“A VOLTA DOS ANOS 60 COM BEATLES E ROLLING STONES”

 

 

 

 

Tribuna do Ceará, 08 de julho de 1988 (transcrição na íntegra)

 

Dizia a nota: “Amanhã, a partir de 22 horas, no Balneário Clube de Messejana, os Conjuntos Big Brasa, Os Faraós, estarão revivendo a saga roqueira dos Anos 60, executando sucessos dos Beatles e dos Rolling Stones. Com sintetizadores DX-7, Poly-800 e Yamaha e guitarra Gibson, apenas o que há de mais atual, João Ribeiro (teclados), Luciano Franco (contrabaixo), Luiz Duarte (bateria), Edson Girão (cantor), Laury, (cantora), farão Big Brasa. Luisinho (guitarra), Sebastião (baixo), Antônio (bateria) e Vicente guitarra) farão Os Faraós, com uma participação de Luiz Antonio, cantando alguns rocks pauleira.

 

 

“I Was twenty years ago today Sargent Peppers taught the band to play” (Foi há vinte anos atrás que Sargento Pimenta ensinou sua banda a tocar). Com essa frase os Beatles lançavam em abril de 1967 o seu sétimo álbum e 0 mais controvertido LP. Na Inglaterra o Sargent Peppers Loney Hearts Blub Band. Com toda uma revolução sonora  e poética.

 

EM MESSEJANA

 

Em Messejana surgiu no mesmo mês de um grupo de jovens apaixonados por toda a exuberante enxurradas das inovações da época, o Conjunto Musical Big Brasa, bem inscrito nos padrões vigentes da Jovem Guarda, João Ribeiro (Beiró), Carlomagno (Carló), João Dummar Filho, Marcos Oriá e Severino Tavares, usando equipamentos feitos aqui mesmo pela banda Os Rataplans, com caixinhas de som primitivas de seis watts, resolveram inaugurar no Ceará a tal estrada do rock, hoje tão difundida em outros grupos.

 

Tendo com o prefixo “And I Love Her”, O Big Brasa logo passou a introduzir inovações no cenário musical local, que eram privilégios dos grandes centros. Em um curioso paralelismo, as bandas pioneiras de Heavy Metal, como Rolling Stones, Jimmy Hendrix, Experience, Cream, com o Eric Clapton, introduziam efeitos como a distorção, obrigatória em toda banda metaleira, o wah-wah, e outros recursos, e o Big Brasa não deixava barato: os adotava em seus bailes para consternação dos mais velhos com ouvidos “nelsonçonçalveanos”, para excitação da moçada.

 

UM COROA MUITO DOIDO

 

Apesar de  João Ribeiro (o guitarrista-solo Beiró) ser o fundador do Big Brasa, o mais interessante era que o mentor de toda a história era um senhor de quase cinquenta anos, maçon, contador da Ceará Motor na época, de nome Alberto Ribeiro da Silva, (foto ao lado) que além de dar uma força e orientação na moçada, mandando “sentar o pau no rock”, ainda se deslumbrava com os sucessos dos Beatles, como Help. Hello Good Bye, Boys ou então a pauleira dos Stones, como Satisfaction, Jumpin Jack Flash, e Under My Thumb, esta última sua predileta.

 

Com um vigor de fazer inveja a muito gatão de hoje em dia, ele se entusiasmava quando o rock fervia no palco incentivando-o como um regente roqueiro de cabeça feita. E exigia que a turma abrisse o gás, o que a garotada cumpria com muito gosto. Pode-se dizer que este avançado senhor, eternamente jovem, foi uma das peças incentivadoras do rock aqui no Ceará, quando ainda era uma coisa muito revolucionária, e pasmem: ainda chama seus amigos e companheiros de geração que torciam o nariz ante a barulheira de seus pupilos de “caretas e quadrados” e os espinafrava com uma irreverência de fazer inveja ao próprio John Lennon.

 

Nem é preciso dizer que os componentes do Big Brasa adoravam o “Mestre Alberto”, como era carinhosamente chamado. Ele nos deixou em abril de 2001 mas sempre estará vivo na memória de todos que o conheceram e admiraram.

 

Em 1988, no auge do movimento hippie, o Big Brasa aumentou a tonelagem sonora com equipamentos avançadíssimos para a época e músicos como o “Peninha”, Lucius Maia, Adalberto Pereira Lima, Edson Girão, Luciano Franco, Edir Bessa, João “Lennon”, Lurdinha, passaram a compor o revezamento e dinâmico plantel do Big Brasa, que inclusive acompanhou e fez arranjos para os primeiros shows do cantor e compositor Ednardo, e inspirou em primeira instância, o guitarrista Manasses, um dos melhores do mundo, mas que na época assistia aos solos do João Ribeiro (Beiró) no Maranguape Clube, com um brilho de admiração no olhar. Após anos ligado ao Programa Studio 2 e ao Show do Mercantil, da extinta TV Ceará, Canal 2, o Big Brasa debandou em 1977.

 

OS FARAÓS

 

Por volta do final da década de 60, dois irmãos (Sebastião e Vicente Magalhães) se uniram ao então quase imberbe Luisinho (um dos reis da noite de Fortaleza) e Antonio, e ao lado de Mardônio, hoje com sucessos discográficos, e Chico “Ronnie Von”, montaram os Faraós, que passaram a arrasar os salões de baile com suas execuções fiéis ao Beatles, Rolling Stones, Steppenwolf, Led Zepellin, Bee Gees e outros.  Ao lado do Monkeys, dos Belgas (com Kúslio Serra – guitarrista) e do Conjunto Big Brasa elas faziam o quarteto da paulada roqueira da cidade, arrepiando a rapaziada e arregimentando as gatinhas para perto do palco e para subsequentes jogos igualmente harmônicos nos recessos do clube ou alhures. Estava plantada a semente roqueira no Ceará!”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Exibir capítulos do livro sobre o Conjunto Big Brasa