Família e dinheiro: como superar os problemas financeiros?

 

 

 

Um popular ditado brasileiro sobre dinheiro diz que "ele não traz felicidade, mas acalma os nervos". Outro ditado semelhante sobre o tema afirma que o "dinheiro a mais nunca é de menos".

 

O que para alguns é uma verdade absoluta, já que viver sem preocupações financeiras e boas condições materiais de vida trazem benefícios à saúde mental da família, para outros nem sempre é verdadeiro, pois a felicidade de um casal nem sempre está atrelada exclusivamente ao montante de dinheiro que possuem.

 

"O dinheiro influenciará qualquer família quando, em tempos de crise (desemprego, reveses financeiros), ela não se une e não dialoga entre seus membros no intuito de buscar soluções. Nesses momentos de recessão econômica na família, estar alinhado com objetivos coletivos voltados para a mais rápida superação contribui para que casais e filhos se mantenham juntos e fortalecidos por valores que vão além de bens materiais, ainda que estes sejam importantes também", opina a psicóloga Valéria Meirelles.

 

Essencialmente, o dinheiro pode influenciar a vida das pessoas de várias maneiras, quando há falta, excesso ou brusca mudança do padrão financeiro para padrões mais altos. De acordo com as histórias que viveram ou o contexto de vida, ele pode ser utilizado de forma destrutiva ou construtiva, ou seja, nem sempre é o problema, mas também nem sempre é a solução.

 

Quer saber mais sobre como a família pode enfrentar os problemas financeiros, sem que isso se torne um problema até mesmo de saúde para todos os envolvidos? Confira a entrevista completa com a psicóloga e entenda por que o dinheiro acaba mexendo tanto com a cabeça das pessoas em tempos de crise.

 

Além de uma crise familiar, uma má situação financeira pode levar a problemas de saúde?

 

Sim. Crise é crise em qualquer situação e pede novas organizações e entendimentos de vida. A má situação financeira pode ser considerada um estado permanente ou passageiro no sistema. Devemos ter claro que cada família tem seu próprio mundo econômico e, quando este é abalado, pode potencializar problemas preexistentes, gerando conflitos e outros problemas, como a depressão de um ou vários membros, assim como alcoolismo e outros vícios, em casos extremos. O que se observa com mais frequência são estados de ansiedade, irritabilidade, preocupação e tristeza.

 

Em geral, é a forma como cada sistema enfrentará a situação que resultará ou não em graves problemas emocionais, valendo aqui o aprendizado familiar, as crenças e valores dados ao dinheiro, bem como as formas aprendidas em relação ao enfrentamento de crises, incluindo a financeira.

 

Problemas financeiros podem afetar a vida sexual de um casal?

 

O sexo, que pede maior intimidade, acaba sendo prejudicado de várias formas, desde a diminuição da frequência das relações, até a queda na qualidade e falta de libido, que culminam no afastamento sexual do casal. Em casos extremos, nos homens, a impotência sexual é a metáfora perfeita da impotência diante da perda financeira e do poder advindo do dinheiro. Na verdade, problemas financeiros geralmente remetem a perdas e perder dinheiro, especialmente numa sociedade de consumo como a nossa, além de gerar medo, insegurança e caos, repercute também na sexualidade do casal.

 

Em sua tese de doutorado, o que foi possível observar no comportamento de homens e mulheres em relação ao dinheiro e à família?

 

Tivemos várias semelhanças e diferenças. Porém, para a nossa surpresa, as diferenças foram "menores" do que imaginávamos e estão mais relacionadas aos períodos de vida e estado civil, independentemente do sexo. Por exemplo: fiz aos participantes a seguinte pergunta: "O que fariam se ganhassem um milhão de reais?". Tanto homens quanto mulheres, na maioria, comprariam uma casa ou ajudariam a família, mostrando a centralidade da mesma na vida dos brasileiros. A semelhança apareceu também em relação à privacidade, pois tanto homens quanto mulheres preferem não falar tanto de dinheiro, especialmente os(as) casados(as) e divorciados(as).

 

E as diferenças?

 

As mulheres, mais do que os homens, associam gastar e presentear ao aprendizado familiar, o que pode ser entendido como parte da educação de gênero, que enfatiza mais a importância do cuidado com os outros para elas. Elas também gastam mais do que os homens com vestuário e estudos, independentemente do período de vida adulta em que se encontram. Em relação aos estudos, temos que as mulheres são mais exigidas profissionalmente, necessitando constantemente de aprimoramento para continuarem rompendo algumas barreiras sexistas, o que explica o maior investimento do que os homens.

 

Quanto a vestuário, isso se explica porque metade da amostra (50,3%) tinha filhos e marido, ou seja, as mulheres compram roupas para a família, o que é facilmente observado na prática. Ao mesmo tempo, são mais exigidas que os homens em termos de aparência física, o que faz com que gastem mais com roupas. Na parte de saúde, as mulheres divorciadas também gastam mais, indicando provável efeito da sobrecarga de responsabilidades e gastos destas em relação ao cuidado com a família.

 

Em relação a formas de pagamento, elas parcelam mais viagens, roupas e acessórios, eletrodomésticos e móveis, reforçando a idéia de que o dinheiro feminino é o dinheiro do bem comum, que pode ser usado em lazer e benefícios para todos, conforme já havia observado nas mulheres de meu mestrado sobre mulheres, família e carreira.

 

Em relação aos investimentos, as diferenças ficaram marcantes: os homens são mais arrojados, enquanto elas são mais conservadoras. Uma das explicações tem a ver novamente com a educação de gênero, bem como com a diferença salarial entre eles e elas, que recebem, em média, 25% abaixo do salário dos homens para cargos semelhantes.

 

Para os homens, a centralidade do dinheiro mostrou-se evidente nos vários períodos do ciclo vital, o que representa que os mesmos são culturalmente mais cobrados em termos de aquisição de bens materiais, diferentemente das mulheres, que se sentem inseguras em relação ao mesmo.

 

O que pode ser feito pelo casal em uma situação de crise financeira?

 

Uma crença popular diz que um amor e uma cabana não combinam, o que é verdade para muitos casais. Sabemos que o dinheiro é uma metáfora de muitos sentidos, especialmente nos casamentos. Quando duas pessoas se unem, levam consigo, além de seu próprio "mundo pessoal do dinheiro", modelos familiares e crenças que se perpetuam por gerações. Na crise financeira, especialmente, há grandes chances de dois mundos e duas famílias entrarem em colapso, abrindo espaço para críticas, acusações e cobrança de dívidas afetivas.

 

Mais do que nunca o casal, se ainda não encontrou o jeito dele, o "mundo conjugal do dinheiro", terá que enfrentar as diferenças, conversar e criar estratégias para sair o quanto antes da crise financeira. Deve também buscar ajuda especializada de orientadores financeiros, além de psicoterapia.

 

O casal precisará também de muita paciência, tolerância à frustração e amor para não se deixar abater pelos problemas que perdas financeiras invariavelmente impõem. E, acima de tudo, conversar muito. Há inúmeros estudos mostrando que a qualidade da relação do casal, especialmente a capacidade de se comunicar, faz a diferença na resolução de conflitos, principalmente os financeiros. Isso evita inúmeras acusações e desrespeitos desnecessários, além de agilizar o caminho da solução de problemas. Como conseqüência, muitos casais dão novo significado à relação, passam a olhar o outro com olhos otimistas e se "recasam" no mesmo casamento, mas mais fortalecidos.

 

 

Fonte – Idmed

 

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