O Padre Pereira e a Jovem Guarda

 

 

 

 

Em 1966, o movimento musical Jovem Guarda contagiava toda a juventude brasileira e no caso da mocidade de Messejana não podia ser diferente. Só faltava um detalhe - levar o novo ritmo ou estilo, como queiram, ao Balneário Clube de Messejana, até então um reduto da música caribenha e dos boleros e samba-canções da vida.

 

Para que isso tivesse efeito, um grupo de jovens messejanenses se reuniu para fundar o Clube do Iê-Iê-Iê, que era como se denominava a novo tipo de música executada por conjuntos de jovens cabeludos tocando guitarras estridentes e que era dançada com as casais separados, o famoso dançar solto como se diz.

 

A estratégia combinada passou a ser a seguinte: por ocasião das tertúlias do Balneário, a moçada chegava toda de uma vez, colocava na vitrola um sucesso do iê-iê-iê, invadia o salão e começava a dançar para espanto dos diretores do clube que achavam esquisito aquela dança separada com o "macharal" tudo cabeludo, de calcinha justa, rebolando sem encostar nas meninas, sei não... Isso sem contar, a barulheira que ninguém entendia nada, segundo eles, e as moças começando a usar saia no meio da coxa, a famosa minissaia. Que é que está acontecendo com a nosso mocidade, era a indagação da perplexa diretoria do clube.

 

Bom, o impacto foi imediato, e é lógico que as resistências localizadas começaram a surgir. Ninguém atrapalhava, mas ficava aquele clima de nariz torcido, por parte da diretoria do Balneário. Até que surgiu a idéia brilhante e salvadora- Vamos chamar o Padre Pereira para conhecer o iê-iê-iê, de repente ele aprova aí a diretoria se aquieta.

 

Marcado o dia, eis que o Cônego Francisco Pereira, vigário da Paróquia de Messejana adentra o Balneário Clube de Messejana, em uma noite de tertúlia, para ver a moçada se rebolando no pop rock. Reverentemente recebido, por nós, pela diretoria se derretendo em gentilezas e boas-vindas e devidamente paramentado com uma batina de cor creme, o Padre Pereira se colocou a beira do salão para apreciar os jovens filhos de Messejana dançando esse tal de iê-iê-iê.

 

Eis que a vitrola soltou o sonzão da Jovem Guarda esquiando até nas águas plácidas da lagoa, o que faz com que o Padre Pereira abrisse um largo, benevolente e divertido sorriso, para dar o clerical e esperado veredito: "Ora, veja, cabra. ah, ah, ah. O negócio é bem animado, né? Tem até uns passos muito bem feitos e tudo me parece bem comedido. Gostei e aprovo, isso é coisa da mocidade, vocês têm mais é que aproveitar."

 

A partir a diretoria do Balneário, disse amém à benção do vigário ao iê-iê-iê, botou a viola no saco e a pra guitarra tocar, e a coisa rendeu frutos. Meses depois, o Conjunto de Iê-iê-iê os Rataplans, tocava numa matinal do Balneário merecendo rasgados elogiosos do discotecário e membro da diretoria do Balneário Cláudio Amorim, e no início do ano seguinte o Conjunto Big Brasa (foto ao lado, com Severino, João RIbeiro (Beiró), Lucius Maia, Adalberto Lima e Edson Girão) formado por rapazes de Messejana, debutava no Balneário.

 

Quanto ao Padre Pereira, ele passou a permitir e incluir sucessos da Jovem Guarda na radiadora da igreja, de modo que a trilha sonora das programações e convites de missa passou a ser os Beatles, os Rolling Stones, o Roberto Carlos e por aí vai, o que colocou o nosso vigário bem à frente de sua época, o que fez com que o bom padre fosse oportuna e carinhosamente lembrado como um vigário que como eu, amava os Beatles os Rolling Stones.  

 

 

Luiz Antônio Alencar - músico (eterno-Big Brasa) e jornalista.

  

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