Faça do seu filho um aluno nota 10

 

 

 

Famílias com dificuldades diferentes e um objetivo em comum: educar seus filhos para que superem adversidades e tornem-se alunos exemplares.

 

No Brasil não faltam motivos para os pais se preocuparem com a educação dos filhos. O censo escolar de 2008, realizado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) MEC, mostra que a maioria dos jovens não conclui os estudos. Em 2008, enquanto o Ensino Fundamental registrou 32 milhões de matrículas, o Ensino Médio somou apenas 8,4 milhões.

 

Há uma série de problemas que vêm minando a educação no país: destinação insuficiente de verbas públicas, despreparo e má qualificação de professores, metodologias de ensino ultrapassadas, burocracia, falta de manutenção das escolas e ausência de equipamentos tecnológicos. Ainda assim, alguns alunos se destacam em meio a este assustador panorama da educação e conseguem ser bem-sucedidos. Serão eles mais inteligentes? Ou terão alguma característica misteriosa que lhes dá vantagem?

 

Muitos estudos demonstram que os indicadores mais sólidos de êxito nos estudos – mais do que renda e status social – estão relacionados ao ambiente familiar e ao envolvimento dos pais. Uma compilação de estudos realizada pela Fundação Itaú Social ano passado concluiu que o contexto familiar é responsável por 70% do desempenho escolar dos alunos; os outros 30% seriam da escola e professores.

 

Educação começa em casa

 

A operária Noemi Fassini, 43 anos, mora com os filhos Paula e Luís Paulo, de 17 e 14 anos, em Imigrante (RS), cidade com pouco mais de três mil habitantes. A filha mal completara 1 ano de vida quando Noemi se separou do marido. Luís Paulo é filho de um segundo relacioamento, que também fracassou. Os três vivem numa casa de sala e dois quartos, financiada pelo programa de casas populares da prefeitura a famílias de baixa renda. Noemi já foi costureira, mas hoje ganha a vida fazendo faxina e trabalhando à noite numa fábrica de sabão. Sua renda mensal é de R$ 700. Mas os percalços da vida de Noemi não impediram que seus filhos se destacassem na escola.

 

O caçula ficou em primeiro lugar na prova de duplas da Olimpíada de Matemática de Lajeado (RS), que reuniu, em 2008, mais de dez mil estudantes da 8ª série. No ano passado, Paula conciliou o estudo nos turnos da tarde e da noite com o trabalho doméstico e de babá na casa de uma tia, pela manhã. No fim do ano, teve duas formaturas: concluiu o ensino médio numa escola pública estadual como uma das melhores alunas da turma e também um curso técnico na área de vendas. No início de 2009 a jovem se classificou em 13º lugar no vestibular da Univates, também em Lajeado. Dos 1.860 inscritos, apenas 173 se classificaram.

 

“Sempre disse aos meus filhos que o estudo era a única coisa que ninguém jamais poderia tirar deles. Todo dia dou uma passada em casa na hora do almoço para cobrar as tarefas da escola”, con¬ta Noemi, que estabeleceu regras básicas com o intuito de preparar os filhos para a vida. “Ao chegar da escola eles dividem alguns serviços domésticos, depois sen¬tam-se para estudar, e, por último, podem ir brincar. E a hora de ir para a cama não passa das dez e meia.”

 

Amigos da Leitura

 

A sala da casa da família Fassini tem uma TV antiga, presente de parentes. Mas Noemi, que sempre gostou de ler, criou uma diversão melhor para os filhos quando eles ainda eram pequenos: instituiu o Dia da Leitura. “Economizava para comprar livros, ou os pedia emprestados na biblioteca local. Uma vez por semana nos reuníamos na sala e um de nós tinha de recontar o que havia lido”, relembra.

“Criar uma atividade prazerosa com o livro é ótima receita para desenvolver o hábito da leitura nas crianças. Elas percebem que, com os livros, podem fazer descobertas e sentir emoções diferentes”, explica Zoara Failla, gerente de projetos do Instituto Pró-Livro, que já integrou a Secretaria de Educação de São Paulo.

 

Sempre presente nas reuniões de pais, Noemi se lembra das únicas duas vezes que recebeu recados da professora a respeito do comportamento do filho. “Ele deixara de fazer os deveres. Fiquei chateada. Como vai se virar na vida sem estudar?”, disparou na época.

 

A bronca surtiu efeito. Em maio de 2007, Luís Paulo ganhou a admiração dos moradores da cidade por uma iniciativa inédita. Ao ser nomeado vereador mirim, eleito pelos colegas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio, onde estudava, criou o projeto Amigos da Leitura. Luís idealizou uma logística para facilitar a vida dos trabalhadores: estudantes voluntários fariam o empréstimo dos livros e os levariam até os leitores em seus locais de trabalho. Eles também se responsabilizariam pela devolução dos exemplares.

 

O projeto foi aprovado pela Câmara dos Vereadores e ganhou apoio da prefeitura, que cede veículos para que os voluntários possam fazer o transporte dos livros. Hoje 480 trabalhadores de confecções e operários das indústrias química, metalúrgica e de laticínios recebem livros mensalmente.

 

Como educar seu filho

 

Há quatro anos, Juliana Campos da Silva, uma adolescente de Franca (SP), foi uma das 18 selecionadas, entre dois mil estudantes do Ensino Médio da rede pública, para participar de um intercâmbio promovido pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. O grupo passou 15 dias naquele país e chegou a ser recebido pela então primeira-dama Laura Bush, na Casa Branca. No último dia 23 de janeiro, a universitária – que hoje cursa Ciências Sociais na USP e trabalha como voluntária numa escola pública lecionando Inglês para crianças carentes – embarcou de novo para os Estados Unidos para ficar cinco semanas. Desta vez, ganhou uma das 20 bolsas de estudo, disputadas por 500 universitários brasileiros, do programa de imersão cultural na Universidade do Tennessee, em Knoxville.

 

A dona de casa Irlene Campos Silva, mãe de Juliana, diz que as conquistas da filha começaram cedo. “Quan¬do ela estava na 8ª série, ficou em 2º lugar na Olimpíada de Física. É uma menina corajosa, até competição de natação ela venceu”, orgulha-se Irlene, mãe também de Vinicius, 18 anos, apaixonado por Informática. “Não tive condições de aprender inglês, mas sempre achei importante o domínio do idioma. Fizemos sacrifício para que a Juliana frequentasse um curso a partir dos 11 anos. No início ela achou difícil, mas se dedicou bastante. Foi tão bem que ganhou bolsa integral nos últimos três anos, dos sete de duração do curso”, conta a mãe, que deixava de comprar eletrodomésticos e móveis para investir em livros e cursos para os filhos.

 

O aposentado Antoninho Malta da Silva, pai de Juliana, reconhece que foi um disciplinador rigoroso. “Minha filha já estava crescidinha, mas a gente não a deixava sair muito, nem dormir fora. Cheguei a mentir para parentes; não queria que viessem aqui em casa e tirassem a concentração dela nos estudos”, conta. A hora certa de dormir e o tempo cronometrado em frente à TV eram regras inegociáveis. “Não queria que a TV se tornasse um hábito. Preferia que assistissem a programas educativos, como Castelo Ra-tim-bum.” Olhando para trás, Juliana admite que o jeito exigente do pai a ajudou a ter determinação para superar dificuldades e alcançar objetivos. “Na época não era fácil ver minhas colegas indo ao shopping e eu ali em casa, estudando. Às vezes tinha medo de estar perdendo tempo. Mas aí pensava no que meu pai dizia: ‘Se você realmente quer algo, não pode sair como todo mundo.’ Hoje não me arrependo de ter acreditado que a educação é o caminho para a gente melhorar”, reconhece a universitária.

 

Filhos e pais aprendendo juntos

 

Wanderlúcia Pereira Barreto sabia que algo estava errado. Sua filha, Jéssica, de 12 anos, aluna do 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola particular do Rio de Janeiro, sempre tirara notas excelentes. Recém-formada em Letras e professora particular de Português, Wanderlúcia estranhou a queda no desempenho da filha em Matemática e as constantes queixas da menina na hora de resolver os exercícios. A mãe visitou a escola para conversar com a professora, mas não conseguiu descobrir o motivo da queda no rendimento e falta de concentração da filha na hora de estudar.

 

Wanderlúcia decidiu então estudar Matemática com a filha nos oito meses seguintes. Toda noite, ao voltar da faculdade, ela se sentava com Jéssica por duas horas. “Tive de estudar Álgebra e Geometria para ajudá-la”, confessa. Não demorou muito para que várias colegas de turma, também precisando melhorar as notas, recorressem às aulas de Wanderlúcia. “Nos fins de semana que antecediam às provas a casa ficava cheia. Cheguei a dar aula para quatro crianças da mesma turma de Jéssica”, relata a professora, mãe também de Matheus, de 5 anos, que neste ano ingressa na classe de alfabetização (CA).

 

Jéssica conseguiu passar com nota 8,0 em Matemática, e 9,0, em Geometria, a melhor média entre 22 alunos da turma, que teve um terço em recuperação. As quatro colegas tiraram notas suficientes para escapar da reprovação. “As médias de Jéssica sempre ficaram acima de 8,5. Quero que ela esteja preparada para entrar numa escola técnica federal. Nota 6,0 para mim é mediana demais, para não dizer medíocre”, desfere Wanderlúcia. “Os pais não precisam se tornar professores, mas é preciso ficar atento quando se percebe que um educador não está dando conta do recado”, complementa.

 

Um costume bem simples aproxima Wanderlúcia da rotina das crianças. “Assim que elas chegam da escola sentamos para conversar. Dessa forma consigo colher reflexões sobre o que aprenderam, do que mais gostaram, e das dificuldades que sentiram”, explica a professora particular, que abre mão de trabalhar fora em tempo integral para “ficar de olho” na educação dos filhos.

 

Fonte – Revista Seleções  





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