Missa pelos 412 anos de fundação da Paupina, aldeia que deu origem a Messejana

 

 

 

 

No dia 8 de Março foi celebrada uma Missa pelos 412 anos de fundação da Paupina, aldeia que deu origem a Messejana. Este ano também marca os dez anos em que a Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Messejana, foi presenteada pelo Governo Regional dos Açores com uma Coroa e a Bandeira do Divino Espírito Santo. Sobre a real data de fundação de Messejana existem controvérsias, as quais estão apresentadas ao final deste artigo, fundamentadas pelo historiador Filipe Neto.

 

Por isso, comemorar 412 anos de Messejana é reviver momentos de historia e de paz e concórdia entre povos, raças, credos e culturas. Na Matriz de Messejana existe um memorial que distingue este ator histórico, que pode e deve ser considerado, exemplo de um Missionário pela Paz, como expressou o Padre Anchieta.

 

Reduto de concentração econômica e cultural, Messejana carrega consigo riquezas históricas há centenas de anos. Berço do nascimento do escritor José de Alencar, uma das maiores personalidades da literatura cearense e brasileira, o bairro está celebrando seu 412º aniversário de fundação nesta sexta-feira, 8, de acordo com fiéis da Igreja Católica. A data, na realidade, marca a criação da Aldeia de São Sebastião da Paupina – comunidade que tempo depois se tornaria a Messejana.

 

Para rememorar este dia, foi rezada nesta tarde a tradicional missa na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. O local sacro foi palco da cerimônia de quando a Aldeia da Paupina ganhou o status de vila, tornando-se assim a Vila Real de Messejana, em 1º de janeiro de 1760.

 

“Ainda cedo” naquele dia, de acordo com o autor do livro “Messejana”, Edmar Freitas, os moradores da aldeia se reuniram no espaço retangular existente na frente da “pequena capela”. “Convidados a toque de sino, praticamente todos os aldeões se dirigiram para o local demarcado como sendo a praça e, lá, postados defronte à igreja, assistiram a cerimônia de Fundação”, escreveu. Lançada em 2014, a obra narra ainda: “Instantes depois, quando o sol já havia ganho altura e tinha a aparência de ouro se derretendo do céu sobre a mata que rodeava o lugar, surgiu um grupo de pessoas jamais visto nas redondezas”.

 

Era a comitiva enviada pelo governador geral de Pernambuco, Marquês de Pombal, a qual estava formada pelos: ouvidor Geral, Bernardo Coelho da Gama Casco; escrivão Luiz Freire de Mendonça; e representante da Justiça Manuel Pereira Lobo. Eles estavam com “a missão de fundar a nova vila”, conforme os escritos de Edmar.

 

A partir de projeto de lei da então vereadora Toinha Rocha, o aniversário de Messejana foi oficializado como sendo no dia 1º de janeiro. De acordo com a ex-parlamentar e atual coordenadora Especial de Proteção e Bem-Estar Animal de Fortaleza, além de definir a data, a medida serve para “refletir a importância histórica de Messejana para a cidade, o estado e o Brasil”. A proposta foi aprovada pela Câmara Municipal em 2016.

 

Dos Açores a Messejana

 

Há dez anos, o Governo Regional dos Açores realizou homenagem à memória do padre Francisco Pinto de Assis. Em 2009, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Messejana, recebeu de presente uma Coroa e a Bandeira do Divino Espírito Santo do então presidente açoriano, Carlos Manuel Martins do Vale César.

 

Primeiro missionário açoriano a pisar em terras cearenses, em 1607, padre Pinto teve seus restos mortais guardados na Igreja Matriz. Diante disso, Carlos Manuel ofereceu os regalos como forma de “gratidão” ao seu povo, situado no arquipélago transcontinental, no Oceano Atlântico nordeste.

 

O atual presidente dos Açores, Adauto Leitão de Araújo Júnior, foi convidado para participar da celebração religiosa realizada na tarde desta sexta-feira. O POVO Online teve acesso a carta assinada por ele, em que agradece a convocação. No documento, porém, informou que por causa de compromissos “de natureza inadiável” não pôde comparecer a Fortaleza.

 

“A presente comemoração, para além de contribuir para o fortalecimento dos laços de amizade entre Messejana e a Região Autônoma dos Açores, recorda o papel dos açorianos na construção desse território do Brasil e reconhece, também, a coragem, determinação e fé destes homens e mulheres que com a sua ação e esforço ajudaram a edificar o Estado do Ceará”, louvou.

 

Origem do nome Paupina

 

Durante campanha de evangelização para “ganhar novas almas” para a Igreja Católica, os padres jesuítas Luís Figueira e Francisco Pinto iniciaram jornada pelo interior brasileiro em 1607. Este último, apontado como “querido” entre os nativos catequizados, era chamado de “Pai Pina” ou “Paupina”. A palavra depois daria origem à Aldeia de São Sebastião da Paupina.

 

No ano seguinte, ao percorrer pela região que corresponde hoje à Serra da Ibiapaba, os religiosos foram atacados por índios tocarijus, de acordo com Edmar Freitas, no livro “Messejana”. Na ocasião, padre Pinto foi morto. Há suspeitas de que ele teve o corpo devorado pelos nativos.

 

A construção histórica da cidade de Fortaleza possui uma particular página de sua memória. O surgimento da Aldeia de Paupina, atual Messejana, que nasceu em 8 de março de 1607, ou seja, completa exatamente 412 anos.

 

Conforme Adauto Leitão, um prestigioso nome entre os cearenses e de relevantes serviços à comunidade portuguesa, o padre Pinto pregou uma proposta de paz aos índios. Foi o símbolo da conciliação entre os jesuítas e os índios. Ele explica que o governo açoriano tomou conhecimento do legado do padre Pinto através da sua pesquisa científica sobre O Março Zero de Fortaleza, em que relata a chegada de Pero Coelho de Souza e de Martins Soares Moreno, em 1604, e do missionário açoriano, em 1607.

 

Pelo seu trabalho científico, o pesquisador cearense e grande amigo da Comunidade Portuguesa, recebeu do Governo de Açores a Coroa e a Bandeira do Divino Espírito Santo, que, num gesto nobre Adauto doou esses símbolos açorianos para a Matriz de Messejana, onde estão guardados os restos mortais de padre Pinto. O historiador Adauto Leitão revelou também que o trabalho de evangelização de padre Pinto, que se estendeu por toda a área ocupada por Pero Coelho e Soares Moreno, abrangendo desde a Barra do Ceará até o Mucuripe, incluindo também Porangaba, atual Parangaba, e a aldeia indígena de Paupina, hoje Messejana. O nome Paupina é derivação indígena de Padre Pinto (Pai Pina), morto em 1608, na Ibiabapa, por outra tribo indígena, esclarece o pesquisador.

 

A passagem do Açoriano Padre Francisco Pinto representou uma singular página das Missões Jesuítas no Brasil, pois a edificação do aldeamento de Paupina, denominação afetivamente criada pelos índios Potiguares que ali habitavam em homenagem ao Missionário Francisco Pinto, que representou o único caso em que um núcleo de catequese merecesse uma particular nomenclatura para fazer homenagem á memória de um sacerdote, ao invés de o lugar receber um titulo litúrgico.  

 

O Padre Pinto foi enterrado em solo da Aldeia de Paupina, no espaço Sagrado, devido à grande veneração que os nativos tinham por seu “pai”.

 

Contam os relatos da Companhia de Jesus, que o Padre Francisco Pinto fez preces aos céus para que chovesse – e não foi por acaso – que na mesma tarde do pedido, precipitou-se intensa chuva. Aquele fenômeno climático fez surgir uma enorme veneração ao Missionário português dos Açores

 

Destaque-se ainda, que outro modo cotidiano do jesuíta com os nativos era de uma intensa e bem amiga relação face à facilidade deste se comunicar com os índios, por larga fluência em língua Tupi, o que contribuiu ao Padre Pinto, certamente, este vinculo tão forte.

 

A ordem Missionária do Padre Francisco Pinto contava também com grandes expoentes Jesuítas, como por exemplo o Padre Anchieta, amigo dileto, que fez um registro de seu “exemplo”, nas várias missões que o Padre Francisco Pinto fez no Nordeste Brasileiro.

 

Os diversos atos comemorativos dos 412 anos de Messejana tiveram inicio no dia 8 de março com missa e ato solene na Matriz, em que o professor e historiador Adauto Leitão se referiu à data e à importância do Padre Francisco Pinto, transmitindo ainda, na ocasião a mensagem enviada pelo Governo Regional dos Açores.

 

O Governo Regional dos Açores faz uma homenagem à memória do padre Francisco Pinto de Assis, 1º missionário açoriano a chegar ao Ceará em 1607, oferecendo à Igreja matriz Nossa Senhora da Conceição, em Messejana -, onde estão guardados os restos mortais do missionário português-, os símbolos açorianos: uma Coroa e a Bandeira do Divino Espírito Santo.


Em nota, o presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos Manuel Martins do Vale César, afirma que os dois símbolos religiosos pretendem dar testemunho da gratidão dos açorianos de hoje pelo legado histórico do religioso, estreitar o intercâmbio e os laços de amizade entre os dois povos.


O então pároco da Matriz de Messejana, padre Daniel de Sousa, na oportunidade acolheu a doação do governo açoriano com grande satisfação e que significa a comunhão entre as igrejas católicas dos dois países. Além de revitalizar a memória do padre Pinto, a doação serve também para resgatar a fundação de Messejana dentro do contexto histórico da cidade.

Na visão do jornalista e pesquisador Adauto Leitão, padre Pinto pregou uma proposta de paz aos índios. Foi o símbolo da conciliação entre os jesuítas e os índios. Ele explica que o governo açoriano tomou conhecimento do legado de padre Pinto através da sua pesquisa científica sobre “O Março Zero de Fortaleza”, em que relata a chegada de Pero Coelho de Souza e de Matias Soares Moreno, em 1604, e do missionário açoriano, em 1607.

Pelo seu trabalho científico, o pesquisador cearense ganhou do Governo de Açores a Coroa e a Bandeira do Divino Espírito Santo. “Estou doando os símbolos açorianos para a Matriz de Messejana, onde estão guardados os restos mortais de padre Pinto”, salientou.

Adauto Leitão revelou que o trabalho de evangelização de padre Pinto se estendeu por toda a área ocupada por Pero Coelho e Matias Moreno, abrangendo desde a Barra do Ceará até o Mucuripe, incluindo também Porangaba, atual Parangaba, e a aldeia indígena de Paupina, hoje Messejana. “O nome Paupina é derivação indígena de Padre Pinto (Pai Pina), morto em 1608, na Ibiabapa, por outra tribo indígena”, esclarece o pesquisador.

 

Controvérsias sobre a fundação de Messejana

 

Felipe Neto, Historiador formado pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) apresenta importantes informações sobre Messejana:

 

"Com relação à fundação da Aldeia de Paupina pelo PE. Francisco Pinto e Luiz Figueira esse é um erro que vem sendo cometido há muito tempo graças a conjecturas feitas no passado quando se buscava laurear a atuação dos grupos religiosos no que diz respeito a colonização. As missões catequéticas tiveram fundamental papel, mas de outras formas e em outras épocas e contextos.

 

No diário sobre a vinda ao Ceará escrito pelo Pe. Luiz Figueira não se faz menção textual a Paupina ou Parangaba. Outra questão é seu ponto de parada antes de seguir para Ibiapaba. Não é certo que a tribo que primeiro recebeu os Pe. foi a estacionada no que hoje chamamos de Paupina pois esse encontro ocorreu na região do Jaguaribe.

 

Antes do período holandês (1637-1654) não há documento ou menção em cartas dessa nomenclatura Aldeia de S. Sebastião da Paupina que só passa a ser mencionado depois de 1680. As aldeias do Ceará se formaram após a atuação de Martim Soares Moreno a partir de 1611. Desse povoamento que depois foi removido para o que hoje conhecemos como Mondubim se formou o Arraial do bom Jesus da Parangaba. Desse grande descimento se formaram a Aldeia de Paupina e Caucaia ainda no século XVII.

 

Portanto, não se sabe exatamente, ainda quando foi fundada a Aldeia de Paupina, pelo não do que eu tenha encontrado. Ainda sobre Fco. Pinto e Luiz Figueira este último funda uma comunidade próxima a Barra do Ceará com o nome Aldeia de S. Lourenço, mas nunca Parangaba ou Paupina.

 

Com relação ao nome Paupina este jamais foi corruptela de Fco. Pinto. Paupina significa Lagoa descoberta ou limpa.

 

Como messejanense peço, levando em conta o alcance do Instituto Portal Messejana, “que ajude na recomposição dos fatos para que a historie não fique deturpada."

 

Felipe Neto é Historiador formado pela UECE. Nascido e criado em Messejana, onde ainda mora. Autor do livro “Muito Além dos Muros do Forte: as dinâmicas que propiciam a anexação do antigo município de Messejana à Fortaleza em 1921 e os seus desdobramentos”

 

 



Exibir todas as matérias.