durante o período de  existência do Big Brasa, muitas diretorias passaram pelo Balneário, a maioria  delas bem intencionada, no sentido de melhorar e desenvolver o clube, com a  exceção de alguns diretores ditos da “elite”, mas retrógrados, preconceituosos  e pouco inteligentes. 
            
           
          
 
           BIG BRASA  APRESENTA-SE PARA OS BENEVIDES 
              
              A primeira apresentação  do Big Brasa foi na residência do empresário e depois deputado Paulo Benevides,  de família tradicional de Messejana. Fomos para lá, montamos todo nosso  instrumental, que não era lá muita coisa, e tocamos algumas músicas como se  fosse para uma família real, ou seja, para receber o que seria um tipo de  aprovação oficial dos Benevides. Na verdade, naquele dia eu não me incomodei  muito com o fato. Só me interessava mesmo era tocar e formar o conjunto. Mais  tarde é que todos nós fomos percebendo a existência de alguns preconceitos, os  quais em muitas sociedades quase sempre levam ao atraso. Hoje acho que essa  apresentação foi desnecessária. Mas, quando a gente tem apenas 15 anos de idade  pode-se ter opinião formada sobre algo, contudo não se tem força suficiente  para que sua vontade seja plenamente aceita.     
               
              - As pessoas de “elite” e o preconceito     
               
              Messejana,  como também Fortaleza nos anos 60, tinha algumas famílias tradicionais que se  sentiam superiores às demais. Como exemplo o Balneário Clube de Messejana, às  margens da lagoa de mesmo nome, que foi por muito tempo um clube preconceituoso  onde só deveria freqüentar pessoas tidas como de “boa linhagem”.  
               
              Pelo  Balneário passaram ótimas orquestras, oriundas de outras regiões do País. Em  todas as festividades os grupos tinham que atender as preferências musicais dos  ditos “nobres”. Para exemplificar o preconceito existente nas cabeças de quase  todos os diretores do Balneário, no final de década de 60, ou para quem é  detalhista no ano em que o América Futebol Clube foi campeão cearense, havia um  jogador em seu plantel que destacou-se de forma brilhante por boas atuações.  Chamava-se José Deusimar Moreira Pontes, mas era conhecido por “Pinha”, seu  apelido. Nosso vizinho e amigo, o Pinha jogou a princípio no Salgado da Gama e  depois de uma bem sucedida campanha por aquele clube, foi contratado pelo  América onde fez boa figura. Posteriormente foi contratado pelo Maranhão  Atlético Clube, onde ficou conhecido como o “Pelé cearense”. Pois bem, durante  uma das animadas matinais que o Big Brasa tocava no Balneário, o referido  jogador adentrou ao clube, ocasião em que meu pai fez referências elogiosas a  ele ao microfone. Pelo ocorrido o Mestre Alberto foi seriamente criticado pela  diretoria do clube e pela “nobreza” messejanense, por terem achado um absurdo a  menção a um jogador de futebol naquele recinto... 
               
              Outra  vez, em uma promoção do próprio Big Brasa, realizada no Balneário clube de  Messejana, um dos diretores  chegou a  dizer que algumas mulheres de programa tinham sido vistas durante o evento.  Falsa moral, daquele cidadão. À sua colocação, o Mestre Alberto respondeu: 
              -  Rapaz, é o seguinte: desde que não esteja dançando nua, tenha pago ingresso e  esteja se comportando adequadamente, não há problema nenhum nisso.  Teimosamente, esse mesmo diretor insistia  sempre no triste preconceito, dizendo para o meu pai: 
              - Não adianta querer  popularizar o Balneário, que você não vai conseguir, seu Alberto ...   
               
              Realmente o Balneário  não se popularizou, como desejava meu pai e todos nós, e veio a amargar um  melancólico fracasso, tempos depois, indo totalmente à bancarrota por conta de  suas diretorias locais de “elite”. 
               
              A TÃO ESPERADA  ESTRÉIA E O PREFIXO -  “AND I LOVE HER” 
               
               Lembro  bem da primeira festa, da estréia do Big Brasa no Balneário Clube de Messejana.  Passamos o mês inteiro nos preparando, ensaiando as músicas que fizeram parte  de nosso primeiro repertório. No dia “D”, amanheci com muita ansiedade, gerada  pela expectativa do evento. Afinal de contas seria uma apresentação pública e  teríamos que animar uma tertúlia, responsabilidade e tanto, principalmente para  quem nunca tinha participado daquilo.  
               
              À noite, todos os  componentes do Big Brasa, com a indumentária escolhida para a estréia,  esperaram pela hora da festa começar na secretaria do clube, para fazer  surpresa do visual do grupo aos presentes. Eu estava sentado em um banquinho,  muito nervoso e até mesmo com um pouco de dor de barriga. Quando chegou a hora  “H”, ouvimos alguém anunciar a entrada do conjunto.  
               
              Nos deslocamos da secretaria  e finalmente subimos ao palco. Fomos bastante aplaudidos. Eu não enxergava  praticamente ninguém. Comecei a tocar o prefixo, And I Love Her, dos Beatles,  com a guitarra, mas quase minhas mãos trêmulas não atendiam as notas desejadas.  Minutos depois senti mais firmeza, em parte também motivada pelos aplausos do  público presente, e aquele impacto da estréia foi sendo aos poucos superado.  
               
            Posso  dizer que essa estréia foi verdadeiramente estressante para mim, de modo  especial por ser eu quem liderava o grupo no que diz respeito a mudanças de  músicas e a seqüência do repertório, além da preocupação em tocar o próprio  instrumento. Com o tempo todos nós adquirimos mais segurança e aquele  nervosismo natural foi gradualmente desaparecendo, o que nos possibilitou  enfrentar públicos de qualquer proporção com muita tranqüilidade.  
           AS TERTÚLIAS NO BALNEÁRIO CLUBE DE  MESSEJANA 
              
           No Balneário foram  inúmeras as apresentações feitas pelo Big Brasa. Nas primeiras, por idéia de  meu pai, o Mestre Alberto, durante o intervalo, eu e o Carló saíamos de mesa em  mesa, ao redor das mesas, tocando com escaleta e violão as músicas de maior  sucesso no momento, sendo que uma delas era “Les Marionettes”, do Herbert  Albert. 
   
  Além das tertúlias,  tocávamos matinais e vesperais. Em 1969 chegamos a tocar um carnaval inteiro no  Balneário. Contratamos mais alguns músicos, para instrumentos de sopro e de  percussão, e fizemos quatro bailes carnavalescos sem problemas. Nosso  desempenho foi plenamente satisfatório e o conjunto atendeu à expectativa  geral. 
   
    Como sempre o Clube,  através de suas diversas diretorias, ao longo da existência do Big Brasa nos  convidou sempre para “prestigiar a prata da casa”, ou seja, para tocar mais  barato. O Balneário, nem o pessoal de Messejana, com pouquíssimas exceções,  nunca nos deu nada, nem uma corda de guitarra. No final dessa nossa primeira  experiência com carnaval, o clube pagou apenas uma parte da quantia acertada  alegando prejuízo. Tivemos que arcar com o pagamento dos músicos e passar o  resto do ano inteiro para receber o restante, no “pinga-pinga”.
             
          O PRIMEIRO BAILE DE 15 ANOS 
          Foi tocado na Associação  Atlética do Banco do Brasil (AABB), em Fortaleza. O Big Brasa para esta ocasião  usou um traje especial, com calças pretas, camisas de seda branca, com destaques  em bordado, e uma faixa vermelha de veludo na cintura. O conjunto, por  iniciativa de meu pai, levou um presente para a aniversariante. 
             
  O repertório estava bem  organizado, vestuário também, instrumental quase completo e o nosso grupo já  começava a se estruturar. Muito importante nesse período era o entusiasmo e a  boa vontade da parte de todos, na ânsia de aprender mais e progredir no cenário  artístico fortalezense. Nessa época a música, a guitarra e o conjunto não saíam  de meu pensamento. 
   
  Detalhe: na fotografia  abaixo, tirada pelo grupo nesse baile, a nossa primeira bateria aparece com os  dois suportes do bombo inteiros. Mais adiante, após a quebra do tal suporte,  foi preciso a utilização de um transformador velho para escorá-lo.  
           
              
          Participavam dessa  forma  ção do Big Brasa os seguintes músicos, da esquerda para a direita: Chico  da Mazé (ritmista), João Ribeiro (guitarrista-solo), Getúlio Alberto, nosso  mascote e pandeirista, Severino Tavares (baterista), João Dummar Filho e Marcos  Oriá, (guitarristas-bases e vocalistas).  
          OUTRAS APRESENTAÇÕES 
               
            - 15 anos no  Bairro de Fátima 
          Outra  das apresentações iniciais do conjunto foi em uma festa de aniversário, em uma  residência no Bairro de Fátima. Para vocês terem uma idéia da situação, o  conjunto tocava com suas guitarras e bateria e todo mundo cantava sem microfone  nenhum, na marra, no sacrifício mesmo. Essa função musical durou mais ou menos  umas duas horas. Isso foi no tempo em que o instrumental e todo o grupo cabiam,  com algum aperto, é claro, em um jipe 51...   
               
            - Os restaurantes  da Beira-mar  
          Nos  primeiros meses, após a estréia, o Big Brasa conseguiu alguns pequenos  contratos, ainda verbais, para tocar em restaurantes na avenida  
  Beira-Mar. Dentre eles o Bayuca, e posteriormente também outros, na Praia do Futuro.  Para nós o rendimento daquelas apresentações era insignificante, mas era tudo o  que tínhamos. Para não “passarmos em branco” os sábados à noite ou matinais aos  domingos, era “pegar ou largar”, como se diz. 
   
  Na  realidade, ganhávamos muito pouco ou quase nada. O conjunto recebia uma quantia  que dava apenas para o pagamento do transporte e para um minúsculo “cachê” para  cada músico. Ao final da noite, recebíamos uma refeição completa do  restaurante. Pelo menos isso! O “esquema” naquele tempo, para quem estava  iniciando, era esse mesmo, não tinha outra saída. O que procurávamos era a  promoção do conjunto, aparecer para o público e tornar o Big Brasa conhecido em  Fortaleza. Mas, para garotos como nós, todos na faixa de 15 para 17 anos, tudo  era novidade...  
   
  Nessas  tocatas, o conjunto ficava muito exposto ao público, quase sempre sem um local  com proteção adequada, com os microfones de vez em quando sendo derrubados por  garçons ou clientes, cabos e extensões elétricas pisados e todas as  desvantagens de se trabalhar com instrumentos musicais e equipamentos  eletrônicos sem estar em um palco.   
   
  Com  o passar de alguns meses, nosso trabalho surtiu efeito. Começamos a receber  contratos para festas particulares de 15 anos, verdadeira moda naquele tempo, e  também de outros clubes. Aí sim, felizmente pudemos deixar de lado os tais  contratos com  restaurantes. 
   
  - Tertúlias na  Sociedade Bairro de Fátima 
          Por  várias vezes o Big Brasa se apresentou em um clube chamado Sociedade Bairro de  Fátima. Quase sempre as tertúlias tinham início com pouca gente, o que  desanimava extremamente todo o grupo. Mas depois de algum tempo o pessoal ia  chegando, devagarinho e as festas terminavam animadíssimas. Um dos garçons  dizia para o  Mestre Alberto: 
               
              -  Aqui é assim mesmo, começa fraco e depois melhora.  
               
            Na  Sociedade Bairro de Fátima ocorreu um episódio digno de registro. Nunca esqueci  aquela noite. Nós estávamos tocando uma tertúlia normalmente e o público  naquela ocasião era razoável. De cima do palco vimos uma equipe entrando pelas  laterais do salão. Era o pessoal de um conjunto de Recife, com um instrumental  bem mais moderno que o nosso. No intervalo ficamos sabendo que o grupo iria  fazer um show. Ficamos observando  aqueles amplificadores modernos, material muito bom. Esse conjunto iniciou sua  apresentação “rachando”. Sabem como é? Quando um conjunto vai se apresentar por  pouco tempo, seleciona as melhores músicas, aquelas que causam impacto e  “sentam o porrete”. Essas músicas são chamadas de “cavalos de batalha”. Depois  que o curto show acaba, quem fica, ou  seja, o conjunto que estava tocando o baile, que se vire para superá-lo. Foi  uma verdadeira barra. Vimos o pessoal desmontar seu instrumental e depois  subimos ao palco novamente para continuar a festa. Reiniciamos com uma  seqüência de solos de guitarra, acho que do “The Pop’s”. Estava trêmulo, mas  com o tempo o pessoal foi entrando no salão para dançar e o nervosismo  acabou.   
          - As tocatas em  Mondubim  
          O  Big Brasa também enfrentou paradas difíceis em Mondubim. Tertúlias mal  divulgadas, certamente, e população pequena do bairro contribuíam para isso,  entre outros fatores que desconheço. O Big Brasa se esforçava muito para animar  o salão, eu tentava de tudo, modificando o repertório,  alternando estilos e ritmos mas não adiantava  nada.    
               
            - Os programas de  Rádio 
           O  Big Brasa participou de alguns programas de rádio levados “ao ar” pela Rádio  Assunção, Rádio Dragão do Mar de Fortaleza e Ceará Rádio Clube.  
               
              O  primeiro deles foi na Rádio Assunção, em um programa apresentado pelo  radialista Aurélio Brasil. As condições técnicas para a apresentação de um  conjunto musical eram mais do que sofríveis. Um estúdio apertadíssimo, de uns 10 metros quadrados  mais ou menos, apenas um microfone para captar todo o som do instrumental e das  vozes (imaginem só) e a apresentação ao vivo. O operador de áudio desse  programa, mesmo se quisesse ou se soubesse, não teria nenhuma condição de mixar  um instrumento ou equalizar o som geral do grupo. Saía do jeito que fosse  mesmo, tudo na base da improvisação. Nesse dia todos estávamos muito nervosos  com a expectativa dessa apresentação. O nervosismo se acentuava quando alguém  nos avisava de que o programa começaria dentro de instantes e logo depois a  gente via a indicação “NO AR” acender, dentro de estúdio. 
               
              Um fato interessante,  que nos chegou ao conhecimento muito tempo depois de ter acontecido, foi que  durante a apresentação do Big Brasa nesse referido programa de rádio, o nosso  amigo Lúbi-Lúbi, de Messejana, que era auxiliar do programa, nos intervalos  chegou para nós com a notícia de que os telefones da emissora não paravam de  tocar, segundo ele os ouvintes elogiando o conjunto e pedindo mais músicas. O  Lúbi-Lúbi fez isso para nos incentivar e até hoje todos nós somos a ele muito  gratos, pois o choque não teria sido nada agradável para quem estava  principiando. A verdade, nesse caso por ele escondida, é que o pessoal  telefonava para pedir para nos “tirar do ar”.  
               
            Ainda na Rádio  Assunção, mais tarde chegamos a fazer gravações de “jingles” para algumas  empresas locais, com o Mauro Coutinho como técnico de som, e a nos apresentar  no Auditório, com platéia, também em programas ao vivo, mas com melhores  condições acústicas para melhor exibição. No mesmo período participamos de  programas semelhantes transmitidos pela Rádio Dragão do Mar de Fortaleza. O  apresentador era o Jurandir Mitoso, muito brincalhão e que ficou sendo nosso  amigo e incentivador. Nesses programas o Jurandir Mitoso, entre uma música e  outra, fazia perguntas sobre o grupo, nos entrevistando sobre a programação  para o fim de semana. Sempre nos deu a maior força.  
          Na  Ceará Rádio Clube não houve participação do Big Brasa, mas sim várias gravações  individuais, com solos de guitarra feitos por mim, para a escolha de “sinais de  tempo” para as transmissões de partidas de futebol, a convite do Mauro  Coutinho. O sinal de tempo, para quem não sabe, é aquele rápido som ou efeito  que precede o aviso, pelo locutor, de quanto tempo de jogo é decorrido. Usava a  criatividade e efeitos com distorção para gravá-los. Lembro-me que alguns deles  passaram muito tempo sendo utilizados e quando eu os ouvia sentia um prazer  enorme pela autoria.  
          A FALTA DE UM  TELEFONE 
             
  No princípio não  tínhamos telefone próprio, fator que em muito dificultou a procura do conjunto.  
   
  O telefone mais perto  de nossa casa ficava na residência da Dona Nadir. Era um daqueles  “macacos-pretos”, como os radioamadores chamam, que tinham uma pequena alavanca  ao lado, a qual acionada fazia soar a campainha de uma mesa telefônica do posto  telefônico de Messejana, para que este completasse a ligação para Fortaleza. 
   
  O sistema, muito  precário em vista do que temos hoje, funcionava assim: nós girávamos a tal  alavanquinha várias vezes até que alguém do posto telefônico atendesse.  Fornecíamos o número a ser chamado e a atendente pedia para que a gente  desligasse e ficasse aguardando. Quando ela conseguia, retornava a ligação.  Muitas vezes levava uma hora ou mais, pois dependia do número de chamadas que  tinha que fazer no momento.  
   
  O  nosso primeiro telefone, de nº 26-40-91, foi adquirido pelo meu pai em um dos  planos de expansão da TELECEARÁ. Este telefone funcionava em uma central nova e  ligava direto para Fortaleza, sem necessidade da intermediação do antigo posto  telefônico. Uma melhoria formidável, portanto.   
   
  Com  o telefone próprio, mandamos imprimir cartões e outros impressos, para ajudar  em nossa divulgação. Até hoje mantenho guardado o meu primeiro cartão de  visita, como guitarrista-solo do Conjunto Big Brasa. 
          MUITOS CONTRATOS,  MESMO SEM EMPRESÁRIO 
             
  O  Big Brasa nunca teve empresário. Muitas festas ao longo de sua existência  naturalmente foram intermediadas por empresários, os quais cobravam 10% do  valor do contrato. Mas empresário próprio nunca chegamos a ter.   
   
  Os  contratos que o Big Brasa conseguia vinham de quem realmente queria nosso  conjunto pela qualidade. Para vir até a sede do conjunto não era fácil,  levando-se em conta a distância de Messejana para Fortaleza, o  tempo que se gastava no percurso pela antiga  BR-116 e as dificuldades de comunicação, pois no início não tínhamos telefone  (coisa rara em Messejana nos idos de 1967), conforme já comentamos.  
           
            O BIG BRASA PELO INTERIOR DO CEARÁ 
           O Big Brasa esteve presente em  muitos municípios cearenses, para animar festas de inauguração, bailes de  formatura e outros eventos, nos quais sempre foi muito bem recebido. Certas  vezes, encontrávamos faixas e cartazes pela cidade ou em frente ao clube local,  dando boas-vindas ao conjunto, além da recepção feita pelas fãs e curiosos. As  viagens do conjunto eram sempre animadas em razão do alto astral da turma.  Depois dos bailes, quando o grupo estava de volta para Fortaleza, elas se  tornavam cansativas, pelo percurso e acomodação nos transportes.  
              
          Nas cidades do interior, quando  chegávamos, a rotina praticamente era a mesma. Encontrar o clube ou o local da  apresentação, retirar todo o equipamento dos transportes e montar tudo,  deixando os instrumentos no “ponto de bala” para a festa, com os amplificadores  e caixas devidamente testados, guitarras afinadas, tudo pronto, de maneira que  a gente pudesse chegar apenas a alguns minutos do início da função. 
          Em seguida nós íamos tomar banho,  jantar e nos arrumar para o retorno ao clube. Não podíamos demorar nessas  etapas, para não perder o horário. Aí é que vem a responsabilidade. Eu  controlava os horários, ficando de olho na turma, para que alguém não se  atrasasse. Isso numa boa, sem mandar fazer nada. 
          As hospedagens sempre foram  simples, mesmo porque o interior do Ceará, exceções à parte, não dispõe de bons  hotéis ou pousadas. Na maioria dos contratos o conjunto se hospedava em um  hotel ou pensão de classificação “sem estrelas”, onde nos preparávamos para o  baile.   
          Durante toda a existência do Big  Brasa consegui manter a liderança sobre o grupo de forma bem democrática, sem  nunca precisar alegar ser dono do equipamento ou coisas desse gênero. Na  realidade eu nunca me senti dono do conjunto e sim um guitarrista e companheiro  de trabalho dos demais integrantes. Nos momentos em que tive que tomar decisões  difíceis, em nome do Big Brasa, não hesitei. De forma certa ou errada mais  decidi. Quando o assunto envolvia todo o pessoal a turma era consultada, para  decidir sempre com base na maioria.  
          Entre os municípios cearenses que  o Big Brasa se apresentou estão: Aquiraz, Aracati, Baturité, Canindé, Cascavel,  Caucaia, Crateús, Guaiúba, Horizonte, Ipueiras, Itapagé, Maranguape, Maracanaú,  Massapê, Mombaça, Nova Russas, Pacajus, Pacatuba, Pacoti, Pindoretama, Quixadá,  Quixeramobim, Redenção, Russas, São Benedito, Sobral, Tianguá, Umirim e Várzea Alegre.  
             
            AS VIAGENS PARA FORA DO ESTADO 
          Os  contratos do conjunto para fora do Estado não foram muitos, porém todos eles  marcantes. O Big Brasa esteve nos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte,  Maranhão e Piauí. Como músico “free-lancer”, além disso, estive também em  Campina Grande, Estado da Paraíba. 
             
  No  Maranhão, por exemplo, tocamos muitos bailes, em boas temporadas realizadas em  Balsas, Carolina e Caxias e São Luís. As fotos seguintes são ilustrativas desse  período. 
          - As festas  tocadas em Caxias  
           
           Estivemos  em Caxias em 1968, para três apresentações, ainda sob a orientação de meu pai  Alberto. A primeira na União Artística Caxiense, depois na Associação Atlética  do Banco do Brasil (AABB) e por último no Balneário Veneza. Fizemos uma rápida  apresentação na residência do prefeito local, que nos recebeu para um jantar. A  presença de fãs foi uma constante, inclusive com solicitação de autógrafos e  fotografias. Nessa época participavam do Big Brasa o Carló, Adalberto, Edson,  Severino, Getúlio e eu.  
             
            Nota  da imprensa local sobre essa temporada dizia: 
             
            “Encontra-se em nossa  cidade, procedente de Fortaleza, o vitorioso Conjunto Musical Big Brasa, em  excursão artística de divulgação da música moderna. Composto de cinco músicos,  todos pré-universitários, membros de destacadas famílias da sociedade  alencarina, os jovens intérpretes do iê-iê-iê estrearam ontem em animado baile  realizado na sede da União Artística Operária Caxiense, quando tiveram  oportunidade de empolgar os numerosos convidados com uma verdadeira apoteose de  sons e ritmos, que bem os recomendam como um dos melhores conjuntos do gênero  que nos têm visitado. Além de ser equipado com um instrumental dos mais  modernos, o conjunto agrada e faz vibrar a todos pela vivacidade que executa o  seu variado repertório”.  
             
            Imaginem  só que o Big Brasa ainda usava amplificadores de pequena potência e a velha  bateria. Apenas as guitarras já tinham sido substituídas por outras mais  modernas, de marcas Gianinni e Phelpa, modelos “Apache” e “Coronado”.   
             
            O  Faustino, primo de meu pai e o tio Aluízio trabalhavam em Caxias naquele  período. O primeiro como gerente do Banco do Brasil e o meu tio como Juiz de  Direito. Ambos deram total apoio ao conjunto e muito nos prestigiaram em todos  as oportunidades.  
          - Um verdadeiro  “ladrão” na guitarra 
          Em Caxias, fiquei  conhecendo algumas das diversas expressões usadas pelos maranhenses. Durante um  dos intervalos das festas que o Big Brasa tocava, um grupo de pessoas estava  reunido em torno da mesa reservada para o conjunto, quando ouvi uma delas dizer  para a minha mãe, o seguinte: 
             
  - Minha Senhora, o seu  filho é um verdadeiro “ladrão” na guitarra! 
   
  Fiquei prestando  atenção no que ele dizia, percebendo que referia-se à maneira que eu tocava a  guitarra, principalmente por ter usado, em um improviso, um efeito interessante,  tirado com a utilização de um copo, passando pelas cordas, cujo som se  assemelhava ao de uma guitarra havaiana.   
   
  O que de outra forma  seria uma qualificação triste, para se ouvir a respeito de um filho, para ela,  a Dona Zisile, soou como música, pois o emprego da palavra “ladrão”, nesse  caso, significava uma pessoa que executava bem aquele instrumento, um “craque”  em sua arte. Uma expressão muito usada pelos maranhenses.    
          Um grande susto  que o Mestre Alberto levou... 
          Por  coincidência, em Caxias encontramos meu primo João Ribeiro da Silva Júnior, o  qual naquele ano, como capitão do Exército, da arma de Cavalaria, participava  de treinamentos militares anti-guerrilhas. Sabendo da presença do conjunto na  cidade, o João Ribeiro (capitão) resolveu pregar um susto no meu pai. Chegou  então ao hotel, onde estávamos hospedados, e mandou o gerente avisar ao Mestre  Alberto, que o comandante das manobras do Exército no local estava querendo  falar com ele. O cara deu o recado e até mesmo exagerou, de propósito, ao dizer  que “um coronel do Exército, muito irritado com a presença daqueles músicos  cabeludos, porque estavam hospedados no mesmo hotel que ele, queria um  entendimento com o chefe daquele grupo”. Não sei muito bem, mas o meu pai deve  ter levado um tremendo susto, uma vez que o Brasil estava naquele período com  um governo militar e enfrentando problemas com a guerrilha do Araguaia. Como o  Mestre Alberto tinha idéias consideradas “de esquerda”, deve ter se assustado  com aquela brincadeira. 
             
  Sobre  esse outro João Ribeiro, meu primo e amigo, hoje coronel Silva Júnior,  reformado, tenho a dizer que sempre foi uma pessoa muito legal comigo, além de  gostar de música, de violão e de cantar. Após ter comandado algumas unidades  militares, exerceu com firmeza a função de Secretário de Segurança Pública do  Estado do Maranhão. Hoje em dia reside em Balsas, com sua família. 
          - Big Brasa em São  Luís do Maranhão 
          Em  1968 o Big Brasa também foi contratado para tocar três festas em São Luís do  Maranhão. Não sei bem como foi feito e nem com quem foi assinado o contrato.  Lembro, com certeza, que tocamos no Casino Maranhense, no Lítero Clube e no  Grêmio dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Maranhão. Pelo  contrato para três bailes, receberíamos 600 mil cruzeiros, mais passagens de  avião de ida e volta. Um contrato e tanto, visto que hoje em dia apenas os  grupos famosos conseguem contratos assim.  
             
  O  Big Brasa nesse tempo era composto pelo Carló, Edson Belém, Edson Girão,  Adalberto, (guitarristas-bases e vocalistas), Severino (baterista) e eu,  “Beiró”, como guitarrista-solo. O Getúlio,  meu irmão, mascote e pandeirista, também viajou conosco. Antes de partirmos  fizemos umas fotos no Aeroporto Pinto Martins e outras logo que chegamos a São  Luís. 
   
  Num  dos bailes dessa temporada, no Clube dos Sargentos e Subtenentes da Polícia  Militar, o organizador veio até nós solicitar que acompanhássemos  uma jovem cantora da cidade, de 15 anos, que  tinha uma voz belíssima. 
   
  No  meio da festa fizemos uma pausa e essa moça ensaiou rapidamente conosco para  depois dar um verdadeiro show de voz,  empolgando todos participantes. Ficamos sabendo muitos anos depois que essa  cantora era nada menos que a Alcione, hoje famosa, filha de um daqueles  militares. Ela estava vestida de branco, muito graciosa, e fez uma belíssima  apresentação. 
   
  O  Big Brasa, mais uma vez, em São Luís, teve contato direto com outro conjunto  local que logicamente possuía contrabaixo. O contrabaixista nos mostrou o  instrumento e até se propôs a nos emprestar o instrumento para a noite, se fosse  o caso. Mas não tínhamos ninguém ainda capacitado para isso. E foi tudo daquele  jeito, sem contrabaixo mesmo. Imaginem só como deveria ser: aquele som metálico  e estridente de três ou quatro guitarras e uma bateria, sem o peso da marcação  e do próprio som do contrabaixo. 
          - A temporada de Balsas 
           
             Foi  em 1968. O Conjunto Big Brasa era integrado pelo Dummar, Carló, Marcos Oriá,  Severino e eu. Chegamos à cidade e foi aquele sucesso estrondoso.  
             
            A  curiosidade e o desconhecimento de conjuntos faziam que surgissem confusões até  mesmo de nomenclatura, quando um cara perguntou ao Mestre Alberto, logo após nossa chegada, se o nome daquele  instrumento era “tarracha” ou guitarra. Ele quase morreu de rir do cara e lhe  explicou direitinho, que o nome era mesmo “guitarra”. Seguimos do aeroporto de  Balsas em cima de um caminhão, que rodou pelo centro e principais ruas de  Balsas, acompanhado por outros carros (a maioria jipes), como uma “carreata”. O  pessoal ficava olhando aquilo tudo, admirado e acenando das portas e janelas.  Tudo aquilo foi realmente impressionante para nós e a responsabilidade pesava  mais ainda, depois daquela recepção. Era o Big Brasa o primeiro conjunto com  guitarras que iria se apresentar em Balsas. Daí se explicava toda aquela  curiosidade.  
             
            Um  panfleto circulou pela cidade, antes de nossa chegada, anunciando: 
              
            “A partir do dia 18 do  corrente mês se encontrará em nosso meio o conjunto Big Brasa, autêntico  representante da música popular moderna. Trata-se de um conjunto de jovens,  onde figuram dois balsenses, e que vem alcançando grande sucesso no meio social  de Fortaleza. Espera-se contar com o apoio integral do povo balsense para este  acontecimento, que cumprirá uma dupla missão: recreativa e cultural”. 
                       
                      O pessoal todo estava  entusiasmado com a nossa presença. Dentre os mais animados estavam o nosso  primo Bernardino, o Gonzaguinha e o próprio Mestre  Alberto. Depois seguiu-se a preparação do nosso “enorme instrumental” no  clube. O problema maior era o som para a voz. Havia naquele tempo os “serviços  de som” dos clubes, normalmente um amplificador muito fraco e ruim, com pouca  potência e caixas de som também de péssima qualidade. na última hora uma das  caixas pifou e quem “salvou a pátria”, substituindo um alto-falante defeituoso,  foi um padre italiano de quem não lembro o nome. Mas assim mesmo o som não  deixava muito a desejar... 
          - E cordas de  guitarra, tem mais por aí ? 
          Outro  problema que surgiu nessa temporada foi o da falta de alguns acessórios,  principalmente cordas para as guitarras. Nós não tínhamos experiência e  falhamos ao não levar para Balsas vários encordoamentos de reserva. Resultado:  a turma da mão pesada quebrou várias cordas. Desse “time” fazia parte o Dummar,  que com suas batidas fortes, como fazia ao violão, bateu o recorde. Eu também  não escapava quebrava disso e de vez em quando quebrava uma. Os encordoamentos  não tinham a resistência como os de hoje. A solução, embora precária, foi  comprar cordas de violão para substituir as das guitarras. Não tinham a  sonoridade adequada, mas não tinha saída, foi o jeito utilizá-las. Vale aquele  ditado: ruim com elas, pior sem elas. E demos uma verdadeira baixa nos  encordoamento de violão no comércio local.  
          - A acertada  crítica do Leonizar sobre o conjunto
          Ainda  sobre a temporada de Balsas um fato merece citação com destaque. Soube-se que  durante a apresentação do Big Brasa no Clube, na qual a platéia admirada  aplaudia, com sucesso total, um músico da cidade (saxofonista), chamado  Leonizar, comentou numa roda de amigos que naquele conjunto uma guitarra estava  desafinada. Foi levado ao ridículo, por desconhecimento musical e pela  empolgação daquela turma. Simplesmente não admitiam a idéia exposta pelo  Leonizar. 
             
            Esta  história espalhou-se por toda a cidade e o pessoal “tirou o couro” do Leonizar.  Acontece que o único mesmo que estava com plena razão era o mestre Leonizar,  dono de um “ouvido” fora de série, excelente músico, que simplesmente constatou  uma grande verdade. Muitas guitarras estavam mesmo desafinadas e era uma  confusão geral para acertá-las quando isso ocorria em virtude da precariedade  dos instrumentos, das cordas (encordoamentos de violão) e da barulheira total.  Esse fato serve para ilustrar que muitas vezes a razão é encoberta pela emoção.  
          - Big Brasa em  Carolina
          Motivado  pelas apresentações do Big Brasa em Balsas, um grupo de pessoas de Carolina,  cidade próxima, que mantinha certa rivalidade com Balsas, logo se mobilizou, no  sentido de contratar o conjunto para duas apresentações. Ainda mais, porque  esta cidade tinha fama pelo seu bom nível cultural. 
             
            Depois  do contrato devidamente acertado foram enviados dois pequenos aviões  monomotores para nos transportar, daqueles que já levantam vôo “na emergência”,  por terem apenas um motor. Imagine só, o Big Brasa viajando em dois aviões. Na  verdade aquilo era um verdadeiro luxo para nós! 
             
            Ao  distribuir nosso equipamento e o pessoal do conjunto nesses dois pequenos  aviões, não houve espaço para o banco da bateria, o qual, por não ser  desmontável, teve que ficar. Foi a primeira dificuldade. 
             
            Durante  o vôo, o piloto do avião no qual eu estava, um pouco mais potente e veloz,  disse que nós poderíamos logo avistar o outro, que tinha decolado um pouco  antes. E com uns dez a quinze minutos ele nos apontou a outra aeronave, que  estava voando do nosso lado esquerdo, a uns 300 metros de distância.  
             
            Teve  ainda a “gracinha” feita pelo mesmo piloto, com relação a uma inocente pergunta  feita pelo Getúlio: 
             
            - E  avião também tem acelerador? 
             
              E o  piloto prontamente respondeu: 
             
            -  Tem... E empurrou um dos botões do painel para a frente, diminuindo toda a  aceleração. O motor diminuiu a rotação e consequentemente o barulho, e aquele  leve aviãozinho começou a perder altura. Só por alguns instantes, porque nós,  imediatamente, pedimos para que ele acelerasse de novo.  
             
            Chegando  em Carolina o Big Brasa foi muito bem recebido, ainda no aeroporto, e em  seguida nos deslocamos para conhecer o clube local, testar e instalar nosso  instrumental. A curiosidade e a admiração pelas guitarras era enorme, em  virtude de ser total novidade naquela época, principalmente em uma cidade do  sul do Maranhão. O caso do banco da bateria, que não coube no avião,  foi resolvido com uma cadeira, colocada em  cima de um engradado de cerveja, de modo a ficar na altura adequada. O Severino  teve que se arranjar desse jeito.  
            Surgiu  um segundo problema: a tensão da rede elétrica oscilava bastante, por ser  gerada através de uma usina local. Baixava muito dos 220 volts, prejudicando o  funcionamento e a qualidade de som dos amplificadores. Tivemos que arranjar  vários transformadores, de diversos tipos e capacidades variadas, cuja  instalação ficou uma verdadeira “gambiarra” no palco. Mas o sacrifício para  conseguir os tais transformadores, por parte de todos, acabou dando certo, no  final de tudo.  
             
            Nas  duas festas tocadas em Carolina, eu e o Carló fizemos apresentações, durante o  intervalo, tocando de mesa em mesa, ao redor da pista de dança, com escaleta e  violão. A música escolhida para aquela oportunidade foi “Les Marionettes”,  ainda lembro. Fomos muito aplaudidos, o que de certa forma causou admiração ao  meu primo Pedro Ivo, que lhe confidenciou ter estranhado “o povo de Carolina  bater palmas daquela maneira”, tendo em vista que era de seu conhecimento que  vários artistas de renome tinham se apresentado na cidade e não receberam tantos  aplausos. Ainda bem que eles “desencalharam” em nossa vez. 
             
            Nosso  retorno à Balsas  foi em vôo comercial,  em uma aeronave bimotor, “DC-3”,  da extinta Real Aerovias. Esse tipo de avião, muito utilizado pelas companhias  aéreas naquele período, não era pressurizado e ouvia-se o ronco dos fortes  motores bem alto, mesmo estando dentro da aeronave. Durante o trecho Carolina -  Balsas, um dos músicos do conjunto resolveu dar uma de turista, pensando que o  atendimento de bordo era de “primeira”. E perguntou a um comissário de bordo: 
             
            -  Seria possível um pouquinho de leite?  
             
            O  comissário, achando muita graça, disse com a maior cara de brincalhão: 
             
            -  Você está vendo alguma vaca aqui dentro? Tem refresco de limão, lá atrás, pode  pegar. Disse ele, apontando para uma torneirinha daquelas. Nesse vôo lembro que  a turbulência foi enorme, em razão da baixa altitude, deixando uma parte de  nosso pessoal meio atordoada. Na chegada em Balsas muitos amigos e conhecidos  estavam nos esperando e nos recepcionaram com muita satisfação. 
            Foi  muito divertido. A temporada valeu a pena por mais uma experiência para todos  nós.   
            
             
            Aeroporto de  São Luís        Balsas – Maranhão                
                          
              - Big Brasa em Recife 
               
            Em  Pernambuco, o conjunto participou por duas vezes das finais dos Festivais  Nordestinos da Música Popular, televisionados para todo o Norte e Nordeste. As  transmissões via EMBRATEL, muito comuns hoje em dia, naquela época consistiam  novidade e motivo de repercussão na imprensa, visto que apenas eventos de  grande vulto mereciam tal destaque.    
          - Big Brasa em  Teresina  
          No  Piauí, o conjunto se apresentou mais de uma vez em Teresina e Parnaíba. Em  Teresina ficamos hospedados na casa do tio Raldir Bastos, que juntamente com  sua esposa, tia Hermelinda, nos recebeu de forma excelente e pudemos  estabelecer um convívio com todos os meus primos. Em um dos bailes realizados  em Teresina, no Clube dos Diários, lembro que durante o intervalo houve um show de um grupo musical da terra.  Quando retornamos para a segunda parte do baile o Big Brasa “botou para  quebrar”. O pessoal mostrou determinação para superar o tal grupo e conseguimos  nosso objetivo.  
             
            O  esforço para apresentar uma música de boa qualidade mais uma vez foi realizado.  Nesse dia, por exemplo, durante uma pequena pausa senti que meus dedos da mão  esquerda estavam latejando e doendo muito, em função de solos e improvisos  executados e, quem sabe, por causa de encordoamentos velhos de minha guitarra.  Tive a impressão que estavam sangrando. Logo que desci do palco, sem olhar para  mão, derramei sobre os dedos primeiramente um pouco de guaraná. Vendo que  estava tudo normal, apenas doloridos pelo esforço, fiquei mais tranqüilo e  segui em frente até o final daquele baile, sem problemas.  
          - Shows em Parnaíba,  com o Ednardo
          Em  Parnaíba, fizemos dois shows com o  cantor e compositor Ednardo, realizamos um show no SESC, seguido de baile no principal clube da cidade. Na primeira viagem o  Big Brasa integrou uma caravana composta por apresentadores e artistas da TV  Ceará. 
             
            Destaque  especial para o show no SESC, onde o  conjunto se apresentou de uma forma impecável e foi muito bem recebido por uma  platéia calorosa e muitas fãs. Ao final da última música, uma senhora que  estava na frente do palco, aplaudindo freneticamente durante o tempo inteiro,  disse para mim que queria cortar um pedaço de minha orelha para ficar de  lembrança! Já pensaram? Ela devia ser alguma parente do Mike Tyson para ter  esse desejo...  
             
            Sobre  esta mesma apresentação, vale também registrar que o conjunto teve dificuldades  para deixar o palco, localizado no auditório, que ficava no segundo andar do  prédio, em razão do verdadeiro assédio praticado pelas fãs. Eu e o Lucius, por  exemplo, passamos entre muitas garotas que aproveitavam para nos abraçar,  beliscar, beijar e pedir autógrafos, gritando freneticamente.  
            A  televisão realmente exercia uma força de propaganda significativa para o Big  Brasa no interior do Estado. De forma que podíamos estar com o grupo em  qualquer condição, mas sempre fomos muitíssimo bem acolhidos. 
          - Em Mossoró, com  o “Big” 
          No  Rio Grande do Norte, em Mossoró, o Big Brasa animou diversos bailes, dentre  eles o da formatura do Carló como engenheiro agrônomo. Essa festa de formatura  da Escola de Agronomia de Mossoró, a ESAM, foi um sucesso total. Havia uma  predisposição para que isso acontecesse, em função do Carló ser muito conhecido  na cidade (era chamado de “Big”, pelos seus colegas de turma e demais  conhecidos). Todos os seus amigos se integraram a nosso grupo e o baile, que  contou com presença de um grande número de pessoas, transcorreu dentro da mais  absoluta normalidade. 
             
            OS TRANSPORTES DO BIG BRASA 
          - Os jipes "51" 
             
               No  princípio era um jipe 51, que cabia todo mundo e mais o instrumental completo.  Não acreditam? É pura verdade. Uma bagunça danada, partes da bateria  espalhados, amplificadores minúsculos e algumas guitarras pequeninas e cabos.  Só isso, não tinha quase nada e dava para fazer a festa!  
               
              Ah! Tenho que falar mais  desta inesquecível fase dos jipes. Marcante também pelos verdadeiros “estragos”  que eles faziam em nossos bolsos em razão dos inúmeros consertos que de vez em  quando neles era necessário realizar. Em contrapartida nos deram muitas  alegrias. Passava na televisão, naquele tempo, o seriado “Ratos do Deserto”,  sobre episódios de guerra, no qual o jipe modelo 42, que assemelhava-se ao 51,  aparecia sempre. Eu fazia de tudo para que o nosso jipe fosse um “Rato do  Deserto”.  
               
              Se  você não se liga nesse papo de “pregos” em carros e oficinas, pule esta parte.  Agora se quiser se identificar comigo, sofrendo um pouco, vá em frente. Às  vezes eu passava dias inteiros na oficina do “Faúna”, que localizava-se  pertinho do Seminário Seráfico de Messejana, em um terreno do lado direito de  quem vai para Fortaleza pela Frei Cirilo, que antigamente era a BR-116.  
               
              Para  manter os jipes em forma tínhamos que marcar presença constante nessas  oficinas. Um dia a parte elétrica, outro a carburação ou a caixa de marchas, a  embreagem. Mais raramente, por sorte nossa, um bloco de motor rachado ou  empenado, com uma junta do tampão queimada. Essas “coisinhas simples” de  resolver... Como eu tinha pouco dinheiro para pagar mecânicos o jeito foi ir  aprendendo a consertar de tudo um pouco, inclusive pintura, chegando ao ponto  de efetuar inúmeros consertos em casa, com recursos e ferramentas  próprios.   
               
              Certa  vez um desses jipes ficou quase um mês na oficina, para remendar a lataria e  fazer uma pintura nova. Paralelamente, o “Raimundo capoteiro”, que ainda hoje  trabalha no ramo, fazia uma capota conversível para transformá-lo em clone de  um “Rato do Deserto”, como aqueles jipes usados pelos americanos que a gente vê  nos filmes de guerra. Foi um verdadeiro sufoco, e haja paciência para que o  serviço fosse terminado. Na verdade a oficina não podia se ocupar o tempo integral  com nosso amigo jipe e ficava parando de vez em quando para receber pequenos  consertos. Mas valeu a pena. Quando o jipe saiu parecia novinho em folha.  Coloquei a capota nova e foi um sucesso total. Por onde passava ou estacionava  o jipe era muito observado. Tão observado que em uma noite, enquanto tocávamos  uma festa de 15 anos na Aldeota, tivemos uma bela surpresa ao sair. Tinham  furtado nosso jipe. Tristeza, decepção, queixa na polícia e nada. 
                
              Veio aparecer  perto do Círculo Militar, três dias após da ocorrência. Os ladrões, depois de  terem usado e abusado do jipe, amassaram seu "capô", rasgaram o  estofamento dos bancos, capota, tudo. Foi uma verdadeira sacanagem - essa  é a  palavra - feita talvez por um grupo de “filhinhos de papai” daquela área.  
               
              Mas com todos os  problemas, o fato é que os jipes 51 eram muito resistentes, ajudaram o Big  Brasa em seu início e nos trouxeram muita sorte em nosso aprendizado no  volante, apesar de que, coincidentemente, no mesmo dia em que recebi a Carteira  de Motorista, tirada em um jipe, a tenha “inaugurado”, com uma batida na uma  traseira de um fusca que atravessou minha preferencial.      Mas isto é outra história ...   
               
            Em  algumas oportunidades, com o Big Brasa recém-formado, também utilizamos uma  Kombi, dirigida pela tia Maria de Lourdes, quando ela ainda era freira -  chamada de “Irmã Margarida”. Ela também nos incentivava bastante. 
          - A Rural
          Antes  da compra da nossa Rural, alugávamos a do Colares, um policial que fazia  “bicos” como motorista. O Colares chegou a fazer algumas viagens com o Big  Brasa. Tipo de policial alto e forte, cabelos grisalhos, sempre brincalhão e  muito tranqüilo. Em certa ocasião, nós achamos o máximo quando ele desceu a  Serra da Ibiapaba, na maior calma, assobiando e dirigindo apenas com uma das  mãos.  
             
            Hoje em dia temos a consciência de que isso não é vantagem nenhuma, muito  pelo contrário. Lembro também que ele costumava brincar conosco, fazendo uma  demonstração de força que consistia em mandar cada um dos integrantes do  conjunto subir em uma de suas mãos, apoiada com os cinco dedos no chão, os  quais sustentava sem muito esforço. Depois conhecemos o “Seu” Fernando,  motorista de praça que nos prestou muitos serviços com a sua rural. O Fernando  “Galba”, como o apelidou o Adalberto, cuidava muito bem da manutenção de sua  rural e era super responsável com os compromissos do Big Brasa.  
          - A nossa Ruralural 
             
          Mais  tarde, com a aquisição da nossa própria rural, veio também o reboque que o  Mestre Alberto mandou fazer para levar o instrumental. Dava um trabalho muito  grande para dirigir a rural com aquele reboque enorme. Para guardá-la na  garagem, com o reboque engatado nem se fala, era dureza... Mais uma vez fomos  treinados intensivamente ao volante e adquirimos mais prática de estrada, como  se diz. Toda essa experiência foi importantíssima para mim.  
             
  Aquela  Rural, com bagageiro maior e na parte de cima, nos serviu muito. Tinha um bom  motor e mecânica razoável. Sua deficiência era na lataria, que vez por outra  estava enferrujando. Como a nossa rural tinha algum tempo de uso, possuía folga  na direção, o que sem dúvida se constituiu em um treinamento forçado para todos  aqueles que a dirigiram. Às vezes, quando em uma estrada de asfalto ela puxava  a direção para o lado esquerdo, ou seja, para a contramão, a situação ficava  complicada, pois tínhamos que corrigir o volante para lá e para cá, em virtude  da folga existente. Iniciava-se assim um vai-e-vem desgraçado, um verdadeiro  perigo... 
   
  - A Kombi "Big Brasa" 
   
   O  tempo foi passando e surgiu a oportunidade da aquisição de uma Kombi, o  transporte ideal para o grupo naquele tempo. A nossa era uma modelo 1959, azul  e branca, com o nome “Big Brasa” pintado nas laterais e na traseira. Gratas  recordações dessa Kombi, a qual por muito tempo serviu ao Big Brasa. Era muito conhecida  em Fortaleza. Um dia, na volta de um  passeio na Prainha, essa Kombi “bateu” o motor. Como diz o ditado “há males que  vêem para bem” e assim foi. No reparo desse motor, foi transformada por  mecânicos da Ceará Motor em uma 1968, praticamente “do ano”, ficando  completamente turbinada. Depois disso nunca nos trouxe problemas maiores e fez  inúmeras viagens pelo interior cearense. 
   
  Com  o objetivo de impressionar a todos e chamar mais atenção eu mandei instalar na  Kombi uma descarga tipo “Kadron”, muito barulhenta. E usava um truque para  espantar os pedestres: desligava a chave com o motor em funcionamento e uma  marcha de força (uma segunda, por exemplo) engrenada até que a velocidade fosse  reduzindo e a compressão do motor aumentando, logicamente. Aí então ligava a  chave e ouvia-se uma verdadeira “explosão” na descarga, que assustava quem  estivesse passando por perto na hora. 
   
  Certa  vez, para emplacá-la no DETRAN, tive que passar por uma vistoria. Daí eu enchi  o cano de escape com bombril, para abafar o ruído. Meu truque não deu certo,  apesar de testado anteriormente. Falhou na hora em que o fiscal mandou que eu  acelerasse bem o motor. O bombril saiu por completo e eu tive que voltar para  Messejana, nada satisfeito, para colocar uma descarga normal. Depois de emplacada,  o teimoso João Ribeiro trocou a descarga nova pela Kadron de novo ...  
          - A Chevrolet de duas cabines 
             
            “Massa”,  seria o adjetivo usado hoje para qualificar aquela camionete. Verde, com duas  cabines, seis faróis (os de milha eu acrescentei), a “Chevrolet”, como a  chamávamos, foi de grande utilidade para o Big Brasa. Para completar aquele  carrão eu mesmo nela instalei um som, com amplificador, e alto-falantes bem  distribuídos pelas duas cabines. Para os padrões da época, o máximo. Íamos para  as festas ouvindo as músicas anteriormente ensaiadas ou então aquelas que a  gente ainda tinha que aprender para colocá-las no repertório do Big Brasa.  Assim a gente unia o útil ao agradável. 
             
  Essa  Chevrolet, segundo o Mestre Alberto, foi um verdadeiro atraso de vida para ele,  pelas despesas que deu em razão de alguns problemas mecânicos. Em viagens ela  agüentou firme várias vezes, inclusive no dia em que fez duas viagens de  Fortaleza a Mossoró, no mesmo dia, transportando equipamentos do Conjunto e  nosso próprio grupo para o baile de formatura do Carló. 
   
 No entanto, em uma noite quando voltávamos de  uma festa, de Messejana à Fortaleza, pela antiga BR-116 antes de sua  duplicação, perto ou quase em frente ao DNER, ela deu uma pifada violenta.  Simplesmente “apagou” o motor e não “pegava” mais. Tentamos de tudo. Como a  gente já era diplomado em mecânica, após ter passado por três jipes 51,  verificamos a parte elétrica, a alimentação, bomba de gasolina, corrente da  bobina, tudo. E nada de encontrar o defeito. Teve que sofrer a humilhação de  ser rebocada de volta. 
 
O  difícil problema foi descoberto apenas no outro dia: um pequeno cano de  alimentação de combustível, por baixo da camionete, que estava obstruído,  provavelmente em razão de alguma pancada. Haja paciência... 
 
Sobre  essa camionete, um fato interessante: um dia, quando meu pai estava em seu  trabalho na TV Educativa, um dos diretores, em conversa informal com ele,  contou que uma vez tinha conseguido se desfazer de um “verdadeiro abacaxi” (que  era a tal Chevrolet), empurrando-a para a frente, como se diz, pois o carro  tinha incendiado em suas mãos e, mesmo depois de consertado, nunca mais ficou  legal.  
 
O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO BIG BRASA 
   
  A primeira festa de aniversário do Big Brasa foi realizada no  dia 28 de abril de 1968, no Balneário Clube de Messejana, com música o dia  inteiro: matinal, vesperal e tertúlia, entrando pela noite. O símbolo desse  primeiro aniversário foi uma flâmula em forma de uma guitarra vermelha e  branca, com os dizeres alusivos à festa. 
   
   Na matinal atuaram os  conjuntos “Os Rataplans”, “Os Belgas” e o “Big Brasa”. À tarde e noite “Os  Milionários, a ala feminina do Big Brasa, e novamente o Big Brasa. Pode-se  afirmar, com certeza, que foi uma das maiores e melhores festas do Balneário,  com um participação maciça durante toda a festividade. Com um detalhe: também  foi uma das primeiras festas dessa natureza a ser transmitida pelo rádio, com  participações ao vivo! A flâmula ao lado foi distribuída na entrada do clube a  todos os participantes, como lembrança do evento.  
   
  A  Diretoria do clube nos ofereceu um troféu, em comemoração a nosso primeiro  aniversário e pelo reconhecimento de nosso sucesso em Fortaleza. Durante o  evento houve uma confraternização geral entre os conjuntos participantes,  dentro de um clima de amizade e coleguismo.   
   
  Não  houve lucro financeiro na promoção. Além das “cortesias” e de muita gente  “furar” a portaria, as despesas com os lanches dos conjuntos foram enormes. E a  minha mãe ainda doou uma máquina de costura nova, que foi sorteada durante o  evento. Por outro lado, os efeitos publicitários foram muito bons, pela grande  repercussão obtida por essa festa. 
   
  A ALA FEMININA DO  BIG BRASA 
   
  Incentivadas  pela formação do Big Brasa, Célia Alencar, Aliete Lima, Lucinha, Neide e  Adriana Oriá formaram a ala feminina do grupo.  
  Foi  como uma brincadeira, mas chamou a atenção da moçada de Messejana. As meninas  ficaram empolgadas com o Big Brasa e resolveram   ensaiar algumas músicas. Com o nosso instrumental, chegaram a se  apresentar algumas vezes nos intervalos das festas do Balneário Clube de  Messejana, sempre com bastante agrado em face da novidade.    
   
  PROMOÇÕES  REALIZADAS PELO BIG BRASA 
   
  O  Big Brasa realizou diversas promoções por sua conta e risco, no Balneário Clube  de Messejana. Isso acontecia, na maior parte das vezes, quando não tínhamos  contrato para uma determinada data e desejávamos preenchê-la. Em algumas delas  o conjunto obteve sucesso, mas em outras foi prejudicado pelo famoso “jeitinho  brasileiro”, de querer levar vantagem em tudo.  
   
  Para  começar, nesses eventos a diretoria do Clube sempre ficava com a renda do bar,  deixando a venda de entradas na portaria para o conjunto. Aí é que a “coisa  pegava”. Enquanto uns compravam ingresso normalmente, muitos queriam “botar  todo mundo para dentro” do clube sem pagar, a qualquer custo. Muitos se diziam  diretores. Alguns membros da diretoria efetiva usavam de sua influência para  colocar pessoas no clube sem pagar ingresso. E muitos ainda tentavam entrar sem  pagar pulando o muro. Houve inclusive um caso em que um grupo de rapazes entrou  nadando pela lagoa de Messejana, com a roupa na cabeça para não molhar - essa  foi demais, incrível! Mas não tinha jeito, a mentalidade de alguns era essa...  
   
  OUTRAS COMEMORAÇÕES  DE ANIVERSÁRIO 
   
  O  segundo aniversário, em 27 de abril de 1969, foi realizado no Recreio do  Funcionário - Clube de Campo, na Lagoa Redonda, tendo como convidados especiais  os sócios do Balneário Clube de Messejana. Abrilhantaram aquela festa mais dois  conjuntos, “Os Milionários” e “Os Belgas”.   Naquele dia os “Belgas” estavam demais. O grupo, composto pelo Edson  Girão, Eudes, Ricardo e Júlio, deu um show à parte no que se refere a vocalização. Tocavam e cantavam os arranjos dos  “Beatles” de maneira espetacular, o som bem ajustado, tudo cem por cento.   
   
  No  dia 22 de maio de 1971 comemoramos nosso quarto aniversário no Clube “General  Sampaio”, no centro da cidade. Muita gente boa esteve presente naquele dia. O  Brasa Seis, um dos melhores conjuntos da época, tocou uma parte da festa  durante o dia. O pessoal da televisão esteve por lá em peso e curtiu bastante.  
   
  AS MATINAIS DO  CLUBE DE REGATAS 
   
  Era  o que se pode dizer uma parada dura, quando tínhamos que enfrentar aos domingos  uma matinal no Clube de Regatas após um baile no sábado, quase sempre muito  cansativo. Quando isso ocorria eu não participava da desmontagem do material na  noite anterior, voltando imediatamente para casa para ganhar um tempo a mais de  sono. Chegava dos bailes, na maioria das vezes entre três e cinco horas da  manhã em casa e dormia muito pouco. O pessoal que cuidava do instrumental  (motoristas e bigus) se deslocava mais cedo para ir  montando tudo. Difícil mesmo era para acordar  e apressadamente tomar um café da manhã, para nos deslocarmos para o clube. Nós  chegávamos quase na hora, a tempo de afinar os instrumentos e logo começar a  função. Mas tudo isso valia a pena, pois nosso rendimento aumentava no final do  mês. 
   
  REGISTRO DE  APRESENTAÇÕES – O MAPA “ROUBADO” 
   
  Mais  ou menos em 1972 eu organizei um mapa, feito em uma folha de cartolina,  contendo aproximadamente 500 apresentações feitas pelo Big Brasa. Tive muito  trabalho na elaboração desse controle, para recuperar ao máximo possível as  funções musicais em que o Big Brasa atuou. Esse levantamento continha  indicações dos locais, clubes, cidades e às vezes até mesmo os nomes dos  aniversariantes. Esse precioso controle infelizmente caiu nas mãos de um  gatunozinho safado, certamente admirador do conjunto. Daí por diante fizemos  mais centenas de apresentações, inclusive as da televisão, mas não houve mais a  preocupação e nem a paciência de manter   registros com tal precisão.  
   
              O MEU CASAMENTO COM ALIETE  
               
               Em 1973 decidi casar com  a Aliete, mesmo com a pouca idade que tínhamos (21). Com o consentimento pleno  de meus pais e da tia Teresinha, o casamento foi celebrado pelo Padre Gerardo  (hoje Monsenhor, o mesmo com quem fiz minha Eucaristia), na Igreja de Fátima,  no dia 11 de setembro. Encaramos a responsabilidade desde cedo.  
               
              Tudo foi filmado por  uma equipe da TV Ceará. Os colegas, ao final soltaram até bombas dentro da  Igreja. Havia um ambiente de descontração, sem frescuras, tudo muito alegre e  muito natural.  A marcha nupcial foi  tocada pela mãe do Luciano Franco, a pedido e por gentileza deste. Não foi como  alguns casamentos que se assistem de vez em quando por aí, com “mil babados”,  decorações, onde todo mundo acaba parecendo  marionetes e tudo parece com  teatro.  
               
            No primeiro sábado após nosso casamento, o  Augusto Borges, apresentador do “Show do Mercantil”, registrou o evento.  Enquanto ele falava as câmeras me focalizavam e todo o pessoal da equipe curtia  muito. O “Irmão” e o Fred, câmeras, procuravam a todo instante dar “detalhes”  de minha mão com a aliança. Diziam eles que era “para me entregar para as fãs”.  Algumas cenas da filmagem foram exibidas durante o programa “Show do  Mercantil”. 
              
          A equipe da TV, os  colegas e amigos, além dos parentes, compareceram à Igreja em grande número.  Tivemos uma recepção no salão paroquial, com muita animação, fotografias e  encontro de amigos. Em seguida fomos para Messejana, onde lá em casa a recepção  continuou até mais tarde. No jornal, uma nota anunciava, no dia seguinte: “João  Ribeiro Neto, diretor musical do programa Show do Mercantil, passou a integrar  o time dos casados, contraindo núpcias com a Sra. Aliete”.   
             
  O filme  do casamento, que era em negativo, por ser para televisão, eu o guardei por  algum tempo, até quando recebi um oferecimento de um colega (Carlos Bastos,  filho do Guilherme Neto, que trabalhava com publicidade) para mandar  convertê-lo de negativo para positivo a fim de que pudesse ser exibido em  projetores comuns. Aceitei. Resultado: perderam o filme irresponsavelmente. Não  fossem os registros em fotografias, mesmo em preto e branco, porque a “liseira”  era grande, teríamos que casar de novo hoje. 
   
           - Uma mulher  especial 
          Muito difícil para a  Aliete foi conviver com um marido jovem, músico e que tinha que se ausentar  quase que todos os fins de semana para trabalhar.  
             
            Enquanto o pessoal se  divertia eu trabalhava. Certamente foi para ela “uma barra” o problema de  alguns ciúmes, porque as meninas, de um modo geral, gostavam de se atirar para  os rapazes que tocavam em conjuntos, ainda mais com a divulgação que tínhamos  em função da televisão. Mas a confiança venceu todos os obstáculos, e sempre,  digo mesmo, sempre vivemos muito bem, graças a Deus. 
              
            Quando podia e tudo dava  certo a gente tirava um dia na semana para fazer algum passeio, que não foram  muitos.       
          O CONSERVATÓRIO DE  MÚSICA “ALBERTO NEPOMUCENO” 
             
Época  de vestibular. No primeiro exame prestado eu me inscrevi para Medicina e apenas  por três questões, não obtive aprovação. Deus sabe o que faz. Ainda bem, porque  não teria sido um bom médico, por falta de vocação. No outro semestre, eu e a  Aliete resolvemos prestar exame, desta vez para Licenciatura em Música. O  Conservatório de Música Alberto Nepomuceno tinha sido encampado pela  Universidade Estadual do Ceará (UECE) e iria iniciar sua primeira turma.  Conseguimos êxito, o que para mim foi mais um tento, uma vitória. Estava  totalmente envolvido com o meio musical e “respirava” música o tempo todo. Para  ter uma idéia, nesse período eu era guitarrista do Big Brasa, trabalhava na TV  Educativa como sonoplasta e na TV Ceará como produtor musical do programa “Show  do Mercantil”. Além disso fazia apresentações ou realizava outras funções como  música ambiente para recepções e casamentos, como tecladista.   
 
Durante  os quatro anos de Conservatório, aprendi muita teoria e técnicas musicais com  os experientes professores, de modo especial com a D’Alva Stela, a Repegá  Fernanian, a Nísia, a Afonsina, o José Mário, dentre outros. Se bem que eu  esperava mais, principalmente na parte prática e técnica de instrumentos. Para  se ter uma idéia, houve diversas cadeiras em que os professores me dispensaram  porque não tinha sentido, diziam eles, visto que eu conhecia a matéria.  Pressionava muito esses professores, dizendo que eu estava ali para aprender  mais e não para ser dispensado de aulas.  
 
Dentre  as cadeiras, fora as do ano básico, constavam História das Artes, Canto Coral,  Técnica Vocal, Regência, Som e Ritmo, Prática de Instrumentos (cinco semestres)  e Harmonia.  
 
Depois  de bem ambientado no Conservatório, vale dizer, sobre uma das etapas do curso,  que iniciei a cadeira de Harmonia plenamente confiado nos conhecimentos  práticos que o Big Brasa tinha me proporcionado e na experiência do dia-a-dia.  Quase que entro pelo cano. Tive dificuldades com a matéria, principalmente ao  fazer encadeamentos harmônicos e pequenos arranjos para orquestra. Se não  tivesse estudado para valer teria sido reprovado naquele semestre. Ao final,  como “NTI”, apresentei uma composição intitulada “Entre pelo Cânon” (da qual  ainda mantenho a partitura original), tendo conseguido nota dez. 
 
Foi  uma faculdade muito interessante e no decorrer dos quatro anos de estudo fizemos  muitos amigos. Chegamos a participar ativamente do Coral e fizemos algumas  apresentações. Tenho ainda as partituras das músicas que cantávamos. Com a  formatura, o Conservatório, através da UECE, nos proporcionou o Nível Superior,  que futuramente veio a ser essencial para minha carreira em outra área de  atividade.  
          A PARTICIPAÇÃO DO BIG  BRASA NA TELEVISÃO
          O  Conjunto Big Brasa teve uma presença marcante e freqüente na televisão  cearense, por quase sete anos, fator que influiu de forma significativa na  divulgação do grupo em Fortaleza e de modo especial no interior cearense.  
             
  O  ingresso do Conjunto na televisão deu-se por ocasião de um Festival Nordestino  da Música Popular, quando o Big Brasa acompanhava o Ednardo, na música  “Beira-Mar”, no Náutico Atlético Cearense. Nessa ocasião o conjunto estava  muito bem ensaiado e produzia arranjos musicais belíssimos nas músicas que  executava. Na final desse festival a música do Ednardo tirou o primeiro lugar,  fato amplamente noticiado através da imprensa local.  
   
  Nesse  apresentação o grupo foi observado pelo radialista e apresentador de TV,  Augusto Borges, que comandava naquela época o programa “Show do Mercantil”,  levado ao ar aos sábados pela TV CEARÁ, Canal 2, antiga emissora de Rede Tupi  de Televisão (cujo logotipo era um indiozinho). Esse programa era patrocinado  pelo Mercantil São José. Pois bem, o Augusto ficou empolgado com o Conjunto e  naquela oportunidade nos convidou para participar de seu programa. Assim foi o  início de nosso contato com a televisão.  
   
   O PROGRAMA "SHOW DO MERCANTIL" 
   
  
  O  Show do Mercantil, levado ao ar aos sábados, pela extinta TV Ceará, Canal 2, da  Rede Tupi de Televisão, quase sempre apresentava muitos quadros interessantes e  de bom conteúdo. Durante muito tempo do programa o “layout” do palco do Show do  Mercantil tinha como pano de fundo o Big Brasa. Assim, qualquer que fosse a  atração, estávamos lá aparecendo na TV, o que contribuiu de forma significativa  para nossa maior divulgação no interior do Estado. 
   
            
             
            Programa “Show do Mercantil” 
          No decorrer dos  programas o Augusto Borges freqüentemente se dirigia ao Big Brasa, fazendo um  comentário ou simplesmente brincando com algum de nossos componentes. Desse  modo nossa imagem se propagou rapidamente e nos tornamos muito conhecidos pelo  público em geral.  
          - Como era o Show  do Mercantil
           Durante  o período letivo o quadro Colégio contra Colégio encarregava-se de animar o  programa suficientemente, pelas disputas entre os estudantes. Tínhamos que nos  policiar no que diz respeito à postura no palco, pois o tempo de duração era de  duas horas e meia e cansava ficar todo esse tempo em pé. Nos intervalos a gente  saía “de fininho” para a ante-sala, para bater papo e descansar um pouco. Para  quem fumava era uma boa, pois dava tempo para acender um cigarrinho de leve. 
          - Seleção de calouros  - uma “boca quente” 
          A  participação musical do Big Brasa no Show do Mercantil iniciava às noites das  quartas-feiras, quando eu, na qualidade de produtor musical, fazia uma seleção  de calouros para se apresentar no programa seguinte. Tudo funcionava assim: no  auditório da TV Ceará os candidatos chegavam cedo. Eu iniciava o ensaio por  volta das 20:00h. Ao piano, no palco, ia chamando os calouros por ordem de  chegada e, um a um, perguntava-lhe que música que gostaria de ensaiar. Depois  do acompanhamento de cada candidato, fazia algumas anotações para escolher os  melhores ao final. Tive que enfrentar vários problemas, de gente desafinada e  sem ritmo, mas que pensa que sabe cantar. Em cada ensaio eu ouvia em média  trinta candidatos para escolher apenas quatro, estes que ensaiariam na  sexta-feira com todo o conjunto.  Às  vezes a escolha ficava difícil e eu tinha que escalar os menos ruins, de  qualquer jeito...  
             
     Num desses ensaios, ao  anunciar a relação dos quatro calouros para sexta-feira, um cara, alto e desengonçado,  veio me questionar sobre o porquê de não ter sido escolhido. Gentilmente  expliquei a ele que deveria treinar mais, ouvir mais a música escolhida, enfim,  todas as explicações necessárias ao caso. Mas ele, inconformado, cada vez mais  ia se exaltando. E eu também ia perdendo a paciência, que nunca foi grande  mesmo. Ao final, virei para o “candidato a calouro” e tive que lhe dizer a  verdade, nua e crua: 
     
    -  Meu amigo, sem ritmo, cantando desafinado e errando a letra da música, não dá.  É por isso que você não tem condições para se apresentar. E sendo assim,  enquanto eu estiver aqui, você não cantará no programa.  
     
    Foi  o suficiente para que eu recebesse um desaforo e uma ameaça de tiro, que  felizmente ficou só na ameaça. 
     
    Ao  contar o fato para o Augusto Borges, mencionando a ameaça recebida, ele me  perguntou, com a maior calma: 
     
    -  Beiró, o cara disse mesmo que iria atirar em você? 
     
  -  Sim, respondi preocupado. 
   
  -  Então pode ficar sossegado que ele não vai fazer nada, tranqüilizou-me. 
          - O ensaio geral  do Show do Mercantil 
          Realizado  às sextas-feiras, quando o “script”, ou roteiro do programa estava pronto.  Quase sempre enfadonho, principalmente quando a produção tinha algum novo  elemento querendo “aparecer”. No que se refere à parte musical o conjunto Big  Brasa ensaiava com os calouros todas as músicas, com introduções, até que  ficassem “no ponto”, nem que fosse no ponto de errar no sábado, como alguns  faziam, face ao nervosismo ... Depois desse ensaio geral as entradas das  músicas eram repassadas de forma muito rápida, só para relembrar, no sábado,  antes do início do programa, com o Big Brasa no palco do programa, a postos.  
             
            - Artistas que o  Big Brasa acompanhou 
          Vários  foram os artistas que o Big Brasa acompanhou, muitos de projeção nacional.  Foram seis anos e meio, com atrações todos os sábados e em muitos desses  programas cantores de fora, quase sempre vindos do sul do País. 
             
  A  seguir estão listados alguns deles, em ordem alfabética: Adriano (Francisco de  Assis), Carlos Imperial, Belchior, Cauby Peixoto, Cláudia Barroso, Demétrius,  Dóris Monteiro, Ednardo, Jorge Melo, Luís Vieira, Mardônio, Márcio Greick,  Pablo Sebastian, Rodger, Sandra, Wanderley Cardoso, dentre outros.  
          - Nosso encontro  com o “Rei do Baião” 
          Em  uma das tardes de sábado, o Big Brasa estava cumprindo função no Show do  Mercantil. Com o auditório praticamente lotado, o programa naquele dia  apresentaria muitas atrações. Não seria monótono, como em outras vezes. 
             
  A  produção musical, de minha responsabilidade, tinha preparado alguns novos  cantores da terra, saídos da seleção de calouros. Além disso apresentaria o  próprio quadro de calouros e alguns números do Big Brasa, músicas de sucesso  recentemente ensaiadas. Nessa época, havia um quadro chamado “Fora de Série”,  no qual se apresentavam mágicos, malabaristas, contorcionistas, enfim, todas as  pessoas que faziam alguma coisa diferente, motivo de atração. Esse quadro  permaneceu no ar por muito tempo e tivemos a oportunidade de presenciar várias  cenas ou atrações super interessantes. Para aquele dia, a produção do programa,  através de diversas “chamadas” - pequenos comerciais do programa exibidos  durante a programação durante a semana - tinha anunciado uma grande surpresa  para o público. 
   
  No  início do programa, o Augusto Borges adiantou a atração, que seria o famoso  compositor e músico Luiz Gonzaga, nada menos do que o “Rei do Baião”, como  ficou conhecido internacionalmente. Durante os intervalos, de pequena duração,  a gente saía um pouco do nosso palco, que ficava na lateral do cenário  principal, para conversar com o pessoal da produção e outros colegas, na  ante-sala do programa, bastante movimentada. Nesse dia, estávamos também  querendo ver, de perto, o “Rei do Baião”. Em uma dessas saídas, nos deparamos  com o Luiz Gonzaga, na ante-sala, sentado com sua sanfona, calmamente  aguardando a vez de sua apresentação. O meu pai, muito entusiasmado com aquele  encontro, visto ser um dos fãs daquele artista, disse para o pessoal do  conjunto, na frente do Luiz Gonzaga, em tom de brincadeira:  
   
  -  Vocês deveriam se perfilar e fazer continência, em homenagem a “esta verdadeira  fera”, referindo-se ao Luiz Gonzaga.  
  Ele  permaneceu sentado e, sorrindo bastante para todos nós, respondeu: 
   
  -  Deixe os meninos, que eles estão “na deles”...  
   
  E  nós todos cumprimentamos o famoso Rei do Baião, com muita satisfação por mais  aquele encontro com gente famosa. Naquele momento, o Luiz Gonzaga deixou a  impressão, para mim, de ser um artista extremamente simples e simpático, além  naturalmente de tudo aquilo que produziu em seu inestimável legado musical. 
           
          - Os operadores de  câmeras  
           
           Os que trabalharam  durante mais tempo conosco foram o Fred e o William. Eles tinham que ter muita  agilidade nas operações com seus equipamentos, particularmente no início, com  as câmeras RCA, americanas,  em preto e branco.  Elas não possuíam o recurso de aproximação, o “zoom”, tão comum hoje em dia em  qualquer filmadora.  
             
            Na frente de cada câmera existia o que eles chamavam de  “torre de lentes”, ou seja, um conjunto de quatro lentes que eles tinham que  alternar de acordo com a distância dos objetos em foco. Havia o perigo, por  exemplo, de um câmera-man, inadvertidamente, mudar de lente quando a sua câmera  estivesse “no ar” - a chamada falha técnica. 
             
            De  vez em quando eu gostava de brincar com as câmeras e pedia para que os  operadores me deixassem trabalhar um pouquinho com elas durante os programas.  Isso acontecia mais com a câmera 3, que me parece era a que mais folgava.  
          - A equipe de  produção do Show do Mercantil 
          O  programa foi produzido por muito tempo pelo Tertuliano Siqueira, filho do  falecido guitarrista Paulo de Tarso, que hoje trabalha para o grupo do jornal  “O Povo”, auxiliado pelo Oliveira Martins. O “Terto”, como alguns o chamavam,  tinha boas idéias. Produzir e dirigir um programa de televisão semanal, em  Fortaleza, com duas horas de duração, não é fácil. O cara tem que “se virar”  para arranjar matérias e atrações. Entrevistas diversas, artistas de fora do  Estado e curiosidades, como o quadro “Fora de Série” faziam parte do show. 
             
  O  Big Brasa quase sempre apresentava um número na abertura e mantinha algumas  músicas para preencher alguma lacuna. Acompanhava a apresentação dos calouros e  praticamente todos os cantores que vinham do Sul do País para temporadas em  Fortaleza. Adquirimos muita experiência musical por causa disso. Tínhamos mesmo  que saber, ou seja, conhecer bem as harmonias, os acompanhamentos de tudo que é  música ou então “ter ouvido” para pegar o acompanhamento na hora do ensaio,  rapidamente. E depois, memorizar tudo aquilo para não falhar durante o  programa, sempre realizado “ao vivo”.  
           
          - A distribuição  das sacolas e brindes 
          Um  dos momentos que mais agradava ao público presente no auditório, que ficava  bastante agitado, era quando o Augusto Borges mandava distribuir as sacolas do  Mercantil São José, sempre recheadas com diversos produtos de qualidade. O  Mercantil encaminhava para a TV Ceará uma porção de mantimentos, que ficavam  armazenados em um depósito para serem acondicionados em sacolas e distribuídos  ao público no decorrer dos programas.  
             
  Todos os participantes  do Big Brasa recebiam uma sacola, às vezes até mais de uma. O motorista,  Fernando “Galba”, bigus, auxiliares, pessoal da produção do programa, todo  mundo se fazia direitinho.  
- As paqueras  durante o programa          
          Sempre  havia muita movimentação no Show do Mercantil, de modo especial quando o  período escolar tinha início e o quadro “Colégio contra Colégio” também.  Auditório lotado, muita gente mesmo. Nos bastidores do mesmo jeito. Quem  conhecia as dependências da TV Ceará, seus corredores amplos, sabia como chegar  ao auditório do programa “por dentro”. E aí ficava sempre meio tumultuado, com  o pessoal querendo ver os artistas, batendo papo, desejando receber uma sacola  “por fora”, o que não era permitido.  Na  realidade, sempre estive  muito ocupado -  e preocupado - durante o programa para que tanto a minha participação como  produtor musical e a do Big Brasa fossem satisfatórias. E nesse clima havia  paqueras de todo o lado, além de sempre existir um grande batalhão de meninas e  moças que desejavam “entrar” para a TV de qualquer modo, como cantora ou  garota-propaganda.  
             
            A repercussão do  “Show do Mercantil” no interior do Estado 
          Se  em Fortaleza a televisão divulgava o Big Brasa suficientemente, no interior a  penetração do Big Brasa era intensa, a divulgação era enorme. No início apenas  a TV Ceará existia. E por isso mesmo durante muitos anos sua imagem foi  única no interior do Estado, em se tratando  de grupos musicais. 
             
  Imaginem  só, nos anos de 1970, um conjunto que aparecia todos os sábados num programa de  audiência total no interior, visto que a EMBRATEL ainda não possibilitava  transmissões do Sul do país. Quando o Big Brasa chegava a qualquer cidade  interiorana, obtinha enorme repercussão. Em muitos municípios fomos recebidos  com faixas de boas-vindas na frente dos clubes! A rapaziada local ficava com um  ciúme danado por que suas paqueras e namoradas se voltavam para nós, tudo muito  natural, por ser novidade, essas  coisas  de tietes.   
   
  Foi  nesse esquema que praticamente se desenrolou a bem sucedida etapa televisiva do  Big Brasa, cujos episódios serão motivo de diversos enfoques nesses registros. 
   
  O “ESTÚDIO 2” 
   
  Programa  de muita audiência, no qual o Big Brasa se apresentou por quase três anos.  Levado ao ar diariamente pela TV Ceará, cada programa abordava, através de  entrevistas, temas diversos, dirigidos principalmente às mulheres. Diversos  artistas nacionais, cantores, pessoal de teatro e outras personalidades de  destaque participaram do “Estúdio 2”.  
   
  Dentre  os que eu lembro, a Dercy Gonçalves, do mesmo jeito que está agora, com as  brincadeiras, mas com bem menos palavrões, tendo em vista a censura existente  no período. O famoso músico Zé Menezes também foi acompanhado pelo Big Brasa.  No dia em que esteve no programa, ele usou minha guitarra, para executar alguns  solos e improvisos.    
   
Às vezes a contra-regra  produzia um cenário um pouquinho melhor do que as simples cortinas e  tapadeiras, que eram divisórias de compensado para encobrir um ou outro defeito  do cenário. Colocavam mesas e cadeiras como num bar, com platéia,  e o ambiente ficava mais alegre e  descontraído.  A luta do pessoal do  estúdio era sempre no sentido de manter o silêncio daqueles que não estavam em  cena, para não atrapalhar o programa , realizado “ao vivo”.          
             
            No Estúdio 2, acompanhando cantora  local          
          
 Durante praticamente toda a semana deixávamos o instrumental  no amplo estúdio da TV Ceará onde se realizava o “Estúdio 2”. Esse material era levado  para casa apenas para os ensaios do conjunto. Para nós, músicos e o restante do  pessoal que ali trabalhava o horário não era fácil. De Messejana eu saía em  nosso jipe 51, com o Adalberto, mais ou menos às 11:15h., de segunda a  sexta-feira.  
               
            Nós costumávamos dividir  as despesas com a gasolina. Nunca deixamos de cumprir esse horário, certinho. 
               
            O som do “Estúdio 2” sempre foi melhor que o do Show do  Mercantil. Deve-se isso, com certeza, aos operadores de áudio e de microfones,  além da própria acústica do ambiente. No estúdio a distribuição se fazia com  uma “girafa”, que para quem não sabia é um suporte bem grande, na forma de um  guindaste, que podia movimentar o microfone por cima de todo mundo, captando  bom o som de cada cena. Havia também os microfones de lapela e os  “varacionais”, explico: como a TV não possuía microfones direcionais, aqueles  que captam bem o som em uma determinada direção, o pessoal da equipe técnica  adaptava um microfone comum, forrado com esponjas, a uma vara ou haste de metal  ou madeira. Por causa dessa improvisação, ficaram conhecidos por nós como os  microfones “varacionais”.             
               
              
              Os  câmeras procuravam “detalhes” em todos os lugares que podiam para ser mais  criativos. Lembro-me muito bem do William (o “Irmão”, já falecido), do Fred  (atualmente na TV Educativa) e o Zé Lenir, o mais calmo e de menos iniciativa.  O “Irmão” e o Fred se destacavam como bons profissionais. Na verdade eles eram  muito bons mesmo. O Fred, bastante dinâmico, se deslocava rapidamente para  conseguir os melhores ângulos para as imagens que o suíte (diretor de imagens)  solicitava. Por falar em “suíte”, os dois diretores de imagens que mais  trabalhavam naquele tempo nos programas em que o Big Brasa participava eram o  Dedeco (Aderson Maia) e o Gonzalez, este principalmente no Estúdio 2.  
               
              Bem, eles  nos colocavam “no ar” diversas vezes sem estarmos tocando, em qualquer posição  que estivéssemos, de preferência quando a gente não notava que seria  focalizado. Numa dessas vezes que os câmeras ficavam procurando o que mostrar  pelo estúdio o Fred ficou me focalizando um tempão e eu, que estava prestando  atenção ao que estava sendo exibido no programa, não notei. Deu sorte porque  minha  imagem não tinha ido ainda ao ar.  Quando notei o Fred tentando me enquadrar, num ato impulsivo e de pura  brincadeira, “dei o dedo” para a câmera. Resultado: depois do programa o  Gonzalez desceu da “Engenharia”, como chamávamos, e me deu uma boa chamada,  dizendo ele que “quase” apertou no botão que levaria aquele gesto para todos os  cearenses.  
               
              O  conjunto fazia em média dois números por programa. No decorrer dessa temporada  a propaganda que o conjunto conseguiu foi enorme, por aparecer diariamente na  TV. As músicas quase sempre eram sucessos do momento, cantadas pelo Edson ou  pelo Lucius. Tocávamos “temas” de improviso e blues, ocasiões em que eu aproveitava para “tirar” sons de todas as  maneiras que sabia, na guitarra, fato que contribuiu para minha relativa projeção  como guitarrista-solo em Fortaleza.  
 
              Conseguimos  um fã-clube espalhado pelo interior do Estado. Todos os dias recebíamos cartas  e mais cartas. Umas eram dirigidas ao Conjunto Big Brasa, de um modo geral.  Outras eram destinadas aos músicos, em particular. Acho que os campeões de  correspondência eram o Edson Girão e o Lucius.  
 
              Ainda  hoje mantenho quase todas as cartas que recebi, muitas delas com fotos e até  declarações amorosas, com muito carinho e afeto. Sentia um prazer enorme ao  receber cada cartinha daquelas. Andei respondendo muitas, pessoalmente. Depois,  pela falta de tempo, contratamos uma amiga que respondia tudo por nós.  Tive  que fazer uma fotografia minha ao  lado do caminhão de transmissões externas do Canal 2 e distribuí 500  (quinhentas) cópias para o  fã-clube do conjunto no interior do Estado. Hoje em dia ainda mantenho estas  cartas bem guardadas, pois fazem parte de nossa memória. 
 
               Ainda sobre fotografias  do conjunto, é bom contar que fizemos uma “mutreta” um dia, quando um cara  estacionou com um automóvel conversível “Lorena”, em frente ao Canal 2, para  resolver algum assunto de seu interesse.  
               
              Como estávamos aguardando o horário do  Estúdio 2 entrar “no ar” chamamos rapidamente o fotógrafo da televisão e  fizemos uma pose junto ao tal carro. Foram feitas centenas de fotos e enviadas  também para o interior. Isso certamente contribuiu para nossa imagem de  conjunto “rico”, com o carro dos outros ...  
             
              Tínhamos  que inventar novidades. Eu às vezes até abusava dos pedais (distorção e  "wah-wah") e brincava com os câmeras que se aproximavam demais de  minha guitarra no intuito de mostrar minha aliança para as fãs do interior. 
             
              De  tão acostumados com as câmeras e com o pessoal do estúdio todo, contra-regras,  operadores de microfone, os próprios câmeras-man, a gente se divertia muito. Eu  não perdia nenhuma oportunidade de improvisar sobre os temas das músicas que  tocávamos. Era uma boa forma de exercitar e também de mostrar para o Ceará  inteiro nossas habilidades.  
 
              No  entanto um dia o produtor do programa resolveu abrir mais um espaço para uma  entrevista com o conjunto, a pedido das fãs. O entrevistador foi o Flávio  Torres. Dirigiu perguntas principalmente para o Lucius e algumas para mim,  sobre nossa atuação em Fortaleza, quis saber se respondíamos as cartas do  pessoal, enfim um bocado de coisas. Fiquei, como sempre, um pouco nervoso ao  ser entrevistado. Senti que o sangue me fugiu e que deveria estar muito pálido.  Mas felizmente a TV ainda era em preto e branco... Na foto que temos desta  entrevista aparece a atriz de novelas e apresentadora Carla Peixoto, da TV  Ceará. 
 
              Toda  a vez que eu tinha que falar em  público ficava um pouco nervoso. Podia cantar, tocar, enfim, fazer tudo, que me  sentia bem, completamente à vontade. Mas falar em público, principalmente na televisão,  que você fala para uma platéia e também para uma câmera, sempre foi um problema  para mim. Uma vez, por exemplo, ao gravar uma aula em vídeo para a TV  Educativa, no qual eu aparecia tocando uma música ao piano e em seguida teria  que fazer um comentário musical e falar um pouco sobre o Paulinho da Viola,  esqueci o texto várias vezes.  
 
              OS FESTIVAIS  NORDESTINOS DA MÚSICA POPULAR 
             
              Pouco  antes da final de um dos Festivais Nordestinos da Música Popular que o Big  Brasa participou em Recife, defendendo músicas do Ednardo, adquirimos, por  intermédio do tio João, em São Paulo, dois “wah-wah” de marca nova. A idéia era  usar um para a guitarra-solo e outro para o órgão. A aquisição desses  equipamentos foi um verdadeiro show de competência. Tudo muito rápido, o pedido ao tio João, a aquisição, a remessa  e enfim a chegada dos pedais em tempo recorde. Fomos receber a encomenda no  departamento de bagagens da VARIG, quase às 11 horas da noite. Deu tudo certo,  os pedais foram incorporados a nosso instrumental e utilizados de acordo com o  planejamento. Sobre esse evento, realizado em dezembro de 1971, trecho de uma  nota publicada por um jornal cearense:  
                 
              -  “Está seguindo na próxima sexta-feira para a capital pernambucana a equipe de  compositores e intérpretes que apresentarão as composições selecionadas em  Fortaleza para concorrer ao II Festival da Música Nordestina. Entre a turma de  músicos cearenses destaca-se a participação do Conjunto Big Brasa, que  defenderá as músicas Beira-Mar e Rua do Ouro, classificadas em primeiro e  quarto lugares respectivamente”. 
 
              A  respeito desse Festival, que foi televisionado para todo o Norte e Nordeste (na  época uma transmissão por demais comentada), lembro de alguns acontecimentos  interessantes. Um deles ocorreu durante o ensaio geral, no Ginásio Coberto  localizado no bairro Embiribeira (idêntico ao Paulo Sarasate, porém mais bem  acabado, com alojamentos e restaurante, e com uma área externa maior). Pois  bem, o Big Brasa ao ensaiar com a orquestra de Recife, acompanhando Beira-Mar,  do Ednardo, o maestro ficou entusiasmado com a música e o arranjo. Também entre  os músicos da orquestra a opinião unânime foi a de que aquela música tiraria o  primeiro lugar. Mas, como para ganhar em Recife não tinha jeito mesmo, ficamos  apenas com um terceiro lugar e uma menção honrosa. Valeu, entretanto, a  reportagem de três páginas na extinta Revista “O Cruzeiro”, sobre o  Festival, transcrevendo com destaque e na  íntegra a letra de Beira-Mar e publicando a foto do Ednardo, acompanhado pelo  Big Brasa e pela orquestra de Recife.
              
            Big Brasa e Ednardo em Recife -      Revista “O Cruzeiro” 
          Um  segundo lance desse festival: durante o intervalo da TV, quando nos  preparávamos para entrar “no ar” com o Ednardo, o público do Ginásio, que  estava completamente lotado, começou a vaiá-lo intensamente. E tome vaia, mesmo  porque eles vaiavam tudo que fosse do Ceará. Um cara da platéia tocava uma  buzina duas vezes e depois vinha a vaia.   Estávamos todos muito nervosos, evidentemente. Mas por felicidade e  presença de espírito, talvez, peguei o tom daquela buzina na guitarra e, com o  “wah-wah”, após o cara tocá-la, reproduzi o som no palco com a guitarra a plena  altura. O pessoal gostou, o negócio virou brincadeira, alguns aplaudiram até e  a vaia cessou de repente. Foi ótimo para todos nós. Por último faço questão de  registrar aqui a verdadeira e inadmissível “melada” do maestro da orquestra  pernambucana, que na hora de começar a apresentação do Ednardo, veio me  perguntar o andamento da música para fazer a introdução. Eu expliquei para ele  e cantei as primeira notas da melodia, no andamento correto.  
               
            Qual foi nossa  surpresa quando esse maestro iniciou 
            Beira-Mar com um andamento completamente acelerado. Nosso baterista estava com  a orquestra. Foi uma luta nos segundos iniciais para tentar fazer o andamento  retroceder ao original, uma verdadeira briga entre a orquestra e o Conjunto. De  propósito ou não isso certamente contribuiu para atrapalhar o Ednardo, que  ficou mais branco do que pó de giz durante toda a música. Esse “pequeno  deslize” do maestro pernambucano, de propósito ou não, prejudicou de forma  significativa nossa “performance” naquela noite. 
             
            Nas  folgas, depois dos compromissos com ensaios, saíamos em grupo para conhecer os  pontos principais de Recife. Quase tudo financiado pela TV Ceará, ou Diários e  Emissoras Associados do Ceará, da Rede Tupi. Conhecemos duas adegas muito  bonitas e aconchegantes, que apresentavam shows noturnos. A Adega do Bocage e da Mouraria. Estivemos também na praia da Boa  Viagem e em algumas boates da cidade.            
             
            BIG BRASA –  CONJUNTO REVELAÇÃO DE 1971 
             
O  Big Brasa foi eleito o “Conjunto Revelação de 1971”. Uma nota sobre o fato,  divulgada através da imprensa, na coluna Mudando de Canal, dizia: 
 
“Este  é o excelente Conjunto Big Brasa, exclusivo do programa Show do Mercantil,  comandado por Augusto Borges. O Big Brasa foi eleito como o conjunto revelação  do ano, em recente promoção da TV Rádio e Revista. Constituído por quatro  jovens, o conjunto já acompanhou destacados nomes da música brasileira. Fora da  televisão o Big Brasa é um dos mais solicitados para animar festas em Fortaleza  e no interior do Estado”.  
            
           
Severino, João Ribeiro, Lucius,      Adalberto e Edson 
           
          O BIG BRASA EM  EXCELENTE FASE 
             
            Em 1971 o conjunto  estava atravessando uma de suas excelentes fases. Através do Lucius conhecemos  o Gilberto, um cara que tocava cuíca em uma Escola de Samba, gente boa e fácil  de lidar. 
             
            Em todos os bailes,  depois do intervalo, quando a festa estava no pique mesmo, o conjunto mudava  seu esquema. O Adalberto largava o teclado e pegava um surdo; o Sérgio Alves  passava de bigu a ritmista, tocando um ganzá enorme, que produzia um som muito  legal; o Gilberto pegava a cuíca e tome sambão. Todo mundo cantava e parecia  muito com esses pagodes de hoje, bem animados. Fizemos uma seqüência de sambas  que podia durar até mais de uma hora, se quiséssemos. Aí a coisa pegava fogo e  o ritmo bem marcado daquela seqüência de sambas contagiava todo mundo. Quem não  era chegado a música jovem aproveitava para descontar. Nosso visual contribuía  para o sucesso, além da parte musical. Usávamos naquela temporada uns “blazers”  muito bonitos, tudo combinando e super-elegante mesmo. Minha guitarra nessa  época era uma Diamond acústica, muito boa por sinal. 
           
                
          Big Brasa no Ideal Clube de      Fortaleza 
          BIG BRASA - O CONJUNTO POPULAR DE 1972  
               
              Em  1972, o Big Brasa recebeu o Diploma da TV Rádio e Revista e Prefeitura  Municipal de Fortaleza e o troféu “João Dummar”, frutos do Concurso “Os  Melhores do Rádio e da TV”. Efetivamente naquele ano o conjunto manteve um  padrão de qualidade musical constante, fruto de bons e freqüentes ensaios,  equipamentos e instrumental sempre “em cima”. Portanto, com toda a modéstia,  nosso grupo fez por merecer a referida homenagem. 
             
              A  ENTRADA DOS “METAIS” NO CONJUNTO 
               
              Pelo  meu gosto pessoal, desejava que  nosso  conjunto sempre tivesse instrumentos de sopro, como piston, saxofone e  trombone. Mas em Fortaleza era muito difícil conseguir músicos jovens, mais ou  menos de nosso nível, para ingressar no Big Brasa. Quando precisávamos dos  “metais” para ocasiões específicas, a saída mesmo era contratar o pessoal da  “velha guarda”, músicos veteranos, quase sempre das bandas de música da Polícia  Militar e da Base Aérea de Fortaleza. Apesar disso tivemos muitos períodos de  sonoridade excelente, com a participação de “metais”. 
               
              O Big  Brasa teve por algumas vezes saxofonistas. O nosso saudoso Barretinho,  ex-integrante do grupo “Os Rataplans”, foi o primeiro a participar do Big  Brasa. De início, teve que nos ensinar várias músicas nas quais a presença do  saxofone era fundamental, de modo a incrementar nosso som. Esteve no conjunto  por uma curta temporada, mas nos transmitiu muito de sua experiência e  enriqueceu nosso repertório com sua participação. Muito animado, contagiava  todo o grupo e fazia coreografias enquanto tocava seu saxofone. 
               
              Mais  tarde tivemos o Cefas, de Ipaumirim, o Silvino e o Assis, que também trabalhou  com o “Brasas Seis”, além do Messias, este contratado para bailes  carnavalescos. Todos contribuíram muito para a diversidade de nosso repertório  e sua ajuda foi imprescindível, de modo especial nas festas realizadas no  interior do Estado, onde sempre tem que sair um forró, um “Saxofone por que  choras” ou outras músicas desse gênero.  
               
            Entretanto  a presença de metais no conjunto foi marcante com a chegada do Airton e  posteriormente do Mairton, ambos excelentes pistonistas, que abrilhantaram o  Big Brasa e em muito enriqueceram seu repertório. Airton e Mairton tinham  tocado juntos e tiveram sua formação musical na Banda de Música do Colégio Pia  Marta. Trabalharam também em outros conjuntos antes do Big Brasa. Com sua  experiência de arranjos com metais, principalmente no que se refere aos duetos  que faziam com os pistons, a sonoridade do conjunto mudou completamente, e  seguramente para muito melhor. Fazíamos arranjos modernos, com improvisações e  participações em arranjos de rocks,  bem como a execução de diversos clássicos para piston do gênero Herbert Albert.  
          - Assim falou  Zaratustra   
             
            Além  dos inúmeros clássicos para piston, com o Airton e o Mairton nós escolhemos um  prefixo novo. Chamávamos de prefixo a música escolhida para iniciar e encerrar  todos os eventos. O tema escolhido foi “Assim falou Zaratustra”, magnífico, o  qual, com um arranjo do Big Brasa  ficou  especial. Durante o prefixo, para iniciar o baile, fazíamos uma coreografia bem  marcada, muito legal, acompanhando o balanço de corpo dado pelos pistonistas. O  grupo praticamente só utilizou duas músicas como prefixo, And I Love Her, dos  Beatles e Zaratustra. Ambos tiveram suas fases marcantes e são inesquecíveis  para mim. 
            
          Big Brasa no Náutico, em      tertúlia de férias, com Airton e Mairton 
          AS NOTAS DE IMPRENSA 
             
  Graças  à providência de minha mãe, temos recordações dos bons tempos do Big Brasa  através de notas publicadas na imprensa. Com muito gosto, ela recortava as  notas e as guardava cuidadosamente para montar um álbum. Essas recordações  possuem um valor inestimável para todos aqueles que efetivamente participaram  dos Anos Dourados e, de modo especial, do Big Brasa. 
          - “Big Brasa,  excelente conjunto musical dirigido por um Joseense”
          Esta  foi a manchete de uma nota publicada em um jornal de São José dos Campos, São  Paulo, pelo jornalista Vantuílde José Brandão, que visitou Fortaleza em 1969.  Esse jornalista fala de sua amizade com meu pai, durante os vinte anos que  morou em São Paulo e destaca que dois participantes do Big Brasa são “filhos da  terra”, os seja, joseenses.  
             
  Depois  de algumas considerações sobre a composição do Big Brasa, diz que “Fortaleza é  uma capital de um milhão de habitantes e que possui mais de cem conjuntos  musicais, que atuam em seus clubes. Pois bem, “Big Brasa” é considerado um dos  melhores. O simpático conjunto atua nos principais clubes de Fortaleza e já  percorreu as principais cidades do Ceará e de outros Estados. Alcançou pleno  sucesso em Teresina, no Piauí e São Luís, no Maranhão”.      
          - “Big Brasa  retorna quente de São Luís: Música Jovem”
          Diz  a publicação: “O conjunto musical Big Brasa, um dos papas do 
  iê-iê-iê, depois de vitoriosa excursão a São Luís do Maranhão, retorna a  Fortaleza para animar as festas da gente jovem. Conjunto agressivamente musical  e de excelente qualidade musical, o Big Brasa tem uma característica moderna,  tocando o ritmo do iê-iê-iê, em suas diversas modalidades, como os sambas  modernos ou a bossa-nova, dentro do melhor estilo de Vinícius de Morais, de Tom  Jobim e ainda da música de protesto de Edu Lobo ou ainda de Gilberto Gil. Na  capital Timbira atuou nos melhores clubes, lavrando magníficos tentos”.  
          - Big Brasa em  Teresina
          Nota de um jornal de  Teresina: 
             
  - “Registramos a  presença em nossa capital do Conjunto Musical Big Brasa, radicado em Fortaleza,  onde faz muito sucesso. São seus integrantes Marcos Oriá, João Dummar Filho,  João Ribeiro e Carlomagno Lima (guitarristas), Severino Tavares (baterista) e  Getúlio Ribeiro (mascote). Esses rapazes são todos pré-universitários e aqui  estão hospedados na residência do Professor Raldir Bastos. Boas vindas, rapazes  !” 
   
  O  PESSOAL DO RÁDIO E DA TELEVISÃO 
          - Aderson Maia
          O  Aderson Maia,  “Dedeco”, era diretor de  imagens (suíte) da TV Ceará, considerado por todos um excelente profissional.  Os principais programas da televisão necessariamente tinham que ser realizados  por ele, pela qualidade de seu trabalho. Gostava muito do Big Brasa e mostrava  sempre as imagens do conjunto, sob os melhores ângulos, quando de nossas  apresentações. Destacava o quanto podia os solos de guitarra e quando me  encontrava pelos corredores da televisão sorria, dizendo que eu era “uma fera”,  gesticulando como se estivesse tocando uma guitarra. Sempre elogiava minha  atuação como guitarrista-solo. 
               
            - Antônio Mendes  
          O  Antônio Mendes (Toinho) foi um dos apresentadores do programa diário Estúdio 2,  da TV Ceará. Profissional de televisão correto e experiente era muito  solicitado para fazer comerciais ao vivo para muitas empresas de Fortaleza e do  interior cearense. O Toinho simpatizava bastante com nosso conjunto, visto que  sempre dizia uma brincadeira ou fazia alguma menção que valorizasse o grupo  antes de qualquer número na TV, ao vivo. 
          - Augusto Borges
          Apresentador do programa “Show do Mercantil”, levado ao ar  pela extinta TV Ceará, Canal 2, da Rede Tupi de Televisão. O Augusto Borges  contribuiu de forma significativa para o sucesso do conjunto, notadamente no  interior do Estado. Brincava sempre com os integrantes do Big Brasa durante os  programas, de modo especial na parte relativa à apresentação dos calouros.  Ainda gostava de dizer, quando o conjunto se apresentava com uma indumentária  nova, que tinha sido financiada por ele e coisas do gênero. Em razão da grande  divulgação através de seu programa, o Big Brasa foi considerado o Conjunto  Revelação de 1971 e o melhor conjunto de 1972, tendo recebido os Diplomas da TV  Rádio e Revista e Prefeitura Municipal de Fortaleza e o troféu “João Dummar”,  frutos do Concurso “Os Melhores do Rádio e da TV”. 
          - Aurélio Brasil e  o Lúbi-lúbi, na Rádio Assunção
          Nossa  primeira apresentação no rádio foi em um programa na Rádio Assunção, comandado  pelo Aurélio Brasil. Tocamos uma três músicas em um estúdio super-apertado, sem  as menores condições técnicas para um conjunto musical. Naquele dia, o Luciano  “Lúbi-lúbi”, nosso amigo de Messejana e que também locutor daquela rádio,  recebeu algumas ligações de ouvintes dizendo que o conjunto estava muito ruim e  pedindo para nos tirar do ar. No entanto ele nos transmitiu os recados sobre as  ligações exatamente ao contrário, dizendo que o conjunto estava agradando e que  muita gente estava ligando pedindo para que tocássemos mais. Só alguns anos  depois, quando o Big Brasa estava com bem   mais experiência, já despontando como um dos melhores conjuntos de  Fortaleza,  bem formado e em boa forma  técnica e musical, ele nos revelou a verdade. 
          - Ayla Maria 
             A Ayla Maria, uma das melhores e mais afinadas cantoras de  Fortaleza, além de ser uma senhora extremamente fina, gentil e educada, por  diversas vezes foi acompanhada pelo Big Brasa. Sempre que se apresentava para  os ensaios do Show do Mercantil ou de qualquer outra apresentação, estava na  companhia de seu esposo Armando Vasconcelos.  
                      
          Eles informavam a música a ser  ensaiada e ela cantarolava um pouco da melodia para que eu pudesse pegar o tom  na guitarra para acompanhá-la. 
                      
          Quando  começava a ensaiar, interrompia a música logo no início e, invariavelmente,  solicitava que o conjunto subisse ou baixasse meio tom, hora que o Armando  Vasconcelos afirmava:  
           
          -  Bem que o finado Moreira sempre dizia, que Ayla “só canta em tons  intermediários”, com cara de entendido no assunto. Aí nós subíamos meio tom e  ela logo achava ótimo e tudo dava certo.  
                      
          Acontece  que nessa subida de meio tom, muitas vezes a harmonia tinha que ser feita em  tons um pouco mais difíceis, particularmente para o tecladista.  Essa situação perdurou somente por algum  tempo, até quando eu percebi que em muitas oportunidades o tom inicial estava  perfeito e que a solicitação de mudança era apenas para “fazer charme”. Desse  dia em diante, quando ela solicitava o primeiro tom eu fornecia um Lá bemol ou  qualquer “tom intermediário” como eles chamavam, daqueles mais difíceis para  fazer o acompanhamento. E não dava outra: ela parava e pedia para subirmos ou  baixarmos “um pouquinho” o tom, fazendo os comentários de costume. Aí era só  “correr para o abraço”. Seriamente nós subíamos meio tom, para cair justamente  nos tons naturais, fáceis para todo mundo acompanhar, inclusive para os acordes  no teclado. Eles nunca perceberam nada, comprovando plenamente minha teoria  inicial. Toda a turma do Big Brasa já conhecia esse “macete” e era só esperar  para curtir muito depois.
                  
           
          
            - Brito - “Britaleza” 
             
              Eletricista da TV Educativa, também  radioamador, cuja estação tinha o prefixo PT7-BZL (Brasil Zona Leste), conforme  anunciava ao rádio e “PX” (operador da Faixa do Cidadão). De grande estatura e  bom porte físico conseguia montar alguns tipos de “plugs”, cortando os fios com  as próprias mãos, enquanto nós precisávamos de alicate. Foi meu amigo pessoal  durante vários anos. Através de nossa convivência aprendi muitos macetes de  eletricidade e de montagens de circuitos eletrônicos que usávamos em nossos  equipamentos de radiotransmissão. Em Mondubim, onde morava, juntamente com sua  mãe, construía suas próprias antenas para transmissão e outros acessórios, como  compressores de áudio, acopladores de antena dentre outros. Por várias vezes me  ajudou em reformas na parte elétrica de nossa casa, em Messejana. Para o  conjunto Big Brasa, chegou a executar um projeto de uma mesa de luz e de  efeitos, de minha autoria. Depois de concluída com pleno sucesso, essa mesa nos  acompanhou por muito tempo.   
            - Daniel Menezes
            Também  radioamador de larga experiência, cuja estação tinha o prefixo PT7-CLN.  Trabalhamos juntos na TV Educativa, onde tive o privilégio de aprender com ele  muitos ensinamentos sobre televisão. Diretor de imagens experiente, conhecedor  de todas as áreas técnicas de uma televisão, conseguia transmitir sua calma  para toda a equipe nos momentos de maior agitação. Em nossa convivência diária  consolidamos uma firme amizade, baseada no companheirismo e no respeito  profissional.   
            - Fátima Lima  Verde
            Muito  amiga do Big Brasa, gente fina e muito simpática. A Fátima foi também  integrante do grupo vocal “The Sangue Súgares”, estando presente em muitos  eventos dos quais o Big Brasa também participou. Por um bom período teve a  gentileza de nos ajudar a responder as inúmeras cartas de fãs, que chegavam  diariamente do interior do Estado, organizando a correspondência e enviando  fotografias.  
            - Francisco Cabral
            O Cabral, diretor  técnico da TV Ceará, fazia o tipo “durão”, com toda a sua seriedade. Com seus  conhecimentos em eletrônica e prática em equipamentos de transmissão,  praticamente monopolizava o mercado local de emissoras de televisão. Autorizou  uma vez à equipe de técnicos da TV, dentre eles o Bernardo e o “Spici”, a  consertar os equipamentos do conjunto em situações de emergência (quase sempre  cabos com defeito). Posteriormente trabalhamos juntos também na Televisão  Educativa do Ceará. 
            - Gustavo Silva – “Gustavinho”.
             Participava do corpo de jurados do Programa  Show do Mercantil, sempre com colocações inteligentes, sensatas, precisas e  bem-humoradas, demonstrando o seu bom senso e seu conhecimento geral. Entre  outras virtudes, além de ser um cara extremamente “boa-praça”, possui  habilidades como a de ser um ótimo pianista e ter uma excelente percepção  musical. Conhecido por toda a sociedade de Fortaleza  por sua simpatia, o Gustavinho está colocado  na relação dos verdadeiros amigos do Big Brasa. Sempre nos demos muito bem. O  Gustavo me incentivava muito em todas  as  apresentações do Big Brasa e eu sentia realmente que ele ficava em perfeita  sintonia com os solos de minha guitarra.  
                 
              Esteve presente em diversos momentos do período áureo do  conjunto. De modo particular, compareceu a meu casamento com a Aliete,  juntamente com outros amigos e colegas de televisão. Ainda hoje o Gustavinho  marca sua presença na televisão cearense, sempre com sua ótima performance.   
            - Isaíra Silvino
            A  Isaíra Silvino, musicista, amiga, simpática e muito prestativa, era a líder do  grupo vocal “The Sangue Súgares”. Foi também minha “conselheira espiritual”  para assuntos de namoros e paqueras. Estivemos juntos em uma temporada  carnavalesca em Paracuru, com a nossa turma toda. Nessa ocasião ela me orientou  muito, principalmente no dia em que exagerei um pouco na cerveja e, por não ser  acostumado a beber, fiquei me sentindo mal. Nesses momentos a Isaíra ficava  perto e tinha cuidado de mim como se fosse seu irmão.  
            - Ivan Prudêncio 
            Ivan  Prudêncio era o discotecário da Ceará Rádio Clube, ligada à TV Ceará. Chegou a  fazer algumas gravações de músicas de sucesso, tiradas da discoteca da Rádio,  mas sempre colocando alguma dificuldade. Quando solicitado pelo conjunto para  emprestar algum disco de sucesso ou mesmo fazer uma gravação para que  aprendêssemos alguma música nova, botava a maior banca. Um bom profissional,  mas que superdimensionava sua posição.  
            - Ivo Prudêncio
            Sonoplasta  da TV Educativa, Canal 5. O Ivo também exercia o magistério, como atividade  paralela. Irmão do Ivan Prudêncio. Trabalhamos juntos por quatro anos na área  de sonorização de programas de televisão. Transmitiu sua experiência técnica  como sonoplasta para mim. Com a vivência do conjunto e do meio musical foi  relativamente fácil assimilar os conhecimentos e empregá-los ao longo de minha  permanência na TVE. O meu serviço na TV era preparar sonoplastia para novelas  educativas, aulas integradas e outros programas educativos. Fazia ainda  gravações para “BG” (background - fundo musical) que “rodavam” durante os  intervalos da emissora.  
            - José Roberto Fernandes  Távora
            Técnico  em eletrônica, nos conhecemos na TV Educativa. O “Beto”, como era chamado,  integrava a equipe daqueles conhecidos por “pesquisadores” do grupo que  trabalhava na “Engenharia” da TV. Muito inteligente e esperto, rapidamente  aprendia a consertar equipamentos de todo o tipo na televisão, de modo especial  as máquinas de videoteipe. Muito interessado e persistente, de vez em quando  nós víamos o José Roberto tentando consertar um equipamento que outros técnicos  não se atreveriam. Além da eletrônica nós tínhamos outras afinidades, a exemplo  do radioamadorismo e do gosto por equipamentos de som. Hoje em dia o José  Roberto especializou-se na área, juntamente com seus irmãos Pulo César e  Marcos, sendo hoje um dos responsáveis pela maioria das emissoras de televisão e  de rádio de Fortaleza. 
            - Júlio Matos
            O  Júlio Matos, “Julinho” como o chamávamos, foi nosso amigo desde os tempos  iniciais do Big Brasa até o período em que trabalhei na TV Educativa, onde nos  reencontramos. Gostava de música e freqüentava de vez em quando o “QG” do Big  Brasa, interessando-se em conferir os novos equipamentos do conjunto. Muito  calmo, também fazia parte do nosso grupo de elite, do tipo “pesquisador” em  eletrônica. Gostava de montagens de circuitos diversos e se empolgava com as  novidades que iam aparecendo. O Julinho foi o executor técnico responsável pela  montagem do primeiro pedal “distorção” no Ceará.  
            - Jurandir Mitoso  
                 
              Apresentador  de rádio de grande audiência. Muito animado. Fizemos algumas apresentações em  seus programas, ao vivo, na Rádio Dragão do Mar. Ele gostava muito do conjunto  e tirava brincadeiras com todos os seus integrantes. Chegou até a inventar,  anunciando “no ar” que o Conjunto Big Brasa tinha sido contratado para tocar em  Portugal. Brincava sempre comigo, dizendo que eu era parecido com o Wanderley  Cardoso. Ainda hoje o Jurandir Mitoso é apresentador de programas de rádio.  Pela falta total de censura no país o negócio “avacalhou” totalmente e está  como o diabo gosta. Ele, muito divertido, fala o que bem entende em seu horário.  Uma de suas características engraçadas são as frases e brincadeiras de duplo  sentido que emprega em seus programas.  
            - Mauro Coutinho  
                 
              Gostava de ser chamado  de “Engenheiro de Som”. Sonoplasta era pouco para ele, um pouco bitolado e  metido a saber e a entender mais que todo mundo. O Mauro trabalhava como  operador de som, encarregado de “mixar” o som do programa Show do Mercantil. O  pessoal do conjunto às vezes reclamava de que, quando ele estava na mesa de  áudio, dificilmente o Big Brasa se apresentava com um som legal. Aliado à  grande deficiência dos equipamentos da TV Ceará, de modo especial de microfones  (em qualidade e em quantidade), o Mauro Coutinho talvez se baseasse mais no  VU-Meter (que é um  medidor da intensidade  dos sinais de áudio nas mesas de som) do que no próprio ouvido. O som do  contrabaixo dificilmente se ouvia pela televisão. Ele devia ficar apavorado com  os sinais que a intensa vibração dos graves do contrabaixo produzia nos VU, ao  jogar seus ponteirinhos de marcação lá para cima e então, possivelmente pelo  seu despreparo musical, baixava o microfone de captação do contrabaixo,  deixando o som do Big Brasa só com os agudos e a bateria. Na Ceará Rádio Clube,  onde também trabalhava, convidou-me certa vez para gravar diversos “sinais de  tempo” para jogos de futebol comigo, utilizando efeitos sonoros de guitarra. O  Mauro Coutinho é um dos profissionais que fez história, em Fortaleza.  
            - Neide Maia
            A  Neide Maia foi uma das fundadoras da TV Ceará. Era gente muito boa e gostava do  conjunto, apesar de não ter ligação direta conosco. Em uma véspera de carnaval,  quando o conjunto ficou sem receber nenhum tostão da televisão, que não fez o  pagamento devido nem nos adiantou nada, deixando o conjunto todo “na pior”. A  Neide nos viu sentados na porta da televisão e foi logo dizendo:  
              -  “Já sei, vocês não receberam o pagamento, não foi? 
   
              E  afirmamos que sim. Ela então disse para nós não nos preocuparmos que ia ver o  que poderia ser feito. No dia seguinte, a Neide chegou para nós e disse,  demonstrando grande satisfação: 
   
              -  Consegui entradas grátis para todos os bailes de carnaval do Clube Líbano, para  todo o conjunto. Ela, através de seu prestígio junto à presidência do  mencionado clube, nos presenteou com todos os ingressos (permanentes) para  aquele carnaval e assim prontamente resolveu a nossa situação. 
            - Paulo César Fernandes  Távora 
            O  Paulo César, o “Paulinho” como também era chamado, também foi um dos nossos  amigos da época da TV Educativa. Excelente técnico, educado e amigo de todos,  ele também integrava o grupo da “Engenharia”, na televisão. Fazia parte também,  assim como o seu irmão José Roberto, o Brito, o Daniel Menezes e eu, da turma  aficionada pelo radioamadorismo. Nossos assuntos preferidos eram os  transceptores, amplificadores lineares, antenas e acessórios afins.   
            - Rejane Lima  Verde
            Excelente  amiga, bonita e simpática ao extremo. Tive a oportunidade de viajar a seu lado  de Fortaleza a Parnaíba, em um ônibus fretado pelo Canal 2, para uma das  apresentações do Conjunto, oportunidade em que conversamos bastante e ficamos  conhecendo um pouco mais um do outro. Em Paracuru se divertiu muito passeando  comigo e toda nossa turma em um jipe 51 verde, sem capota e com o pára-brisa  abaixado, tipo “ratos do deserto”.  
            - Sebastião Belmino 
                   
            O  Belmino era um dos diretores de imagens da TV Educativa, Canal 5. Excelente  profissional, muito criativo, brincalhão e ágil para todas as situações onde a  improvisação se fizesse necessária durante os programas que “cortava”.  Conseguia fazer aberturas muito boas para as aulas integradas que chegamos a  gravar para a TVE, principalmente se considerarmos os recursos técnicos que  possuíamos. Exigia muito de todos de sua equipe. Reclamava bastante, mas também  sabia elogiar quando o serviço estava sendo bem feito. Trabalhamos juntos por  um bom tempo, ele como suíte e eu como operador de áudio. Às vezes discutíamos  muito, em razão de uma ou outra falha. Lembro do dia em que “tirei” a palavra  do governador Virgílio Távora do ar por alguns segundos, em uma entrevista pela  TVE, após ter desligado um “link” a qual estava ligado o áudio do microfone,  por falha técnica de outro operador. Confusão geral em todo o estúdio e na  “engenharia”, quase a gente se desentende. Mas tudo era movido a plena emoção e  “adrenalina pura” em nosso trabalho. Ao final das gravações ou mesmo de  programas ao vivo ele sorria e tudo sempre acabava em “pizza”. Depois de ter  executado praticamente todas as funções técnicas em um televisão, “por trás das  câmeras”, como se diz, ele resolveu ser apresentador de programas de televisão  e de rádio, onde tem papel de destaque em Fortaleza. 
             - Tertuliano Siqueira
            Produtor do Show do  Mercantil por um bom período, nós estávamos sempre em contato, particularmente  durante o período em eu era responsável pela produção musical do programa. O  “Terto”, como nós o chamávamos, trabalhava também na época para a Borges  Publicidade, empresa do Augusto Borges. Fizemos algumas viagens juntos, com a  equipe de artistas da televisão, dentre elas a de Mossoró, no Rio Grande do  Norte e a de Parnaíba, no Piauí. Participou de muitos eventos em que o Big  Brasa se fez presente.  
                 
                BIG BRASA NO SHOW DO  MERCANTIL 
             
                  
             Adalberto, Edson, João Ribeiro,  Lucius e Severino 
                   (Neide Maia à esquerda) 
             
              A TURMA REUNIDA, DE MADRUGADA, APÓS UM  BAILE 
              
            Lucius, Severino, João Ribeiro,      Adalberto e Edson 
            EPISÓDIOS DIVERSOS 
                   
              Seguem-se  algumas histórias e fatos pitorescos que aconteceram durante o Big Brasa em  diversas localidades e outras, de nossas experiências musicais com o Big Brasa.  Com toda certeza muitos desses casos até hoje são lembrados com saudade por  quem os vivenciou.  
   
  COMO QUEM NÃO QUER, QUERENDO... 
   
              No final do primeiro ano do Big Brasa, aconteceu  um fato que para nós foi muito significativo. Estávamos ainda lutando muito  para divulgar o conjunto e ganhar mais espaço no meio musical de Fortaleza.  
   
              Fomos convidados para participar de uma  festa no Clube dos oficiais da Aeronáutica, chamado de “F-80”, nome de um avião caça, a  jato, antigamente utilizado pela Força Aérea Brasileira. Nossa contribuição  seria apenas a de um pequeno show durante  o intervalo, visto que para o baile, o clube tinha contratado o conjunto  “Alberto Mota”, um grupo musical excelente, composto de profissionais  tarimbados e, portanto, “macacos velhos”. Daríamos uma “canja”, termo utilizado  no jargão musical para essas situações. 
   
              Chegamos no início do baile e ficamos  observando o Alberto Mota tocar, para aprender mais e pegar todos os macetes  possíveis, como sempre fazíamos em outras ocasiões. O próprio Alberto Mota, que  dava nome ao conjunto, músico veterano, naquela noite tocava piano.  Posteriormente passou a utilizar também uma “pianola”, que era nada mais, nada  menos, do que um pequeno órgão eletrônico, muito simples e de parcos recursos,  acoplado ao piano. Alguns anos mais tarde, o piano foi abolido daquele grupo  musical, cedendo lugar aos órgãos eletrônicos mais modernos.  
   
              E a festa seguiu, até o intervalo, dentro de  um clima meio desanimado, tanto pelos participantes, que não ocupavam muito a  pista de dança, quanto pelo “Alberto Mota”, que tocava o baile rotineiramente,  sem muito esforço para animá-lo. Acomodação que muito nos favoreceu.  
   
              Chegando a hora de nossa apresentação,  reorganizamos o posicionamento dos microfones no palco, a posição da bateria,  de modo que ficasse mais visível, pegamos nossas guitarras e as ligamos nos  amplificadores do Alberto Mota, que nos cedeu gentilmente seu equipamento.  
   
              Iniciamos com nosso prefixo, “And I Love  Her”, de mansinho, e depois “atacamos” com nossas músicas mais animadas, ou  seja, com aquele repertório que estava na “crista da onda”, da Jovem Guarda, em  especial  iê-iê-iê. Os oficiais presentes  e demais convidados, tiveram um verdadeiro impacto pela mudança radical do tipo  de som entre os dois conjuntos. O Alberto Mota, conjunto tradicional, com  sambinhas, muita bossa nova, e o Big Brasa, com o som vibrante das guitarras e  o tipo de repertório moderno, que sem dúvida era bem mais animado. O resto  ficou por conta dos uísques que o pessoal já deveria ter tomado àquela altura  da festa.  
   
              Notou-se uma mudança repentina no salão.  Muitas pessoas dançando animadamente e o Big Brasa com força total, empolgação  de sobra. Devemos ter tocado uma meia hora, quando paramos para que o Alberto  Mota desse prosseguimento normal ao baile. Aí a coisa pegou, porque o pessoal  não queria mais o Alberto Mota, preferindo que a festa continuasse com o Big  Brasa. E agora? A situação, para nós foi constrangedora. Não pudemos fazer  nada, a não ser ouvir e acatar a difícil solução tomada pelos diretores do  clube, os quais resolveram, acertadamente, no meu entender, deixar o Alberto  Mota continuar a festa.  
   
              Mais uma vez, foi confirmada aquela  história, muito conhecida pelos músicos, de que deixar outro conjunto “tocar um  pouquinho”, durante uma festa, pode ser fatal. Pois se o aquele grupo que entra  apenas para um show se apresenta mal,  há quem reclame, perguntando: por que deixaram esse grupo tocar?  E, por outro lado, se o conjunto que entra  para dar uma canja apresenta-se bem, o prejudicado é o primeiro. Nessa noite,  nós aprendemos mais um pouco as manhas da profissão... 
   
  O ANIVERSÁRIO DO DUMMAR NA “GRANJA CASTELO” 
   
              O  João Dummar Filho, nosso amigo e participante fundador do Big Brasa, brilhante  músico, compositor, cantor e guitarrista, hoje em dia bem conceituado médico  psiquiatra de Fortaleza, sempre nos convidava para curtir música em sua casa,  uma verdadeira mansão que fica no lado oeste, às margens da Lagoa de Messejana.  Situada numa área muita extensa de terra e com uma entrada muito bonita, lá  havia também um cassino, com mesas de sinuca e pingue-pongue, boate, além de  outras diversões.  
   
              Eu e  o Luiz Antônio (Peninha) íamos de vez em quando até lá para compor, tocar  violão, ouvir as belas composições musicais do Dummar (que também tocava  piano), e também para conversar e  trocar  idéias sobre assuntos espirituais, esotéricos, transcendentais e coisas do  gênero, bem como nos divertir no cassino. Às vezes perdíamos a noção do tempo,  visto que chegávamos a passar tardes inteiras juntos, tocando, ensaiando e  batendo papo. 
              Em  1969, comemoramos o aniversário do Dummar na chamada “Granja Castelo”, que mais  parecia um palacete para nós. Festa essa que foi badalada na imprensa de forma  bem acentuada. Em uma das notas, um jornal local disse: 
                   
              - “Sexta-feira foi  realizado en petit comité, na boate do boa praça João Dummar Filho, seu  aniversário. O evento teve sucesso total, devido à organização e à  versatilidade do Conjunto Big Brasa, cujos integrantes apresentam recursos que  são um privilégio de conjuntos musicais como Os Mutantes. Ao som poderoso de  suas guitarras, órgão, contrabaixo e bateria, o Big Brasa está evoluindo para  tornar-se tão famoso quanto os principais conjuntos pop-art do Brasil. A festa teve iluminação psicodélica, com jogo de slides incidindo sobre o movimentado  conjunto musical. Foi a melhor noitada hippie que já houve em Fortaleza, com garotas lindas na pista de dança, gente  bacana papeando agradavelmente e a finesse das manas de Dummar Filho que ajudaram a fazer as honras da casa”.  
   
              Efetivamente  esse evento marcou época pelas inovações. Primeira vez que um conjunto tocava  em um cassino, com a bateria montada em cima de uma mesa oficial de sinuca. Show de slides incidindo sobre o grupo e  sobre o pessoal, jogo de luzes sobre a platéia e composições inéditas do  próprio Dummar. 
   
  O MÚSICO PRINCIPANTE EM CARNAVAL - TUDO NOVIDADE! 
   
              Em 1969, o Balneário Clube de Messejana nos  contratou para o Carnaval. A alegria foi grande, de nossa parte, pois o clube  tinha demonstrado confiança no Big Brasa. Seria a primeira experiência com  bailes carnavalescos. Eu tinha completado meus 17 anos de idade, portanto ainda  muito novo e sem prática nenhuma de bailes carnavalescos. O entusiasmo de todos  era muito grande e a responsabilidade pelo contrato também.  
   
              Contratamos imediatamente dois  instrumentistas de sopro, saxofone e piston, da banda de música da Base Aérea,  para assegurar o sucesso musical daquele contrato. Fizemos alguns ensaios, na  realidade para aprender mesmo como seriam as coisas, definir mais ou menos o  roteiro, as marchas, os frevos. Aprendi logo uma porção de novidades, por  exemplo, não sabia nem o que era fanfarra - que é um pequeno trecho de música,  executado na tonalidade da música seguinte (ou não), para que o cantor se situe  no novo tom. Há uma fanfarra diferente para mudança de ritmo, de marcha para  samba e vice-versa. 
   
              O cantor, também contratado pelo conjunto  especialmente para aquela oportunidade, foi o Nozinho Silva, muito conhecido em  Fortaleza. Bastante animado ele garantiria a parte vocal. Por último, como nós  estávamos temerosos de não “agüentar o tranco”, contratamos também um  percussionista para tocar tarol, peça importantíssima na sustentação dos ritmos  de carnaval.  
   
              Desse modo, o que sobrava para nós, diante  dos profissionais contratados e com muito mais experiência no ramo? Alguns  instrumentos de percussão, as guitarras, o contrabaixo e alguma ajuda na parte  vocal.  Eu tratei logo de “garantir minha  vaga”, pois queria ser útil ao grupo e participar de forma plena daquele  carnaval. Além de tocar guitarra, por iniciativa própria, decidi também  complementar a percussão utilizando o “ximbau” da bateria para fazer uma batida  semelhante à do tarol. A combinação ficava excelente. Usava um prato de bateria  à frente, para que também pudesse fazer alguns “breques” e marcações nos  momentos apropriados. 
   
              Chegando o grande dia, instalamos todo o  nosso material no palco do Balneário, que tinha sido recém-pintado, estava com  uma decoração muito bonita, salão encerado, mesas bem dispostas por toda a área  livre, tudo bem caprichado. Aliás, o Balneário teve nessa época sua fase áurea  de organização.    
   
              Antes de iniciarmos o primeiro baile o Big  Brasa foi saudado pela diretoria do clube e todos os músicos foram apresentados  aos presentes. 
   
              E começou a festa. Fanfarra no ar e animação  geral com a primeira música, o tradicional frevo “Vassourinha”. Todo o grupo  com muita disposição, tocamos uma seqüências de músicas conhecidas, para que os  presentes entrassem no embalo mais rapidamente. Após os primeiros instantes,  minha preocupação, natural de um principiante em uma estréia carnavalesca,  desapareceu totalmente e entrei de corpo e de espírito naquele clima de folia  momina. 
            
 
               A festa foi transcorrendo e eu observando  todo o grupo, gostando demais dos instrumentistas de sopro, das músicas, vendo  todo mundo pulando animadamente no salão, e fazendo meu ritmo com muita  empolgação. Tanta euforia que no primeiro intervalo já estava com as mãos e  braços muito cansados pela movimentação do “ximbau”. Até me atrevi a tocar um  pouco de tarol, revezando com o percussionista contratado. O cara me deu uns  “macetes” e ficava ao meu lado, para no caso de falha de minha parte ele poder  assumir de novo, de imediato. O tarol, para que você tenha uma idéia, é peça  fundamental para uma percussão de carnaval. Se ele parar o conjunto “morre”,  enfraquece.  
                     
                Chegamos ao final daquele nosso primeiro  baile exaustos. Mas satisfeitos pela missão cumprida. A diretoria do clube  gostou muito de nosso desempenho. No outro dia, dormi e descansei bastante para  recuperar as energias. Notei que meus braços estavam normais, sem nenhuma dor  muscular, como aquelas que tinha sentido na véspera, em razão de minha falta de  prática em percussão. 
                 
                Para o segundo baile, já estávamos com o  moral alto, mais tranqüilos tudo seria mais fácil. E foi mesmo, com exceção  pelas dores que comecei a sentir nos punhos e pulsos. Para resumir, voltou o  cansaço da noite anterior em 15 minutos. Entrei em um verdadeiro desespero e  fiquei assustado. Com toda a certeza não agüentaria até o final, se mantivesse  o mesmo ritmo. Por sorte, no decorrer dessa festa, um rapaz que estava olhando  o Big Brasa tocar, subiu no palco e pediu para dar uma “canja”, que no jargão  musical significa uma ajudazinha, tocando um pouco. Era o Pedro Ricardo, que  também muito disposto e animado, nos ajudou bastante naquela noite, vindo mais  tarde se tornar meu amigo. Em uma dessas coincidências, viemos a descobrir que  o Ricardo e eu nascemos no mesmo dia, mês e ano. No terceiro e quarto dias,  como já estávamos “tarimbados”, tudo correu dentro do esperado, na mais  perfeita normalidade. Com exceção de nosso pagamento, que a diretoria do  Balneário, na última noite de festa, alegando prejuízo, nos pagou apenas a  metade do contrato. Mas meu pai fez questão de efetuar o pagamento integral a  todos os músicos. E nós, de casa, ficamos o resto do ano inteiro para receber a  quantia restante em módicas prestações, como em um crediário...  
                 
                 Mas até isso valeu com experiência. Nos  carnavais que tocamos, alguns anos depois, no contrato havia uma cláusula que  os pagamentos deveriam ser efetuados de forma integral, após cada função.  
                   
                  “PEGAR O SOL COM A MÃO” EM UMIRIM 
                   
                   Numa das festas tocadas  em Umirim, o Big Brasa estava realmente muito bom, com repertório variado e  músicas de sucesso. Contrato de cinco horas, com início às 22:00 e término  previsto para às 03:00 da manhã. Tudo correu muito bem, salão sempre animado e  muita gente no clube. 
                   
                  Ao  final da festa, depois de o conjunto ter executado uma seqüência de músicas  super animadas, encerramos o baile. O pessoal que estava no salão mais parecia  um enxame de abelhas correndo para a frente do palco num tumulto enorme. Muita  gente pedia prorrogação e, após rápido acerto com a diretoria do clube, tendo  em vista que o contrato previa prorrogação (com o preço da hora duplicado) a  festa prosseguiu por mais uma hora. Até ali tudo bem, pois uma granazinha extra  estava garantida e não fazia mal a ninguém.   Perto do segundo final, entretanto, tocamos o que seria a música de  encerramento e paramos de novo. A cena mais uma vez se repetiu e o Big Brasa  teve que enfrentar mais uma hora. Até às 05:00h da manhã dessa vez. Estávamos  muito cansados. Imaginem só, depois de uma viagem, instalação de equipamentos,  banho e jantar às pressas e uma tocata de 07 horas não era moleza. 
                   
                  Aí é  que o bicho pegou: o público não saía do clube e a diretoria foi nos consultar  sobre uma outra hora de prorrogação. Mesmo estando exausto perguntei se os  colegas topavam a parada e decidimos concordar com apenas meia hora de festa,  depois de novo intervalo de uns quinze minutos. E foi assim, o dia quase  amanhecendo quando paramos pela última vez. Ainda apareceu um gaiato querendo  mais festa que disse: 
                   
                  -  Aqui nós costumamos pegar o sol com a mão! 
                   
                  Naquela  hora eu virei para trás, no palco, puxei o cabo da guitarra do amplificador com  força. de modo que ele quebrasse mesmo, e disse para minha guitarra ao  guardá-la no estojo: 
                   
                  -  Você não vai tocar mais nada hoje, vai dormir e pronto. 
                   
                  E  guardei-a. Para o engraçadinho que queria nova prorrogação respondi, de  imediato: 
                   
                  -  Aqui vocês podem pegar o sol com a mão, mas lá em Fortaleza a gente não faz  isso não! E encerramos definitivamente aquela “pequenina” festa ... 
                   
                  Após  tomarmos um café da manhã reforçado, em uma residência de um dos diretores do  clube, para depois iniciarmos a desmontagem do equipamento, uma surpresa: por  incrível que pareça, encontramos ainda o Cefas, saxofonista, tocando em uma  mesa para uma turma. Tinha aceitado mais prorrogação por sua conta própria, na  raça.     
                   
                  Após  este momento nós refletimos bem e em grupo decidimos marcar um limite para as  prorrogações, o que foi feito e cumprido em diante. 
                   
                  TENTAÇÃO PELO  DESCONHECIDO 
                 
                Fortaleza  atravessou um período de realização dos chamados  “festivais”, bailes realizados em dois  clubes, simultaneamente, sempre muito animados, com a participação de dois ou  três conjuntos.  
                 
                Havia  uma organização prévia para cada festival, de modo que cada conjunto pudesse  utilizar quase todo o instrumental do outro, o que facilitava muito a  operacionalidade dos festivais. Os horários para os deslocamentos do pessoal  dos conjuntos também eram devidamente programados. Nos intervalos dos  festivais, ficava um verdadeiro corre-corre pela cidade, com os conjuntos se  movimentando de um clube para outro. Verdadeira agitação, visto que tínhamos  que deixar um clube, levando apenas as guitarras e seus pedais, como distorção  e “wah-wah” e o contrabaixo, para chegar ao outro clube, ligar os instrumentos  e reiniciar novamente o festival. Alguns problemas freqüentemente ocorriam,  como pequenos atrasos nas festas ou quando um cabo, uma extensão ou outro  pequeno acessório quebrava ou desaparecia. Nesses casos, dificilmente  descobríamos a falha, quase sempre atribuída aos “bigus”. Certa vez, o Big  Brasa tinha iniciado um desses festivais no Parque Tabapuá, localidade perto de  Caucaia, e em seguida, durante o intervalo, mais ou menos à meia-noite,  teríamos que nos deslocar até o bairro de Monte Castelo, para continuar um  festival no Internacional Clube.  
                 
                Na  véspera, ainda em Messejana, eu tinha estado na praça da Igreja, batendo um  papo com colegas, oportunidade em que um conhecido do conjunto  
                 
                - que trabalhava no Hospital de Saúde Mental - ofereceu-me uma cartela com  alguns comprimidos, que segundo ele serviriam para “aumentar nossa resistência  ao sono”. Na verdade, apesar de já ter ouvido falar e visto as tais “bolinhas”,  as anfetaminas utilizadas como drogas, eu acreditei naquela história, guardando  aquela “preciosa ajuda”, que seria testada no dia seguinte nesse festival.  
                 
                Quando  paramos a festa no Parque Tabapuá, eu chamei todo o pessoal do conjunto,  expliquei rapidamente a história dos comprimidos, distribuindo um para cada  músico. O grupo, naquela noite, era composto pelo Edson Girão, Lucius Maia,  Severino, Adalberto, Lurdinha e eu. Todos nós, com exceção da Lurdinha, tomamos  um comprimido, com coca-cola, e rapidamente entramos na Kombi que nos  transportaria até o Monte Castelo. 
                 
                Durante  o percurso tentei perceber alguma diferença em mim, por efeito do tal  comprimido, mas nada senti de estranho. Entretanto, ao observar o restante do  pessoal, notei que o Edson praticamente tinha “escangotado” o pescoço para trás  e estava quase dormindo no banco traseiro da Kombi. Assustado, combinei com os  demais para quando chegássemos ao clube, dizer para o meu pai, que o Edson  estava “se fazendo” de bêbado, para dissimular o verdadeiro motivo daquela  moleza geral.  
                 
                Enfim,  chegamos ao clube, que estava repleto, com “luz negra” no ambiente, todo mundo  aguardando o reinício do festival, agora com o Big Brasa. Partimos logo para o  estreito palco, que estava uma confusão geral, com alguns bigus ainda  desligando e guardando alguns cabos do último conjunto. Quando eles liberaram o  equipamento, começou o nosso drama.  
                 
                Nós  ficamos totalmente atrapalhados, tontos e sem reflexos, porque os comprimidos  ao invés de nos fortificar, como tinha sido feita a propaganda enganosa,  surtiram efeito contrário, nos trazendo muito sono, apatia e torpor. A uma  certa altura me deparei com o Lucius tentando ligar seu contrabaixo, sem no  entanto conseguir seu objetivo. Mais alguns minutos e vi novamente o Lucius, só  que agora, sentado em um batente, na lateral do palco, com o contrabaixo sobre  as pernas, e apontando com o dedo o local onde o “plug” deveria ser colocado...  Acho que era o subconsciente dele trabalhando, fazendo um enorme esforço para  resistir àquela bomba de comprimido.  
                 
                Demorou,  mas começamos nossa parte, com um repertório bem animado, músicas pesadas, para  valer. Em determinado momento, o Severino fez um “breque” na bateria,  terminando no surdo, quando este saiu do lugar, sem que ele tivesse notado. Eu,  que estava no meio do palco, vi aquele lance e pressenti o que iria acontecer  em seguida. Tentei avisá-lo, mas ele não percebeu ou não me ouviu, por causa do  alto volume de som no palco. Pouco tempo depois, e ele repetiu a mesma frase,  na bateria, terminando desta vez no vazio, porque o surdo não mais estava em  seu lugar. Aí veio tudo abaixo, com ele caindo para o lado e derrubando meia  bateria. Até o prato soltou-se de seu suporte e caiu para a frente. Aquelas  pessoas que estavam mais próximas, ficaram espantadas com aquilo. Com a bateria  praticamente desmontada, a música teria que ser interrompida.  
                 
                Ainda  bem que nesta hora, por sorte, tive a presença de espírito para entrar  imediatamente com a introdução da música Evil Ways, que era feita somente por  minha guitarra, até que nosso bigu e o Severino conseguissem “remontar” seu  instrumento. Foi um aperreio danado, mas, devido a essa rápida providência (e  também à luz-negra no salão), pouca gente chegou a notar o ocorrido. 
                 
                Foi  uma experiência única, desse tipo, que podemos qualificar, de “verdadeira  droga”... E que pelo resultado obtido, nos ajudou a trilhar o caminho do bem,  evitando muitas situações perigosas, do gênero, que vieram mais tarde a  aparecer em nosso caminho. 
                   
                  A “FLOR D’ÁGUA” 
     
 A  “Flor d’água” surgiu durante o período em que o Joãozinho “Lennon” esteve no  conjunto. Algumas vezes, nos dias em que nosso pessoal tinha folga, a gente  procurava uma praia para se divertir um pouco.   
Em um desses dias fomos  até a Praia do Náutico, que naquela época era bem limpa e bastante procurada  pelos fortalezenses. A turma inteira no mar, pegando ondas, um sol gostoso e um  ambiente bastante agradável. Perto de nós havia um grupo de moças e rapazes,  que alegremente também curtia o mar . Conversa para lá, para cá, e o “Lennon”  chegou para nós sorrindo e dizendo:  
               
             
            
               - Vocês querem que eu  faça a “Flor d’água”?  
                   
                Como  ninguém sabia o que significava essa flor d’água, muito menos que poderia ser  feita naquele local, ele explicou que tratava-se de uma brincadeira muito legal  e divertida! Nós dissemos que sim e, na mesma hora, o Lennon preparou-se para  executá-la... 
                 
                E  ele nos deu instruções, pedindo que ficássemos olhando discretamente para um  determinado ponto, mar a dentro, afastado de nós uns quinze metros. Então  mergulhou e saiu nadando debaixo da água. Demorou um tempo razoável, tendo em  vista que nosso pessoal ficou ansioso pelo que iria acontecer com ele. De  repente, aparece na crista de uma onda, no local aproximado que ele tinha  previsto, a tal “Flor d’água”, que nada mais era que o Lennon, que durante seu  mergulho tirava o calção, virava apenas o bumbum para cima, mostrando tudo para  todos. Durante os poucos segundos daquela cena, todos achamos muita graça,  principalmente pelo susto e expressões de espanto de muitos banhistas,  que ainda não conheciam aquela “flor”... E o  Lennon, após sua exibição, mergulhava de novo, sem ser identificado, para  reaparecer em um lugar diferente, quase sempre longe dos estranhos e mais  próximo de nosso grupo.  
                 
                Depois  que ficamos sabendo daquele “processo”, nós mesmos pedíamos para que o Lennon  fizesse a Flor d’água, quando havia muito movimento na praia, de maneira a  justificar a aparição da “flor”. Molecagem de quem não tem o que fazer... Mas  sucesso garantido!  
                 
                O BAILE DE TÉRMINO  DE CURSO QUE “NÃO TERMINOU” 
                 
                Fim  de ano, mês de dezembro, e o Big Brasa tinha sido contratado para animar mais  um baile de formatura no Clube de Regatas Barra do Ceará, não lembro mais de  que colégio. O patrono dessa turma foi o então Major Cisneiros, comandante do  Departamento de Trânsito do Ceará. Na noite anterior havíamos tocado no mesmo  clube e a festa foi excelente. O conjunto estava atravessando uma fase ótima,  repertório bom e variado, instrumental legal e “embalado”. 
                 
                Iniciamos  o baile com o Clube praticamente lotado. Os concludentes desfilavam com seus  pares, preparados que estavam para dançar a valsa, que seria tocada à  meia-noite. 
                 
                Fizemos  intervalo, após uma primeira parte de salão cheio e muita animação. Tudo  prometia ser tranqüilo. Após dez minutos de intervalo (que seria de trinta  minutos) resolvi alertar o diretor do colégio para que providenciasse o lanche  para o conjunto junto ao bar do clube a fim de que o intervalo não se  prolongasse. Ao fazer o contato com ele notei que estava um pouco “chumbado”.  Aí então ele disse que não sabia de nada a respeito e que não iria providenciar  lanche nenhum porque o conjunto “não tocava nada que prestasse”. Ao que eu lhe  respondi, dizendo que se ele gostava de forró, realmente não estava bom pois a  festa estava para música jovem. Aquele senhor ficou muito invocado e disse que  de maneira nenhuma pediria o lanche para nós. Para desmascará-lo, disse para  ele que iria perguntar a três pessoas que por ali passassem se estavam gostando  do conjunto, da festa enfim. E foi assim: perguntei a quatro meninas que  passavam por perto der nós e todas elas afirmaram, na frente do diretor, que a  festa estava ótima e o conjunto tocava muito bem. Piorou a situação porque ele  ficou ainda com mais raiva e irritadíssimo, visto que tinha “quebrado a cara”.  Desesperado, perdeu o controle e gritou: 
                 
                -  Não vai ter nada de lanche não, e está acabado! 
                 
                Em  cima da hora, eu retruquei:  
                 
                -  Não há problema. Não tem lanche para o conjunto e não vai ter mais baile para  vocês. E sinalizei para que o Sérgio Alves imediatamente começasse a desligar o  equipamento, o que por ele foi feito sem pestanejar. 
                 
                Já  de volta ao palco, depois daquele “sururu”, apareceu-me uma mocinha que na  maior cara de pau perguntou: 
                 
                -  Que papel é esse que diz que o colégio tem que pagar o lanche para o conjunto? 
                 
                Ora,  mais uma vez não perdi tempo. Peguei uma das vias do contrato que estava atrás  do amplificador da guitarra e mostrando-o para ela, falei bem alto: 
                 
                -  Minha filha, desconfio muito que você saiba ler, mas o nome desse papel é  contrato e nele contém, uma cláusula na qual o contratante se obriga a fornecer  o lanche para o conjunto...” 
                 
                Com  essa resposta a menina saiu completamente descontrolada, nada respondendo, e  sumiu no meio da multidão.  
                 
                Após  esse fato, como responsável pelo conjunto, fui chamado pela diretoria do  Regatas para esclarecer o que estava ocorrendo, visto que o clube permanecia  lotado, o baile interrompido há quase uma hora e nada. Fiquei um pouco  assustado mas fui lá e falei para eles a história toda. Tal foi minha admiração  quando um deles, após ouvir tudo, disse para mim: 
                 
                -  Fez muito bem, meu jovem. Vocês agora vão receber um lanche completo, por conta  do Regatas.  
                 
                E  pediu apenas que o conjunto ligasse novamente o serviço de som, para anunciar o  motivo da paralisação da festa. E assim o fiz. Pedi para ligar o equipamento de  som e o Luiz Antônio avisou que o Big Brasa iria interromper o baile em virtude  de não cumprimento do contrato por parte da diretoria do colégio. Com esta  jogamos o abacaxi todo para cima do diretor bêbado e chato, que conseguiu  prejudicar todo um grupo de concludentes e acabou com a festa. Fim da história:  na semana seguinte recebemos o pagamento integral da função. 
                 
                Gostaria  de mencionar que esse episódio foi muito discutido na época, com meu pai, e que  até hoje “há controvérsias” sobre minha decisão. Eu poderia simplesmente ter  pago o lanche e continuado o baile, desprezando assim aquele diretorzinho  babaca. Mas na hora preferi não deixar que alguém faltasse com o respeito ou  maltratasse o músico. Sempre agia dessa maneira, seguindo meu temperamento de  não levar desaforo para casa. Além disso - o que é mais importante - fazendo  valer minha condição de músico profissional, merecedor de respeito como os  demais profissionais. Com o passar do tempo fomos nos acostumando a lidar com  essas situações com um pouco mais de calma, de equilíbrio e de tolerância. 
                 
                Para  quem não sabe, o problema é que a profissão de músico, de modo especial na  condição de músico de baile, é por vezes muito difícil. Em qualquer negócio  “normal” as pessoas estão sóbrias e pode-se conversar ou mesmo discutir sobre  alguma coisa e chegar a um resultado sem problemas. Agora com o músico é  diferente. Estamos em um baile, trabalhando normalmente, sem beber nada, como  era o meu caso, quando chega qualquer um participante (na maioria das vezes com  a cara cheia) e quer mandar, fazer e desfazer. Aí não pode...  
                 
                UM “REVEILLON”  QUASE PERFEITO ... 
                 
                O  Big Brasa tinha sido chamado para animar um baile de Reveillon no Clube do  Médico. Por ocasião da assinatura do contrato, para registro na Ordem e no  Sindicato dos Músicos, o contratante fez questão de definir bem a duração da  festa, de cinco horas, e que deveria ter início às 23:00h e término às 04:00h  da madrugada. Além disso, segundo ele, não haveria necessidade de prorrogação  “em hipótese nenhuma”, deixando a cláusula correspondente anulada. 
                 
                Pela  importância daquela festa o Big Brasa formou uma orquestra de dezesseis figuras  ao todo, ou seja, além de contar com os instrumentos básicos do conjunto  (guitarra, contrabaixo, teclados, bateria) foram contratados alguns outros  músicos para tocar percussão em geral, instrumentos de sopro (saxofone,  trombone e piston) e cantores que possuíam repertório específico de carnaval.  Ao final dos preparativos o grupo ficou bem ensaiado, de modo a desempenhar com  facilidade aquela função. No dia do baile os equipamentos de som foram bem  distribuídos, tanto no palco quanto no interior do clube, e durante a festa  inteira o público correspondeu plenamente, em número de foliões e em animação,  visto que o salão ficou praticamente cheio o tempo inteiro. 
                 
                Entretanto,  como nada pode ser perfeito, após o final do baile, às quatro horas da manhã,  aconteceu o seguinte fato, bastante desagradável: um dos responsáveis pelo  evento estava meio embriagado. Chegou perto do palco e, gesticulando bastante,  chamou o “dono do conjunto”, mandando tocar mais uma hora. Eu me aproximei e  tentei avisar a ele que o preço dessa hora seria o dobro da hora normal, como  de costume nos contratos. Aí ele disse, olhando para mim: 
                 
                -  Não confia em mim não, porra?  Pode tocar  que eu pago! 
                 
                Vai  não vai e ele continuava bastante exaltado, dizendo que se o conjunto não  tocasse iria quebrar tudo no palco, mais parecendo um verdadeiro “Rambo”. Nesse  momento, face às circunstâncias, eu já estava muito irritado, perdi a calma e  falei essa “delicadeza” para ele: 
                 
                - Já  vi que não estou falando mais com um diretor e sim com um bêbado! 
                 
                Ele  ficou furioso com aquela colocação e, mesmo cambaleando, partiu para cima de  mim tentando dar um murro, do qual facilmente me esquivei. Graças a Deus, porque  se não, no dia seguinte, se eu tivesse me defendido e de alguma maneira tivesse  tocado nele a imprensa certamente iria estampar a manchete: “Músico agride  diretor do Clube do Médico” ou alguma coisa parecida. E o conjunto certamente  sairia muito prejudicado com a história. 
                 
                Durante  aquela confusão, um sujeito bastante alto, que estava  bem perto acompanhando a situação, ficou me  encarando severamente e partiu para cima de mim, gritando: 
                 
                -  Olhe, você respeite a classe! E eu perguntei a ele, de imediato: 
                 
                - O  que é que o senhor é? 
                 
                -  Advogado! Respondeu ele quase gritando, com toda a arrogância possível e me  empurrando com o seu corpanzil. Ao que respondi, com firmeza: 
                 
                - Se  o senhor é advogado, eu sou músico, enfatizei. E no momento é o músico que está  trabalhando, de forma que respeite a minha classe primeiro para também ser  respeitado! O tal advogado, depois dessa cortada, ficou meio sem jeito, sem  graça, e afastando-se de nós deve ter “arquivado o processo”.  
                 
                Na  quinta-feira seguinte, conforme o combinado, fui receber o pagamento pelo  baile. Após ter me identificado como representante do conjunto Big Brasa, fui  prontamente atendido por uma recepcionista, a qual me encaminhou para uma  determinada sala. Por coincidência ou não encontrei-me com o mesmo diretor que  queria a tal prorrogação da festa... Por instantes ficamos meio embaraçados,  mas ele logo começou a falar, dizendo: 
                 
                -  Desculpe-me, rapaz, por favor esqueça tudo aquilo que aconteceu... E após  gentilmente ter elogiado a atuação do Big Brasa e me agradecer, efetuou  o pagamento normal pelo baile e nos  despedimos sem nenhum ressentimento.  
                Fácil  concluir que no momento da confusão, no clube, não era ele próprio que tratava  comigo e sim ela, a bebida, que tinha tomado conta dele ... 
                 
                MOMBAÇA - OS TRÊS BURACOS DE BALA NO PALCO 
                 
                Na  chegada do Big Brasa vimos faixas e cartazes de nosso fã-clube local, alusivos  à nossa presença em Mombaça. Uma recepção e tanto, demonstrando que a força  publicitária da televisão era muito importante. 
                 
                Após  as medidas rotineiras de instalação de equipamentos e acomodação do pessoal  retornamos ao clube e iniciamos a festa normalmente. O público naquela noite  era predominantemente composto de jovens, e o repertório do conjunto estava  direcionado para esse pessoal.  
                 
                Entretanto,  com uns quarenta minutos de baile, um senhor subiu ao palco e de uma forma  pouco educada pediu-me para tocar um xote. Lógico que não foi atendido. Em  primeiro lugar pela sua maneira de solicitar sua preferência musical e em  segundo porque o ambiente não estava para esse tipo de música. Pediu mais  outras tantas vezes e de novo não foi atendido, até que o conjunto, na hora  prevista, fez seu intervalo.  
                 
                Nesse  momento eu conversava com um grupo de moças e, por sorte nossa, uma delas  chegou-se a mim e perguntou o que aquele “velhote” estava me falando, ao que eu  lhe respondi: 
                 
                -  Ah, ele está pedindo xote o tempo todo... E ao invés de “xote”, ele está é  levando “choque” de minha guitarra, e eu também.  
                Então  aquela jovem me disse que ele era um candidato local a vereador e que tinha  dado três tiros no palco, em direção ao último conjunto musical que tinha  tocado na cidade, por causa de um pequeno desentendimento. Em seguida apontou  os buracos de bala atrás do palco. Avaliei calmamente a situação e pensando bem  - aí está um dos segredos do negócio - pedi para o Luiz Antonio (Peninha)  anunciar uma seqüência de xotes para aquele senhor, logo que o Big Brasa  retornasse do intervalo. Depois do “oferecimento” de uma seqüência de xotes  especialmente para o senhor “fulano de tal”, o dito cujo, alegre e satisfeito  foi o primeiro a entrar no salão para dançar. Escapamos dessa por um triz... 
                 
                OS SHOWS DO BIG  BRASA NA ESCOLA NORMAL 
                 
                O  Big Brasa em muitas oportunidades foi convidado para fazer shows em colégios. Nosso maior interesse era divulgar o conjunto o  máximo possível, visto que nessas ocasiões poderíamos conseguir um contrato  para festa de formatura, tertúlia de férias, aniversário de 15 anos ou outros  eventos. Sempre fomos muito bem recebidos. Durante os shows o conjunto era muito aplaudido, excitação e gritaria geral,  por conta das músicas e também por nossa causa. No final elas vinham conversar  conosco e pediam muitos autógrafos.  
                Lembro  muito bem das oportunidades em que nos apresentamos na Escola Normal Justiniano  de Serpa. As meninas ficavam alucinadas, em primeiro lugar pela animação  natural típica de um estudante, com shows daquela natureza. Em segundo pelo tipo de música e de conjunto, uma super  novidade naquela época. 
                 
                No  último deles, do qual jamais esquecerei, as meninas do grêmio estavam vendendo  ingressos, na própria escola, para angariar recursos para um passeio de férias  e o show seria realizado no  auditório. Chegamos com bastante antecedência e instalamos nosso equipamento no  palco em horário de aula, para que não houvesse tumulto. Nos avisaram para  iniciar o show na hora do intervalo.  Começamos a testar o equipamento e afinar as guitarras. Muitas daquelas alunas  que tinham comprado ingresso já tinham entrado e, conversando animadamente nas  poltronas, esperavam o começo do show na maior alegria. Uma comissão de meninas ficava na porta do auditório para  controlar a entrada.  
                 
                Quando  o Big Brasa realmente iniciou a apresentação, com a música Hello Good Bye,  houve uma invasão por parte das meninas através das janelas laterais do  auditório. Forçaram e conseguiram quebrar uma das janelas e naquele momento só  se via era menina voando por tudo que era lado para entrar de graça, na maior  algazarra. Não houve jeito, todo mundo entrou mesmo e o auditório ficou  superlotado. Ao final desse show a  diretora da Escola, Adísia Sá, agradeceu gentilmente a participação do  conjunto, mas disse que infelizmente nós nunca mais poderíamos “pisar lá”, pelo  tumulto causado...  
                A FISCALIZAÇÃO DA  ORDEM DOS MÚSICOS EM CASCAVEL 
                 
                 Durante  a realização de um baile carnavalesco em Cascavel, a Ordem dos Músicos esteve  por lá, representada por um “fiscal de meia tigela”, tendo em vista que ele não  era funcionário da Ordem, pouco ou quase nada entendia do assunto e tinha sido  contratado só para essa fiscalização durante o período carnavalesco.  
                 
                  Em  nosso contrato, constava dez nomes, ou seja, a relação dos músicos do conjunto  mais aqueles contratados especialmente para o carnaval. Pois bem, no momento em  que o fiscal da OMB examinou o palco para conferir a quantidade de músicos, deu  azar, porque o presidente do Clube Recreativo Cascavelense estava também no  palco, cantando uma marchinha qualquer. Ora, nós não poderíamos impedir que uma  pessoa de vez em quando cantasse um pouco, desde que não atrapalhasse o andamento  da orquestra. O fiscal da Ordem dos Músicos, limitou-se apenas a contar o  número dos participantes e, como sua contagem indicou uma diferença, mandou me  chamar e disse, logo de saída, que iria multar o conjunto. Com o baile em pleno  andamento, tentei argumentar com o cara, mas ele estava radical em sua  proposta. O Mairton, observando a cena de cima do palco, resolveu descer e  participou dos instantes finais daquela conversa. Decidiu entrar na jogada, e  com seu jeito peculiar, perguntou ironicamente ao fiscal:  
                   
                  -  Quer dizer, que se no palco tiver um galo ou uma galinha cantando o conjunto  vai ser multado? Ao que respondeu o fiscal, secamente: 
                    
                  - Vai.  
                   
                  Sem  saída, e querendo logo continuar o baile, eu disse que ele poderia autuar o  conjunto. Só que após a figura ter lavrado o auto da irregularidade, pediu para  que eu assinasse o livro. Com a maior calma, eu assinei no espaço por ele  indicado, um nome completamente diferente do meu próprio. Posteriormente, fui  chamado à OMB para o pagamento de uma multa. Ao chegar à Ordem, pedi para ver o  auto de infração e mostrei que a assinatura não era a minha, afirmando que nem  mesmo fiscalização alguma tinha passado por Cascavel.  
                  A coisa caiu no ridículo,  e aquele auto de infração ficou completamente desmoralizado, ficando por isso  mesmo...  
                   
                  O MAL ENTENDIDO QUE  NOS FAVORECEU 
                   
                  Certo  dia estava de folga e saí com um amigo da TV Educativa, o Gilson, para dar uma  volta pela cidade e nos divertir um pouco. Após algum tempo resolvemos  dar uma “carteirada” para entrar em um clubezinho  de subúrbio. Na portaria nos identificamos como da TV Educativa, exibindo a  carteirinha do Sindicato (Imprensa). Fomos prontamente atendidos e,  estranhamente, recebidos com toda honra, visto que um dos diretores se  prontificou a nos arranjar uma mesa e logo em seguida trouxe-nos duas cervejas.  Comentei com o Gilson que alguma coisa estava errada. Não deu outra. No  intervalo da festa ouvimos um locutor do clube anunciar, entre outras coisas,  que “encontram-se presentes no recinto dois elementos do Poder Executivo”.  Tinham confundido tudo, ou seja, entenderam “Poder Executivo” em vez de TV  Educativa, e nós levamos a melhor. Para evitar de eventualmente sermos chamados  ao palco como “autoridades”, resolvemos “capar o gato” e sair de mansinho ...  
                   
                  A FESTA DE SÃO BENEDITO - LIGADO DIREITO ! 
                   
                  Lembro-me de um  contrato do Big Brasa para a cidade de São Benedito, na Serra de Ibiapaba, como  um dos mais “puxados”, isto é, uma das mais cansativas funções que enfrentamos,  exigindo de todos muito preparo físico, psicológico e mental e correndo também  alguns riscos.  
                   
                  O  conjunto tinha tocado na noite anterior em Fortaleza. Nosso equipamento, após  de desmontado, “dormiu” na Kombi, preparado para a viagem e a nova batalha.  Acordamos no dia seguinte e após termos almoçado cedo, por volta das onze horas  da manhã, seguimos viagem. Eu dirigia a Kombi, naquele dia. Depois de mais ou  menos umas sete horas de viagem, sem nenhum problema, conseguimos chegar à São  Benedito. Montamos imediatamente o instrumental no clube. Nessas ocasiões todo  mundo tinha que virar bigu, pois este sozinho não dava conta do recado a tempo.  Muitos equipamentos para desmontar, instalar, fios e cabos para ligar, testar o  som dos amplificadores, afinar guitarras etc. Quando tudo estava pronto saímos  para tomar um banho e jantar, também de forma rápida, para iniciarmos o baile  no horário previsto.  
                   
                  Ao  retornar para o clube, tudo estava certinho com os instrumentos e a festa  inteira transcorreu sem anormalidades. Ao final, a desmontagem de tudo e a  viagem de volta. Todo mundo cansado, dormindo, e eu com atenção redobrada, ao  volante. Daquela vez passei mais de trinta horas “ligado direto”, sem dormir.  
                   
                  Hoje  reconheço que todos nós passamos por um verdadeiro perigo, pelo fato de voltar  dirigindo depois de uma noite toda acordado. Meu anjo da guarda estava ao meu  lado, mais uma vez ...  
                   
                  BRIGAS E AGITAÇÃO  POR PERTO 
                   
                  Alguns  clubes de Fortaleza nos anos 60/70 sofreram muito pelas ações ocasionadas por  causa de turmas de bairros e suas famosas brigas. Era o que  se chamava de juventude transviada ou as  “gangs” da época. Ainda bem que foram mínimas as ocorrências referentes a  conflitos, de qualquer natureza, seguramente uma minoria insignificante se  comparadas ao grande número de funções musicais realizadas pelo conjunto Big  Brasa. 
                   
                  Todos  os conjuntos tinham que conviver com esse risco e saber como se comportar  adequadamente nas situações de conflito que poderiam ocorrer nos clubes ou fora  deles. O Big Brasa sempre se saiu bem em todas as ocasiões de perigo, graças a  Deus. Uma das regras fundamentais para um grupo musical era a de não  interromper a festa quando uma confusão tivesse início ou uma briga estivesse  ocorrendo. Aprendemos isso através da experiência a nós transmitida por colegas  de profissão veteranos, acostumados com o que poderia acontecer durante uma  função musical, quase sempre brigas por excesso de bebida. 
                   
                  Por  que esse procedimento de não parar com a música? Pelo simples fato de que uma  parada da música poderia despertar a atenção de quem possivelmente não estivesse  nem vendo aquela  confusão, agravando o  conflito. E com a música em andamento os seguranças ou a turma do “deixa disso”  poderiam acalmar a situação com mais rapidez.   
                   
                  Por  que parou, parou por que? Não é assim que diz aquela música?  
                
             
              
            - As brigas de turmas  no Maguari 
      
              Havia  por exemplo as “famosas” turmas da Aldeota e da Treze de Maio, cujos  confrontos, via-de-regra, ocorriam no Maguari, clube localizado na Treze de  Maio. Presenciamos uma dessas confusões, quando tocávamos uma tertúlia de  férias em julho de 1969. O Big Brasa tinha iniciado a festinha e tudo ia indo  muito bem, a rapaziada se divertindo normalmente até que começou a chegar a  turma da Aldeota. De cima do palco a visão sempre foi privilegiada, se bem que,  por outro lado, poderíamos ser facilmente alvos potenciais de tudo e de todos,  quando se tratava de brigas. De repente, quando um dos rapazes da turma da  Aldeota atravessava o salão - muito bem encerado - com toda a pose, escorregou  e levou uma tremenda queda. O que seria um fato normal transformou-se por conta  de uma vaia que ele levou da turma da Treze de Maio. Daí para o começo da briga  foi rápido.  
      
              Quando menos espero vejo um dos caras levantar uma cadeira (quem  conheceu o Maguari sabe o tipo de suas cadeiras, de madeira e bem pesadas) e atingir  seu adversário bem na testa. Foi uma só “cacetada” e o cara ficou estatelado no  chão. O que se viu depois foram cenas de vandalismo e de destruição. Mesas,  cadeiras, garrafas e copos voando de lado a lado, no confronto entre as turmas.  Por alguns instantes continuamos a tocar, mas depois, com o aumento do tumulto  instintivamente alguém do conjunto sinalizou para que todos se protegessem de  eventuais “copos perdidos”. Fiquei observando aquilo tudo de um canto do palco,  por trás de uma das caixas de som. Logo em seguida o Edson Girão achou por bem  anunciar ao microfone, com voz de locutor de transmissões de lutas de boxe,  para fazer graça: 
      
   - Primeiro assalto!  Como se fosse uma luta real.  
   
              Para que ele disse isso.  Logo um dos brigões jogou um copo em nossa direção. Por sorte ele bateu no  prato da bateria, quebrando-se e espalhando cacos de vidro por todos os lados.  Imediatamente desligamos o sistema de som e o Edson deve ter reconhecido sua  tremenda mancada e o perigo de sua brincadeira. Essa tertúlia não teve  prosseguimento, pela anarquia ocasionada pela briga.  
   
              Ao  final, quando estávamos saindo do clube, vi um dos envolvidos na briga sendo  carregado, na calçada, com o rosto  todo  cortado por uma garrafada.  
            - Tiros no “CRA” 
                   
            Em  outra ocasião, no Clube Recreativo da Aerolândia, o “CRA”, no momento em que o  Big Brasa estava chegando para dar continuidade a um dos festivais de três  conjuntos, houve uma briga muito grande. Os intervalos longos, para troca de  conjuntos, muitas vezes concorriam para que essas confusões acontecessem.  Estávamos ainda fora do clube quando ouvimos nitidamente um primeiro estampido,  seguido de mais uns dois ou três tiros. Soubemos que um dos presentes, bêbado,  por um motivo fútil, sacou de sua arma e efetuou vários disparos no meio do salão,  atingindo na perna um rapaz que não tinha nada a ver com a história.     
            - Susto em Guaiúba - um "38" ao lado... 
                   
              Fomos algumas vezes  convidados a tocar em Guaiúba. Todas as funções sempre animadas e sem  ocorrências anormais. Em uma dessas vezes, porém, houve uma confusão perto do  local em que o conjunto se apresentava. Não tinha palco e ficávamos perto dos  dançantes, no mesmo nível.  BIG BRASA EM GUAIÚBA – CEARÁ
              Em determinado momento  eu olhei a confusão e vi um cara com um revólver enorme na mão, segurado por  outro sujeito, que o impedia de atirar.  
                 
              Fiquei  olhando aquela arma apontada para cima, acho que por alguns segundos, até  corrermos todos para nos abrigar mais para trás. Não houve o disparo e tudo  acabou bem. 
                      
            - Quase pagando o  pato... 
                 
              Uma  das situações mais perigosas pelas quais passamos foi depois de uma agressão  sofrida por um lutador de Fortaleza, conhecido por “Ted Boy Alencarino”, que  apresentava-se sempre em um programa de televisão exibido pela TV Ceará,  chamado “Telecatch Alencarino”. 
              O  Ted Boy e sua turma estiveram em uma festa realizada no Clube da Caixa  Econômica, em Messejana, onde depois de terem provocado e batido em um rapaz da  terra, foi agredido violentamente por toda a turma da pesada de Messejana,  particularmente pelo “Paulo da Marcosa” e pelo Artur, dois brigões conhecidos  da época.   
   
              Passados  alguns meses, estava o Big Brasa tranqüilamente tocando no Maguari, quando um  dos garçons veio avisar que Ted Boy estava no clube para pegar o nosso  baterista (no caso o Severino). Ao saber disso ele ficou apavorado. Tivemos  logo que interromper as festa e fazer um intervalo, não programado. Nessa  paralisação o Severino não contou conversa, rapidamente resolveu sair do clube  e se proteger escondido dentro de nossa Kombi, para se salvar daquela encrenca. 
   
              Diante  da necessidade de esclarecer a situação, pedi ao  garçom que me apontasse quem era o Ted Boy e,  mesmo temeroso, fui conversar com ele. Em sua mesa encontravam-se dois casais.  Apresentei-me e disse que estava ali para explicar um mal entendido, que alguém  tinha confundido o Severino com o Artur ou o Paulo da Marcosa, pois todos eram  alourados e parecidos.  
              Logo  no início da conversa uma das moças que os acompanhavam disse: 
   
              - Eu  já estou sentindo cheiro de sangue... 
   
              Vi  então que aquela turma era realmente “da pesada” e não estava de brincadeira.  Logo a seguir, o parceiro do Ted Boy levantou-se dizendo que iria me dar um  soco, chegando mesmo até a empunhar o braço, ao que foi impedido pelo Ted Boy,  que ouviu atentamente minhas explicações sobre o equívoco que estava havendo.  Depois, olhando firmemente para mim, asseverou: 
   
              -  Cara, vou confiar na sua história. Se é verdade o que você está me dizendo,  tudo bem. Mas se eu descobrir que é mentira sua eu irei te pegar em qualquer  lugar que você esteja e você não vai escapar! 
   
              Daí  para frente tudo ficou esclarecido. Como o que eu disse era absoluta verdade o  Severino salvou a sua pele de um terrível   mal-entendido que poderia ter lhe custado caro. E o Big Brasa pôde  continuar o baile com a volta de seu baterista, que naturalmente passou maus  momentos pelo perigo que passou.   
            - Em Pacajus - uma  “paulada” segura
            Estudantes de um  colégio de Pacajus nos contrataram para animar uma festa, promoção que serviria  para eles como preparativo para seu término de curso. Pelo contrato, o Big Brasa  tocaria quatro horas de festa, com intervalo de meia hora.  
                 
              Seguindo o mesmo  esquema, saímos do programa Show do Mercantil e nos deslocamos para aquele  município, distante 40   quilômetros de Fortaleza, pela BR-116. Naquela noite  fomos em dois carros, a rural do Fernando Galba e meu fusca azul pavão.  Excepcionalmente nessa ocasião combinamos levar nossas namoradas, noivas e  esposas para essa festa, coisa rara de acontecer, pelos transtornos que  eventualmente podiam ocorrer.  
   
              O problema, nesse caso,  é que não podíamos dispensar a atenção adequada a uma companhia em virtude de  estarmos tocando. Principalmente quando se tratava de um grupo de jovens, que  no entender das outras pessoas, estavam desacompanhadas. Eu fui o encarregado  de levar essa ala feminina, composta pela Salete, namorada do Tertuliano,  Suely, esposa do Mairton, Marileide, esposa do Airton e Aliete, minha mulher.  
   
              Instalamos nosso  equipamento em uma quadra descoberta, nesse colégio, e nosso pessoal ficou na  mesa reservada para o Big Brasa. A festa começou normalmente, tudo indicando  que seria mais uma noite tranqüila e calma. Mas, depois de alguns minutos, um  dos participantes veio até nós solicitar “forró”. Tudo bem até aí. Acontece  que, como não atendemos seu pedido imediatamente, ele ficou irritado a ponto de  começar a interromper cada casal que estava dançando, pedindo para que parassem  de dançar até que seu gosto fosse atendido. Não conseguiu seu intento, pois a  grande maioria não queria forró. E, por isso e pela tentativa de tumulto, provocada  por essa sujeito, não o atendemos mesmo.  
   
              E a festa transcorreu  bem, muita animada até o fim. Quando o conjunto parou de tocar e nossos bigus  iniciaram a desmontagem do equipamento, eu fui receber nosso pagamento, de um  líder de classe, responsável pelo contrato. Ele regateou, amigavelmente e até  em tom bastante camarada, pedindo que eu diminuísse um pouco a quantia, para  que o lucro de sua promoção fosse melhor. Nesse ponto, eu passei a explicar  para ele, que a diferença seria significativa para nós, pois a quantia era o  equivalente ao pagamento dos “bigus”. O rapaz perguntou-me então o que era  “bigu”, termo que ele desconhecia. Quando eu acabei de lhe fornecer a  explicação, sobre a função dos bigus, mais ou menos a uns quatro ou cinco  metros de distância, a minha esquerda, ouvi uma pessoa dizer:  
             - Deviam é pagar para  essas mulheres que vocês trazem para “tirar sarro” para carregar os  instrumentos... 
                 
              Virei imediatamente e  me deparei com o fulano... Era o mesmo chato que tinha passado a noite enchendo  nossa paciência. Não perdi tempo e de imediato falei para ele, de forma  ríspida: 
   
              - Olha aqui rapaz,  dinheiro eu até posso discutir, mas assunto de mulher não admito conversa e fim  de papo.  
   
              O nosso contratante,  temeroso de qualquer confusão, logo terminou de efetuar o pagamento integral.  Com o dinheiro da festa recebido, eu avisei todo nosso pessoal sobre o  ocorrido, combinando para sairmos todos juntos e que ficassem atentos durante a  saída de nosso equipamento. Nossa mobilização foi bastante rápida. Para nos  prevenir contra qualquer eventualidade, todos nós, o Airton, Edi, Lucius,  Mairton e eu ficamos distribuídos estrategicamente por todo o trajeto entre a  quadra e a porta do colégio.  
   
              O material foi sendo  transportado, sob nossa observação. Minha posição naquele momento era bem em  frente aos carros, na calçada do colégio, atento a tudo e a todos que por ali  passavam. De repente avistei o provocador, que vinha saindo pelo corredor  central. Fiquei atento e me preparei para qualquer ação por parte dele. Então o  cara aproximou-se pouco a pouco e passou por mim raspando, chegando a tocar em  minha camisa a título de provocação. Em seguida parou quase na minha frente e  ficou me olhando com ar de quem procura acha... Vendo a cena o Lucius chegou  até nós, de maneira muito gentil cumprimentou o sujeito e de forma diplomática  tentou desfazer o mal-entendido, explicando a ele quem eram aquelas jovens que  estavam conosco. Mesmo após de toda diplomacia despejada pelo Lucius o  provocador insistiu na agressão verbal: 
             - Que nada... Isso são  umas rapari......  Mas não pôde concluir  a palavra, porque eu desfechei-lhe um tremendo murro entre o nariz e a boca que  o jogou de encontro ao retrovisor da rural, que estava atrás dele, derrubando-o  como um belo nocaute. Nessa época eu estudava e treinava karatê e a pancada não  deve ter sido muito fraca, visto que cheguei a cortar um pouco um dos dedos.  
                 
              Daí para a frente  seguiram-se alguns lances de muito perigo. Puro ímpeto e eu, depois de ter dado  o soco naquele rapaz, tirei uma pistola do bolso e fiquei por alguns instantes  apontando aquela arma para o indivíduo, que felizmente não esboçou nenhuma  reação, nem mesmo conseguiu levantar-se sozinho. A Aliete me segurava por trás,  com muito medo. Ao mesmo tempo todo o grupo se posicionava a nosso lado para  uma eventual reação por parte de outras pessoas do local. De repente ouvimos um  grito vindo de dentro do pátio do colégio. Soubemos que dois amigos do nosso  desafeto, que presenciaram o desfecho da discussão, tinham se levantado da  calçada para sair em defesa do colega. O Fernando Galba, nosso motorista, que  também estava prevenido de tudo, puxou um cabo de embreagem que trazia enrolado  em sua roupa e com toda a força sapecou um “raspa” nas pernas de um deles, que  desistiram da refrega na hora e “caparam o gato”, como se diz.  
   
              Momentos depois  partimos de volta para Messejana. Em meu fusca estava toda nossa “ala feminina”  e eu, com um pequeno corte nos dedos mas com a sensação da vitória, comemorada  por todas elas. Chegamos ainda a ver, de passagem, a nossa “vítima”, sentada na  pracinha, sendo consolado por seus colegas. 
   
              Nesse dia tivemos  a comprovação do que já sabíamos. Mais um aviso de que trabalho é trabalho e  que não devíamos levar nossas companheiras conosco para funções musicais.  
   
  UMA RECOMPENSA  MERECIDA 
   
              Em 1972 enfrentamos a  maior jornada de trabalho no final do ano. Para dar uma idéia da procura pelo  conjunto, no mês de outubro o Big Brasa já tinha contratos assinados para quase  todo o mês de dezembro. Quase chegamos a preencher totalmente nossa agenda.  Isso pelo fato do grupo estar atravessando uma excelente fase e muito bem  divulgado, tanto em Fortaleza quanto no interior cearense.  
              Foram  ao todo 28 bailes, uma grande maratona de festas. Nesse mês de dezembro nós  tocamos ininterruptamente quase o mês inteiro, “que nem cantiga de grilo”, como  diz o matuto. Um trabalho árduo e cansativo, mas que todos desempenhavam com  facilidade, em razão principalmente do gosto pela música. O dinheiro que  ganhávamos era considerado por todos nós apenas como uma conseqüência daquele  trabalho. Em todos esses bailes, sem exceção, posso afirmar que o Big Brasa  apresentou-se muito bem. O repertório, o nível técnico-profissional dos  participantes e o alto astral do grupo foram fatores determinantes do sucesso  obtido.   
   
              Nesse  período tivemos até que contratar mais bigus e um motorista para nos ajudar, de  forma que eu pudesse estar completamente livre para retornar para casa tão logo  as festas acabassem, sem o trabalho de dirigir transportando equipamentos. Uma das  preocupações de meus pais era com minha saúde, pelo desgaste sofrido com as  noites seguidas de sono perdido, sem a necessária reposição no dia seguinte.  Após cada baile, quando chegava em casa eu dormia até a tarde do dia seguinte,  sendo acordado algumas vezes para me alimentar.   
   
              Quando  acordava, começava imediatamente a trabalhar para a próximo baile, revisando  todos os cabos, plugs e demais acessórios que pudessem ter sido danificados.  Volta e meia eu tinha que fazer algum conserto, para deixar novamente tudo em  ordem . O Sérgio quase sempre me ajudava nessa tarefa.  
   
              Ao  final dessa temporada toda a equipe do Big Brasa, inclusive bigus e motoristas,  chegou a faturar uma quantia significativa para nossos padrões, bem acima da  média, valendo a pena o esforço. Tivemos um fim de ano extremamente  movimentado, onde todo mundo participou de forma plena, de modo a poder cumprir  todos os nossos compromissos e receber uma recompensa merecida!     
   
  ESCAPEI POR UM  “TRIZ” DA TARTARUGA ... 
   
   Foi em Redenção. O Big Brasa tinha sido  contratado para tocar em uma inauguração de um pequeno clube local. Tempo de  política e festa comemorativa de alguma data importante na cidade.  
   
              Como  era sábado, com o consentimento do Augusto Borges e da produção do programa,  saímos um pouco antes de terminar o Show do Mercantil. Nessas ocasiões, como  desempenhava também a função de diretor musical do programa, podia acertar com  a produção esses esquemas de um modo a não prejudicar nossos contratos. 
   
              Muito  bem, chegando em Redenção fomos instalar os equipamentos no clube, depois tomar  um banho e jantar na casa de um dos contratantes. Nosso anfitrião deveria ser  um dos políticos ou candidato a algum cargo eletivo daquele município, porque a  casa dele estava um verdadeiro “chafurdo”.  
   
              Naquela  casinha simples, o ambiente estava animadíssimo e muito movimentado. Pedimos  então para tomar um banho antes de jantar e alguém prontamente nos indicou o  local do pequeno banheiro. Devido ao pouco tempo que a gente dispunha, entramos  em bloco, acho que o Severino, o Carló, o Adalberto, o Lucius e eu. Na pequena  e estreita dependência havia um tanque e teríamos que encarar o velho e  conhecido de alguns, o banho de lata. Isso mesmo, era pegar ou largar, não  tinha jeito. E a água estava muito fria. Começamos a nos molhar rapidamente e  fazíamos a maior bagunça, todo mundo brigando pela lata para tomar banho e sair  logo. Sempre esses lances foram divertidos. Em determinado momento o Lucius  inventou de fazer “outro serviço” antes de tomar banho. Subiu na meia parede, que  dividia a  salinha do tanque e a do  aparelho sanitário para dar uma olhada. Como ele já estava pelado mesmo, não  quis mais se vestir, para sair da sala do tanque e entrar na outra, resolvendo  pular a paredinha por dentro mesmo. Nisso, quando subiu, fechou a outra porta  de saída por dentro, logicamente e concluiu seu “trabalho” na maior rapidez.  Mas, um “pequeno” detalhe: ao voltar esqueceu de destravar a porta, que  permaneceu fechada por dentro, o que certamente deve ter dado problema depois  para os donos da casa. Muito bem, após todo mundo ter terminado aquele banho de  lata, eu resolvi entrar no tanque e dar uma molhada geral. Todo ensaboado  passei-me para dentro do tanque. Com a água muito fria, fiquei me agitando  bastante para tirar logo o sabão e sair. A turma se divertia demais com aquele  lance até que, para surpresa de todos, quando saí do tanque todos nós vimos uma  grande tartaruga ou um cágado, sei lá, nadando agitadamente em sua superfície.  Escapei, mas já pensaram o perigo e que sorte a minha naquele dia?  
   
  OS SHOWS COM O  EDNARDO 
   
              Em  diversas oportunidades acompanhamos o Ednardo, compositor de inúmeras músicas  belíssimas, dentre elas Beira-Mar e Pavão Misterioso, esta última tema de  novela exibida pela Rede Globo. Ednardo é um dos componentes do chamado  “Pessoal do Ceará”, composto também pelo Belchior, Rodger, Tetty e Jorge Mello.  O Big Brasa teve a oportunidade de acompanhar esse pessoal todo, quer na  televisão ou em apresentações em clubes ou boates de Fortaleza. Com o Ednardo  estivemos em dois Festivais Nordestinos de Música Popular, realizados em  Recife, Pernambuco, dos quais falaremos mais tarde.  
             
              Depois  que o Ednardo seguiu para uma temporada em São Paulo e conseguiu gravar,  retornou para Fortaleza para fazer o lançamento de seu primeiro disco e para  realizar alguns shows. Fez contato  conosco no sentido de acompanhá-lo e mais uma vez o Big Brasa topou a parada,  que seria o ensaio para a realização de sete apresentações. Três delas em  Fortaleza, no Teatro José de Alencar e Ginásio Paulo Sarasate, duas em São Luís  do Maranhão e duas em Teresina, essas últimas nos teatros locais.  
   
              Começamos os ensaios em  nosso “QG”. Muito trabalho, porque tínhamos que deixar vinte e cinco músicas  preparadas para as exibições. E os arranjos foram muito caprichados. O Ednardo  sempre foi bem detalhista em seu trabalho e eu gostava de produzir as  introduções das músicas, arranjos e encadeamentos harmônicos para que pudesse  improvisar e usar todos os recursos de efeitos de que dispunha. Passamos mais  ou menos uma semana ensaiando o dia inteiro, serviço cansativo e por demais  desgastante. O importante é que tudo ficou bem arranjado. Copiei em pauta  musical todas as introduções e outras passagens para que não houvesse o perigo  do esquecimento. O Adalberto tocava bateria e às vezes órgão. O Cláudio Pereira  contrabaixo e eu guitarra, viola e flauta doce. O Ednardo, além de cantar suas  músicas, usava em algumas delas umas percussões para produzir maior efeito nos  arranjos e tocava viola ou violão. Toda a produção do show, ao final, ficou excelente. 
   
              Preparamos cerca de 30 músicas para as  apresentações. Os músicos eram o Cláudio (contrabaixo), Edi (bateria),  Adalberto (órgão) e eu, que tocava guitarra, viola e flauta doce. O repertório  era todo anotado, as introduções e arranjos em partituras para quenão houvesse esquecimento. 
   
              Em todas as ocasiões, nas casas de  espetáculo ou teatros, nós tínhamos que instalar todo o instrumental com  bastante antecedência, passar algumas músicas ou introduções, esperar que as  equipes técnicas fizessem a marcação de luzes, posições, microfones e outros  detalhes. 
   
              Lembro que em um show realizado em São Luís, logo depois da primeira música minha  estante caiu do palco e voou a papelada toda, caindo bem na frente da primeira  fila da platéia. Por sorte um dos espectadores apanhou a estante e me entregou  rapidamente, de modo que deu tempo para eu organizar as partituras na seqüência  para a próxima música. Fiquei apreensivo naqueles instantes, porque dependia  muito das partituras para que todos os detalhes dos arranjos pudessem ser  executados. Ainda bem que a luz não estava em mim e pouca gente deve ter notado  esse pequeno incidente. 
   
              Foi  uma temporada realmente muito proveitosa. Todos adquirimos mais experiência ao  trabalhar musicalmente em teatros. A acústica, a platéia, as luzes, a própria  disposição do instrumental no palco, tudo era diferente do que se costuma fazer  normalmente em um baile. 
   
  O ATRADO EM PACOTI - QUE "FRIA"... 
   
              A  maioria das vezes em que o Big Brasa foi contratado para tocar no interior do estado,  aos sábados, durante o período em que o conjunto participou do programa Show do  Mercantil, nós tínhamos que fazer um bom planejamento para não perder tempo, e  chegar no destino antes da hora marcada, com tempo suficiente para instalar o  instrumental e testá-lo, pelo menos. O conjunto tinha um “esquema” preparado  para essas situações. 
   
              Naquela  noite o Big Brasa iria tocar em Pacoti, cidade serrana do interior do Ceará. À  tarde o conjunto participou do programa Show do Mercantil e mais ou menos às  18:30h, um pouco antes de seu encerramento, conforme tínhamos acertado com a  produção do programa, desmontamos nosso equipamento e os bigus levaram todo o  material para os transportes. Enquanto isso, nós fizemos um rápido lanche no  restaurante “Jerbô”, que ficava na esquina da Avenida Antônio Sales, pertinho  da TV Ceará, e nos mandamos para Pacoti em dois carros. Eu dirigia a Kombi e o  Fernando “Galba” a Rural.   
   
              No  percurso, tudo transcorria muito bem. O pessoal descansava um pouco, se  preparando para mais uma noite de muito embalo. Acontece que em virtude do  pouco conhecimento da estrada, noite muito escura e principalmente pela falta  de sinalização, chegando à Serra de Guaramiranga, eu e o Galba nos perdemos,  não encontrando a entrada para Pacoti. Ficamos rodando por algum tempo, mais  perdidos do que cachorros em dia de festa. A medida em que o tempo passava,  nossa preocupação aumentava.  Por sorte,  encontramos com um transeunte, que nos forneceu a informação necessária para  que encontrássemos o  caminho.  
   
              Quando  finalmente chegamos à cidade, quase meia-noite ou um pouco mais que isso, o  quadro era desolador. Muita gente na rua, rapazes e moças parcialmente  desarrumados, conversando em grupos e muito desanimados pelo quase certo  cancelamento da festa em razão da falta do conjunto. Um verdadeiro fracasso,  seria, se realmente tivéssemos faltado. 
   
              Enfim  paramos na porta do clube, sendo imediatamente cercados pelos contratantes e  populares. Explicações sobre o atraso foram dadas e bem aceitas, tendo em vista  que prometemos - e cumprimos - prorrogar a festa pelo tempo necessário para  cobrir nosso atraso. Pudemos notar, que rapidamente o pessoal se mobilizou, com  o maior entusiasmo. E a festa foi realizada, dentro de um clima de muita  animação. Naquela noite, tocamos até quase de manhã.  
   
              Durante  o baile, em razão do intenso frio, tivemos problemas para manter a bateria  afinada, visto que o couro dos tambores amolecia e ficava praticamente sem som.  Interrompemos a festa, mais de uma vez, para levar os tambores da bateria, até  perto do fogão do bar, a fim de que aquecessem novamente. Esse tipo de problema  com os couros da bateria, algum tempo depois foi solucionado, com o surgimento  das peles de “nylon”, que vieram para substituir o couro. Na hora do lanche, no  intervalo, as situações quase rotineiras: quase não tinha nada reservado para o  conjunto. Uma galinha praticamente congelada, pelo frio da serra, refrigerantes  e nada mais. O pessoal responsável pelo bar, querendo faturar alto vendia tudo,  sem a menor preocupação de reservar o lanche para o conjunto. Nessas horas, o  que fazer? Assim mesmo a batalha continuava. 
   
              No  decorrer da festa, um senhor me fez um pedido musical. Lembro que a música  solicitada não constava do nosso repertório. Então, no intervalo, eu  pessoalmente justifiquei o não atendimento do tal pedido. Na continuação do  baile, entretanto,  lhe oferecemos uma  seqüência de sambas, pela qual ficou muito satisfeito e agradecido pela  atenção. Ficou me tratando, até o fim da festa por “educado”.  
              Com  o baile terminado e o dia amanhecendo, esse mesmo senhor nos convidou para  conhecer sua casa e tomar um café. Por ser uma proposta de uma pessoa para nós  desconhecida, consultei todo o grupo e, depois de desmontar e arrumar todo o  equipamento nos transportes, resolvemos aceitar aquele convite. A primeira  surpresa que tivemos foi com um automóvel de luxo que ele dirigia. Durante o  trajeto, alguns membros do conjunto foram juntos com ele, que dizia estar muito  satisfeito conosco, com a festa, e em tom animado e de brincadeira, afirmava  que sua casa estava disponível para tudo aquilo que quiséssemos, “menos  mulher”, porque só tinha uma e essa era a dele.  
   
              Ele  se dirigiu para Guaramiranga, no topo da serra. Ficamos sabendo de quem se  tratava. Era o Dr. Sílvio Leal, médico de conceito muito elevado em Fortaleza,  que todos os finais de semana se desligava de seus afazeres e procurava repouso  e tranqüilidade naquelas paragens.  
   
              Ao  chegar em seu sítio, encontramos uma verdadeira maravilha de paisagem, uma  estrutura fantástica, tudo muito bem cuidado, jardins floridos, uma barragem  artificial, e tudo sob um clima frio, agradável, com um pouco de neblina no  horizonte. E o Dr. Sílvio Leal, com toda simplicidade, nos mostrou,  detalhadamente, todas as dependências de sua morada de campo. A casa, em três  níveis, construída em estilo colonial americano, possuía vários dormitórios,  todos com móveis de madeira, funcionais e artisticamente trabalhados, um bar  completo, salão de jogos, guarda-roupa com vestuário adequado para frio, uma  despensa repleta de mantimentos e de produtos importados e até mesmo uma  belíssima lareira. Fiquei realmente impressionado, pois só tinha visto casas  daquele tipo em filmes. Depois de conhecermos tudo, ele nos levou para uma das  varandas, onde nos sentamos para conversar. Tomamos um café, completo, ocasião  em que ele nos pediu também para ficar para o almoço. Em seguida tocamos um  pouco de violão e o Mardônio cantou algumas músicas. O Dr. Sílvio nos confessou  que estava muito saudoso, em razão da viagem de sua esposa e de uma filha para  o exterior, e que nossa presença o tinha deixado muito feliz. 
   
              Enquanto  isso, um de seus moradores, bem defronte à casa, fez uma demonstração da  quantidade de peixes que existia naquela barragem, jogando uma rede de pesca,  que em poucos segundos voltou repleta de peixes. o Carló ficou tão entusiasmado  que pôs um anzol na água, mesmo sem isca, e conseguiu fisgar um peixe... Nessa  manhã, enquanto nosso grupo descansava um pouco e se divertia, resta dizer que  o Fernando Galba nos chamava insistentemente para ir embora, pois segundo ele  teria que fazer uma “corrida” com sua rural ainda naquele dia. Ao perceber esse  fato, o Dr. Sílvio o chamou e muito discretamente lhe deu uma pequena gorjeta,  de leve, para acalmá-lo... Depois dessa providência o Galba se transformou em  um grande puxa-saco. Parou de reclamar, chegou-se para perto de nosso grupo e  ficava nos ouvindo, prestando bastante atenção. Cada vez que o Dr. Sílvio  começava a falar alguma coisa, ele entrava no meio de nós, batia palmas e dizia  para todo mundo: 
   
              -  Calma, calma, pessoal, deixem o doutor falar! 
   
              E  outras frases similares, típicas de um “puxa-saco” militante.  
              Almoçamos  muito cedo, mais ou menos às 10 horas, e logo em seguida retornamos para  Fortaleza. Todos ficamos muito agradecidos pela recepção oferecida pelo Dr.  Sílvio Leal, que nos proporcionou bons momentos em seu maravilhoso sítio, o  qual ficou por nós conhecido como o “paraíso na terra”.    
               
            Posteriormente,  fui chamado para tocar teclado em uma recepção em sua casa de Fortaleza,  oportunidade em que recebi um excelente tratamento. Fiquei admirado com a  suntuosidade de todos os ambientes, até mesmo com as torneiras dos lavabos, que  douradas pareciam banhadas à ouro. Coisas finas, de gente que tem muita grana,  sabe gastá-la e aproveitar bem a vida.  
            O SHOW DA  BARBARELLA 
               
              Depois  da inauguração da boate Barbarella, o Augusto Borges convocou o Big Brasa para  acompanhar a Cláudia Barroso, na referida casa noturna. Após o Show do  Mercantil fizemos um lanche rápido no “Jerbô” e nosso pessoal foi instalar todo  o instrumental, valendo dizer que perdemos uma festa naquele dia por causa  desse compromisso. Esperamos, esperamos e nada. Mais ou menos às 23:30h, o  Augusto Borges me chamou e disse, simplesmente: 
               
              -  Beiró, vocês estão liberados... 
               
              E  foi só isso. O movimento estava fraco e eles tinham resolvido não mais fazer o show. Perdemos a noite, gastamos  combustível, tempo e toda a chateação decorrente. Ao transmitir o recado da  “liberação” para o pessoal do conjunto, pude notar as mais variadas expressões  de desapontamento. Ficamos um pouco conversando sobre o assunto e, por decisão  unânime da turma, a título de uma “vingança”, resolvemos retirar todo nosso  instrumental de dentro da boate, que estava em pleno funcionamento, só para  sacanear os caras também, alegando que a gente ia ensaiar naquela madrugada  mesmo. Foi uma confusão geral na boate. O Edi derrubando os pratos da bateria e  todos nós, de propósito, procurando fazer o maior barulho possível. Foi um tipo  de desabafo. 
               
  BARRADOS NO BAILE ??? 
   
              Certa  vez, o Pablo Sebastian (pianista e cantor estrangeiro, acho que argentino) veio  fazer uma apresentação no Show do Mercantil, acompanhado pelo Big Brasa.  Naquela noite ele iria se apresentar também no Náutico Atlético Cearense, que  estava comemorando aniversário do clube com uma grande festa. Como o Big Brasa  acompanhou o Pablo “na medida certa”, ele gostou muito do conjunto e  convidou-nos a participar, juntamente com ele, do show que iria realizar no aniversário do Náutico.  
               
              Show  do Mercantil terminado, nos preparamos para a tal apresentação no Náutico. Lá  chegando, pouco antes do horário previsto, com roupas esportivas, conforme  usávamos sempre - tênis, jeans -  fomos barrados por um diretor, na entrada principal do clube, porque não  estávamos de smoking, traje  determinado pelo Náutico para aquela ocasião. Naquele momento, eu disse pronta  e secamente para ele que aquilo não seria problema para nós. Completei,  afirmando para aquele senhor  que o Big  Brasa não queria entrar no Náutico, mas, sim, tinha sido convidado para participar do show,  acompanhando o Pablo Sebastian, e que em vista do impasse esperaria apenas uns  dez minutos em frente ao clube, tempo para que alguma coisa pudesse ser  resolvida para depois ir embora. Nos minutos seguintes logo apareceu o Augusto  Borges, com cara de espanto. Ao informar-se da situação chegou-se a nós e  disse-me que o conjunto poderia entrar da maneira que estávamos vestidos mesmo,  sem nenhum problema. Soubemos mais tarde que o Pablo Sebastian, disse ao seu  empresário e ao Augusto Borges, que só faria aquela apresentação se fosse  acompanhado pelo Big Brasa.  
               
              Tiramos  literalmente o Náutico do sério naquela noite, o que para nós, foi espetacular!  O Conjunto entrando no clube, desfilando devagarinho com calças jeans, tênis, e todo mundo admirado, nos  olhando. A verdade é que mesmo se quiséssemos seguir as normas daquele baile  não poderíamos, visto que o conjunto não possuía “smokings”, por não ser do seu  gosto e estilo. O Náutico era mesmo - e acho que ainda é - um saco.  
               
              Outra  vez estávamos tocando em uma tertúlia de férias, no Náutico, e estava combinado  que haveria um desfile de moda na piscina em determinado momento. Tudo bem,  iniciamos a tertúlia normalmente. Mais ou menos uma hora depois apareceu um  diretor, que mandou o Big Brasa parar de tocar, porque o desfile iria ter  início. O salão estava quase cheio, música jovem, gente nova, muita animação.  Aí a turma logicamente parou de dançar e “chiando”, sem gostar da interrupção.  Alguns minutos se passaram, com o conjunto parado, quando surgiu um outro  diretor, para raivosamente reclamar: 
               
              -  Por que o conjunto parou? Quem foi que mandou parar a música? 
               
              E eu  respondi que tinha sido o primeiro, ao que ele retrucou: 
               
              -  Podem continuar tocando, que o desfile não vai ser agora. E saiu. 
               
              Então  nós continuamos. Quando a festa estava animando novamente, o primeiro diretor  apareceu e, irritado, mais uma vez mandou parar a festa, alegando que o desfile  iria começar (de novo...). Paramos, e a cena se repetiu. Para completar, o  outro diretor subiu ao palco e, com um copo de uísque na mão, aparentemente  meio “chumbado”, reclamou de novo. Àquela altura, realmente eu perdi o  controle, porque estava de saco cheio com aqueles caras. E não me contive,  dizendo: 
               
              -  Rapaz, eu quero saber é quem manda nesta merda aqui. Resolvam vocês se é para  tocar ou não, depois venham aqui para nos avisar. Não pode é continuar com essa  bagunça que está. 
               
              Com  essa o cara ficou realmente puto da vida e disse que, se dependesse dele, nunca  mais tocaríamos no Náutico. Grande coisa... Tudo ficou naquilo mesmo e tocamos  por lá as vezes em que fomos contratados, que não foram poucas. Pelo visto o  tal confuso diretor não tinha tanta influência assim no clube...   
               
              O  Náutico, na minha opinião, sempre foi clubezinho cheio de frescuras. Uma vez  inventaram por lá uma festa, na qual um decorador estrangeiro colocou umas  moças para dançar na frente do conjunto, que ficava escondido por trás de uma  empanada. O pessoal só via a silhueta dos músicos. Coisa de gringo idiota... 
               
  “DEU  ZEBRA” – E PAGAMOS CARO PELA EMPOLGAÇÃO ...  
   
              Certa vez pedimos para  o tio João comprar uma caixa de som em São Paulo (amplificador mais a caixa,  acoplados). Ele como sempre prontamente nos atendeu, remetendo o equipamento  por via aérea. No dia em que chegou a tão esperada encomenda nós estávamos com  enorme ansiedade para conhecer o novo equipamento. Rapidamente tiramos a caixa  de som da embalagem e ficamos todos admirando aquela nova aquisição por alguns  instantes. Precipitadamente eu procurei o cabo para ligação e imediatamente o  liguei à tomada sem verificar a chave de voltagem. Vocês já devem imaginar o  que aconteceu... 
               
              Pois foi isso mesmo. A  caixa de som funcionou apenas por alguns segundos normalmente. Depois o som  começou a distorcer e o amplificador começou a exalar aquele cheiro bem  característico de transformador queimado. Quando percebemos era tarde demais.  Tristeza geral, uma verdadeira frustração para todos. No dia seguinte mandamos  “enrolar” o transformador de força. Este amplificador, mesmo depois de consertado,  nunca mais teve som perfeito.  
               
  O DIA EM QUE FUMEI  AO “CONTRÁRIO” 
   
              Tem  aquelas coisas bobas que acontecem conosco, mas quem as sofre não esquece  jamais. Esta foi uma delas. O Big Brasa seguia completo, em direção à Cascavel,  para tocar um baile. Mais ou menos às nove horas da noite e eu pilotando um  tremendo Fusca “azul pavão”, aquele mesmo que chegou a “bater” o motor duas  vezes comigo e quase me acaba de tanto gastar dinheiro.  
               
              Seguíamos  conversando animadamente, apesar da minha atenção na estrada, por estar uma  noite muito escura. Dirigia sempre olhando para a frente. Em certo momento,  pedi ao Edi, que estava no banco traseiro, para acender um cigarro para mim.  Aguardando o cigarro aceso, continuei olhando para a frente da estrada. E com o  braço direito voltado para trás do carro, ouvi o Edi dizer: 
               
              -  Toma, Beiró.  
               
  Ávido,  segurei então o cigarro entre os dedos, trouxe a mão em direção à boca e  imediatamente dei aquela tragada. Puxei fundo mesmo. Só que, quando o cigarro  encostou em minha boca já foi queimando tudo, pois estava virado ao contrário.  Foi um Deus nos acuda. Tive dificuldades para estacionar, queimei um pouco os  lábios, a língua e a minha camisa. Aquilo poderia ter resultado em um acidente.  Na hora ninguém entendeu o que estava acontecendo. Depois, todo mundo riu  muito. Descemos do carro e eu fui lavar a boca, com a língua queimada e aquele  gosto horrível de pólvora queimada. Passei a noite inteira com a língua ardendo  sem parar. Aquilo me serviu como um aviso. Daí por diante nunca mais fumei  brasa de cigarro ...     
   
  UM POR TODOS, TODOS  POR UM ... 
   
              Na  primeira temporada do Big Brasa em Teresina, em 1968, o conjunto foi bem  divulgado na cidade e iríamos tocar em dois bailes, nos principais clubes  locais. Em uma tarde, depois dos preparativos rotineiros para as apresentações,  como estávamos de folga resolvemos dar uma saída pelas redondezas da casa do  tio Raldir, que gentilmente tinha nos hospedado. Passeamos até a Praça Pedro  II,  por lá ficando algum tempo. 
               
              Durante  nosso retorno, todo o pessoal do conjunto andava agrupado pela mesma calçada.  Perto de chegarmos uma turma que estava jogando bola em um terreno murado se  postou em cima do muro e ficou olhando para nós. Um deles, muito gaiato, disse  um insulto qualquer para o Dummar, que foi um dos últimos a passar. Naquele  momento não percebemos nada. Mas ao chegar, o Dummar, meio nervoso e muito  pálido, nos contou o que tinha ocorrido. Foi o suficiente para toda a turma se  agitar. O Adalberto, como de costume, foi o primeiro a ficar “enfezado”. O  bicho ficou doido, contagiando todo mundo. Com o ímpeto natural da juventude,  decidimos sair para um possível enfrentamento, prontos o que desse e viesse,  imaginem só. Como estávamos em desvantagem numérica, por “brilhante” idéia  minha, pegamos uns armadores de rede, para servir de soco inglês, uma arma  violentíssima, no caso de haver luta corpo a corpo.  
              E  retornamos ao ponto onde aquele pessoal tinha insultado o Dummar. O Adalberto,  vermelho como um pimentão, anarquizou todo mundo na frente deles, chamou os  piores (ou melhores) nomes que conheço para aquela ocasião, dizendo que de “um  por um” poderiam vir todos, que ele daria conta sozinho. Os caras ficaram  completamente amedrontados e afrouxaram no ato. Atribuo isso ao fator surpresa.  O resultado é que eles “abriram”, para nossa sorte. Não tiveram a coragem nem  de descer do muro e se aproximar, porque se não o estrago teria sido feio.  Ainda bem ... 
               
  VIAJANDO NO “PEITO  E NA RAÇA” 
   
              O Big Brasa teve a  coragem, o que muitos podem chamar até mesmo de loucura, de sair de Fortaleza e  viajar até Balsas, Carolina e São Luís, no Maranhão, com quatro guitarras e sem  contrabaixo. Verdadeiro heroísmo, mas que atualmente seria inaceitável. Naquela  época não tínhamos ainda experiência, noção musical e a tecnologia. Tudo estava  começando para nós e, por isso, temos que aceitar o fato numa boa, porque na  verdade muita gente não sentia falta nenhuma do instrumento. Era tudo novidade  e a sensação eram as guitarras. Com certeza, até hoje em dia tem muita gente  que não tem sensibilidade musical para perceber a falta que um contrabaixo faz  em um conjunto. 
               
              Apesar das  insatisfatórias condições instrumentais do conjunto, naquela temporada, havia  emoção e muito entusiasmo por parte de todos. Por causa disso e também da  novidade que levamos para aquela cidade, o Big Brasa até hoje é lembrado por  quem participou de seus bailes, como o melhor conjunto musical que por lá  atuou. Boas e inesquecíveis lembranças, comprovando que a primeira impressão é  a que fica...  
               
  VERDADEIRA OBRA DE  ARTE E PACIÊNCIA  
   
              Sobre o repertório,  tenho que acrescentar a execução de um valioso trabalho executado para o Big  Brasa por minha mãe, a Dona Zisile, como o pessoal a chamava. Como o conjunto  tinha dificuldades em organizar e arquivar as letras das músicas, para tê-las  sempre à mão, ela se dispôs a copiar todas as letras, inclusive aquelas em  inglês, para um caderno. E assim o fez. Dezenas de músicas, todas copiadas com  uma letra excelente e com uma boa vontade incrível. Só vendo. 
               
              Essas letras tiveram  muita utilidade. Eu ainda tenho, guardado em casa, o tal caderno. Muita gente  quando via esse repertório se admirava. A obra, portanto, foi muito apreciada  pelo ser valor. 
               
  CARNAVAL  NA MARRA? A GENTE QUASE SE ENRASCA... 
   
              Mais  uma daquelas situações difíceis, os chamados “rabos-de-foguetes”,  ou imprensados, pelos quais nós passamos  algumas vezes. O Big Brasa tinha sido contratado pela AABB, de Iguatu, para  animar um baile de “reveillon”. Ficamos muito entusiasmados com a viagem, mas  não nos preparamos devidamente para o evento, pois apenas ensaiamos várias  marchas e alguns frevos, mas com um detalhe: o conjunto não tinha instrumento  de sopro. As músicas teriam que ser executadas através de solos de guitarra e  cantadas. E como agravante, também, não tínhamos um cantor acostumado com  carnaval, que agüentasse a parada, como se diz. Mas todo mundo continuava  inocentemente na maior animação, com os preparativos e ensaios para o que seria  um “grande baile”. O pior ainda estava para acontecer e, por total falta de  experiência, não sabíamos. E muito menos os contratantes, pois nada perguntaram  sobre esse “pequenos detalhes”.  
               
              Chegando  naquela cidade fomos recebidos pela diretoria da AABB, que nos proporcionou um  verdadeiro banquete na sede do clube. Mesa farta, tudo do bom e do melhor, uma  mordomia danada. Depois da lauta refeição, iniciamos a montagem de nosso  instrumental no palco, que em nada nos favorecia, em razão de ficar no mesmo  nível do salão de dança. Isso certamente dificultaria muito a distribuição  sonora do conjunto para todo o clube, pois as pessoas que estivessem em nossa  frente bloqueariam de certa forma as caixas de som.  
               
              E  começou o baile. O Big Brasa iniciou a festa com seu repertório normal e seguiu  assim até a meia-noite, quando após de um pequeno intervalo começou a tocar  músicas carnavalescas. Muita gente no clube. O tempo foi passando e “engolindo”  nosso pequeno repertório, que acabava rapidamente.  
               
              Nossa  preocupação inicial com o problema da distribuição de som tinha razão de ser.  Além da presença de um grande número de pessoas no salão, havia aquelas que se  postavam paradas na área em frente ao conjunto e às caixas de som, obstruindo  sua propagação ideal pelo clube. E assim, com o repertório carnavalesco se  acabando, nosso ânimo foi diminuindo e a tensão aumentando, porque ainda  faltava muito para a festa acabar. Para completar, alguns dos presentes  começaram a pedir mais animação para o conjunto e algumas músicas que não  sabíamos tocar. Mas não tinha como atender o público, porque nosso volume de  som era pequeno, o repertório também, a distribuição das caixas estava  prejudicada pelo seu posicionamento e o conjunto não tinha os “metais”.  
               
              E a  coisa foi piorando -  um sufoco dos  diabos. Até o Mestre Alberto, que estava no palco muito apreensivo, mas mesmo  assim não parava de incentivar o conjunto, de repente pegou o microfone e  começou a cantar uma música antiga de carnaval. Imaginem só que verdadeiro  aperreio. 
               
              Para  encurtar a história e dar uma dimensão exata do que aconteceu naquela noite, um  dos garçons, que tocava piston nas horas vagas, deve ter ficado com pena de  nossa situação e perguntou se queríamos que ele fosse buscar em casa seu  instrumento. Nós aceitamos a ajuda, imediatamente. Ele foi pegar seu piston e  logo retornou ao clube. Esse garçom nos prestou uma ajuda muito importante para  que conseguíssemos terminar a festa. Ao final desse pesadelo, pelo menos ficou  a experiência de que tínhamos que estar realmente preparados para eventos  daquela natureza. Experiência essa que muito nos ajudou no futuro. 
               
  ERRO DE CÁLCULO EM  QUIXERAMOBIM  
   
              O  Big Brasa, no final de 1970, foi contratado para animar um baile de término de  curso no interior do Ceará. Viajamos normalmente, pela BR-116, passando pela  localidade conhecida por “Triângulo”, depois por Quixadá, para chegarmos ao  município de Quixeramobim. O término de curso iria se realizar no principal  clube daquela cidade. No local da festa muita movimentação, preparativos por  parte do clube e a moçada da cidade aguardando a chegada do conjunto. Enfim, a  expectativa do pessoal por aquela festa era grande....   
                          Tratamos  logo de providenciar toda a instalação do equipamento, conforme de costume. O  palco do clube, bem amplo e com uma altura razoável, certamente nos  proporcionaria uma boa distribuição de som, além do que nossa visão da pista de  dança era muito boa.  
               
              Em  nosso repertório tínhamos valsas muito bonitas e bem ensaiadas, para essas  ocasiões. Dentre elas Contos dos Bosques de Viena, Vozes da Primavera e a Valsa  da Despedida, as mais solicitadas. Acertamos os detalhes com um dos diretores  do clube, sobre o horário que seriam tocadas. Ficou combinado que o Big Brasa  começaria a festa normalmente e dentro de uma meia hora chamaria os  concludentes para dançar a primeira valsa. E iniciamos o tal baile.  
               
              O  clube estava muito bem decorado, os presentes bem vestidos, com destaque para  os concludentes e seus padrinhos e madrinhas, estes com vestimentas muito  caprichadas.  Logo que o conjunto iniciou  o baile, o pessoal começou a dançar e o salão superlotou. Algumas garotas perguntaram  se podiam subir ao palco para dançar ao lado do conjunto. Respondi, sorrindo: 
              -  Claro que sim, podem e devem.  
               
              E  elas se juntaram ao envolvente e pesado som do Big Brasa. Muita animação era  sempre ótimo para nós, porque quando as coisas estavam assim significavam um  baile fácil de tocar - e o tempo passava mais rápido, também. Por volta das  22:30 horas nós interrompemos a música para anunciar a primeira valsa, fazendo  uma breve parada a fim de que todos os concludentes se reunissem no salão. 
               
              Olhando  aqueles casais de cima do palco, um a um, descontraidamente, enquanto  aguardávamos todos chegarem, notei que um dos padrinhos, um cara bastante   alto, estava visivelmente “melado”, com o  andar trôpego e os olhos meio trocados. Aquele jeitão de quem “tomou todas”.  Achei graça ao notar o tal elemento e o mostrei, discretamente, para todo nosso  pessoal. Mas até aquele momento tudo estava bem, nada de anormalidades.  
               
              E  começou a valsa. O salão repleto de pares elegantes enquanto que a platéia, nas  mesas em redor do salão, observava tudo aquilo com muita atenção. Fotógrafos  circulavam para lá e para cá, tentando as melhores poses dos casais. 
               
              Dava  até para desconfiar, de tanta organização, de tudo certo até demais. Aí é que  mora o perigo, segundo a Lei de Murphy... Nesses casos sempre tem uma  desmancha-prazer. Aquela noite era a vez do tal sujeito, que estava muito  “chumbado”. Ele começou a dançar e quase não acertava o passo, cambaleante. E a  valsa seguia de forma normal, ao contrário da cabeça daquele cara, visto que  começava a girar em alta rotação com os rodopios que tentava fazer com a valsa,  sempre perdendo o centro de gravidade. E nós todos olhando para o cara e  esperando um desfecho negativo qualquer. Como ele era bem mais alto do que seu  par, de vez em quando abraçava a jovem concludente, de maneira que ela não  pudesse ver seu rosto e notar os enjôos que estava sentindo. E fazia um  trejeito, como se estivesse golfando, ou mesmo prestes a vomitar. E assim  continuou por algumas vezes, sob o olhar atento de todo o nosso pessoal. E seu  mal-estar foi aumentando, ao passo da valsa. Em cada volta que fazia, víamos  que a situação dele ia piorando. 
               
              Mais  alguns segundos fatais e ocorreu o lamentável desastre. O coitado, vendo-se na  iminência de vomitar, sem dar tempo de desvencilhar-se daquela jovem, abraçou-a  fortemente, de modo que pudesse vomitar por cima de seu ombro tranqüilamente e  tudo cairia apenas no chão. Ele pensou assim mas a coisa saiu completamente  errada. 
               
              Por  um erro gravíssimo de cálculo, abriu aquela bocarra e soltou um jato tipo  “spray” por cima do ombro da mocinha, com tudo aquilo que tinha armazenado em  seu estômago naquele dia. A meladeira foi horrível, atingindo de raspão todo o  vestido de seu par, que ficou completamente borrado de cima a baixo. Os casais  em volta afastaram-se rapidamente para se livrar daquele banho de suco gástrico  misturado à cachaça e a tudo o que tem direito. A moça, completamente assustada  com a cena, largou seu “belo” padrinho, começou a chorar e correu  desesperadamente até a perdermos de vista. Não retornou mais ao baile. O cara  foi levado para algum local, bem distante, para que se livrasse de uma “prensa”  por parte dos pais da concludente. 
               
              Durante  tudo isso o conjunto não parou a valsa, o que nessas ocasiões sempre foi a maneira  correta de agir, para não chamar mais a atenção sobre o ocorrido. Assistimos  tudo de camarote. Noite “inesquecível” para aquela garota e fato imperdoável  para aquele irresponsável.  
               
              OLHA O BUMBUM DELE  AÍ, GENTE !!! 
               
              Tem  alguns fatos que não podem deixar de ser contados. Esse é um deles, e aconteceu  várias vezes, nas voltas de festas do interior do Estado.  
               
              No  regresso das festas para casa, quase sempre todo o pessoal estava muito cansado  e dormia logo. Alguns comentários sobre o baile, uma brincadeira ou outra e era  o suficiente para todo mundo “apagar” de sono. Mas quando o dia começava a  amanhecer, parávamos no primeiro restaurante de   beira de estrada ou em um posto de gasolina para tomar um café. O  pessoal descia, lavava o rosto e se alimentava um pouco. Depois disso a turma  ficava novamente esperta e era nessa hora que o Lucius começava a preparar sua  brincadeirinha. 
               
              De  surpresa, quando nosso transporte passava em alguns lugarejos ou cruzava com  alguns pedestres que iam ou vinham da feira, ele rapidamente descia as calças e  colocava a bunda toda para fora do carro. Gozação geral. E o pessoal do  conjunto ajudava, ao gritar para os pedestres apontando aquele bumbum: 
               
              -  Olha a bunda dele aí, gente! ... E a gente quase morria de rir da cara de  espanto daqueles transeuntes, que nunca esperavam ver um “desfile de bumbum”,  passando na estrada com tamanha rapidez. Eu sempre avisava para o Lucius, que  ele tivesse bastante cuidado, dizendo: 
               
              -  Rapaz, imagine só se vier alguém na estrada, voltando de uma pescaria, e lhe  jogar um anzol?  
               
              E  ele nem ligava. Mas em uma dessas vezes ele quase se lasca. Quando estava com  tudo para fora, nossa Kombi passou em frente a um posto da Polícia Rodoviária  Federal. Ainda bem que, por sorte geral, os patrulheiros deviam estar cansados,  dormindo e não viram a cena. 
              Outra  “ligeira” transgressão que ele costumava cometer, se dava na volta dos bailes  em Fortaleza, na época em que a Avenida Duque de Caxias não tinha canteiros  divisórios, nem “gelo baiano”. De madrugada, como o tráfego era diminuto ou  quase nulo, passava com seu Gordini da mão para a contramão, desviando das  mangueiras ali existentes, em uma verdadeira prova de destreza ao volante. Dava  para notar que naquele tempo já existiam os inspiradores do novo Código de  Trânsito... 
               
                PARTICIPAÇÃO  EM GINCANAS – UMA VITÓRIA E UM EMPATE 
               
              Por  algumas vezes participei de gincanas, como músico, a convite de equipes de  estudantes. Lembro-me, de modo especial, de duas delas. 
               
              A  primeira, que teve a apresentação final das equipes na sede do próprio colégio,  com acirrada disputa entre duas equipes. Eu tinha chegado de uma festa no  interior e ainda estava dormindo, quando o pessoal de uma das equipes veio me  convidar para participar da última tarefa, muito importante pela contagem de  pontos a ela atribuída. A minha mãe relutou um pouco em me acordar, explicando  o cansaço da noite anterior, a viagem de volta, além de outro compromisso que o  Big Brasa teria para aquele dia. Mas, pela insistência daquela turma, ela me  acordou e eu tive mesmo que ir, apesar da enorme preguiça e sono. Tomei um  banho rapidamente, um café e segui com o pessoal. A tarefa das duas equipes era  conseguir um cara que tocasse o maior número de instrumentos musicais. Na  realidade eu não sabia nem direito o que iria encontrar pela frente.  
               
              Chegando  ao tal colégio, a rapaziada toda com aquela animação, clima de disputa entre as  equipes, fomos diretos para o palco para fazer a apresentação. A gincana até  aquela altura estava empatada e os pontos finais seriam decididos com essa tarefa,  um músico que tocasse o maior número de instrumentos. Lá chegando, encontrei-me  com o Paulo, pistonista excelente que o conjunto “Brasa Seis” possuía. Ele ia  ser meu forte concorrente, pela outra equipe. O Paulo apresentou-se primeiro,  executando uma das músicas clássicas para piston, com muita categoria. Um sopro  forte, técnica, um solo de improviso, enfim, uma demonstração espetacular. Foi  muito aplaudido pela turma toda. 
               
              Ao  chegar a hora de minha apresentação, comecei tocando guitarra. Fiz alguns improvisos,  até procurando o difícil recurso de aproveitar as microfonias entre os  captadores e o amplificador para enriquecer os efeitos, além de tirar vários  sons utilizando os pedais; depois toquei bateria, fazendo batidas variadas de  iê-iê-iê, com pequenas variações e muitos “breques” para impressionar o  pessoal, em seguida toquei um pouco de cavaquinho, de bandolim, de flauta doce,  de violão, de contrabaixo e de outros teclados como piano, acordeon e escaleta.  A medida em que ia mudando de instrumento a platéia aplaudia bastante e mais se  entusiasmava. Ao final de não sei quantos instrumentos, foi o suficiente para  que os jurados votassem, tendo por unanimidade considerado vencedora a “minha”  equipe. Não desmerecendo o Paulo do piston, como o chamávamos, nossa equipe  mereceu a vitória, porque interpretou de maneira correta a tarefa: “músico que  tocasse um maior número de instrumentos”.   Recebi muitos agradecimentos por parte da equipe vencedora, o que, sem  dúvida, foi por demais gratificante para mim.  
               
              Em  outra oportunidade participei de uma gincana que fazia parte do quadro “Colégio  contra Colégio”, apresentado pelo Show do Mercantil. A tarefa não especificava  nada de música e sim, dizia que as equipes teriam que apresentar uma  curiosidade, uma atração.  Para o  vencedor o programa oferecia uma lembrança da gincana e um pequeno prêmio em  dinheiro.  
               
              Apresentei-me  por um dos colégios, tocando vários trechos de músicas nos seguintes  instrumentos: guitarra, violão, cavaquinho, bandolim, contrabaixo, órgão eletrônico,  piano, escaleta, acordeon, flauta doce, saxofone, piston e bateria e, por  malandragem também algumas percussões, como tarol, surdo e tamborim. 
               
              Faço  questão de dizer que no saxofone e no piston eu apenas conseguia executar uma  música em cada um deles, com muito sacrifício, pois, no caso do piston, não  tinha “embocadura” e nem sopro e para o saxofone faltava resistência, o que o  músico adquire apenas com muita prática. Mas ao final foram contados, para  efeito dessa participação, 14 instrumentos. 
               
              Meu  concorrente, pela outra equipe, apresentou como atração um aparelho de rádio,  que ele tinha montado em uma pequena caixa de madeira. O tal rádio nem chegou a  ser ligado, sendo apenas exibido para os jurados e a platéia. Com essa  montagem, interessante, mas que pelo seu grau de dificuldade não daria para  competir com um músico, naquelas condições, ele conseguiu “arrancar” um empate  do corpo de jurados, o que eu considerei um resultado muito injusto. Assim,  dividimos o prêmio, mas como minha equipe estava na frente, foi a vencedora da  gincana. Novamente alegria geral dos estudantes, aplausos da turma e grande  animação ao final do programa. Essa minha exibição repercutiu de forma  significativa, de forma a que depois de muito tempo o pessoal me reconhecer, na  rua ou nos clubes e comentar sobre o assunto, tecendo elogios a minha  performance.  
               
              QUEM JÁ VIU MACACO ENJEITAR BANANA? 
                 
              Na  verdade, macaco enjeitar banana eu nunca vi, nem tive notícia. Mas o Big Brasa  já fez um diretor de clube, do bairro Varjota, em Fortaleza, ficar muito  admirado, chegando mesmo a nos dizer que tinha sido a primeira vez que aquilo  acontecia com ele. Faço questão de registrar esse pequeno fato, talvez  insignificante para muitos, mas não para mim, e pelo que poderá representar  para as gerações futuras a título de exemplo. O caso foi assim. 
                 
              Tocávamos  uma festinha comum, de clube de subúrbio, em um sábado à noite. Quando chegou a  hora do intervalo, toda a nossa turma se agrupou em uma mesa reservada  para o lanche do conjunto, como sempre o fazíamos.   
              Conversa  vai, conversa vem, e chegou o garçom com os sanduíches e refrigerantes e os  colocou sobre a mesa. Mais atrás, vinha um diretor do clube, que na maior  satisfação, mais alegre do que pinto na lama, afastou o que tinha no meio da  mesa e colocou um litro de rum, dizendo:  
                 
              - Olhem aqui pessoal,  podem tomar tudo que a festa está boa demais! 
                 
              Disse referindo-se ao  rum que trouxera. Eu fiquei meio sem jeito para responder, em vista da animação  daquele diretor, pensando que estaria fazendo um grande benefício para nós,  tentando nos agradar com aquela bebida, de graça. Mas olhei para ele e, após  agradecer a gentileza, disse que nós não bebíamos e que ele podia levar de  volta aquele litro de rum. Tal foi a surpresa de sua parte, que esse fato foi  motivo de comentários entre toda a diretoria do clube, que posteriormente fez  um elogio à nossa conduta. 
                 
              DINHEIRO QUE “FAZIA  LAMA” 
                 
  Às  vezes o músico se dá muito bem, conseguindo faturar até mesmo mais do que o  combinado.  Vejam só esse lance. 
              Contratado  por um médico para tocar em uma recepção, que faria em sua casa, para comemorar  seu aniversário, levei como bigu o Sérgio, que me acompanhava nessas ocasiões,  funções musicais extras, como casamentos e aniversários, para as quais eu  utilizava apenas o órgão. Tive que cobrar um preço mais alto que o normal, pela  hora, tendo em vista que o tal médico, categoricamente, disse que só desejava  uma hora e nada mais. Tudo bem. Iniciei às oito horas da noite, conforme  acertado. Na residência, que ficava perto da Praia do Futuro, muito boa por  sinal, não havia chegado ninguém. Só uns dois ou três garçons e o pessoal da  casa fazendo os preparativos. Essa hora passou rapidamente e não chegou  ninguém. O médico, com toda gentileza, perguntou se eu poderia tocar mais uma  hora. Afirmei que sim e continuei. Tocava algumas músicas, parava um pouco,  tomava um refrigerante e comia salgadinhos e doces. Logo a outra hora se passou  e só alguns “gatos pingados” tinham chegado ao ambiente. E a história foi se  repetindo. Mais uma hora e o pessoal começou a chegar. Mais convidados e a  recepção foi animando, naturalmente depois de alguns uísques do pessoal.  
               
              Enfim,  toquei até as três e meia da manhã. Só parei porque estava verdadeiramente  cansado, saturado de tanta música. E também por questão de consciência, alertei  ao aniversariante que se continuasse a tocar o pessoal só sairia dali de  manhã... E ele prontamente aceitou minha sugestão, a de encerrar a música ao  vivo. Ao final recebi o pagamento em espécie, logicamente por todas as horas e  ao preço previamente acertado. Nessa noite fiz questão de gratificar o Sérgio  com uma quantia maior que a de sempre. 
               
              Fiquei  muito satisfeito com o resultado daquela noite de trabalho. Queria logo voltar  para casa e contar o fato para a Aliete. Ao chegar, assim que abriu a porta, eu  brinquei com ela, jogando todo o dinheiro para cima e deixando-o inteiramente  espalhado pela sala de nossa casa. Ganhei nessa função mais ou menos o  equivalente ao meu ordenado de um mês na TV Educativa. Foi bom ou não foi? 
               
              A INAUGURAÇÃO DO  GINÁSIO PAULO SARASATE 
               
              A inauguração do  Ginásio Paulo Sarasate obteve grande repercussão em Fortaleza, sendo amplamente  divulgada através da imprensa. O Augusto Borges, apresentador do Show do  Mercantil, através de sua empresa, a Borges Publicidade, conseguiu que seu  programa fosse realizado no próprio ginásio, no dia da inauguração. 
               
              Para  o Big Brasa foi motivo de muita expectativa, pela novidade de tocarmos em um  ginásio coberto em um evento tão importante como aquele. Durante a semana, por  mais de uma vez, estivemos no local para conhecer os equipamentos (da marca  Quasár) e participar dos testes de som do ginásio.  
               
              No  sábado, dia da inauguração, chegamos bem cedo ao ginásio para montar nosso  instrumental e fazer um rápido ensaio com os cantores cearenses que  iriam se apresentar. Dentre eles a Maria  Zenáide, a qual, com seus 12 anos, encantou o público pela bonita voz que  possuía. E também o nosso amigo, cantor e compositor Belchior, que apresentou  uma canção magnífica, de sua autoria.   
  É  muito difícil, para um conjunto musical, se apresentar em um ginásio coberto,  que não foi construído para eventos musicais. Por sua acústica, os sons se  misturam e retornam de várias partes, num eco que confunde cada músico e  atrapalha o ritmo e o andamento. Um dos macetes que descobri, era o de me  posicionar meio de lado, com a guitarra, de maneira que facilmente pudesse  visualizar o pedal da bateria, para acertar a marcação e os compassos. Desse  modo conseguia manter o ritmo. Para resolver parcialmente esse problema  tivemos, em outra oportunidade, que montar um palco com tapadeiras ao fundo,  além de utilizar um bom sistema de caixas acústicas, para retorno do som.  
               
              TRÊS PNEUS, ASSIM É AZAR  DEMAIS...  
               
              O Big Brasa estava retornando de mais uma noite de  trabalho, por volta das 4:30 horas da manhã. Tinha sido um baile no Clube de  Regatas da Barra do Ceará. A turma nessa ocasião era composta pelo Adalberto,  Carló, Severino, Luiz Antônio (Peninha) e eu. Nosso transporte era a famosa  rural do Fernando “Galba”. Durante o percurso, muita brincadeira, pois tudo  tinha saído às mil maravilhas, e estávamos bem dispostos ainda aquela hora. O  Peninha imitava o “Zé Bonitinho”, fazendo suas palhaçadas e o Adalberto tirava  um sarro com o “Galba”, dizendo que aquela rural estava velha demais e sempre  pedindo para que ele andasse mais rápido. E ele sorria bastante, mas não se  alterava nem um pouco com nossas brincadeiras. 
               
  À altura da Cidade dos Funcionários, a alegria foi  suspensa, pois a rural furou um pneu. Na hora, o “Seu” Fernando, disse, com  toda a categoria, que só andava prevenido, e como estava com os pneus um pouco  ruins, tinha dois estepes. Entretanto começou a ficar chateado daí, porque iria  atrasar seu serviço, visto que ele teria que fazer uma outra viagem até o  Regatas, ainda naquela madrugada, para trazer o equipamento do conjunto.  
               
              Descemos da rural, ele trocou o pneu e reiniciamos o  regresso rumo a “Messejana City”, como a chamávamos. Assim que o Galba ligou o  motor da rural e o carro partiu, o Adalberto, que estava sentado no banco de  trás, azarou: 
               
              - Vai furar o pneu de novo... 
               
              Ao que o Galba respondeu, sorrindo, meio sem graça: 
               
              - Nem diga isso, só se for muita “zebra” mesmo. 
               
              Não esperou quase nada. Pouco mais de dois  quilômetros, quase na frente da sede da sede do DNER, baixou outro pneu da  rural e aí começou a gozação geral. Nesse momento o Adalberto falou de novo: 
               
              - Eu não disse que ia furar? E o Galba respondeu,  querendo demonstrar muita calma, apesar de tudo: 
               
              - Não tem problema, meu amigo, de jeito nenhum. Eu  tenho outro pneu de reserva, não sou motorista “peba” não. Fique calmo que eu  logo resolvo isso...   
               
              E trocou novamente o pneu. À essa altura, a turma já  estava sem graça, querendo chegar em casa, e o sono dominando todo mundo. Assim  que o pneu foi trocado, o Galba mais uma vez reiniciou sua jornada. Logo, o  Adalberto voltou a jogar praga no Galba: 
              - Ainda vai baixar outro pneu, na certa! 
               
              Depois desse último pneu furado o “Seu” Fernando só  fazia sorrir, sem graça, cansado, e também devia estar louco de raiva do Adalberto,  pelas pragas jogadas por ele. A rural continuou, pela antiga BR-116, e  finalmente chegou à pracinha de Messejana. Na curva em frente à Igreja, o Seu  Fernando parou em frente à casa do Peninha, para que ele descesse. Foi a conta.  Ouvimos um chiado bem alto e novamente outro pneu começou a murchar. Foi o fim  da picada. Todo mundo desceu da rural e ficou enchendo a paciência do Galba,  para valer. Desta vez, infelizmente, não houve saída para ele, pois teve que  tirar aquele pneu furado, juntá-lo com os outros, para procurar uma  borracharia. Ficou literalmente “no prego”. Não sei realmente quando, nem a que  horas ele terminou sua missão, porque voltamos a pé para casa, andando uns  quatro quarteirões. Haja pneu e azar, deve ter pensado o Galba...  
               
              BRINCADEIRA  PERIGOSA, QUASE FATAL 
               
              Foi  talvez um dos episódios mais perigosos vividos pelo Big Brasa. Pela graça de  Deus nada de muito grave aconteceu. 
               
              O  Conjunto Big Brasa estava retornando de Parnaíba, após a realização de uma  festa e de um show. No meio da viagem,  resolvemos fazer uma parada no meio da Serra da Ibiapaba para descansar um  pouco. Paramos em local agradável, onde existe um restaurante, uma vista  panorâmica espetacular e um banho de cascata excelente, com água cristalina e  muito fria. A idéia principal era a de aproveitar o banho na cascata. 
               
              Depois  da turma ter se alimentado, fomos logo para o tal banho, que ficava bem perto  do restaurante. A pequena trilha até a cascata era de pedra, com muitos trechos  bastante lisos, pelo lodo existente. A área em volta era magnífica, com a  natureza exuberante, o verde das encostas, as formações rochosas e  
               
              - também - os precipícios ao nosso lado. Quando chegamos, a animação foi  grande. Todo mundo brincando e disputando quem tinha coragem para enfrentar a  temperatura daquela queda d’água, estupidamente gelada.  
               
              Uma  parte do pessoal se dividiu e pegou o acesso para a cascata por uma pequena  bifurcação da trilha, de modo que podíamos ver e falar com todo mundo que  estava do outro lado. No meio de nós, um acentuado buraco, com as encostas  íngremes de pedra. Brincadeiras de todo jeito. Até um relógio foi tomado do  Lucius e jogado para o Adalberto, do outro lado da trilha. Um risco enorme,  pois a distância aproximada entre nós era de uns 10 a 15 metros. 
               
              Do  meu lado, bem pertinho da cascata, estavam o Edson Girão, o Adalberto, o  Fernando Galba e outros. Cada um que tomava banho, ficava um pouco de tempo  sobre um pequeno patamar esculpido naturalmente na pedra, e depois retornava  morrendo de frio, para dar lugar a outro.  
               
              Nesse  vai-e-vem, o Edson, que estava voltando do banho, ficou parado bem na minha  frente, em um local muito liso e perto de uma descida muito íngreme. Nesse  momento é que tive a “brilhante” idéia de lhe pregar um susto. Imaginei fazer  de conta que o empurraria para aquele buraco, para  depois segurá-lo pelos ombros. E assim o fiz.  A primeira parte da brincadeira deu certo. Ele realmente se assustou, quando  ameacei empurrá-lo. Mas a segunda, lamentavelmente falhou. Quando eu tentei  segurá-lo, ele escorregou na pedra, e como estava todo molhado não consegui  evitar sua queda. Naqueles poucos segundos, fiquei olhando para baixo, não  acreditando naquilo que via. O Edson foi caindo, escorregando e batendo  naquelas pedras, só parando uns 10 metros abaixo. Cheguei a pensar no pior. Mas  ele levantou-se, fez uma volta tortuosa entre pedras e ramagens até chegar onde  estávamos novamente. Eu estava preparado para receber qualquer desaforo dele e  para ficar bem calado, pois tudo que ele dissesse seria merecido. 
               
              Ele  então chegou bem perto de mim, com muita raiva, e disse: 
               
              -  Rapaz, isso não é brincadeira que você faça, eu poderia ter morrido nessa  queda!  
               
              E  virou-se para nós, afastando o calção, todo rasgado, para nos mostrar o estrago  feito em sua traseira. Estava com a bunda toda ralada, com marcas de sangue  acompanhando o sentido dos arranhões. E passou direto, novamente para molhar o  machucado e limpar-se naquela água geladinha. O meu amigo Edson, naquela hora,  deve ter sofrido muito ardor. Eu sentia muita pena dele, mas não podia desfazer  aquele mal. Apesar da situação dramática, o pessoal não agüentou a barra e  começou a fazer uma tremenda gozação com ele. Acho que até para descontrair o  ambiente criado e evitar uma briga entre nós. Na verdade, aquela inocente  brincadeira poderia ter causado um acidente de conseqüências lamentáveis para o  Edson e, por extensão, para todos nós.  
               
              Ainda  hoje me arrependo dessa idéia. Pouco tempo depois do ocorrido, ele me desculpou  pelo fato, tendo em vista ter percebido que minha intenção era tão somente a de  ameaçar o empurrão. Aproveito esta oportunidade, entretanto, para registrar,  formalmente, as minhas sinceras desculpas ao amigo Edson Girão.   
               
              ANÃOZINHO FILHO DE UMA ÉGUA ! 
               
              Certa  vez, o Big Brasa foi contratado para tocar uma festa junina em uma localidade  chamada Horizonte, a 38   quilômetros de Fortaleza, na BR-116. O conjunto tinha  repertório suficiente para esse tipo de festa. Tudo estava legal menos eu, que  tinha pegado uma gripe daquelas, fortíssima, com direito a muita coriza... Nada  agradável portanto, mas nossa vida sempre foi assim. Trabalho era trabalho e  não adiantava reclamar. E assim seguimos para Horizonte, em um sábado, depois  de nos apresentar no programa Show do Mercantil.  
               
              O  local onde o Big Brasa iria se apresentar era um pátio de um colégio, em frente  a uma pequena quadra cimentada, muito limpa e bem varrida, mas com as mesas em  volta, na areia. Tudo muito simples, do jeito que eu gosto. Boa organização, a  quadra toda enfeitada de bandeirinhas típicas de festa junina, venda de  churrasquinhos de “carne de gato”, aqueles depósitos de isopor cheios de  cerveja e o pessoal todo muito animado para a festança.  
               
              Começamos  a tocar. O forró “no mundo” e a turma dançando sem parar, uma maravilha! Mas à  proporção que a festa ia animando, a poeira também ia subindo, trazida para a  quadra pelos dançantes. Era um poeiral lascado. Conforme disse, nessa noite eu  estava muito gripado, com o nariz escorrendo bastante feito uma cachoeira.  Molhava um lenço atrás do outro. Minha “técnica” era a de colocar os lenços  molhados para enxugar, atrás do amplificador de minha guitarra. Em pouco tempo  eles ficavam prontos para uso de novo. E tome mais forró, e o João Ribeiro tome  a espirrar... Com o tempo a situação começou a piorar, fiquei com os olhos ardendo  muito, o nariz “em chamas”, tudo muito ruim. Era difícil manter o mesmo nível  de controle do grupo naquela situação, no que se refere ao roteiro das músicas,  pela falta de concentração de minha parte em virtude daquela “agonia” no nariz.  
               
              Horas  depois, notamos um pequeno tumulto no meio da quadra de dança, possivelmente  uma briga qualquer. Observamos mais atentamente e notamos que dois soldados de  polícia estavam levando um anão para fora da quadra. Sabem por que? Soubemos  depois que aquele safado tinha colocado pimenta em pó, no bolso, e saído  espalhando-a pelo salão, apenas por pura brincadeira. Aquela pimenta, com a  poeira subindo, fazia um efeito tremendo. Via-se todo mundo reclamar de coceira  por toda a parte. Uma verdadeira “beleza”. Foi uma bela sacanagem, mas o tal  anãozinho deve ter pago bem caro por ela.  
               
              UM BIGU QUASE “EM  CANA” 
               
              Nas movimentadas tardes  e noites de sábado, invariavelmente eu me deparava com alguns acidentes de  trânsito, durante o trajeto de nossa casa para os clubes, e principalmente na  volta das funções musicais, pelas madrugadas.  
               
              Carros  virados, polícia no local e, dependendo do horário, aglomerações, eram  ocorrências comuns. A antiga BR-116 era muito estreita e de mão-dupla, o que  aumentava substancialmente o perigo de batidas e de atropelamentos, em  especial, no trecho da Aerolândia, o mais perigoso, pelo tráfego intenso de  automóveis, caminhões, ônibus, carroças, bicicletas e pedestres, atravessando a  pista a qualquer momento.   
               
              Em  uma das noites de sábado, o Big Brasa tinha sido contratado para tocar em um  clube de subúrbio de Fortaleza, no fim da Avenida Leste-Oeste. Eu saí de casa  por volta das 20:00h, acompanhado pelo Sérgio, bigu, de modo a chegar ao clube  um pouco mais cedo, para ligar e testar os equipamentos. Meu carro era um  corcel vermelho, de duas portas, muito legal.  
               
              Na  avenida D. Manoel, ao chegar à altura da Santos Dumont, parei no cruzamento  para aguardar o sinal, que estava fechado. Alguns segundos e sentimos uma  batida, de leve, na traseira de nosso carro. Olhei pelo espelho retrovisor e vi  uma camionete, com três caras no banco da frente, sorrindo para nós. Naquela  hora, tive um ímpeto de descer para tomar satisfação. Enquanto raciocinava, os  caras deram nova batida, empurrando ligeiramente o corcel para a frente, no  sentido claro e evidente de nos provocar. Mas o sinal abriu e eu, felizmente,  pude arrancar e seguir, de maneira a deixar aqueles caras para trás. Naquele  noite, mais uma vez tive bom senso para avaliar, e não aceitei aquela nítida  provocação. Mas havia algo para acontecer, aquele noite ainda nos reservava uma  surpresa... 
               
              Ao  chegar ao clube, efetuamos nosso trabalho de montagem e testes de equipamentos,  como de rotina, e às 22:00h a festa teve início. Depois de duas horas de baile,  o Sérgio aproximou-se e disse que estava com muita dor de cabeça, pedindo as  chaves do carro para ir dormir. Como nós tínhamos montado aquele carro na  semana anterior, após uma pintura, ele sabia que somente a porta do motorista  estava abrindo, mesmo enganchando um pouco, a outra estava com defeito. Mesmo  assim eu avisei para ele, sobre um jeito especial para abrir a tal porta.  Continuei tocando normalmente e o Sérgio saiu do clube, desaparecendo entre a  multidão. Cerca de dez minutos depois, aparece o Sérgio, p... da vida, agarrado  pelos braços por dois soldados da Polícia Militar, tentando falar algo para  mim. Ao me aproximar, ainda com a guitarra, ouvi ele dizer, quase chorando e  com muita raiva: 
               
              -  Beiró, esses caras estão querendo me prender, não acreditaram que eu trabalho  no conjunto!  
              E em  vão, tentava se soltar dos policiais...  
               
              Naquele  momento eu entendi o que se passava. Expliquei ao pessoal da polícia que o  Sérgio realmente era nosso bigu, e tão logo esclarecida a situação ele  prontamente foi solto. O que aconteceu realmente, era que uma patrulha móvel  passava pelo estacionamento do clube, quando avistou um cara - o Sérgio -  tentando abrir a porta de um carro,  provavelmente para tentar “puxá-lo”, como se diz na gíria policial. 
               
              Ao  ser abordado pelos soldados o Sérgio não portava nenhum documento pessoal,  muito menos os documentos do carro, que estavam em minha posse. Uma “atitude  suspeita”, conforme é mencionada em um manual de orientação dos policiais  militares. Portanto, não acreditaram naquela história dele, de dor de cabeça, e  resolveram confirmá-la, entrando no clube e falando pessoalmente comigo. Na  oportunidade, eu cheguei mesmo até a agradecer aos policiais pela prontidão  daquele “serviço prestado”.   
              O  Sérgio, por via das dúvidas, não quis mais sair do clube, permanecendo conosco,  no palco, até o final da animada festa.  
               
              CURTIÇÕES EM MOSSORÓ 
               
              Estive  em Mossoró, no Rio Grande do Norte, por várias vezes. Uma parte delas com o Big  Brasa, em eventos patrocinados pela TV Ceará, oportunidade em que viajamos em  ônibus de turismo, especial, com toda a equipe de produção, diretores e  artistas e demais participantes do programa Show do Mercantil.  
               
              Nessas  viagens o grupo aproveitava bem e se divertia bastante, porque tínhamos  hospedagem, alimentação e transporte tudo de graça. Além disso a preocupação  com a organização dos eventos e contratos não era nossa e sim dos diretores da  televisão. Ficávamos com a obrigação apenas de tocar nos horários determinados,  e com o resto do tempo livre para passear. 
               
              Nos  hotéis, tratamento especial, afinal de contas era uma equipe de artistas  cearenses que lá estava. Na cidade, pessoal bastante hospitaleiro e amigo. Uma  das atrações de Mossoró são suas águas termais. Nas torneiras comuns, temos  água morna, uma beleza. E nas piscinas, como as que eu conheci na Escola de  Agronomia, onde o Carló fez sua faculdade, a água vinha de poços artesianos,  saindo a uma temperatura aproximada entre 50 a 60 graus centígrados. Quando uma piscina  acabava de encher, não tinha quem conseguisse tomar banho, porque a água ficava  quente, “pelando” mesmo.   
               
              Mas  nós também tivemos temperatura alta, quando tocamos em uma das boates locais, o  “point” daquela época na cidade. O Big Brasa atravessava uma fase magnífica.  Músicas atualizadas de todo tipo. Equipamento bom, contava ainda com uma  percussão extra – as tumbadoras, ou atabaques – e sons de pedais para minha  guitarra, principalmente o “wah-wah” e a distorção, com seus efeitos belíssimos  nas improvisações. Nessa boate havia um sistema de som para voz excelente, queima  de incenso, e ainda contava com um jogo de luzes e de efeitos chamados  psicodélicos, verbete que segundo o Aurélio, “diz-se de decoração, roupas,  objetos etc., de cores muito vivas, e totalmente fora dos padrões costumeiros.”  Enfim foram verdadeiros “embalos de sábado à noite”, com presença jovem  acentuada e muita animação.  
               
              Voltamos  à Mossoró outras vezes, sem o Big Brasa, na companhia do Silvino, cantor do  conjunto, e do Gustavo Silva, o “Gustavinho”, grande amigo nosso que fazia  parte do corpo de jurados do Show do Mercantil. Foram muitas aventuras, sendo  que uma delas foi resolvida às 4:00 horas da madrugada, quando o Big Brasa  estava terminando uma festa no Clube dos Diários e o Gustavinho chegou na  frente do palco, ainda muito disposto, apesar de estar no final de uma festa, e  disse:  
               
              -  Beiró, eu estou saindo para Mossoró daqui a pouco. Quer ir também? 
               
              Respondi  que sim, no ato. Combinei com ele que iria para casa só para pegar uma roupa e  que ele passasse por lá. Tudo certo e viajamos mesmo ao amanhecer do dia, no  Gordini do Gustavinho, que tinha um motor Renault, muito bom. Uma barra, para  agüentar o sono nas primeira horas. Mas foi tudo cem por cento. Chegamos em  Mossoró, passamos o restante do dia passeando e à noite fomos para um boate,  onde recebidos como artistas da televisão cearense, passamos muito bem,  obrigado... 
               
              Por  último, o Big Brasa esteve novamente em Mossoró para, desta vez, animar o baile  de formatura da turma do Carló. Nessa vez eu tive que fazer duas viagens em um  só dia para lá, em nossa camionete Chevrolet, “turbinada”, para levar o  equipamento e em seguida o pessoal todo. Esse baile foi super animado,  principalmente pela presença do Carló, que era chamado apenas de “Big”, junto  com seus amigos de turma, que gostaram de nosso grupo e se divertiram a valer. 
               
              PRESENTE DE GREGO 
                 
              Os shows que fizemos em Teresina, com o  Ednardo, foram excelentes. A platéia gostou muito, o grupo estava bem ensaiado  e tudo correu bem. Desta vez eu tinha seguido para Teresina de ônibus,  sexta-feira à noite, para que chegasse a tempo, pois os shows seriam realizados no sábado e no domingo, no teatro. Naquele  tempo eu trabalhava na TV Educativa a semana inteira.  
                 
              O  teatro estava com um palco bem montado, o Big Brasa com seu instrumental  distribuído de forma excelente, boa produção, jogo de luzes com marcações  perfeitas, boa qualidade de som, tudo muito legal.  
                 
              Durante  as apresentações, um cara, vestido com trajes indianos, com uma túnica  esquisita, ficava circulando entre os corredores, pela frente do palco, sempre  com varetinhas de incenso, que perfumavam o ambiente e até ajudavam a criar uma  atmosfera mística para o show.   
                 
              Nos  dois shows esta “figura” esteve  presente, deleitando-se com as músicas, com as luzes e todos seus efeitos,  enquanto curtia e espalhava o incenso pelo público. Fim dos espetáculos, volta  para hotel e aquelas coisas de rotina. Na segunda-feira pela manhã, quando eu  estava na estação rodoviária, esperando o ônibus para Fortaleza, de repente me  deparei com o tal cara, que me cumprimentou pelos improvisos de viola e de  guitarra feitos na noite anterior. Gentileza dele. No final daquele rápido  contato, aquela figura estranha disse que tinha um presente para mim. E  entregou-me um pacote, um pouco menor que uma caixa de sapatos, dizendo que  aquilo era para que eu “viajasse” com a música pelo espaço sideral, em um mundo  de sonhos, luzes e cores e uma porção de coisas mais que ele falou. Eu “saquei”  logo aquele lance. Um punhado de maconha. Imediatamente devolvi o pacote para  ele, e agradeci pelo presente, mas disse que não queria recebê-lo. Como ele  insistiu, eu tive que ser mais ríspido, até meio grosseiro, dizendo a ele que,  por favor, se afastasse de mim. Na verdade, foi o que costumamos chamar de  “presente de grego”!     
                 
              As drogas estavam por  toda a parte. Eu não tinha a consciência disso, a princípio. Algumas vezes,  durante os intervalos dos bailes, cheguei a receber gratuitamente caixas ou  vidrinhos cheios de “bolinhas”, as anfetaminas, substância que era usada como  estimulante. Eu recebia aquilo dos caras, para não “estragar o filme”, como se  diz. Ao mostrar para meu pai, ele ficava indignado e comentava: 
                 
              - “É um verdadeiro  absurdo. Um indivíduo desses não é capaz de oferecer um lanche, um copo de  leite ou uma refeição para um músico. No entanto, com a maior facilidade, de  graça, oferece aquilo que não presta, como bebidas e drogas”. 
                 
              Pura verdade, mas  graças a Deus conseguimos trilhar nosso caminho, no mundo da música, quase  sempre perto desse perigo, mas conseguindo evitá-lo.         
               
           
            IMAGENS PERDIDAS DE UM  FESTIVAL DE ROCK...  
            Em 1971, o Big Brasa  participou de um festival de rock, realizado no auditório da Universidade  Federal do Ceará. Preparamos algumas músicas, escolhidas cuidadosamente, de  modo a causar o maior impacto possível, pois sabíamos que o evento seria muito  bem divulgado, e que boa parte de nosso público, sem dúvida, tomaria  conhecimento da nossa atuação. Dentre as músicas, um blue, no melhor estilo de  Jimmi Hendrix, com um tema especialmente criado por nós, cuja harmonia  possibilitava improvisações para a guitarra-solo, do jeito que eu mais gostava.  Além de estar naquele tempo com uma guitarra excelente, contava ainda com a  ajuda de uma “distorção” e de um pedal tipo “wah-wah”, ambos de boa qualidade. 
            Para  esse festival, eu estava muito bem preparado tecnicamente, pois estudava horas  e horas a fio, exercitando escalas e mais escalas, para aumentar a agilidade em  minha guitarra branca, tipo “Gibson”. Essa guitarra, por mim reformada, possuía  um som da melhor qualidade, do qual falei anteriormente. Passei a semana  inteira dedicando todo o meu tempo disponível, revendo os arranjos, com o  pessoal do conjunto, no sentido de que o Big Brasa fizesse uma apresentação  marcante.  
               
  Depois  dessa expectativa, chegou o momento de mostrarmos nosso trabalho. O ambiente no  auditório da UFC estava amplamente favorável para nós. Mesa de luzes, com  “canhão”, um sistema de som razoável, amplificadores de boa potência e  qualidade, e muita gente para ver o show. 
   
  O  Big Brasa foi o último grupo a se apresentar, dos quatro conjuntos  participantes. Os organizadores do festival fizeram essa escolha de propósito,  creio eu, pois conheciam nosso “potencial de fogo”, naquele momento, para  fechar com chave de ouro aquela apresentação. Estávamos nesse período,  realmente, com um “time” que jogava muito bem, todo mundo sabia o que fazer,  portanto, tudo muito ensaiado e afinado.  
  Ao  chegar a nossa vez, subimos ao palco, ligamos nossos equipamentos e “sentamos o  porrete”, como se diz na gíria. No primeiro tema apresentado, os aplausos e a  vibração da galera foram enormes, o que aumentou de forma significativa nosso  entusiasmo.  
   
  Antes  de iniciarmos a segunda música, chegou a equipe de filmagem do “Canal 10”, a Televisão Verdes Mares,  da Rede Globo. Naquele tempo, as televisões ainda não tinham câmeras gravadoras  de videoteipe, e os eventos eram filmados. As imagens, portanto, só passavam na  televisão no dia seguinte, após a revelação e todo o processo de edição dos  filmes da véspera. 
   
  Tivemos  muita sorte até nisso, porque, durante a nossa segunda música, um blue, com bastantes improvisações de  guitarra, praticamente tudo foi filmado, com detalhes para a bateria e  principalmente para os solos de guitarra. Naquele dia, eu realmente estava  inspirado. Via aquelas luzes e câmeras em minha frente, as quais, associadas  aos efeitos existentes e ao vibrante som produzido por nossos instrumentos,  faziam que eu me sentisse verdadeiramente em outra dimensão. Torna-se difícil,  para mim, descrever esse tipo de sensação através da escrita. Só a conhece, quem  teve a oportunidade de tocar um rock pesado ou um blue, de improvisar, de  cantar ou de estar entre amplificadores muito potentes. É por aí... 
   
  Esperamos,  com toda a ansiedade, para assistir o jornal da Verdes Mares do dia seguinte. E  valeu a pena. O repórter, após ter noticiado o festival, em matéria bem  produzida, apresentou um longo trecho do filme em que o Big Brasa aparecia.  Todo mundo lá em casa vibrou junto comigo. Na rua e nos clubes, nas semanas  seguintes, a repercussão foi extraordinária. Meses depois, tentei conseguir  esse filme, na TV Verdes Mares, mas não obtive sucesso. Fiz o possível com o  setor de filmagens para localizar aquele pequeno filme, mas o pessoal alegava  não mais encontrá-lo. Hoje, essas imagens teriam para mim um valor inestimável.  
   
  LEVAR  INSULTO PARA CASA? 
   
  Aconteceu  em Sobral, em um contrato para um “Reveillon” no Derby Clube, um dos melhores  daquela cidade interiorana do Ceará. 
  Fomos  recebidos em um restaurante na entrada da cidade pelo presidente do Clube. Ele  conversou conosco, disse o local onde deveríamos ficar instalados e jantar, e  em seguida nos levou para o Derby, para que instalássemos os equipamentos. E  tudo seguiu normalmente, como de rotina. 
   
À  noite, logo que chegamos ao Clube, um pouco antes de iniciar aquele baile, o  presidente perguntou quem era o responsável pelo conjunto. Eu me apresentei.  Combinamos o horário do intervalo, o tipo de lanche desejado e outros detalhes.  Ao final, ele me disse, seriamente:  
 
-  Meu rapaz, olhe bem: se alguém quiser atrapalhar a festa, perturbar o conjunto  ou qualquer outro problema que aconteça, mande me avisar imediatamente que eu  resolvo a parada. Se for preciso, boto qualquer um para fora do clube . 
 
Eu  lhe agradeci e disse “tudo bem”. 
 
E a  festa começou. O grupo estava bem ensaiado, o equipamento bem distribuído no  palco, muita gente, tudo para ser um baile super tranqüilo. Com uns 30 minutos  de festa, um cara subiu ao palco pela escadinha lateral e, chegando-se a meu  lado, pediu uma música que sinceramente não dava para reconhecer. Ele estava  visivelmente “chumbado”, não conseguia cantarolar direito, não sabia o nome da  música e, diante do impasse, expliquei para ele que não conhecia aquela música,  e assim sendo, não poderíamos tocá-la. 
 
O  chato continuou por mais algum tempo, insistindo, com a mesma história. E eu  tocando, tentando me desviar do intruso. Até que enfim, ele resolveu descer do  palco, para alívio de todos, pois o pessoal já estava “ligado” naquele papo  demorado. Pensando que estava livre daquela situação continuei tocando  normalmente e a festa seguiu, muito animada, com o salão cheio.  
 
De  repente, logo abaixo do palco, que tinha mais ou menos um metro e meio de  altura, em minha frente, surgiu de novo o “dito cujo”, que estava dançando com  o que deveria ser sua namorada.  Ele  parou, afastou a moça, ficou me encarando, sorrindo com ar sarcástico, e puxou  sua carteira de cédulas do bolso. Tirando uma nota de mil, balançou-a para mim,  como que estivesse querendo me comprar com aquele dinheiro. A princípio, fiz  que não vi. E ele continuou a cena. Com mais uma nota na mão, o sacana  balançava as notas, em leque, em minha direção. Três, quatro, um punhado de  notas, não contei. O Big Brasa continuava tocando normalmente. Eu também, só  que tinha começado a perder a paciência com aquela figura. Até que uma hora não  agüentei mais. Tirei a guitarra, deixando-a de lado, e abaixei-me no palco, de  modo que o cara pudesse me ouvir bem, para dizer para ele, em alto e bom som:  
 
-  Olhe aqui, eu não estou tocando sua música porque não sei. Mas agora, mesmo que  eu soubesse, não a tocaria de jeito nenhum. 
 
E  larguei-lhe uns desaforos daqueles bem caprichados. Na certa, devo ter chamado  o cara de “santo”, ou alguma coisa similar, porque ele ficou muito enfurecido.  Largou a mulher e começou a se chegar para a lateral do palco, para subir e  aprontar a pior bronca. Preparei-me para lhe dar uma “guitarrada” na cabeça, se  ele chegasse perto. O Edi também estava preparado para tacar-lhe o “ximbau” da  bateria no “pé-do-ouvido”.  
 
Ele  subiu no palco, por um acesso lateral, mas felizmente, em razão dos  equipamentos e de outras pessoas em sua frente, foi bloqueado durante alguns  instantes. Recebi uma “luz” de inspiração, tive um verdadeiro sexto sentido e  naquele momento acenei para o Sérgio, no sentido de que acendesse as luzes do  palco.  
 
No  mesmo momento, sinalizei para o conjunto parar, o que foi feito imediatamente.  Ficou então aquele palco todo iluminado, com o conjunto parado, chamando a  atenção de todos - exatamente o meu objetivo. Rapidamente apareceu o presidente  do clube, no meio do pequeno tumulto, para se informar sobre o que tinha  acontecido. Ao lhe contar, ele pediu para que eu lhe apontasse o “perturbador  da ordem”, para que ele pudesse tomar as providências. Não contei conversa.  Mostrei para ele, apontando o cara na hora:  
-  Foi aquele ali, de camisa vermelha.   Notei que o presidente do Derby, ao olhar para a pessoa que eu tinha  mostrado, ficou mais perdido do que cego em tiroteio. E, todo atrapalhado, com  as mãos na cabeça, disse:  
 
-  Puxa vida, aquele é meu sobrinho...  Mas  deixe que eu dou um jeito e ele não voltará mais a incomodar vocês. E tomou as  providências que achou por bem. O fato é que o chato não mais nos perturbou e  nem chegamos a vê-lo de novo. O baile prosseguiu normalmente e teve um final  muito animado. 
 
Mais  uma vez o preconceito de que o músico tem 
a obrigação de tocar qualquer música,  de atender qualquer desejo de quem participa de um baile e de que facilmente se  vende por dinheiro, estas histórias... 
 
  SOLIDARIEDADE À  TODA PROVA 
   
  Há  tempos de alegria e tempos de tristeza. Horas para sorrir e horas para chorar.  Este fato, ocorrido com um participante do Big Brasa, meu primo e amigo  Adalberto, merece registro, por ser exemplo de como Deus está presente em  nossas vidas.  
   
  O  Adalberto sempre gostou muito de corridas de automóveis. Quando podia marcava  presença no autódromo do Euzébio, para ver a Fórmula Ford e outras corridas de  campeonatos regionais. Em uma tarde de domingo, eu, o Adalberto e o Carló,  fomos assistir a uma dessas provas automobilísticas. Muita gente de Messejana  por lá, aglomeração na entrada e movimentação intensa de pessoas para ver os  carros de corrida antes da prova ter início. Como eu não tinha nenhum interesse  específico, nem tanta empolgação assim por corridas, fiquei circulando por toda  aquela área, vendo um pouco de cada uma das curvas e apreciando a movimentação.  Se é que existia algum controle ou supervisão de segurança do autódromo, no que  se refere à entrada de pessoas nas áreas consideradas perigosas, esse sistema deveria  ser muito deficiente.   
   
  Quando  a corrida estava perto do final, eu conversava com alguns colegas perto das  arquibancadas, em frente a reta da chegada. Nos instantes finais ouvi alguém  anunciar o vencedor. Mas, olhando para a pista, a uma distância de uns trinta  metros, via muitos carros ainda passando, velozmente, para completar as voltas  ou para decidir um segundo lugar, não sei bem. De repente, observei um grupo de  três pessoas tentando atravessar a pista, mesmo com alguns carros ainda em  movimento. Uma frenagem brusca. À minha esquerda notei que duas daquelas  pessoas conseguiram voltar atrás. O terceiro cara, que estava fotografando um  dos carros já estacionados em um dos “boxes”, foi violentamente colhido por um  carro branco, que desenvolvia grande velocidade. Pude acompanhar a trajetória  daquele corpo por uns quinze metros, até vê-lo cair no chão. O rapaz atropelado  tentou levantar-se na mesma hora, sem no entanto conseguir. Nesse momento houve  um tumulto geral. Ao mesmo tempo em que várias pessoas corriam para ver o  acidente, outras saíam apressadamente do autódromo. Eu estava entre os que  saíam, quando ouvi um colega me dizer algo assim: 
   
  -  João Ribeiro, o “Carló” foi atropelado lá dentro, você viu? 
   
  Fiquei  muito assustado e não sabia direito o que fazer. A muito custo entrei novamente  no autódromo, mas não achei ninguém que me informasse detalhes sobre o  acidente. Soube apenas que patrulheiros da Polícia Rodoviária Federal tinham  levado o acidentado para um hospital.  
   
  Muito  apreensivo, providenciei minha volta para Messejana, conseguindo carona em uma  “pick-up”, juntamente com o Célio Freitas, nosso vizinho e amigo. Chegando em  casa obtive a confirmação, por intermédio de meus pais, de que o acidente tinha  acontecido com o Adalberto e não com o Carló. Ambos eram muito parecidos e  muitas pessoas os confundiam. 
   
  Prontamente  o Adalberto foi atendido em uma unidade hospitalar de emergência. Neste momento  é que se faz necessário destacar a importante providência divina, tendo em  vista que o médico de plantão que o atendeu decidiu amputar a sua perna, tendo  chegado até mesmo a marcar a hora da operação para a tarde daquele mesmo dia. O  “milagre” ocorreu por conta de um atraso desse médico, que nos possibilitou  consultar outro profissional, o Dr. Afrânio, excelente médico ortopedista, que  discordou totalmente do primeiro diagnóstico e, após devidamente autorizado  pelo Mestre Alberto, tratou do Adalberto de forma impecável, curando-o  integralmente.  
   
  Após  a notícia desse acidente ter sido divulgada através de emissoras de rádio,  houve solidariedade geral por parte de músicos de diversos conjuntos de  Fortaleza, e de populares que conheciam o Big Brasa, que de imediato se  prontificaram a fazer doações de sangue.  
  Durante  alguns meses o Adalberto ficou ausente do conjunto, por força do ocorrido.  Nesse período, entretanto, recebeu constantes visitas de amigos e fãs, que  muito se preocuparam com seu pleno restabelecimento. Garotas chegavam a todo  instante levando cartões com mensagens e bilhetinhos.  
   
  As  manifestações de solidariedade permaneceram por todo o tempo em que esteve  internado, sendo um dos fatores positivos para sua plena recuperação. Às vezes  a movimentação era tão grande que chegava a interferir no hospital. Seu  tratamento foi muito bem sucedido, não lhe deixando nenhuma seqüela. E ele, com  muita força de vontade e sacrifício, logo que pôde retornou ao palco, ainda com  a perna engessada.   
   
  Após  sua saída do hospital, onde passou alguns meses internado, o Adalberto fez  questão de assistir a primeira corrida que houve no autódromo. E esteve lá, de  perto, para conferir tudo. Mas desta vez, nada de fotografias!  
   
  O REVEZAMENTO  “PERFEITO” 
   
  Nos  períodos de carnaval e “reveillon”, o Big Brasa contratava músicos adicionais,  de instrumentos de sopro. Na quase totalidade das vezes as contratações foram  bem sucedidas, o pessoal desempenhou bem as funções, sem problemas. Entretanto,  toda regra tem uma exceção... 
   
  Uma  delas foi em um “reveillon”, no qual o conjunto foi contratado para animar um  baile no Iate Clube de Fortaleza. Eu não tinha nenhum instrumentista de sopro  em mente e tive que me deslocar até a Praça do Ferreira, para o “ponto dos  músicos”, local onde a rapaziada toda se encontrava. Empresários, para agenciar  contratos e músicos diversos. 
   
  Não  gostava muito daquele “ponto”, primeiramente porque não tinha tempo e em  segundo lugar porque o pessoal se ocupava demais em falar dos outros, o que  nunca foi o meu forte. Mas fiz contatos com três músicos da banda de música da  Base Aérea. Os instrumentos: sax, piston e trombone de vara. Estaria cem por  cento, pensava eu. Convidei-os para um ensaio e eles desconversaram, dizendo  que não seria necessário porque tinham muita prática, as músicas todas estavam  nos álbuns e não haveria problema. Achei que sim, em vista da idade e da  aparência dos caras, de profissionais experientes...  
   
  No  dia do baile iniciamos bem. Até a meia-noite, o conjunto executou seu  repertório normal, enquanto os instrumentistas de fora aguardavam, bebendo  cerveja... Péssimo sinal, mas já naquela hora não daria para fazer nada. 
   
  Após  um rápido intervalo, passado o ano, depois da meia-noite entraram os “metais”.  Começamos tocando uns três frevos bem animados e algumas marchas. Durante uns  trinta minutos tudo bem. Mas depois começou o que eu achei uma verdadeira  palhaçada. Ao invés desses três músicos permanecerem no palco, fazendo arranjos  e tocando em conjunto, ficava um só, enquanto outro descia do palco e bebia  cerveja lentamente, nos olhando com a maior calma. Enquanto isso, o terceiro  estava no banheiro, fazendo xixi. Isso durou quase até o final do baile, apesar  de minhas insistentes reclamações aos três irresponsáveis.   
   
  Mas  no final, o negócio piorou mais ainda: um deles, o trombonista, que estava de  “cara cheia”, cismou de ficar embaixo do palco e enquanto nós, logicamente em  cima do palco, tocávamos uma música, ele simplesmente virava o trombone para  nosso lado e tocava outra música, ou fazia pequenas frases musicais  completamente diferentes da música em andamento. Foi preciso eu descer do palco  e firmemente ordenar que ele parasse de tocar.  
   
  Para  completar, após o baile, mesmo a contragosto, fui efetuar o pagamento aos caras  para logo me livrar deles. Enquanto tirava o dinheiro, contava e pagava, perdi  500 mil, não sei como. Procuramos em volta do palco, por onde eu tinha andado,  sem sucesso. Alguém, na entrada desse Ano Novo se deu bem às minhas custas... 
   
  Naquela  noite, houve o que se pode chamar de “revezamento perfeito”: um tocando, outro  bebendo e o terceiro mijando...  
   
  UM INESQUECÍVEL  DUELO MUSICAL 
   
  Certa ocasião, em um  sábado  à tarde, quando cheguei à TV  Ceará para o programa Show do Mercantil, encontrei três pessoas instalando um  equipamento em uma lateral do palco, perto do local onde o Big Brasa ficava  durante todo o programa. Aquele pessoal, acabara de ligar um amplificador e um  órgão eletrônico. Eu observava discretamente o grupo, enquanto ligava também  nosso instrumental, preparando-o para dar um ligeiro ensaio com os calouros e  cantores da terra, ou seja, uma “rápida passada” nas músicas, como a gente  dizia.  
   
  Logo que terminaram sua  montagem, um deles, bem lentamente, com toda a calma, sentou-se ao órgão e  começou a tocar. Primeiro, testou alguns timbres, com diversas mudanças de  registros, enquanto empregava uma harmonia bem estruturada. Percebi, de  imediato, que aquele tecladista era muito bom. Enquanto ele continuava a tocar,  executando uma seqüência harmônica, ou seja, um tema super favorável à  improvisações, liguei minha guitarra e comecei a acompanhá-lo. De início, eu  fiz apenas algumas notas e produzi efeitos sonoros rápidos, inclusive  utilizando a alavanca da guitarra, combinando com a harmonia e o ritmo do  órgão. O tecladista, por seu lado, começou a se empolgar e deu vazão à  criatividade. E, nesse clima, descontraído e gostoso, sem parar, tocamos por  uns dez ou quinze minutos. Encerramos aquele tema improvisado de forma muito  legal, parecendo que tínhamos ensaiado por muito tempo. Na realidade, nem nos  conhecíamos e nada tinha sido programado.   
   
  Nessa hora, cheguei  perto daquele tecladista para cumprimentá-lo. E só então pude perceber que era  deficiente visual. Aquela “fera”, chamava-se Sérgio Sá, um excelente músico e  compositor, parente do radialista Colombo Sá, de Fortaleza, e que iria se  apresentar, também naquela tarde, no Show do Mercantil.   
   
  O “Serginho”, como era  chamado, gostou demais do som que tiramos, elogiou os meus improvisos e me deu  um grande abraço. Conversamos bastante, tentando marcar um novo encontro  musical, para que aquela sessão pudesse ser repetida. Nunca esqueci esses bons  momentos.  
   
  Foi um duelo musical  que não teve vencido, nem vencedor, visto que nós, ganhamos a sincera admiração  de um músico pelo outro.  
   
  ENSINAR  O PULO DO GATO, NUNCA! 
   
  O Edson Girão sempre  foi um excelente músico, particularmente no que se refere à harmonia das  músicas. Muito detalhista e possuidor de um “ouvido” muito bom, conseguia  aprender todos os acordes de uma música, de qualquer estilo. Nos ensaios por  vezes se tornava maçante, por ser meticuloso demais. Podia demorar, mas só  ficava satisfeito quando executava o encadeamento harmônico perfeito da música,  ou para os leigos, o acompanhamento certinho. E nos mostrava em sua guitarra,  com muita satisfação, os acordes mais difíceis de serem percebidos e que ele  tirava “de letra”. Quando não conseguia perceber um detalhe harmônico ele  ficava visivelmente irritado, dizendo que estava “faltando alguma coisa”. E  persistia na busca da perfeição harmônica, sendo que no momento que conseguia  descobrir o tal acorde, imediatamente se preocupava em ensiná-lo para  nós, na primeira oportunidade que  tivesse.    
   
  Enquanto muitos  conjuntos musicais aprendiam as músicas de maior sucesso no momento “na marra”  para logo incluí-las no repertório, mesmo que não estivessem cem por cento  corretas, o Edson chegava mesmo até a discutir nos ensaios, no intuito de fazer  prevalecer o seu ponto de vista – o de executar as músicas com as harmonias  corretas, com o qual concordo plenamente.  
   
  Quase sempre, de modo  particular em cidades do interior do Estado, os músicos locais compareciam aos  bailes tocados pelo Big Brasa ou mesmo por outro conjunto da capital para  aprenderem “macetes”, harmonias novas, conhecer um ou outro equipamento mais  moderno, enfim, para aprender mais. 
   
  Nós conhecíamos de  imediato quando componentes de algum grupo musical se posicionavam em frente ou  ao lado do palco, discretamente, para nos observar. Pelo interesse demonstrado,  atitudes e gestos, sabíamos que eram colegas que estavam ali para aprender mais  um pouco mais ou até mesmo, quem sabe, para “tesourar” o Big Brasa por qualquer  falha cometida durante a função. Na verdade, dificilmente um grupo se  preocupava tanto assim com a harmonia correta das músicas como o Big Brasa.  Acho que pelas dificuldades encontradas, pelo trabalho difícil e cansativo de  escutar uma música várias vezes até perceber um ou outro detalhe, o Edson  considerava suas descobertas como um “segredo de Estado”, portanto merecedor de  toda a proteção necessária. Muito justo! 
   
  Em algumas dessas  oportunidades presenciei o Edson verdadeiramente cercado por músicos, que no  salão ou ao lado do palco, nem piscavam para não perder um acorde ou outro mais  difícil de ser feito. Mas por esperteza, na hora exata em que ia inserir o tal  acorde, ele virava um pouco o corpo de lado de maneira a esconder dos espiões  os acordes desejados, preservando assim seu trabalho. Podiam copiar tudo, menos  o “pulo do gato”... 
   
  OS  CHATOS DE GALOCHA E OS “BICÕES” 
   
  Quem alguma vez  participou de conjuntos musicais os conhece bem. O Big Brasa identificou, ao  longo de sua existência, vários deles...  
  Os “chatos”, eram  aqueles indivíduos que estavam presentes em quase todas as apresentações do  conjunto. Se fosse apenas a presença deles, não haveria problema. A atuação  desses caras é que nos incomodava. Apesar de tudo gostavam do Big Brasa, motivo  pelo qual não faltavam nenhuma festa por ele tocada. Normalmente, quando o  grupo estava montando ou testando os equipamentos, um chato aparecia, com  aquele ar de quem está “por dentro” de tudo. Sempre que o Edi, nosso baterista,  via algum deles se aproximar do palco, logo me avisava, sorrindo: 
   
  - Beiró, lá vem ele de  novo ...  
   
  E começava a achar  graça, já contando com as perguntas bobas daquele elemento, e também com as  nossas respostas, mais cretinas ainda, na tentativa de bloquear seu papo e  encurtar a conversa. 
   
  Os chatos, sempre  examinavam nosso equipamento, atentamente, na tentativa de notar alguma  novidade que fosse motivo de comentário. Se não encontravam nada, perguntavam  sobre o repertório, se tínhamos incluído essa ou aquela música, a que horas o  conjunto ia começar, quantos intervalos faríamos, dentre outros detalhes. E  ficavam nos rodeando, fazendo com que nosso bigus tivessem o cuidado para que  nenhum cabo fosse pisado ou quebrado por eles, coisas assim.  
   
  A história volta e meia  se repetia, eis a questão. Enquanto nós estávamos ocupados, e com a atenção  voltada para nosso trabalho, eles nos perturbavam com as mesmas perguntas.  
   
  Durante a festa, os  chatos gostavam de subir ao palco e falar com alguém do conjunto, somente para  “aparecer”. Por vezes, criticavam outros conjuntos, enquanto nos elogiavam para  fazer média. Por questão de ética, nunca entramos nesse tipo de conversa. 
   
  Os “bicões”, por sua  vez, atuavam de maneira diferente. Seu “modus operandi”, era o de aproveitar o  momento da entrada de participantes do conjunto no clube, para misturar-se  entre eles e entrar de graça na festa. Faziam questão até de ajudar a carregar  os equipamentos, para atingir seu objetivo. Chegavam mesmo a tomar um estojo de  guitarra, um amplificador ou qualquer acessório de um bigu, enquanto  descarregavam o material, para com eles entrar no clube. Depois disso,  desapareciam. 
   
  Outros tipos de bicões,  eram aqueles que apareciam apenas na hora do intervalo, quando o conjunto  estava se servindo de um lanche. Jogavam alguma conversa fiada fora e depois,  de forma sutil, nos surrupiavam um sanduíche ou um refrigerante. Como o lanche  para o conjunto muitas vezes vinha na quantidade certa, o aparecimento de um  bicão poderia significar falta de lanche para alguém.    
            ANJO  DA GUARDA, ÀS VEZES PRECISA DE AJUDA 
               
  Creio  plenamente que temos nossos espíritos guias, amigos que nos orientam e que nos  ajudam a trilhar nosso caminho. É preciso, porém, no meu entender, que nossa  mente esteja em sintonia com eles, receptiva, caso contrário a comunicação não  procederá a contento. Há aqueles, entretanto, que acreditam cegamente no  destino, ou seja, que não podem evitar nada que já estaria marcado para  acontecer. Acho que não, pois nós podemos dar uma “ajudazinha” em nosso próprio  destino. Nada acontece simplesmente por acaso, penso eu.  
   
  O  Big Brasa, mais uma vez tinha sido contratado para tocar um baile de  “reveillon”, em Sobral, distante 225 quilômetros de  Fortaleza. Nosso transporte estava sendo feito por uma Kombi, contratada  especialmente para aquela oportunidade, sendo dirigida por rapaz de 18 anos que  estava praticamente inaugurando sua carteira de motorista, portanto um novato  no ramo. Era um sobrinho do Luciano Franco, nosso contrabaixista.  
   
  No  percurso de ida tudo transcorreu normalmente. Eu e o Adalberto, que éramos  acostumados a dirigir em estrada, com as camionetes carregadas, ficamos atentos  ao motorista para observar seu desempenho, visando nossa própria segurança e a  do grupo inteiro. 
   
  Chegamos  bem ao nosso destino, instalamos os equipamentos e tocamos todo o baile, sem  problemas. O procedimento normal para uma pessoa que dirige, principalmente  quando está contratado para aquele fim e tem a responsabilidade de retornar  dirigindo, é o de dormir a noite inteira para estar bem descansado de manhã.  Mas não foi assim. Aquele rapaz resolveu ficar um pedacinho na festa e deve ter  perdido um bocado de sono.  
   
  De  manhã, na hora em que nosso pessoal estava desmontando todo o equipamento e  colocando-o na Kombi, perguntamos se ele tinha dormido bem, ao que respondeu  afirmativamente. Mas não me convenceu, por seu jeitão meio enfadado. Começamos  a viagem de volta. Pouco tempo e todo mundo, pelo cansaço, já estava dormindo.  No banco traseiro, eu e o Adalberto não conseguimos dormir. Ficamos observando  o cara o tempo inteiro, vendo como fazia as curvas, a velocidade, e também sua  fisionomia, que víamos pelo espelho retrovisor interno. Notei que, de vez em  quando, ele começava a fechar os olhos e forçava para abri-los novamente. Mau  sinal. Avisei ao Adalberto e aumentamos nossa atenção. Poucos minutos após,  avistamos que a nossa Kombi tinha pela frente um caminhão, à distância de mais  ou menos uns trezentos ou quatrocentos metros. O novato, então, prosseguia como  se não estivesse vendo nada. E ia chegando mais perto, pois nossa velocidade  era bem maior do que a do caminhão. Quando percebemos, com certeza, de que ele  não tinha avistado o tal carro e iria fatalmente “engavetar” em sua traseira,  resolvemos avisá-lo. A uns duzentos metros do caminhão, avisamos: 
   
  -  Cuidado, olha o caminhão aí! 
   
  O  cara assustou-se e, prontamente, meteu o pé no freio, como se estivesse “em  cima” do carro, desequilibrando completamente a Kombi na estrada. Na realidade  ele estava cochilando e não viu nada. Quase que provoca um enorme acidente.  Fizemos então com que ele parasse e, mesmo sem querer assumir que não estava  com sono, teve que lavar bem o rosto para que pudesse nos trazer de volta mais  tranqüilos. Naquela hora, parece até que o anjo da guarda dele estava dormindo,  e precisou ser ajudado...  
            A SOCIEDADE COM “OS  FARAÓS” 
               
                 O conjunto “Os Faraós”  foi um dos grupos de rock de muito  sucesso que existiu em Fortaleza. Formado por quatro irmãos, Luisinho,  Sebastião, Vicente e Antônio, tinha uma marca registrada: repertório quase que  totalmente direcionado para músicas em inglês. Não tocava um samba nem para  fazer remédio, como se diz popularmente. Sempre muito bem ensaiado, possuía um  vocal muito bom e apurava seus arranjos de forma a ficarem idênticos aos  originais. Seu líder era o habilidoso guitarrista-solo Luisinho, também  possuidor de uma magnífica voz. O som dos  “Faraós” era inconfundível. O meu pai sempre disse que gostava mais dos Faraós  do que dos Beatles. 
                 
 E justificava sua afirmação para o Luisinho,  dizendo que ouvia os Beatles com a razão e os Faraós com o coração. 
 
Contingências  da vida. Não foi bem uma sociedade, com contrato escrito e demais  características. Passei a integrar o conjunto “Os Faraós”, como tecladista,  alguns meses após o Big Brasa ter encerrado suas atividades. Nessa época os  “Faraós” também estavam um pouco desmobilizados e as condições do mercado de  trabalho não eram muito favoráveis, pela existência de uma grande quantidade de  conjuntos em Fortaleza naquele período, além das inúmeras discotecas que invadiram  a cidade com som mecânico, tomando o campo de trabalho dos músicos. Eles se  encontravam sem parte do instrumental e eu com todo o material do Big Brasa.  Foi uma junção perfeita, pois o grupo “Os Faraós” passou a contar com a minha  modesta participação como tecladista, mas que certamente veio mudar a  sonoridade característica do conjunto e enriquecer musicalmente o grupo, também  pelo fato do teclado aumentar as possibilidades de arranjos e de estilo de  repertório.       
 
“Os Faraós”             
             Nos primeiros ensaios, fizemos todas as devidas adaptações de  nosso instrumental. Alguns amplificadores do Big Brasa, somados com as  excelentes caixas de som Bussfle fabricadas pelos próprios “Faraós”, acessórios de toda ordem e o conjunto ficou  pronto. Havia muita empolgação no ar e ânimo por parte de todos, visto que o  “Big Brasa” e “Os Faraós” não se consideravam rivais e juntos, por várias vezes  participaram de diversas promoções de grande sucesso em Fortaleza. Cada um  tinha o seu público e o seu estilo definido.  
       
Foram inúmeros os bailes  e shows que participei nessa  temporada com “Os Faraós”, entre os anos de 1973 e 1977. No palco sempre muita  potência de som, volume alto, jogo de luzes e efeitos diversos que eram  experimentados a cada tempo. Havia uma mesa de luz e de efeitos, por exemplo,  que comandava inclusive a explosão das chamadas “bombas de fumaça”, criadas por  nós, de fabricação caseira. Essas bombas eram caixas retangulares de madeira  com fusíveis de pedaços de fio, nas quais colocávamos, a princípio, somente  pequena quantidade de pólvora. O problema era quando o Castorino exagerava nas  porções de pólvora e a “chibatada” era grande. Nas seqüências mais animadas de rocks ou nas músicas que antecediam os  intervalos as bombas de fumaça eram  disparadas. A pólvora queimava e subia rapidamente se espalhando por todo o  palco e encobrindo totalmente os integrantes do conjunto. Produzia um efeito  visual excelente, mas em compensação o cheiro da pólvora era de amargar.  Resolvemos esse problema mais adiante, misturando incenso à pólvora. A  luminosidade dos disparos também ficou mais clara e bonita. Chegamos até a  utilizar extintores de incêndio para produzir efeitos em meio a tudo.  
 
Quanto  às luzes, chegamos a utilizar até oito lâmpadas estroboscópicas distribuídas pelo palco, mais dezesseis refletores  coloridos. Em algumas oportunidades usamos também gelo seco, para produzir aquela cortina de fumaça branca que ficava  espalhada por todo o ambiente. Dia a dia criávamos mais novidades e o pessoal  gostava muito. A mistura desses efeitos com o pesadíssimo som que tirávamos era  sensacional e às vezes impressionante.  
 
Nós  tínhamos muito cuidado na preparação dos efeitos, principalmente das bombas de fumaça, para que não houvesse  acidentes. Mas sempre tem aqueles que não se preocupavam muito com o perigo.  Uma noite em Maranguape, antes de acionar duas bombas de fumaça e extintores eu  avistei um cara encostado no palco, de costas para o conjunto. Larguei  imediatamente os teclados e fui alertá-lo no sentido de que ele estava muito  próximo das bombas e que aquilo ali  iria “explodir” para cima. Como o conjunto estava tocando a pleno vapor, e o  som do instrumental muito alto, tive que gesticular bastante, apontando para os  dispositivos, para que ele me entendesse. Mas o elemento nem ligou, permanecendo  na mesma posição. Como não tinha outro jeito e tudo estava posicionado  corretamente, no momento determinado o nosso bigu detonou duas bombas de fumaça  e eu acionei os extintores. Tudo isso ao mesmo tempo. Foi uma cortina de fogo  tão grande atrás desse cara que ele se assustou e afastou-se, meio chamuscado,  “fedendo a cão”. Nós quase morremos de achar graça do susto que ele levou.  Depois disso fizemos intervalo, no qual soubemos que o dito cujo estava  reclamando por que o conjunto tinha queimado um pouco sua camisa nova. Que  pena... Falta de aviso não foi. 
 
Em  outra oportunidade, no Clube Vila União, soubemos que um garçom tinha corrido  em direção ao bar, gritando para todos que o palco estava pegando fogo, porque viu fumaça saindo por cima do teto. O aviso  quase causou pânico generalizado, se não tivesse sido desmentido a tempo. Foi a  maior gozação em cima do rapaz, via-se logo que ele ainda não conhecia nossos  “efeitos especiais”.  
 
Nossos  maiores embalos sem dúvida foram realizados no Memphis Club, de Antônio  Bezerra. Eram festas animadíssimas, descontraídas, o público gostava demais do  conjunto e vibrava com o nosso som e efeitos apresentados. Apesar da  responsabilidade pelos contratos nessa época ser do Luisinho, eu sempre me  preocupava muito com tudo. Inclusive com a montagem do instrumental. O meu  amigo Sérgio Alves, anteriormente bigu do Big Brasa, passou a nos acompanhar e  muito nos ajudou também nesse período. Fazia tudo com boa vontade, mesmo  sabendo que para desmontar toda a fiação no final de cada baile, mais de  duzentos metros de fios e cabos tinham que ser dobrados e guardados, além das  pesadíssimas caixas de som, amplificadores e acessórios diversos. Guardo ótimas  recordações desse período em que integrei “Os Faraós”. Nossa convivência e  relacionamento foram excelentes. Sempre admirei muito o Luisinho como solista e  como cantor e sentia que a recíproca era verdadeira, no que se refere a minha  participação no conjunto como tecladista. 
            OS PRINCIPAIS  CONJUNTOS MUSICAIS DE FORTALEZA 
            Durante os chamados “Anos Dourados”, Fortaleza  chegou a ter um número muito grande de conjuntos musicais. A febre do iê-iê-iê  incentivava praticamente toda a juventude e assim houve uma proliferação desses  grupos. Quase uma centena deles. Entretanto, como em toda arte, a qualidade  prevalecia sobre a quantidade, e apenas alguns deles sobreviveram por mais  tempo. 
            Dentre os  melhores e mais conhecidos conjuntos musicais desse período, estavam: Alberto  Mota, Big Brasa, Brasa Seis, Ivanildo e seu conjunto, Os Belgas, The Crazy, The  Dangerous, Os Desafinados, Os Dissonantes, Os Faraós, Os Milionários, Os Quem,  Os Rataplans, Os Tremendões e Paulo de Tarso e seu Conjunto. 
            Esses  grupos musicais efetivamente  marcaram época em Fortaleza e no interior cearense, atuando com destaque em seus  melhores clubes.  
            Especial  registro quanto ao conjunto “Os Rataplans”, de meus amigos César Barreto e  Barretinho, que teve sua formação oficial a partir de 1966 e que muito nos  inspirou no início do Big Brasa. Vale destacar, de modo especial, suas primeiras  guitarras, de fabricação caseira, confeccionadas pelo Adilson e que nós também  chegamos a utilizá-las por um bom período. Os Rataplans participaram do  primeiro aniversário do Big Brasa, apresentando-se de forma brilhante, com todo  o malabarismo e animação de seu baterista Camelo e o pesadíssimo som tirado  pelo Barretinho, César e Adilson.  
               
              
            Adilson, Barretinho, César      Barreto e Camelo 
               
            Por outro lado é imprescindível também destacar o conjunto musical “Os Belgas”,  que fez muito sucesso em Fortaleza nos Anos Dourados. Formado pelo Eudes,  Edson, Ricardo e Júlio, era possuidor de um vocal muito afinado e de ótimos  instrumentistas, além de ser muito bem ensaiado e possuir um  excelente repertório. Minha homenagem  especial ao amigo Júlio, exímio guitarrista-solo do conjunto, e também apreciador  incondicional dos Beatles, como eu.  
             
            MÚSICA  - UM DOM DE DEUS 
             
            Por  circunstâncias da vida, aos 28 anos de idade, vivendo totalmente dedicado à  música,  tive que mudar radicalmente de  profissão, para uma área de atividade totalmente diversa da que eu atuava.  
               
              Em  conseqüência de um serviço que desempenhei junto ao Ministério do Trabalho,  ainda sem vínculo empregatício, como fiscal de cursos de aperfeiçoamento de  mão-de-obra, em convênios da Delegacia Regional do Trabalho com o Serviço  Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), posteriormente prestei um concurso  público realizado em âmbito nacional para o cargo de Analista de Informações.  Agradeço a lembrança dessa indicação ao meu tio Adelmar. Não sabia direito do  que se tratava, mas fiz o tal concurso e obtive êxito. Só cheguei a tomar  conhecimento de que tinha passado, cerca de um ano depois. 
               
              Ao  ser chamado, assumi de imediato o cargo de Analista de Informações do  Ministério do Trabalho, sendo lotado na Assessoria de Segurança e  Informações da Delegacia Regional do  Trabalho, no Ceará. Isto significou para mim poder trabalhar efetivamente para  o bem do Brasil e participar de uma estrutura de Inteligência muito importante  para a Nação, que era o Sistema Nacional de Informações, coordenado pelo Serviço  Nacional de Informações, o SNI. 
               
              Nessa  etapa de minha vida, inteiramente dedicada à Atividade de Inteligência, tive a  feliz oportunidade de ser chefiado pelo Coronel do Exército, Mário Ramos  Soares, naquela época já reformado . Homem justo, digno e correto à toda prova.  Dele recebi inúmeros ensinamentos teóricos e práticos para o desempenho de  nossa missão, muitos dos quais me servem até hoje no cotidiano. Ao mencionar  para o meu pai alguns exemplos de bom profissional e do caráter sempre  irretocável do Cel. Mário, o Mestre Alberto dizia que homens como ele, no  Brasil, eram uma espécie em extinção...  
               
              Por  me envolver integralmente para o bom desempenho nessa atividade, tive  praticamente que deixar a música. Pelo meu temperamento, como não podia exercer  as duas profissões ao mesmo tempo, em virtude dos horários não compatíveis,  dentre outros fatores, me senti um pouco frustrado e decidi até mesmo vender  todos os meus instrumentos musicais, para que pudesse esquecer mais facilmente.  Não sobrou em casa nem um violão, para marcar presença. O impacto inicial, com  a falta da música, foi marcante, mas foi diminuindo pouco a pouco, compensado  talvez pelo orgulho do nosso emprego, em servir à pátria de uma forma tão  importante, conforme considero. Mas no íntimo a música nunca deixou de estar  presente.  
               
              Lutei  e me esforcei ao máximo para aprender a nova profissão e assim, ser um bom  Analista de Informações. Minha dedicação foi extrema. Voltei a ler muito, como  nos tempos de infância, só que desta vez para adquirir embasamento mais  profundo, de modo particular sobre múltiplos aspectos da conjuntura regional e  nacional. O tempo foi passando e eu consegui chegar ao topo da nova carreira,  com cursos de formação e de aperfeiçoamento em alto nível  na Atividade de Inteligência. A diferença  entre as duas profissões era significativa. Se como músico eu desejava e  necessitava aparecer, fazer sucesso em todos os segmentos possíveis, como  Analista de Informações tinha que manter um comportamento reservado, peculiar à  natureza dos serviços executados.  
               
              Alguns  anos mais tarde encontrei-me com a Ana Maria Porto “Nininha”, nossa amiga de  Messejana, professora de música e regente, à qual me passou um tremendo  “carão”. Após ter comentado meu afastamento da música e de eu ter lhe explicado  os reais motivos, disse ela, sorrindo e apontando o dedo para mim: 
               
              -  Olhe, você recebeu um dom de Deus e não está aproveitando como Ele deseja. Você  ainda vai pagar caro por isso!    
               
              Aquilo  que a Nininha disse me fez refletir muito sobre o assunto. Comentei com a  Aliete, em casa, e depois de alguns dias resolvi comprar novamente um violão  para “voltar a forma”. E assim foi o recomeço. Após a aquisição desse violão,  comprei um órgão eletrônico, amplificador, microfone e... voltou tudo de novo,  com a diferença de que a música, dali por diante, teria que ser  amadoristicamente. E minha vida ficou mais completa em decorrência dessa  atitude. A Nininha estava certa e a ela eu agradeço o comentário a mim  dirigido. A música é efetivamente um dom de Deus que não pode ser desprezado. E  assim tenho feito, dentro de minhas limitações, procurando utilizar a música  como forma de lazer e de entretenimento sadio para mim, para nossa família,  amigos e colegas. Hoje em dia toda a nossa família gosta demais de música e  meus filhos Alberto Neto e Cristiane sempre que têm algum tempo cantam e tocam  violão e teclados. 
               
               O MEU GRADUAL  RETORNO À MÚSICA 
              
           
            A pós o meu desligamento da sociedade com “Os Faraós”  em virtude de meu ingresso no serviço público, passei alguns anos totalmente  afastado do meio musical, conforme falei anteriormente, mas sempre sentindo  aquele desejo reprimido, uma vontade interior de tocar novamente. Pouco a pouco  as experiências de retorno à música começaram a ocorrer.  
             
            Primeiramente formei um grupo musical, sem grandes  pretensões e sem compromissos profissionais, com três grandes amigos, Roberto  Faria da Silva (Beto Carioca), sua esposa Rinah Melo e nossa amiga Laury. Usava  a princípio um órgão Yamaha PSR 70, muito bom, e um sintetizador DX7. Começamos  a ensaiar e aprontamos um repertório de alta qualidade. Nos apresentamos em  diversas oportunidades em encontros de amigos e chegamos até mesmo a realizar  algumas funções remuneradas. Evoluímos tanto no instrumental e no repertório  quanto tecnicamente. O pessoal ficava cada vez mais afinado e aprendia  rapidamente os macetes profissionais.  
            Em  outra fase fui convidado por meu amigo César Barreto a participar do Projeto  Luiz Assunção, que consistia em apresentações públicas nas principais praças de  Fortaleza, sob patrocínio da Prefeitura Municipal. Foi uma experiência rica,  pelo contato direto com o público e repertório mais popular. Conheci outros  músicos, que acompanhavam o César, de estilos diferentes, mas todos de ótima  qualidade. Nesse período eu utilizava uma viola de doze cordas, de propriedade  do César, que possuía uma sonoridade espetacular.  
               
  O César sempre brincava  comigo, dizendo que tinha conseguido me colocar “na vida” novamente,  referindo-se à vida de músico profissional, com todas as suas dificuldades.  Sobre o César Barreto, é importante dizer que na época em que integrava “Os  Rataplans”, conjunto famoso em sua época, ele conseguia estudar para o  vestibular dentro de casa, no meio de vários ensaios simultâneos. Um músico  treinando bateria, outro tocando guitarra e ele lendo suas apostilas  calmamente. Hoje em dia é Técnico do Tribunal de Contas do Estado e professor  universitário. No entanto nunca abandonou o gosto pela música.  
   
  Com o César estive  também fazendo um programa de televisão na TV Educativa e realizamos alguns shows pelo interior do Ceará, um deles  em Crateús e outro em Campina Grande, na Paraíba. Além disso tive a  oportunidade de alguns créditos como tecladista e guitarrista, nas gravações de  dois discos por ele produzidos.  
   
  Mais à frente tive um  reencontro com o Airton França, depois de alguns anos em que não nos víamos.  Ele ficou muito entusiasmado com a idéia de começarmos novamente a tocar, por  pura diversão, e combinamos fazer uma dupla. Primeiramente o Airton comprou um  piston novinho em folha, com surdina e tudo. Recuperou a embocadura bem  depressa e logo começou a solar de novo as antigas músicas do Herbert Albert.  Alguns meses mais tarde decidimos ir a Manaus, onde eu adquiri um teclado mais  moderno e ele comprou um violão importado, tipo Ovation. Continuávamos  ensaiando. O que nos surpreendeu foi a rapidez com que o Airton desenvolveu  suas harmonias ao violão. Estudava por cifras e comprava tudo quanto era  revista que contivesse músicas novas. Na época que ele apenas era pistonista do  Big Brasa não cantava quase nada, fazendo participações vocais muito rápidas.  Em nossa recente dupla, o Airton cantava muito bem todo o repertório,  particularmente as músicas do Fagner.  
   
  Ensaiávamos umas três  vezes por semana, com bastante afinco, nos finais de tarde. De repente ele  apareceu com um amplificador novo, para que o som de retorno tivesse melhor  qualidade. Comprou também uma pedaleira, com vários pedais de efeitos. Por  muitos meses nosso grupo permaneceu firme. E eu também passei a ficar novamente  alucinado pela música.  
   
  Como o Airton viajava  freqüentemente para o Rio de Janeiro, a negócios,  pedi para que ele me trouxesse o novo modelo  do sintetizador mais famoso da Yamaha, o DX7-II, instrumento excelente e que  até hoje possuo. Com esse teclado adquiri um acessório muito interessante,  chamado de Breath Control, que tecnicamente consiste em um aparelhinho com um  bocal, interligado ao sintetizador, onde você produz um sopro que é enviado  para o gerador de áudio do equipamento, de forma que quando tocamos no teclado  o som se assemelha a um instrumento de sopro, de acordo com o timbre ou  registro escolhido.  
   
  Por último, vale  destacar os mais novos recursos musicais trazidos pela Informática, este  fascinante mundo que descobrimos há alguns anos, com seus inúmeros programas  direcionados para a música. Por curiosidade e satisfação pessoal adquirimos um  teclado, marca Roland, específico para o acionamento desses programas. Desde a  criação de melodias e harmonias, passando pela sonorização, escolha dos  instrumentos, elaboração das partituras, gravação e possibilidade de alteração  a qualquer tempo das músicas, tudo podemos conseguir facilmente através do  computador e seus softwares musicais. Tal a facilidade de operação e de  recursos que um dia consegui produzir rapidamente um playback para a minha  filha Cristiane cantar, na época em que ela estudava no Colégio 7 de Setembro. 
   
  A COMEMORAÇÃO DOS  “VINTE ANOS DE EMBALO” 
   
  Para  comemorar vinte anos de música tive a idéia de promover uma festa que se  denominou “Vinte Anos de Embalo”, com a participação de músicos do Big Brasa e  do conjunto “Os Faraós”. A festa, amplamente divulgada através da imprensa  local, foi realizada no Balneário Clube de Messejana, no dia 09 de julho de  1988, e obteve pleno sucesso, tanto assim que foi seguida por mais outra,  semelhante, poucos meses depois.   
   
  A  iniciativa dessa promoção foi muito bem acolhida por todos. O objetivo  principal da realização desse evento, para mim, foi o de reencontrar amigos da  época, músicos ou não, além de registrar tudo aquilo em áudio e vídeo, pelas  facilidades que temos hoje para, de certo modo suprir a ausência de gravações  em vídeo dos tempos mais antigos.    
   
  Havia  um entusiasmo e, ao mesmo tempo, um sentimento de saudade por parte dos que  participaram efetivamente daquela vivência musical. Por outro lado, grande  expectativa  e animação dos mais jovens,  nossos filhos e seus colegas, que ansiosamente desejavam ver seus pais atuando  no palco de novo. 
  O  jornal “O Povo”, em edição de 09 de julho de 1988, na coluna Saudosismo,  publicou uma extensa matéria sobre o evento,  sob o título “Os Embalos da década de 60”. 
   
  A  referida nota afirmava: 
   
   “No  final dos anos sessenta dois grupos musicais eletrizavam a juventude cearense  com suas participações nas festas que animavam nos mais diversos locais. Eram  Os Faraós e o Big Brasa., que em suas exibições, além dos sucessos da época,  tinham como base um repertório pautado nas composições dos Renato e seus Blue  Caps, The Beatles e Rolling Stones. Após duas décadas dessa efervescência alguns  dos ex-integrantes dos dois grupos voltam a tocar e cantar juntos, na  perspectiva de relembrar momentos dançantes passados e atuais. A primeira de  uma série que se intitula “Vinte Anos de Embalo” vai acontecer hoje”...  
 
  Nesta reportagem,  seguindo-se aos comentários sobre os diversos aspectos musicais daquele  período, há um trecho da entrevista concedida por mim ao repórter, na qual  afirmei:  
   
“  Foi uma experiência bem vivida. Tocávamos com todos os artistas que se exibiam  no programa do Augusto Borges. Eu fazia a seleção dos calouros e por meu crivo  passaram entre outros Mardônio, Maria Zenáide e as irmãs Lena e Leda. Esta  última se tornou depois a “Miss Lene”. Acompanhamos muitas vezes o Jorge Mello,  o Belchior e o Ednardo, com quem chegamos até a defender uma música – Beira-Mar  -  num festival em Recife”.  
 
Mais  adiante, na mesma nota, procurei traçar um paralelo com as músicas e grupos  atuais fazendo a seguinte colocação:  
 
“Hoje  em dia falta melodia nas músicas. São meio brutas, onde a harmonia não é lapidada  adequadamente. Isso não existia nas músicas do Renato e seus Blue Caps. As  composições dos Beatles nem se fala, pois eles usavam mais romantismo e  trabalhavam bem melhor os arranjos”. Ao final, a publicação informa que os  ingressos para os “Vinte Anos de Embalo” serão limitados e que do show participarão várias pessoas que  viveram intensamente nos palcos a época da Jovem Guarda. 
 
Entre  eles Edson Girão (voz e guitarra), Luciano Franco (contrabaixo) e João Ribeiro  - Beiró (teclados), como os três ex-membros do Big Brasa; Luisinho (guitarra e  voz), Sebastião (vocal e contrabaixo), Vicente (guitarra e vocal) e Antônio  (bateria) pelos Faraós. Ainda a presença de Roberto Carioca (cantor), Rinah e  Laury (cantoras). 
               
              A  promoção foi um sucesso e obteve ampla repercussão em Fortaleza. Todos os seus  objetivos foram plenamente alcançados, dentre eles o principal, ou seja, o de  realizar uma confraternização com todos aqueles que participaram daqueles bons  tempos.  
               
              Outra  matéria sobre o evento foi escrita pelo Luiz Antônio e publicada no jornal  Tribuna do Ceará, edição de 08 de julho de 1988. 
               
                 "It was twenty years ago today, Sargent  Peppers taught the bend to play." (Foi  há vinte anos atrás que  Sargento Pimenta ensinou sua banda a tocar). Com essa frase os Beatles lançavam  em abril de 1967, o seu sétimo e mais controvertido LP na Inglaterra, o Sargent  Peppers lonely Hearts Club Band, com toda uma revolução sonora e poética. 
                                 
                Em Messejana no mesmo mês surgia, de um  grupo de jovens apaixonados por toda e exuberante enxurrada de inovações da  época, o Conjunto Musical Big Brasa, bem inscrito dentro dos padrões vigentes  da jovem guarda. Composto por João Ribeiro, Carlomagno, João Dummar Filho,  Marcos Oriá e Severino Tavares, usando equipamentos feitos aqui mesmo pela  banda “Os Rataplans”, que com caixinhas de som primitivas de seis watts de  potência, resolveram inaugurar no Ceará   a tal estrada do rock, hoje  tão difundida em outros grupos.  
                 
                Tendo como prefixo a música And I Love Her, dos  Beatles, o Big Brasa logo passou a introduzir inovações no cenário musical  local, que eram privilégios dos grandes centros. Em um curioso paralelismo, as  bandas pioneiras e músicos de Heavy Metal, como Rolling Stones, Jimmy Hendrix  Experience, Cream, com o Eric Clapton, introduziam efeitos como a distorção,  obrigatória em toda banda metaleira, o wah-wah, e outros recursos, e o Big  Brasa não deixava por menos: os adotava em seus bailes para  consternação dos mais velhos, com ouvidos  “nelsongonçalveanos”, e para a excitação da moçada”. E continuava, referindo-se  a um “Coroa muito doido”, dizendo:  
                 
“... O mais interessante era que o mentor  de toda a história era um senhor de quase cinquenta anos, maçom, de nome  Alberto Ribeiro da Silva, que além de dar   uma força e  orientação para a  moçada, mandando “sentar o pau no rock”,  ainda se deslumbrava com os sucessos dos Beatles, como Help, Hello Good Bye e  Boys, ou então com Satisfaction, Jumpin Jack Flash e Under My Thumb, dos  Rolling Stones, essa última sua predileta. 
               
              Com um vigor de fazer inveja a muito gatão  de hoje em dia, ele se entusiasmava quando o rock fervia no palco, incentivando-o como um regente. Roqueiro de  cabeça feita, exigia que a turma abrisse o gás, o que a garotada cumpria com  muito gosto. Pode-se dizer que este avançado senhor, eternamente jovem, foi uma  das peças incentivadoras do rock aqui  no Ceará, quando ainda era uma coisa muito “revolucionária”.  
               
“E pasmem - ainda chamava os seus amigos e  companheiros de geração que torciam o nariz ante a barulheira de seus pupilos  de "caretas e quadrados" e os espinafrava com uma irreverência de  fazer inveja ao próprio John Lennon. Nem é preciso dizer que o Big Brasa  inteiro adorava o Mestre Alberto,  como ele era carinhosamente chamado. Em 1968, no auge do movimento hippie, o Big Brasa aumentou sua tonelagem  sonora com equipamentos avançadíssimos para a época, e músicos como o Peninha,  Lucius Maia, Adalberto Pereira, Edson Girão, Luciano Franco, Edi, Joãozinho,  Lurdinha, passarem a compor o dinâmico plantel do Big Brasa, que  inclusive acompanhou e fez arranjos para os  primeiros shows do cantor e  compositor Ednardo, bem como inspirou, em primeira instância, o guitarrista  Manassés, um dos melhores do mundo, mas que na época, assistia aos solos do  João Ribeiro (Beiró) no Maranguape Clube com um brilho de admiração no olhar.  Após anos ligado ao Programa Estúdio 2 e ao Show do Mercantil,  na extinta - TV Ceará, o Big Brasa debandou  em 1977”. 
               
              O REENCONTRO DA SAUDADE 
               
               Passados praticamente trinta anos do  início desse maravilhoso período, restam as agradáveis lembranças de tudo que  ocorreu em nossa vida musical. Hoje, por iniciativa de meu amigo Luisinho  Magalhães, nosso pessoal (músicos,  filhos, parentes, amigos e apreciadores), está se reunindo uma vez por ano,  preferencialmente na primeira quinzena de janeiro, para tocar juntos e matar as  saudades daqueles tempos maravilhosos e inesquecíveis. 
               
              A primeira participação de músicos do Big Brasa  nesse reencontro anual foi em 1997, na residência do Sebastião Magalhães. Nessa  oportunidade tocamos bastante, até altas horas da madrugada. O pessoal fez um  churrasco, em paralelo e foi agradável, super-divertido. Algumas pessoas  fizeram registros em vídeo dos colegas e dos músicos em plena ação  e  nossas famílias reuniram-se para rememorar tudo novamente.  
               
              Seguem-se algumas  fotografias do reencontro de janeiro de 1997. 
             
              
             
              Abaixo,  Vicente, João Ribeiro, Luiz Antônio 
e Lucius, afinando o vocal 
              
            Lucius  Maia, Luisinho Magalhães e Luiz Antônio, relembrando as músicas dos Beatles 
            OUTRAS FOTOS DO REENCONTRO DA SAUDADE - ANO  1997 
   
 Lucius, Edi, João Ribeiro e Luiz Anotônio - Vicente, Sebastião e Luisinho 
 
     Por último, fotografia tirada no  encontro de janeiro de 1988 no Recreio Clube de Campo, dentre outros amigos  figuram o Adalberto, Luiz Antônio, Chico “Ronnie Von”, Edson Girão, Júlio,  Ricardo, Lucius, João Ribeiro e Fernando. 
 
  
  
João Ribeiro da Silva Neto   
(Beiró) 
           
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