Um passeio pela história de Fortaleza

 

 

 

A Avenida Dom Manuel é uma das mais antigas da Capital, traçada no século XIX. É o início de um passeio pelo tempo, em busca da Fortaleza de bangalôs, lambrequins e ornatos. Mas o caminho torna passagem para um trânsito nervoso

 

 A Avenida Dom Manuel, beirando o Centro de Fortaleza, é uma das mais antigas da Capital. Surge como Boulevard, feito um horizonte da cidade, no plano urbanístico de 1875 - idealizado pelo engenheiro Adolfo Herbster. O tabuleiro de Herbster - considera o arquiteto José Capelo Filho, no livro Guia Arquitetônico. Fortaleza-Centro (2006) - mantinha a concepção xadrez do engenheiro Silva Paulet, indo adiante: “Ampliava-lhe o traçado para além de seus limites de então e criava, seguindo a orientação francesa do prefeito de Paris, o Barão de Haussmann, três bulevares, situados nas atuais avenidas Imperador, Duque de Caxias e Dom Manuel”. Mas o que poderia ser, hoje, um passeio por essa bela época, torna-se apenas caminho para um trânsito nervoso, desperdiçando-se a sombra generosa dos oitizeiros.

 

Sobrou quase nada da Fortaleza de bangalôs, sobrados, casarões, lambrequins, ornatos, sacadas, terraços, quintais, mansardas, balaústres, platibandas, muretas... O charmoso Boulevard, misto de pista larga e paisagismo, só existe nos livros de memórias da metrópole.

 

Da nascente, na Avenida Monsenhor Tábua, à desembocadura, na Avenida Aguanambi, vivem a Igreja da Prainha e o seminário homônimo, as escolas públicas Visconde do Rio Branco e Clóvis Beviláqua. Quarteirão por quarteirão, O POVO registrou séculos demolidos ou desfigurados.

 

Muitas casas perderam cores e ganharam o tom do asfalto e do vandalismo. Armaram-se com grades e cercas em espiral. Lacraram as janelas-quase-portas. Transfiguraram-se em clínicas, churrascarias, pousadas, kitinetes, lava-jatos, assombrações. Calaram o Clube do América, desfolharam a praça das esculturas.

 

Raridades

 

Algumas conservam fachadas, curvas e geometrias e merecem contemplação. No quarteirão entre as ruas Costa Barros e Pereira Filgueiras, por exemplo, ainda há muros baixos e jasmins. Mas é preciso disposição para descobrir essas raridades em uma cidade de arranha-céus. Em bairros que narram a história de Fortaleza - como Centro, Aldeota, Benfica e Jacarecanga -, boa parte dos bangalôs e do charme da Capital existe, agora, nos livros.

 

Em Mansões, Palacetes, Solares e Bangalôs de Fortaleza (ABC, 2000), Marciano Lopes preserva as “casas de grande porte”, feitas sob medida para a cidade-grande: “Foi quando as rústicas telhas de barro, produzidas nos arredores, passaram a ser substituídas pelas delicadas telhas de Marselha e até por ardósia importada da França. Da Inglaterra vinham as louças sanitárias. Portugal mandava, entre outros atavios, as pinhas, os jarrões, as estátuas e os ladrilhos de fainça. Algumas casas utilizavam até madeiras européias e o precioso e agora raro pinho de Riga servia para assoalhos, portas, janelas e bandeirolas”.

 

Em sua volta pelo tempo a reportagem busca as décadas de 1920 a 1970, impressas em mansões e palacetes de dois dos primeiros bairros da Capital: Jacarecanga e Aldeota.

 

A Avenida Dom Manuel é batizada com o nome do primeiro arcebispo de Fortaleza. O baiano dom Manoel da Silva Gomes (1874-1950), conta o escritor Rogaciano Leite Filho (A História do Ceará Passa por esta Rua. EDR, 2002), fundou o jornal O Nordeste, criou o Círculo de Operários Cristãos e determinou a demolição da antiga Sé para a construção da atual Catedral (a partir de 1939), entre outras realizações que marcaram a história local.

 

A avenida já se chamou Boulevard Conceição (em referência à Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha), Boulevard Dom Manoel e Avenida Dom Luiz. Foi ainda o número 19, em 1890. E compunha o antigo bairro do Outeiro da Prainha.

 

PARA ANDAR EM FORTALEZA

 

Bairros como Centro, Benfica, Aldeota e Jacarecanga ainda figuram como endereços de casarões, chácaras e bangalôs. Para descobri-los, em um passeio a pé, siga estas orientações.

 

Use protetor solar, roupas leves e boné/chapéu. A temperatura local atinge, facilmente, os 30º.

 

Cuidado ao caminhar por calçadas e pelo canteiro central das avenidas. Há muito desnível.

 

Atenção ao atravessar as ruas. O trânsito é intenso, e os motoristas costumam não respeitar os pedestres.

 

Evite exibir máquinas fotográficas e filmadoras, bem como outros objetos de valor.

 

 

Fonte – O Povo

 

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