A cultura do Ceará feita à mão

 

 

 

Que as praias cearenses são imperdíveis, ninguém discute. Mas vale a pena tirar algumas horas para conhecer o rico artesanato local.

 

O clima do Nordeste é uma covardia para quem curte praia, a beleza do litoral, um mar verde e transparente e todas as delícias que uma temporada à beira-mar pode proporcionar. Mas se o tempo não ajudar – e, acredite isso pode acontecer de vez em quando – a temporada não está perdida. Sempre há um punhado lojinhas simpáticas para conhecer outra atração típica da região: o artesanato.

 

Em Fortaleza, o roteiro de compras é tentador. A cultura local é representada pelas mãos de artistas que trabalham com barro, couro, palha, algodão e madeira, dando formatos e leituras diferentes para as origens que formaram um povo alegre e hospitaleiro. Índios, portugueses e africanos deixaram um belíssimo legado, muito bem trabalhado pelos artesãos.

 

Uma das principais atrações é o Mercado Central. A estrutura de hoje, com quase 10 mil metros quadrados e 559 boxes de expositores de uma infinidade de produtos artesanais, 60 quiosques, dois restaurantes e quatro lanchonetes, foi inaugurado em 1998.

 

Mas o mercadão original foi criado em 1809, com a finalidade de comercializar carnes, frutas e verduras.

 

As primeiras instalações, ainda em madeira, foram demolidas em 1814, para dar lugar a um prédio novo, que era chamado de cozinha do povo.

 

O artesanato entrou em cena em 1931, quando o comércio de alimentos foi proibido. A mudança de ramo do mercado veio para sanear o ambiente e melhorar a freqüência dos visitantes.

 

A versão anterior do mercado, construído em 1975 com 559 boxes em quatro andares, acabou ameaçada pelas constantes reformas para ampliações ao longo dos anos. Riscos de incêndios e instalações precárias tornaram as ruelas do mercado um risco para o público, cada vez maior, que visitava o local em busca dos melhores exemplares de artigos de roupa de cama, mesa, banho e vestuário, além de guloseimas típicas da região.

 

Cultura cearense

 

A nova área, inaugurada em 1998, marcou o início da atuação da Associação dos Lojistas do Mercado Central, que coordena os vendedores. Quem visita o Mercadão encontra um pouco da cultura cearense em cada lojinha. O couro, inclusive o de jegue, é transformado em sandálias, sapatos, bolsas, chapéus e malas. Renda de bilro, labirintos e richilien enfeitam roupas de cama, mesa e banho, além do vestuário. Peças de palha e madeira entram em artigos de decoração.

 

Há também produtos industrializados, mas o sobe e desce das rampas é uma pequena viagem na cultura local.

 

O vendedor Dionísio Gerardo está no mesmo box do mercado há 18 anos. Sua especialidade é uma infinidade de artigos para casa, em rendas e bordados. Os produtos são trazidos de diversas cidades do interior do estado. A família também está metida no negócio. Parentes mantêm uma facção de costura que produz as toalhas de richilien, uma das sensações dos últimos anos. “Tenho em cambraia, linho e percal, em versões mais artesanais e mais industriais. Mas é tudo daqui do Ceará”, diz. Há peças que alcançam os R$ 500.

 

Pechinchar

 

Pesquisa de preço é regra básica do consumidor, e o turista não pode abrir mão da prática. É preciso escapar das investidas dos vendedores, que abordam os visitantes nos corredores e não têm preguiça de descer as prateleiras, abrindo colchas e toalhas para mostrar a beleza do trabalho artesanal. O segredo, sempre, é pechinchar. Os valores começam altos, mas os descontos acabam sendo generosos para não perder a clientela.

 

A média de visitantes é de 3 mil pessoas por dia. Mas o movimento pode chegar a 5 mil na alta temporada.

 

Negociar também é a palavra-chave entre os 650 permissionários da Feirinha de Artesanato da Beira-Mar.

 

Mais democrática do que o Mercado Central, a feirinha tem espaço para todos os tipos de produtos, inclusive os importados do Paraguai, em geral frutos de contrabando. De comida típica a renda original, também é possível encontrar verdadeiras obras de arte em esculturas em madeira – que recebem os últimos retoques na hora de fechar o negócio – e artigos em materiais inusitados, como peças em osso e chifre de animais.

 

Depois de garimpar os achados, não tenha vergonha de barganhar descontos e brindes. É quase ponto de honra não perder o freguês para a concorrência.

 

Iniciativa pública

 

Tanta arte e beleza tem sido o ganha-pão de milhares de artesões cearenses. E é uma forma de resgate de cidadania, geração de emprego e renda e, ainda, preservação da história e cultura.

 

De olho neste patrimônio, o governo do estado criou, há mais de 20 anos, a Central de Artesanato do Ceará (Ceart), mantido pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do estado.

 

A ideia de profissionalizar a atividade começou com o cadastramento do artesão. São mais de 40 mil profissionais, que passaram por uma triagem e avaliação da produção, antes de receber a carteira e o credenciamento. “Os dados também ajudam no mapeamento sociocultural dos envolvidos e são usados para elaborar estratégias de incremento e atendimento a essa faixa produtiva”, explica a coordenadora-adjunta do Ceart, Amanaci Diógenes.

 

O programa também oferece consultoria técnica e capacitação, tanto para aprimoramento da atividade como para a gestão do negócio. E trabalha com a divulgação e pontos de comercialização dos produtos.

 

São sete lojas entre a capital e as praias da redondeza, além da participação em feiras especializadas e itinerantes.

 

Cada unidade reúne o melhor do artesanato local e é um convite para voltar para casa com excesso de bagagem, com sacolas recheadas de presentes e recordações.



Exibir todas as matérias sobre Turismo