Quando o WhatsApp vira o paraíso dos chatos

 

 

 

Com o título “WhatsApp: o refúgio dos chatos”, eis artigo do jornalista e sociólogo Demétrio Andrade. Ele comenta essa moda que invadiu redes sociais, que é o papo via WhatsApp. Fala das maravilhas e dos problemas dessa ferramenta, que vem afastando o bom papo. Confira:

 

“Uma moda se abate sobre os seres humanos na contemporaneidade: o WhatsApp. Uma alternativa de comunicação gratuita, rápida e de qualidade que todo “bicho de orelha” que possui um smartfone pode utilizar. Contraditoriamente, porém, esta maravilhosa alternativa de comunicação está gerando tanto soluções quanto problemas.

 

O teórico Marshall McLuhan, nos anos 1960, ao elogiar o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação de massa, à época tendo a televisão como principal paradigma, falava em “retribalização da aldeia global” pela recuperação da “oralidade”. O canadense criticava a comunicação pela escrita, que, segundo ele, seria um “meio frio”, que não permitia a total interação entre os participantes.

 

Pois bem. Indo por esta linha, o whatsapp vai no sentido inverso. O hábito de sentar e conversar face a face, falar mal da vida alheira e outros que tais vêm apanhando para as mensagens instantâneas. Restaurantes, igrejas, salas de aula e até nossa antes indefectível mesa de bar vêm sendo bombardeadas pela escrita à distância.

 

Sem modernismos ou nostalgias, acho uma falta de respeito, num local de contínua necessidade de integração humana, seja de convivência familiar, de trabalho ou de estudo, pessoas não prestarem atenção ao que se diz. Deixa-se de atender a pessoa que está à nossa frente para responder uma lista enorme de solicitações. Quando há grupos então, é uma desgraça.

 

Nesta nova mídia, amplificada exponencialmente pelas redes sociais, reaparece uma velha categoria de seres humanos extremamente incômodos: os chatos. Eles são encorajados pela possibilidade de divulgar as besteiras que “pensam”, guardando uma grande distância regulamentar dos críticos e, ao mesmo tempo, sem precisar justificar sua “argumentação”, que envergonharia o mais inocente dos muares.

 

O chato do whatsapp não fez curso de noção. Gente que você conheceu ontem já se acha no direito de lhe enviar mensagens de madrugada durante a semana, sábado à noite e domingo de manhã bem cedo, fazendo questão de contar “novidades” tão urgentes quanto a descoberta da América por Colombo.

 

Destilam frases feitas, jargões, mensagens de autoajuda, preconceitos, erros de português, piadas sem graça da época do Costinha, problemas pessoais – do chifre à liseira –, a música nova do Jorge Vercilo, orações poderosas do Padre Marcelo Rossi e críticas políticas tão profundas quanto uma lâmina de barbear.

 

O que é pior: muitas vezes exigem que você responda prontamente, de preferência reconhecendo uma suposta genialidade ou pertinência dos seus comentários inconvenientes e tão significativos quanto a cueca nova do Wesley Safadão. Simplesmente não dá. O limite do suportável é ultrapassado um sem número de vezes.

 

Como profissional da comunicação, também sou usuário. Mas só lanço mão desta mídia – assim como qualquer outra – quando de fato é preciso. Caso contrário, ela deixa de ser um auxílio para se tornar um encosto, na expressão mais negativa da palavra. Minha esperança é que as pessoas passem esta fase de fascínio o mais rápido possível e coloquem este instrumento em seu devido lugar.

 

* Demétrio Andrade -  Jornalista e sociólogo.



Exibir todos os artigos