Um passeio pelos 291 anos de Fortaleza

 

 

 

 

Muitos fortalezenses vêm descobrindo, nos últimos anos, o prazer de vivenciar a cidade. Em meio a esse sentimento crescente de pertencimento, resgatar a história da Capital, que completa 291 anos, pode ajudar a entender sua configuração atual e mostrar caminhos de como o futuro pode ser planejado.

 

A Fortaleza que conhecemos hoje começou a se formar em 1654, em torno do forte Nossa Senhora de Assunção, após os holandeses serem expulsos e, somente em 1726, tornou-se uma vila. O historiador e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Sebastião Ponte, explica que a cidade virou a capital do Estado apenas em 1923.

 

Até 1923, Fortaleza era pouco desenvolvida, pois ficava longe das áreas produtoras da província e os produtos não eram exportados. Na época, até meados do século XIX, Aracati, Icó e Sobral eram os principais centros urbanos do Ceará. “Até aquele período, o perímetro central de Fortaleza mal chegava aos limites do que é hoje as avenidas do Imperador, Duque de Caxias e D. Manoel”, diz o docente.

 

Já o processo de modernização da Capital começou por volta de 1860, quando houve uma grande exportação de algodão através do porto de Fortaleza e não mais por Aracati, Camocim e Acaraú. O dinheiro conquistado com o algodão foi investido para melhorar a infraestrutura de Fortaleza que ganhou equipamentos e serviços modernos para a época.

 

“As crianças daquela época usavam chapéu. Era tradição naquela época”

Nirez

“Comerciantes fortalezenses enriqueceram com os negócios do algodão, construíram mansões e sobrados que a cidade ainda não tinha e fundaram os primeiros clubes elegantes da urbe. A cidade ganhou equipamentos e serviços urbanos modernos como bondes, telefone, telégrafo, calçamento, cafés afrancesados, mercado de ferro importado da França, asilo para loucos, Santa Casa, fábricas, lojas refinadas, Passeio Público, praças remodeladas, cinema, eletricidade, automóveis e teatro”, esclarece Sebastião Ponte.

 

O jornalista e historiador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, explica que o primeiro plano que mexeu radicalmente com Fortaleza foi feito por Adolfo Herbster em meados do ano de 1864. Na época, três estradas saiam de Messejana, Caucaia e da Parangaba e chegavam à Praça do Ferreira. O plano de Adolfo transformou os traçados das ruas da cidade em xadrez como é até hoje e dissolveu as vias existentes. “Quando o Adolfo criou tipo xadrez, esses quadrados como hoje é, a estrada que vinha de Caucaia morreu na Praça São Sebastião. A de Messejana chegou ao Parque da Liberdade e se dissolveu. A que vinha da Parangaba também, chegava ali nas caixas d´água”, conta Nirez.

 

Fortaleza de belle époque

 

A euforia europeia, principalmente da França, influenciou a Fortaleza do fim do século XIX para início do século XX. Foi neste período, denominado de belle époque, que ocorreram mudanças urbanas e urbanísticas que remodelaram a cidade e afetaram o modo tanto de viver como de sentir da população.

 

“O tecido de linho branco era muito usado por todos. O tecido era comportado e o branco amenizava o calor”

Nirez

O docente da UFC revela que esta época caracterizou um momento no qual uma nova ordem sócio-urbana surgia. Esta, segundo ele, era elitista, excludente, civilizatória e normatizadora e se assemelhava às mudanças que muitas capitais brasileiras passaram. “Elitista e excludente porque só houve belle époque para as elites e seu raio de ação circunscreveu-se às áreas em que essas elites moravam/trabalhavam/divertiam-se; esses belos tempos não contemplam a maioria da população, muito pelo contrário”, explica.

 

Sebastião Ponte diz ainda que essas alterações datadas da belle époque se estendem até os dias atuais, porque a cidade continua social e urbanamente desigual.

 

“Esse conjunto de novos valores e padrões sociais, comportamentais e urbanos foi o início da modernização de Fortaleza que chega até nossos dias. Basicamente, a cidade continua social e urbanamente desigual: há áreas nobres habitadas por ricos e classes médias altas dotadas de serviços públicos com bom funcionamento e com equipamentos de primeiro mundo, e há muitas áreas com baixa qualidade de vida, pois assoladas por precários níveis de moradia, saúde, lazer e saneamento”, pondera.

 

Bairros que contam a história da Capital

 

Os limites territoriais da Fortaleza de antigamente são muito parecidos com os de hoje. Segundo o historiador Nirez, o que ocorreu ao longo dos anos foi o desmembramento dos bairros e a anexação de Messejana e Parangaba, que inicialmente eram cidades, depois foram transformadas em distritos, até virarem bairros.

 

Bairro Damas. “No caminho de Porangaba, na altura do riacho, existia um convento das Irmãs das Damas. Ali o bairro era conhecido assim”

Nirez

Conforme Nirez, no início do século XX existia um grande problema com o lado oeste do Riacho Pajeú e a Capital crescia e se desenvolvia no lado leste do riacho. Nesta região, tinha o Outeiro da Prainha, que é onde fica o Seminário da Prainha e o Centro Cultural Dragão do Mar. Naquela época, era um local populoso, com pequenas indústrias e alguns comércios.

 

Já a Praia de Iracema começou a ser desenvolvida a partir dos anos de 1920. De acordo com o historiador, antes desta data, o bairro era habitado por pescadores que tinham suas casas. “Eles não tomavam banho de mar, iam vender na cidade o pescado. Passamos a descobrir o mar no fim da década de 20”, conta.

 

Com o passar dos anos, Nirez revela que começaram a ser construídas pontes sobre o Riacho Pajeú e o outro lado começou a se desenvolver. Ele diz que o bairro e a Avenida Santos Dumont nasceram com a construção de um colégio que veio depois a ser ocupado pelo prédio do Colégio Militar. “A partir da década de 1930, o bairro Santos Dumont passou a ser chamado de Aldeiota, uma pequena aldeia. Depois, os ricos foram para lá e tiraram o i, virando Aldeota”, afirma.



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