A história do Messejana Esporte Clube e outras lembranças de Messejana

 

 

 

 

Entrevista com Dodô

 

O Portal Messejana, com o objetivo de registrar os bons momentos esportivos de Messejana entrevistou um de seus ótimos jogadores, o “Dodô”, como é conhecido. Na conversa ele revelou detalhes interessantes sobre o futebol mais antigo de Messejana e outras curiosidades.

 

Em um clima descontraído, Dodô me recebeu de forma muito educada e gentil em sua residência e recordou de fatos que merecem estar para sempre guardados e ficarem para conhecimento dos mais jovens. É a nossa história, a nossa memória, o nosso passado, as nossas lembranças.

 

Os fatos abaixo ocorreram em um período que Messejana era tranqüila, o clima excelente, não havia violência e o distrito recebia indicações até para o tratamento de algumas doenças, pelo seu clima, tranqüilidade e paz. As pessoas podiam ficar nas calçadas à noite sem serem importunadas e assim o faziam. Os nossos agradecimentos pela acolhida do atleta Dodô e pelas informações prestadas ao Portal Messejana.

 

FRANCISCO DE ASSIS VIEIRA XAVIER – O “DODÔ”

 

Francisco de Assis Vieira Xavier - conhecido como Dodô - é o nome do ex-jogador e ídolo de muitas pessoas aqui em Messejana.

 

Dodô nasceu em 8 de maio de 1938 e está, portanto, com 70 anos. Pesa 64 quilos e tem 1,70m de altura. Nunca bebeu e nem fumou em sua vida. Suas maiores paixões, conforme fez questão de afirmar, sempre foram namorar e jogar futebol.

 

Casou-se em 1959 e tem seis filhos. Diz que tem muitas lembranças agradáveis e que, “apesar de não ser rico” é muito feliz, arremata com sua simplicidade.

 

Como jogador do Messejana e posteriormente do Salgado da Gama (que será motivo de outra reportagem do Portal Messejana) Dodô diz que foi muito aplaudido por fãs e pela torcida em geral, como também seus colegas de time.   

 

O CAMPO DO MESSEJANA

 

A fundação do Messejana Esporte Clube deu-se em 28 de setembro de 1935, conforme Dodô. O ex-jogador do Messejana guarda até hoje boa parte da documentação e contabilidade do time, em anotações feitas em cadernos, por ele cedidas pelo Sargento Válter.

 

O Campo do Messejana inicialmente era totalmente aberto, local onde os jovens daquela época (anos 50/60) jogavam suas partidas de futebol sempre animadas. Posteriormente foi cercado por varas de marmeleiro e por último de palha. E algum tempo depois murado, como se encontra até hoje.

 

Conforme Dodô, a sociedade de Messejana freqüentava o “estádio”, ou melhor, o então Campo do Messejana. E o pessoal se vestia às vezes de paletó e gravata, a exemplo de como também o faziam quando nas festas no Balneário Clube de Messejana.

 

A CONSTRUÇÃO DO CAMPO DO MESSEJANA

 

Os próprios jogadores e amigos do Messejana ajudaram a cercar o campo, dentre eles, conforme lembrou Dodô: Miguel, Rômulo, Zé da Senhora, Sérgio, Luís Carlos, “Bodinho”, Edilson, Hélio, Pitita (*), Dodô e Leonel.

 

(*) Pitita era o artilheiro do time e chegava a uma média de 40 gols por temporada.

 

O FUTEBOL COM ERA DISPUTADO ANTIGAMENTE

 

Ao falar do futebol de sua época, Dodô afirma que “o futebol no Messejana e no Salgado da Gama era disputado por todos com amor e prazer e aqueles que jogaram nesses times se sentiam realmente felizes”.

 

“REMUNERAÇÃO ZERO”

 

Os jogadores não recebiam salário para jogar. O faziam por amor ao time e ao futebol. Era assim pura paixão pelo esporte. E ainda contribuíam com cotas, sempre que podiam, na aquisição de material esportivos e em outras despesas que se faziam necessárias à manutenção de seu time.

 

A DIRETORIA DO MESSEJANA ESPORTE CLUBE

 

Na época a diretoria do Messejana tinha como Diretor-Presidente, os senhores Nil Alencar, de tradicional família messejanense, João Almeida, Sargento (Sgt.) Wálter, João Alencar, José Barros, Paulo Benevides, Antonio Gadelha, Eurico, Zé Almeida e Ivan Oriá.

 

Dodô, ao exibir uma das fotografias que guarde como recordação, lembrou da formação do time de 1948 do Messejana, um dos primeiros:

 

Os jogadores de 1948:

 

Zé Almeida – Chico Almeida – Bodinho – Zé da Senhora – Alípio – Ivan Oriá – Assis Nunes – Miguel Badi – Moacir e Sargento Valter.

 

    

Formações do Messejana em 1948

Messejana Esporte Clube - 1948

Entre os anos de 1956 até 1960 Dodô fez parte do Messejana Esporte Clube, como ponta-esquerda. Afirma o ex-integrante do Clube que naquele tempo o futebol era feito de amizade e sinceridade. Os jogadores realmente “vestiam a camisa” do time, como diz o ditado e quando o Messejana perdia uma partida havia choro mesmo. O pessoal ficava sentido pelo amor que sentiam pelo Messejana.

O uniforme do Messejana sempre teve as cores azul e branco. O time, com toda a garra que os jogadores possuíam, participava de muitos intermunicipais e semanalmente contratava times de fora para jogar no Campo do Messejana. Era a prática daquele tempo. A diretoria fazia contato com outros clubes e acertava a quantia para o deslocamento e o jogo no próprio campo. Sabe-se que em 1942 o Messejana enfrentou o América Futebol Clube, do Rio do Janeiro, no dito campo do Messejana.

 

AS DIVERSÕES DA MOÇADA

 

A mesma turma que formava o time do Messejana Esporte Clube vivia na pracinha de Messejana, jogando em um campo chamado “Campo do Padre Pereira”, que ficava ao lado da Igreja.

 

À noite as mocinhas jogavam basquete no patamar da Igreja e os jogadores, como eram todos amigos, assistiam as partidas e todo o pessoal se entrosava muito bem. Os torcedores do Messejana eram numerosos.

 

Outros divertimentos do pessoal era freqüentar o Bar do João Almeida (perto da praça central), onde as conversas sobre tudo fluíam sempre. E também assistir filmes no CINE MESSEJANA, com as namoradas e as paqueras. O prédio onde funcionava este cinema foi recentemente demolido.  

 

Nos finais de semana todo mundo se encontrava para os banhos na Lagoa de Messejana, a qual, diferentemente do que hoje ocorre, era freqüentada pela sociedade messejanense em peso.

 

DOIS FATOS MARCANTES

 

Com a namorada

 

Dodô relembra um fato que marcou sua vida e ainda hoje lembra. Ele namorava com uma garota chamada Eliane, que tinha vindo de Aquiraz para morar em Messejana na casa de parentes.

 

Em um dia de domingo foram ao cinema. Ele, a namorada e os tios e primos de Eliana. Durante o filme o casal de tios, que não estava assistindo o filme, se desentendeu por algum motivo e foi para casa, que ficava perto do antigo matadouro de Messejana. Após a sessão terminar Dodô deparou-se com sua namorada em verdadeiro pânico, pois teria que retornar para casa sozinha, em virtude dos costumes da época. E o caminho que tinha para percorrer era longo e perigoso.

 

Então ele, Dodô, disse para a namorada:

 

- o que aconteceria se você retornasse para casa com seu irmão?

 

Ao que ela respondeu:

 

- nada, sem problemas. Então Dodô asseverou:

 

- Então faça de conta que sou seu irmão. E os dois foram até a casa da garota. Lá chegando Dodô de certa forma demonstrou sua insatisfação pelo fato das primas e tios terem esquecido ou mesmo deixado Eliane sozinha.  

 

Uma lição de segurança

 

Em 1958, quando tinha 19 anos, Dodô morava sozinho e tomava conta de uma pequena bodega. Perto de onde hoje funciona COELCE. Lá os amigos o procuravam, às vezes a partir das 21 horas. Ele acordava e servia umas doses de cana para aqueles que preparavam suas noitadas ou simplesmente atualizavam as conversas. Ficava cansado em muitas ocasiões, mas como comerciante tinha que atender os clientes...

 

Uma noite, mais ou menos às 12 horas, quando já se encontrava dormindo, foi acordado por uma pessoa que batia à sua porta. Abriu e se deparou, segundo ele, com um “negão” que lhe pediu “uma caninha” e uns cigarros. Perguntou depois se ele morava só, se tinha arma em casa, além de outros questionamentos. Ao final, sem se identificar, o forasteiro disse para ele:

 

Moço, “nunca abra a porta sem saber o nome da pessoa e nem reconhecer a voz, esse é um conselho que lhe dou”... E após pagar sua despesa foi embora sem mais falar. Foi segundo Dodô uma lição de segurança que trás até hoje em toda sua vida. Lição esta válida principalmente hoje em dia, com a violência que convivemos nas grandes cidades.

 

AS FESTAS TRADIDIONAIS DA IGREJA

 

Mas as melhores coisas daquele tempo, segundo Dodô, ficavam por conta dos festejos de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Messejana. Com leilões animados, quermesses, turma amiga e diversão sadia. Havia as rainhas dos Partidos Encarnado e Partido Azul, que disputavam a preferência da sociedade por sua formosura durante todo o período festivo da Igreja.

 

A Missa do Galo figurava como principal tradição. Com respeito os fiéis se aglomeravam para assistir as celebrações de final de ano da Igreja.

 

Dodô ressaltou que “não se pode esquecer o Padre Pereira”, segundo ele apesar de ser um pouco carrancudo o seu coração era de ouro e sua vida foi dedicada à Messejana e aos seus moradores. Arremata Dodô dizendo que “ele sempre fazia tudo por Messejana”...

 

LOCAIS PITORESCOS DE MESSEJANA

 

O jogador Dodô fez questão de relembrar os locais mais pitorescos daquele período. Dentre eles destacou:

 

         - BAR DO JAIME CÂNCIO

         - GARAPEIRA DO PEDRO (na pracinha)

         - MERCADINHO (Mercado de Messejana)

         - SEU ALFREDINHO (loja que tinha tudo)

         - PADARIA DO PORTUGUÊS  (hoje Panificadora Nogueira)

         - FARMÁCIA DO SEU NETO

         - FARMÁCIA DO SEU ROCHA

         - FRANCISQUINHA LUCAS (armarinho que também vendia de tudo).

         - LOJA DO SEU ORIÁ (vendia tecidos)

 

FAMÍLIAS TRADIDIONAIS DE MESSEJANA

 

Dodô relaciona como as principais famílias tradicionais de Messejana:

 

         - ALENCAR

         - MATOS DE FREITAS

         - ORIÁ

         - PEREIRA

         - BENEVIDES

 

CURIOSIDADES

 

Brinca Dodô ao dizer que em Messejana as coisas eram diferentes e o pessoal de fora estranhava, ao chegar. Por exemplo:

 

- Quando alguém perguntava onde colocar gasolina a resposta vinha de imediato:

 

- Na Padaria (porque na Padaria Nogueira havia uma bomba de gasolina e o abastecimento era feito ali, como um posto.

 

- E quando alguém perguntava onde poderia almoçar o pessoal informava:

 

- Na Farmácia. (O Seu Neto vendia marmitas e os hoje conhecidos com pratos feitos.

 

A ANTIGA BR-116

 

A estrada que ligava Fortaleza à Messejana de 1945 a 1960 era de calçamento e possuía uma única pista, com duas mãos. O trajeto demorava de 1 a 2 horas. O asfalto só chegou em 1960/1961.  A duplicação é bem mais recente, por volta dos anos 1977-1981.

 

AS EMPRESAS DE ÔNIBUS

 

 A empresa de ônibus era de propriedade do Sr. Badi. Posteriormente vendeu para o Dr. Hugo e depois foi vendida para o Sr. Paulo Benevides, qua a administrou por muito tempo. Um dos motoristas mais conhecidos na época, segundo Dodô, era o “Tio Zé”, como as crianças e jovens o chamavam. O Zé Bitu. Ele recebia sempre o ônibus mais novo que a empresa adquiria, por possuir muita calma, ter perícia ao volante, paciência e habilidade. Por isso mesmo sempre ganhava este privilégio. Não se envolveu em nenhum acidente. Os passageiros mais apressados, sempre diziam ao Tio Zé, brincando: “borá, Tio Zé, tira o pé do freio”... E riam, dizendo que o Tio Zé só dirigia com o pé no freio. Um craque do volante e da paciência que merece o nosso respeito.

 

APELIDOS NA MESSEJANA ANTIGA

 

A moda era apelidar. Alguns ficaram na história, como o Lúbi-Lúbi, o Má Conduta, o “Todo Fei”, o Mala Véia, “Trola, “Colobri”, Zé Caveira, Cabecinha e por aí vai...

 

Vale dizer que sobre este último, o Cabecinha (que era coveiro do Cemitério de Messejana) bebia muito e uma das vezes que o Delegado foi falar com ele sobre suas farras, respondeu:

 

 - “Dr. Delegado, se o senhor me prender eu me solto em algum tempo, agora se eu prender o senhor, ninguém tira não”... Ou seja, se ele enterrasse o Delegado este não saia mesmo...

 

A MUDANÇA DE DODÔ PARA O SALGADO DA GAMA

 

Após um desentendimento ocorrido entre a diretoria do Clube, em 1962, quase todos os jogadores do Messejana deixaram o Clube e após algum tempo, com a ajude de outro grupo de messejanenses, vieram a fundar o SALGADO DA GAMA, que por sua vez foi um dos rivais mais combativos do próprio Messejana, após a recuperação do Clube.

 

Vale dizer, conforme Dodô, que os jogadores participavam ativamente das reuniões das diretorias dos clubes, pelo amor que tinham ao esporte e aos próprios times.

 

Dentre os jogadores que deixaram o Messejana no dia dessa reunião e acompanharam o Sr. Jáder Alencar na fundação do Salgado da Gama, figuraram: Zé da Senhora, Sérgio, Luís Carlos, Edilson, Pitita e Hélio.

 

A estréia do Salgado da Gama foi no Campo do VOLANTE, time de futebol da localidade de JABOTI.

 

Em breve outra reportagem com a história e fatos que marcaram a existência do Salgado da Gama.

  

Time do Messejana - Dia  6/10/1958, em  Iguatu/Ceará

 https://www.portalmessejana.com.br/messejana.php



Exibir todas as matérias de Messejana