Paupina: um pé no interior e outro
na cidade grande

 

 

 

O Mosteiro de São Bento foi favorecido pelo bucolismo predominante. É muito indicado para aqueles que buscam tranquilidade e momentos para o exercício da religiosidade. Com uma lagoa e sítios remanescentes, o lugar destaca-se pela atmosfera rural, apesar do rápido povoamento

 

Se a Messejana foi um lugar que atraiu as ordens religiosas, em busca de paz e oração, o mesmo vem se repetindo com a Paupina. Parte do bairro tem uma nova denominação: São Bento. A mudança foi resultado da influência de seus recentes moradores: os monges beneditinos, instalados desde 1992.

 

"Pedimos para que mudassem o nome, porque havia muita confusão com a parte alta do bairro. Alguns diziam que se tratava de território de Fortaleza e outros, de Eusébio, mais precisamente a localidade de Coaçu. Foi aí que achamos que havia a necessidade de precisar a localidade onde estávamos nos instalando", afirma o monge João Miguel Menezes. Para os moradores mais antigos, a mudança de nome, estabelecida por Decreto Municipal de 18 de dezembro de 2008, não foi ideia das mais felizes.

 

O vice-presidente da Associação dos Moradores da Paupina, Kim Lopes, afirma que todo o carisma do bairro reside em suas tradições e em boa parte da natureza preservada, especialmente nos sítios, que ainda demarcam as terras da região.

 

Herança

 

O povoamento indígena, segundo Kim Lopes, é uma realidade e não deve ser usado como desculpa para privilégios e, muito menos, para descaso com a comunidade local. O bairro mantém áreas verdes e tradições indígenas, favorecendo a contemplação e a gastronomia herdada dos primeiros habitantes.

 

Se por um lado, atraiu congregações religiosas, como a Ordem dos Beneditinos, e abriga o primeiro mosteiro no Ceará; por outro, faz parte do roteiro turístico da Cidade para quem quer conhecer um hábito alimentar que tem a cara do povo cearense, a tapioca.

 

Rudimentar

 

Mesmo com essa diversidade de atrativos, Paupina não é um bairro novo. Em muitos aspectos, sua infraestrutura rudimentar faz com que lembre muito mais um pequeno lugarejo do Interior. Há grandes rampas de lixo, ruas sem pavimentação e espaços públicos estão sendo ocupados por sem-terra.

 

A ideia da mudança do nome é uma questão menor para os monges, postulantes e mais ainda para os moradores, que participam das missas dominicais. Na verdade, são esses rituais litúrgicos que conferem mais magnetismo ao bairro.

 

As missas dominicais, conforme informa o prior dom Beda Pereira de Holanda, começam pontualmente às 10 horas. O rito é acompanhado de cantos gregorianos. Há também celebrações diárias às 5h40. "Fazemos questão de receber a população e dar nosso exemplo ministerial. Por isso, somos uma congregação sem cláusula e os monges tanto rezam quanto trabalho", afirma o Irmão Miguel.

 

Há problemas sérios para a comunidade se preocupar. A líder comunitária, Maria Gorete Alves, lamenta que o lugar tenha sido esquecido pelo poder público. "A Paupina era uma região restrita a sítios. Hoje, há um grande número de condomínios, conjuntos residenciais e a infraestrutura urbana não acompanhou o crescimento".

 

Comércio

 

O bairro é o sétimo em tamanho na Capital. Tem quase oito quilômetros quadrados e cerca de 21.500 moradores. Os terrenos ainda são pouco povoados, por ser uma área na saída da Cidade. Mas tem muita gente que guarda uma longa história do bairro. O comércio é muito limitado, com alguns mercadinhos e lojinhas voltados para a comunidade local.

 

A Feira da Paupina começou há pouco mais de oito meses. São barracas que vendem de tudo um pouco. Lá, é possível encontrar de roupas a frutas e verduras. No entanto, de acordo com Maria Gorete Alves, há uma demanda muito maior na área e que deveria ser mais bem assistida, inclusive com mais postos de saúde, escolas, creches e áreas de lazer. Hoje, a lagoa é um lugar pouco explorado pelas pessoas do lugar.

 

Tapioqueiras

 

Gastronomia marca tradições do bairro

 

Nada é mais representativo no bairro do que as tapioqueiras. Já pensaram em retirá-las do lugar, localizado na Avenida Barão de Aquiraz, mas o zelo pelo tradicional faz com muitas mulheres ainda se mantenham lá. É o caso da tapioqueira Maria do Socorro Pereira da Silva. Ela toca o trabalho que o pai, João Inácio da Silva, começou, há mais de 70 anos.

 

"Já houve convite para a gente ir para o Centro das Tapioqueiras, na CE-040, ou Avenida Washington Soares. Mas aqui é o nosso canto e a grande referência do nosso trabalho culinário", afirma Maria do Socorro. O pai dela foi o primeiro a vender tapioca em frente de casa. Para os moradores, essa é a Paupina Baixa e onde fica a lagoa.

 

As edificações rudimentares ainda estão mantidas, em contraste com as instalações modernas, construídas ao lado da Estrada do Fio, em Messejana.

 

Falta área de estacionamento. Contudo, Socorro diz que nenhuma das dificuldades têm sido o bastante para afastar sua clientela. "Muitos vão ao Centro, mas depois vêm para cá. A tradição fala mais alto", afirma, orgulhosa, a tapioqueira.

 

Outro atrativo do bairro é a lagoa, que faz parte de um conjunto que inclui a de Messejana e a da Precabura, já nos limites da Messejana com o Eusébio. Ao contrário de muitos mananciais localizados no perímetro urbano da Capital cearense, a Lagoa da Paupina é pouco frequentada e até desconhecida pela maioria dos fortalezenses.

 

Fonte – DN

 

O Portal Messejana realizou entrevista com Dom Beda e produziu fotografias do Mosteiro de São Bento. Clique aqui para ler na íntegra.

 

Fotos do Mosteiro de São Bento, pelo Portal Messejana

Mosteiro de São Bento

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