Artesanato - Renda gera renda em Beberibe

 

 

 

O artesanato cearense se manifesta de várias formas, com arte e criatividade. Em Beberibe, os destaques são rendas, bordados e garrafas com areia colorida.

 

Homens e mulheres de Morro Branco viraram artesãos de areia e renda e mostram muita sensibilidade para criar elementos diferenciados que surgem na arrumação da areia, na habilidade na ponta da agulha e no tilintar dos bilros. As atividades crescem com o turismo e geram renda para algumas comunidades das regiões litorâneas.

 

Em Beberibe, 60 pessoas integram a Associação dos Artesãos de Morro Branco - Areia e Renda. Muitos deles exibem seu trabalho ao vivo e comercializam no Centro de Artesanato Professor José Edir Ribeiro, inaugurado pela Prefeitura de Beberibe em junho de 2008. O equipamento tirou os artesãos da rua, mas o prédio apresenta algumas dificuldades de funcionamento, que eles esperam serem corrigidas pela nova administração.

 

 

 

A associação é presidida por Raimundo Nonato Rodrigues da Costa, que trabalha com areia colorida e prefere chamar a arte de ciricografia. Rodrigues diz que a areia colorida é responsável por 70% da economia de Morro Branco. A entidade tem parceria com o Sebrae, que os leva para eventos e feiras. O Centro de Artesanato tem 60 boxes, mas nem todos estão ocupados. Alguns artesãos trabalham em casa.

 

Embora a arte seja exercida por homens e mulheres, em Morro Branco a atividade está bem definida. Os homens são maioria na areia e as mulheres se dedicam ao bordado, renda e labirinto. Ser mulher rendeira é uma forma de gerar renda e preservar uma tradição que já não desperta o interesse da juventude. Segundo a artesã Maria Paula, que produz peças de labirinto, a renda não passa mais de mãe para filha. Ela não vê continuidade do trabalho, exercido atualmente apenas por pessoas de mais de 50 anos. Maria Paula diz que o labirinto e a renda são tradicionais em Morro Branco. Ela faz labirinto e ponto de cruz, enquanto sua vizinha Cleide da Silva faz renda em pequenas peças - blusas e toalhinhas de bandeja. A comercialização é boa nos períodos de alta estação para 15 mulheres que preservam a tradição da mulher rendeira, tema do baião do Zé do Norte, gravado pelos ´Demônios da Garoa´. ´Olé, Mulher Rendeira, Olé mulhé rendá, Tu me ensina a fazer renda, qeu eu te ensino a namorá´.

 

Areia colorida

 

As falésias do litoral Leste serviram de inspiração para o trabalho artesanal de areia colorida em pequenos e médios recipientes de vidro. A criatividade não tem limite e o processo evolui com novas técnicas. Depois de criar paisagens, alguns artesãos aderem à prática do retrato e colocam seus ídolos nas garrafas. É o caso de Mailson Cruz, que reproduziu a foto do cantor Raimundo Fagner e agora está fazendo o empresário português José Teodoro, que está construíndo um hotel na Tabuba do Morro Branco.

 

Com o mesmo propósito de evolução, o artesão Davi Alves de Miranda, que trabalha no Hotel Parque das Fontes, reproduziu foto do humorista Zé Modesto e mostra habilidade em logomarcas, brazões, escudos de times de futebol, cavalos e buggy. Davi faz o seu mundo colorido com as areias e diz que a profissão garante o sustento da família.

 

Mestre dos mestres, Davi Miranda é natural do Rio Grande do Norte e veio para o Ceará em 1981. Descobriu as areias coloridas em Majorlândia e aprendeu a arte com Toinho Carneiro, artista que faz esculturas de areia em tamanho natural. Davi chegou em Morro Branco em 1984, quando o trabalho ainda era rudimentar. O pessoal usava cola para fazer o desenho. Ele é pioneiro no tingimento da areia e produção de paisagens.

 

Morro Branco e Praia das Fontes têm um cenário de falésias de areias coloridas. A variedade é de 12 cores naturais, existentes principalmente no labirinto, hoje protegido por lei. Com a proibição de retirada da areia, foi liberada uma área com areia branca, que ganha cores artificiais para a produção artesanal.

 

Além da areia e da garrafa ou taça, o artesão utiliza fio de cobre ou palito, uma pequena concha e uma pá feita com aro de panela. São produzidos jarros, cinzeiros, chaveiros, porta-velas e peças para decoração. Com suaves traços e contornos, o artesanato de areia colorida traduz a criatividade do cearense em forma de paisagens, imagens religiosas, gente e outros símbolos do imaginário popular. (Edgony Bezerra).

 

FIQUE POR DENTRO

 

Renda bilro fez um longo caminho

 

A renda de bilro surgiu no século XV, na Itália. Anos depois, a arte do rendado chegou à França, invadindo a Corte do Rei Luís XIV e os centros produtores de Portugal. Com a colonização portuguesa e a forte presença açoriana, esta arte chegou ao Brasil, em Santa Catarina. Até hoje, as mulheres que ´trocam bilros´ concentram-se na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. A atividade chegou ao Nordeste e resiste ao tempo com boa aceitação.

 

O material utilizado é o mesmo desde o princípio: fios, bilros de madeira, almofada cilíndrica, alfinetes e cartões furados. Nas almofadas redondas, recheadas com palha de bananeira, a rendeira aplica o ´molde´, riscado e marcado por alfinetes ou espinhos, e vai elaborando o seu trabalho com um emaranhado de linhas, habilmente conduzidas pelos bilros.

 

Tilintando os bilros em movimentos rápidos e precisos com as mãos, as rendeiras vão pacientemente transformando as linhas em delicadas peças de rendas. Os bilros são pequenas bobinas de madeira, feitas por artesãos.



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