Relembrando Messejana

 

 

 

Como sempre é bastante comum sentir saudades da Messejana onde nasci e fui criado. Ali vivi minhas: meninice, adolescência e maturidade. Tenho muito do que recordar: percorri descalço as ruas barrentas de chão batido e aplainado pelo trator que deixava a criançada curiosa e atenta nas manobras do maquinista, a chegada do calçamento de pedras toscas com fios de pedras delimitando as ruas nos quais corríamos sobre os mesmos desafiando nossos equilíbrio e ousadia, a melhoria da iluminação publica que no início mais parecia um vagalume de tantos apagarem.

 

Lembro ainda dos banhos de chuva sempre acompanhados de uma corrida até a bica formada no Mercado que ao bater nas cabeças era sentida uma dolorida sensação repleta de felicidades, os Ciganos acampados nas sombras das mangueiras com suas festas acompanhadas pelo som da Sanfona e o bater ritmado e harmonioso das colheres e o canto galego que nós pouco entendíamos.

 

E nas noites as tendas iluminadas por lampiões, quando dava para se apreciar o brilho dos anéis com pedras preciosas cintilando nos dedos dos chefes do grupo no puxado da Sanfona, os Circos montados na Praça do Mercado eram frequentes e nas tarde o Palhaço saía em cortejo pelas ruas com a criançada acompanhando-o e respondendo em coro: o Palhaço o que é? Ladrão de mulher, todos eram marcados no braço para terem acesso ao espetáculo programado para o dia.

 

Conhecíamos pelo nome as autoridades locais: o delegado de polícia, o coletor, o tabelião, o pároco, o subprefeito, o vereador e o deputado, o juiz, os principais comerciantes nas suas Mercearias... Nossas celebridades, pessoas sem nenhum orgulho e honestos nas suas atitudes. Era como se fossemos uma grande e harmoniosa família apesar das adversidades ou eventuais diferenças. Vivências compartilhadas sem distinções de cor, credo religioso, status social o que nos garantia o respeito mútuo.

 

Áureos tempos coroados nas festas em datas comemorativas, como os desfiles garbosos dos alunos e alunas do G.P.V., a curtição da rivalidade sadia entre o Messejana Esporte Clube e o Salgado da Gama, as matinês no Cine Messejana, as manhãs dançantes e as tertúlias no Balneário Clube de Messejana (BCM) com ambientes de convivências social e familiar! Neste momento percebo que tudo ficou no passado! Lembro das primeiras paqueras, a primeira namorada, a primeira dança encabulado e cheio de medos, tudo guardado na memória, as festas da Matriz com seus leilões e disputas dos Partidos Azul e Encarnado para escolha da Rainha, o caminhar pela praça num jogo de sedução entre os passantes, o som do alto falante (irradiadoras) e os oferecimentos de determinadas músicas para certas damas e senhorinhas, a 1ª. Comunhão na Igreja Matriz celebrada pelo Pe. Pereira, figura polêmica, carismática e impar como ser humano. Recordo ainda a U.R.J.A onde aconteciam torneios de Voleibol e festas dançantes nos seu salão principal. Tudo evaporado no tempo restando apenas os escombros das estruturas que fizeram parte da arquitetura da Messejana onde nos seus domínios acolhiam a todos numa comunhão solidária e familiar. Tudo destruído e encoberto pelo mato escondendo o que antes teve vida. Bate sim uma saudade dolorida de tão impensável fim e nos deparamos com o descaso do poder público que nunca demonstrou interesse em manter esse patrimônio histórico como difusor de educação e cultura. O tradicional campo do Messejana transformado numa ARENINHA (coqueluche atual), até quando terá sua arquitetura preservada e quem irá mantê-la funcionando adequadamente valorizando a gente local como Centro de acolhimento, centro Social para formação de vínculos afetivos como foi no passado?

 

Claro o tempo não para, é dinâmico, mas não precisa destruir e esquecer sem nada fazer para desmontar essa EVOLUÇÃO que tem dispersado ao invés de agregar. Porém, o que esperar dos gerentes sem raízes como eram pessoas de dentro da comunidade. Certamente esses gerentes atuais jamais tiveram pelo menos a curiosidade de caminharem pelas ruas e constatarem a situação de abandono tão evidente nos esgotos a céu aberto exalando o mau cheiro demonstrando a falta do saneamento básico tão necessário, porém, sempre prometido, protelado e esquecido.

 

Já não se tem as conversas nos bancos da praça ou nas calçadas, nada de seguro, os moradores tradicionais deslocados ou expulsos de suas residências acomodadas na periferia e tudo transformado em pontos comerciais ou derrubados para novos prédios visando o comercial sempre. Tudo parecendo um MERCADO PERSA... Só restando lembranças e a certeza de que valeu ter vivido participando dessa Messejana que foi e jamais deixará de ser em cada um de NÓS que teve a alegria e felicidade de fazer parte desse passado áureo da querida e abençoada Messejana fotografada em cores vivas da nossa memória.

 

 

Por Francisco Parente Brandão

http://www.portalmessejana.com.br/



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